More Graziela Medori »"/>More Graziela Medori »" /> Graziela Medori - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Graziela Medori

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Graziela Medori, filha da consagrada cantora Claudya e do instrumentista Chico Medori, começou profissionalmente na música aos 23 anos (2009).

O primeiro trabalho da cantora saiu pela gravadora Lua Music em 2011, as gravações contaram com a participação de diversos músicos, entre eles, Oswaldinho do Acordeon, Dominguinhos e Fernando Nunes, com direção e arranjos de Chico Medori.

Quatro anos mais tarde, seu segundo disco, “Toma Limonada” (2015), traz regravações de importantes compositores da MPB como Marcos Valle, Lô e Márcio Borges e Raul Seixas, bem como as inéditas, “Nada mais Que Cinema” de Thiago Pimentel e “Radical”, de Claudya, em parceira com Luiz Carlos. O destaque desse novo trabalho, fica com a faixa título, que conta com a participação do Seu Jorge.

Além de cinco álbuns lançados, Graziela tem em seu currículo participação em diversos projetos, como o: “Literalmente Loucas”, uma homenagem a Marina Lima, “100 anos de Ataulfo Alves” e “É melhor ser alegre que ser Triste”, um Show assinado pela Mesa 2 Produções dedicado ao poeta Vinícius de Moraes, ao lado de Jane Duboc e Juan Alba.

Tem lançado Singles de sua autoria e em parceria com outros compositores. Já esta disponível como EP: “Graziela Medori canta Claudia”, o resgate de dois discos da década de 70: “Deixa eu Dizer”e “Você Claudia Você”. Participou da segunda temporada do programa: “The Four Brasil”, na TV Record no mês de Abril de 2020.

Graziela Medori e o pianista Alexandre Vianna lançaram o terceiro álbum da carreira de ambos no mês de Novembro de 2020, em uma releitura e grande homenagem ao “Clube da Esquina”, intitulado: “Nossas Esquinas”, resgatando canções do primeiro e segundo álbum, que marcaram a história da música popular brasileira.

Graziela lançou seu quarto álbum, uma parceria entre a cantora e a Mandril Audio, o disco: “Transando o Transa”, uma homenagem ao disco Transa de Caetano Veloso lançado em 1972.

Participou do programa: “The Voice Brasil” em 2022, exibido pela TV Globo. Graziela, lançou o quinto álbum da carreira, em Janeiro de 2024, com idealização do DJ Zé Pedro, pelo selo Jóia Moderna, uma grande homenagem ao compositor Marcos Valle.

Graziela, participará da 06 edição do programa: “Canta Comigo”, apresentado por Rodrigo Faro, na TV Record, como um dos 100 jurados do painel.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Graziela Medori para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 29.05.2024:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Graziela Medori: Nasci no dia 06/02/1986 em São Paulo. Registrada como Graziela Rallo Medori.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Graziela Medori: Meu primeiro contato com a música, aconteceu quando eu ainda era pequena, na casa dos meus pais (Claudya Rallo e Chico Medori), na verdade eu diria na barriga da minha mãe, que não parou de trabalhar como cantora, quando engravidou, acho isso maravilhoso! Lembro que sempre estive rodeada de muita música, seja nos ensaios que rolavam, nas gravações ou até mesmo em reuniões despretensiosas, tudo aconteceu muito cedo!

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Graziela Medori: Minha formação é a vida, não tenho estudo acadêmico, comecei a cantar profissionalmente com 23 anos de idade (em 2009), na noite paulistana, eu tinha uma bagagem pessoal, da faculdade chamada: “meus pais” (Claudya e Chico Medori) e isso foi meu ponto de referência, meu porto seguro para encarar o que viria pela frente.

Comecei cantando um repertório difícil, de compositores importantes, que exigiu de mim, muita dedicação, minha formação musical se deu nesse lugar, de aprendizagem e troca com músicos maravilhosos, dos quais encontrei no meu caminho e que me fizeram passar de ano!

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Graziela Medori: Minhas influências são muitas, no passado eu fui uma típica menina adolescente, gostava de música POP, como: Beyoncé, Christina Aguilera, Britney Spears, depois passando pela música brasileira, curtia muito Jorge Ben, Tim Maia e o que rolava de POP no cenário musical na época, principalmente o que se passava na extinta MTV.

Atualmente ouço exclusivamente, música brasileira e mergulho profundamente nessas referências, como: Marcos Valle, Tom Jobim, Tânia Maria, Gal, Rita Lee, Caetano, bem como alguns nomes atuais como: Verônica Ferriani, Dani Black e gosto de Jazz, sou fascinada pelo Herbie Hancock e Esperanza Spalding. Tudo que ouvia no passado, realmente foram influências do momento.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Graziela Medori: Eu comecei aos 23 anos de idade (em 2009), minha primeira oportunidade aconteceu, depois de uma aparição no programa do Ronnie Von, ao lado da minha mãe (Claudya). O saudoso e incrível pianista Mário Edson, precisava de uma cantora para entrar no lugar, da Ana Cañas, no bar do Hotel Fasano, o Baretto.

Quando a mulher dele me viu na TV, pensou que seria interessante se eu ocupasse aquele espaço, onde a Ana fazia um belíssimo trabalho. Fui convocada e até então, eu cantava por aí, dava umas canjas e mal ganhava dinheiro com música, fiz um teste, cantei uma música com o time deles, era bem verde e achei que não ia acontecer, o Mario gostou e me deu essa oportunidade. Ali passei a cantar coisas extremamente difíceis, para um público seleto e cada noite era um grande desafio!

06) RM: Quantos CDs lançados?

Graziela Medori: Tenho cinco discos lançados, o primeiro: “A Hora é Essa”, lancei em 2011, o segundo: “Toma Limonada”, em 2015, com participação especial do Seu Jorge.

Houve um hiato do segundo para o terceiro disco, fiquei um bom tempo sem gravar e foi na pandemia do covid-19, com tempo de sobra, que eu pude produzir um disco ao lado do meu companheiro, pianista e arranjador, Alexandre Vianna. Gravamos o álbum: “Nossas Esquinas”, uma homenagem ao Clube da Esquina, resgatando seis músicas do primeiro álbum e seis do segundo, lançamos o álbum em 2020, logo em seguida lancei: “Transando o Transa”, uma releitura do disco: “Transa”, do Caetano Veloso, em 2022. E nesse ano, o meu mais novo filho: “Graziela Medori canta Marcos Valle”, um disco lado B, das canções menos visitadas do Marcos, junto aos seus parceiros, o disco saiu pelo selo: Joia Moderna e o projeto foi idealizado pelo DJ Zé Pedro.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Graziela Medori: Eu canto Música Popular Brasileira, gosto muito de algumas coisas, que me influenciam obviamente e fazem com que a sonoridade do meu trabalho tenha camadas, que é o caso do Jazz, por exemplo!

Eu definiria dessa forma, MPB contemporânea, sob influência do que já foi feito, sempre atualizando com a linguagem do que é feito atualmente, mas de forma orgânica.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Graziela Medori: Não estudei, meu estudo foi assistir a minha mãe, vi muitos Shows e preparos vocais, tanto que hoje em dia, eu faço os mesmos exercícios que ela fazia, com algumas outras coisas que aprendi, exercícios de aquecimento.

Minha escola, foi a rua, acho lindo quando as pessoas falam sobre técnica e falam de uma forma bem acadêmica, mas a vida me chamou pra correr atrás de cara das coisas, fui atrás da minha grana, batendo cabeça, colocando em prática, coisas que assimilei tanto da minha mãe (Claudya), como de outros cantores da noite, acabei não indo atrás disso e caminhei do jeito que a vida mandou e da forma que escolhi!

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Graziela Medori: É muito importante cuidar da voz, ao menos entender bem a região em que você canta, entender seu aparelho. Cordas vocais, são músculos, que precisam de manutenção, assim como jogador de futebol.

Gostei muito das experiências que tive, quando cantei em realities, passei por uma bateria de exercícios com professoras de canto e fonoaudiólogas e fez toda a diferença na hora da apresentação.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Graziela Medori: Dos internacionais gosto da: Ella Fitzgerald, Janis Joplin, Sarah Vaughan, Esperanza Spalding, Tony Bennett, brasileiros: Gal Costa, Claudya, Elis Regina, Verônica Ferriani, Dani Black, Tânia Maria, Caetano Veloso, entre outros, essa é uma pergunta muito difícil (risos).

11) RM: Como é seu processo de compor?

Graziela Medori: Eu não toco nenhum instrumento, então, as inspirações acontecem de forma inusitada, as vezes tomando banho, arrumando a casa, a melodia aparece do nada e a letra vem junto, na maioria das vezes saio correndo para registrar, gravo no celular e depois finalizo.

Quando consigo terminar no momento em que a inspiração vem, fico feliz, parece que aquela ideia que está na minha cabeça, se materializa e não há sensação melhor, uma música nascer e você dizer: “Eu que fiz”.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Meu companheiro, Alexandre Vianna, ele me ajuda na parte de harmonização, já finalizou música pra mim e até me levou para alguns caminhos, que me deram uma ideia de letra. Adoro compor com ele, é um grande pianista, me inspira e me traz grandes referências musicais.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Graziela Medori: Eu gosto de ser uma artista independente, porque tenho liberdade para produzir da forma que desejo e sempre foi assim, mesmo com meu pai (Chico Medori) produzindo meus trabalhos, eu sempre tive bastante autonomia na hora das minhas escolhas, sempre fiz o que quis.

Eu realmente não sei se daria certo, uma contratação nos moldes do que acontecia antigamente, acho que eu arrumaria muita encrenca, apesar de ser um doce de pessoa, quando desejo algo, batalho por isso e faço valer a minha ideia! Essa é a parte boa, você poder dar voz, sem sombras, à suas ideias!

O contra é que você está no meio do mar, com um barquinho, bem no meio mesmo e para chegar na beira, é quase que impossível, porque tem muita gente, a concorrência é grande e são muitas as questões.

Se fazer conhecido de que forma? Como conseguir um mínimo de estrutura? Como engajar? Qual conteúdo explorar? De que forma produzir? Como fazer sua música chegar a um público significativo, que te leve a vender ingresso e estar nos lugares badalados? Enfim… O artista independente encontra um grande desafio à sua frente!

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Graziela Medori: Confesso que não penso muito nisso, as coisas acontecem comigo de forma espontânea, até mesmo o que me proponho a fazer dentro das minhas redes, que gere conteúdo, são coisas feitas de forma simples, com muita verdade!

É isso, eu procuro fazer o que meu coração manda, mas se for para pensar em planejamento, eu desejo e quero, lançar mais trabalhos, só esse ano, serão dois discos lançados, o que já saiu em Janeiro, em homenagem ao Marcos Valle e outro que vamos lançar, que é um trabalho com meu pai, o baterista e arranjador, Chico Medori.

Depois de anos, agora tenho uma produtora, estamos trabalhando em conjunto e isso me traz segurança, consigo planejar melhor os próximos passos, como trabalhar, onde quero estar, onde desejo que minha música transite. Gosto da construção das coisas, de forma harmoniosa e é o que está acontecendo no momento.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Graziela Medori: Acho que eu poderia definir isso, com o investimento que faço nas gravações dos meus discos, dos videoclipes, material fotográfico, esse é o tipo de empreendimento que faço na minha carreira, invisto dinheiro, energia nas produções do meu trabalho, para que as pessoas possam acessá-lo da melhor forma possível.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Graziela Medori: A internet é um espaço aberto, incrível, nunca imaginei quando lancei meu primeiro álbum, em 2011, que as coisas tomariam o rumo, que tomaram. A internet é democrática, abriu porta para os artistas independentes, hoje temos nossos próprios canais pessoais, onde podemos compartilhar nossa arte, mas ao mesmo tempo, estamos em meio a muita gente, buscando o mesmo lugar e visibilidade!

Existe uma linha tênue, entre o bem e o mal com relação a internet, enquanto amamos, odiamos também, eu sinto exatamente dessa forma, ficamos escravos de um sistema e sabemos que há uma engrenagem dentro dele. Antes tínhamos que ser descobertos por alguma gravadora, a mesma investia dinheiro e comprava os espaços, para que o artista ficasse conhecido do grande público!

Isso tudo só mudou de lugar, enquanto podemos divulgar espontaneamente nosso trabalho, a corrida continua na mão de quem tem mais para investir dentro dos streamings, Youtube, Instagram (angariando mais seguidores e muitas vezes robotizados), para assim serem notados, contratados.

O famoso jabá só mudou de lugar e a concorrência é desleal! Perdemos um tanto de espontaneidade e sensibilidade, onde esse novo sistema, nos obriga está ON o tempo todo, com a vida rolando fora da tela. Acho lindo e perigoso, tendencioso e maravilhoso, enfim… Literalmente os dois lados da moeda, tento usar da melhor forma possível, sendo coerente com o meu trabalho, comigo e fazendo o que posso, o que está ao meu alcance!

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Graziela Medori: Eu faço as coisas com o coração, com verdade, eu tenho muito respeito pelo meu trabalho, eu amo o que faço e fico desolada quando percebo que nem todo mundo tem dimensão do quão importante é a arte e de como deve ser valorizada! Procuro fazer o trabalho da melhor forma possível, com muita qualidade, me aliando sempre a grandes músicos, arranjadores.

Acredito nas ideias, gosto de contar uma história, todo trabalho tem começo, meio e fim e essa sequência é extremamente importante pra mim! Eu me conecto e tento extrair o melhor daquele momento, é intenso e as pessoas notam, percebem e se conectam da mesma forma!

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Graziela Medori: Eu amo tudo que foi feito nas décadas de 60 e 70, me identifico com a sonoridade, com os textos, posicionamento, houve uma grande ruptura para chegarmos até aqui, muitos artistas sofreram! Nessa mesma época, sabemos que existiam estilos variados e todos tinham espaço de certa forma, existia a Bossa Nova, Tropicalismo, a música brega, Jovem Guarda, tinha de tudo, acho isso fascinante.

Acredito muito nos movimentos populares, eu tenho um entendimento melhor sobre isso agora, ficou um pouco mais claro. Os movimentos populares conversam com uma grande parcela da população, que precisa ser inserida dentro de um contexto de representatividade! O que me incomoda talvez, é não termos esse espaço que já existiu, para que todos os estilos possam usufruir do mesmo.

Hoje sinto falta do que é novo feito na música, tocando nas grandes mídias, não precisamos excluir o que é feito na MPB, na verdade precisamos, inserir, devolver, compartilhar, para que mais pessoas acessem, digo isso, em grande escala. Sinto um cenário carente, precisando encontrar seus ídolos e na verdade tem muito por aí, basta querer programar, conhecer, que estão todos aí.

Três artistas que eu admiro e acho que se mantiveram dentro desse cenário, sem fazer concessões são: Verônica Ferriani, Mônica Salmaso e Dani Black, que se mantêm intactos dentro de suas convicções artísticas, construindo carreiras brilhantes!

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Graziela Medori: Tudo citado na pergunta já me aconteceu, mas adversidades com relação a sonorização, sempre foi um dilema, boa parte da minha carreira, cantei em casas alternativas, com um som muito ruim, uma ocasião, estávamos prontos no palco, para começarmos e algo não estava funcionando, tivemos que correr e pegar equipamento pessoal, para que o Show acontecesse.

Já tive que enfrentar bêbados, pessoas inconvenientes, como uma assídua frequentadora de um dos bares mais famosos de São Paulo, que chegou a criticar a roupa que eu estava usando num tom de humilhação, fiquei muito mal nesse dia e arrumei briga, para nunca mais voltar a cantar no espaço.

Fora isso, já tive que brigar muito por conta de cachês atrasados, o que sempre gerou um desconforto impressionante entre mim e os donos das casas e por aí vai. Seja bem vindo a vida de um artista independente! (risos). É bem isso!

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Graziela Medori: O que me deixa feliz, é poder fazer o que amo e poder aquecer o coração e a mente das pessoas, por muito tempo achei que não seria possível viver da música, me fizeram acreditar nisso, por um lado foi ótimo porque vivenciei outras coisas, que me levaram a entender, que eu precisava mesmo, era cantar e me dedicar profundamente.

Nós não sabemos muito a dimensão do que fazemos, temos uma vaga ideia, quando as pessoas se manifestam dizendo que o nosso trabalho, as inspirou de alguma forma, ser fonte de inspiração para as pessoas, é o que mais me alegra.

Tristeza? Não sei! Talvez o fato do meu trabalho não chegar a um número significativo de pessoas e de forma orgânica, odeia trabalhar para que isso aconteça, forçadamente, gosto de tudo feito na espontaneidade, por isso as coisas acontecem no seu devido tempo e está tudo bem! Não há tristeza, o que precisa ser feito, é continuar acreditando e trabalhando pra isso!

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Graziela Medori: Existe dom, meu companheiro 9 Alexandre Vianna) acha que não, mas eu discordo. Acho que quem trabalha com música e tem essa aptidão, veio com um propósito, exatamente para dar um sentido maior a vida, eu acredito muito nisso!

Acredito também numa lapidação, em estudo, aprimoramento, pesquisa, mas a gente no fundo saca quando a pessoa tem um lance a mais, tem uma luz, algo ao redor dela, que a torna extremamente especial, a gente saca quando a pessoa é da música e quando ela não é!

O Dom, é uma conexão com outras atmosferas, tem um lado espiritual, somos um veículo, onde transportamos a música, que sai com o que carregamos de histórias, nossas aflições e anseios, é algo que vem de um lugar abstrato, eu diria!

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Graziela Medori: A improvisação se da com base na melodia que está sendo executada, é de suma importância conhecê-la bem e saber a forma da música, para que nesse momento você consiga construir de forma coesa o seu improviso.

Todas as vezes em que fui desafiada nesse sentido, improvisei espontaneamente, sem pensar muito, algumas vezes deu certo e outras não, mas acredito que faz parte e que o conceito é para ser experimental.

Algumas cantoras de Jazz, não tinham estudo acadêmico, como a Ella Fitzgerald, que era um fenômeno, acho que de tanto ouvir aquelas mesmas melodias e cantar com grandes pianistas e músicos de Jazz, ela foi aprimorando e entendendo a linguagem.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Graziela Medori: Sim, o improviso existe e pode ser aplicado de uma forma livre, já diz a palavra (improviso), mas é muito importante que você esteja ligado (a), na parte melódica, se você souber perfeitamente a melodia e a forma da música, seu desempenho dentro do improviso, será 100%.

É importante criar um diálogo dentro dele, dinâmicas, algo que envolva quem está assistindo, tipo uma história, que pode ser algo com a voz criando espaços nos intervalos e depois desenvolvendo junto com os instrumentos. Existem caminhos e é bom entendê-los.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Graziela Medori: Eu acho válido o estudo, quando ele não tira a sua criatividade, a sua própria forma de criação, algo que aconteceria, sem estudo, pela sua própria experiência, pelo seu próprio ouvido, mas no sentido da improvisação, acredito que um caminho de prática seja muito importante.

Não é uma linguagem muito usual na nossa música, a não ser que sejam grupos instrumentais ou poucas cantoras que enveredaram por esse caminho e que acabam explorando dentro do seu repertório, possibilidades de improviso. Os prós, é que você tem na mão a linguagem e o contra, é talvez se engessar através de coisas pré estabelecidas academicamente falando.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Graziela Medori: Os prós, é que você pode ter acesso a estudos de Harmonias, mais sofisticadas e o contra é que você acaba não desenvolvendo seu ouvido, sua intuição musical. Eu acredito que o caminho seja esse, não tenho base em estudos especificamente, mas pela minha convivência diária com os músicos, sinto pelas manifestações, que as opiniões circundam dessa forma.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Graziela Medori: Pra falar a verdade, não sei, foi-se o tempo em que isso era algo determinante, agora acho que estamos de frente para uma questão de gosto e nem todo mundo, isso estende-se a programadores e público, gostam do estilo de música que faço, que ao meu ver, não é uma música inacessível.

Recentemente me passaram a informação que o programador de uma famosa FM disse, que a música que faço, é muito sofisticada para a programação da rádio, não entendi nada! Não sei se foi uma forma de dizer, que não rolaria ou se de fato isso acontece e aí me pergunto, o que deve ser feito nesse caso?

Qual é o tipo de música que eles esperam? Esse lugar de opiniões absolutas, sem ao menos da uma chance, é um bloqueio do qual, eu já entendi, que não da pra furar, ao mesmo tempo, quero me envolver com coisas que fazem realmente sentido pra mim!! Se não é para estar ali, que assim seja, em outros lugares estarei!

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Graziela Medori: Que você tenha em mente exatamente o que você quer fazer, seja fiel aos seus ideais, por mais que o mundo externo te diga o contrário e te force a fazer, o que não deseja.

Estudar bastante o seu repertório, mergulhar nas suas referências, ler livros, assistir documentários e o mais importante sair do lugar da música e buscar inspiração em outras coisas, para que você potencialize sua criatividade!

Busque em filmes, exposições ou até mesmo num dia de solidão dando uma volta no parque, é muito importante vivenciar as coisas, para que isso tudo venha à tona, em forma de música, o que a gente carrega de histórias, nosso olhar sobre o mundo, acaba sendo muitas vezes, uma reflexão coletiva, o que você sente outros sentem, sentirão ou saberão o que é sentir!

29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Graziela Medori: Tivemos um grande espaço na mídia aberta, parece que música hoje se da num lugar automático, quase sem euforia, expectativa, acho que isso é um reflexo do modo como distribuímos nosso trabalho.

Sinto, infelizmente, que não existe mais aquele frio na barriga ao ouvir um disco, a última vez que isso me aconteceu, foi em 2008, quando entrei numa loja (FNAC, que infelizmente não existe mais) e ouvi o disco da Esperanza Spalding lançado naquele ano, onde ela revisita alguns temas brasileiros.

Eu entrei na loja em busca de novidade e o vendedor, meu Deus, agradeço muito por ter cruzado aquele cara, ele veio com esse disco, colocou o código de barras e quando começou a tocar no fone, o primeiro acorde, já me deixou enlouquecida. Sai correndo pra casa e comi com farofa o disco, sei todos os improvisos, todas as frases, mas nunca mais senti o mesmo, nos tiraram essa sensação!

A democratização foi extremamente necessária, mas nos tiraram o brilhantismo de se ouvir música, de se divulgar música! Acredito que esse mesmo modo operante, sem brilho, a não ser quando os críticos são realmente alucinados por música e não sucumbiram aos novos olhares, atingiu a todos de um modo geral!

Eu sempre acredito que para avançar, é preciso compreender o que foi e em se tratando de música, acho que as coisas estão voltando, há uma busca pelos álbuns no formato físico.

Estão criando mais podcasts que discutem sobre a nossa classe e de uma forma educativa, para que as pessoas entendam o mercado, muitos artistas de gerações anteriores a minha, estão voltando, sendo cultuados por um nicho de pessoas conscientes, que tratam a história com respeito e deixam essa chama acesa.

Se a coisa não acontece pelos meios, em que esperamos algum tipo de atitude, elas acontecem de forma underground, pelas beiradas, através dos movimentos e de pessoas que realmente fazem a diferença!

30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Graziela Medori: São espaços importantíssimos na criação de um novo cenário, na possibilidade de conhecimento do público, como uma série de artistas, acredito que se eles seguirem dentro de um parâmetro de justa distribuição e democrática programação, não há como dar errado!

O público ganha e o espaço só tem a ganhar também! Eu mesma fui uma cria desses lugares, quando comecei a cantar, tive a porta do Sesc aberta, para que eu ainda em começo de carreira, pudesse mostrar meu trabalho e ali eu construí conexões verdadeiras, com pessoas que me adoram e me seguem, até hoje.

Não consigo analisar o cenário sem essas instituições, existe um antes e depois desses espaços e o antes era caótico para quem não tinha um grande público e sonhava em formar o seu próprio. Hoje tudo isso é possível, mesmo que demore, para se concretizar, o fato de existir e ter para onde ir, é maravilhoso!

31) RM: Quais os seus projetos futuros?

Graziela Medori: Acabei de lançar meu novo álbum, em homenagem ao Marcos Valle e lançarei um com meu pai, um projeto extremamente especial.

Quero trabalhar em cima desses dois discos, explorá-los, divulgá-los bastante, para que atinjam o público, com a verdade que eles foram feitos, muitas pessoas nos ajudaram na realização de ambos e para mim ter esses dois trabalhos em mãos, é de uma alegria imensa. Queremos fazer turnê tanto no Brasil, quanto fora também e estamos trabalhando pra isso!

32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Graziela Medori: https://www.facebook.com/grazi.medori/

| https://www.instagram.com/grazi.medori/

| https://linktr.ee/grazielamedori

Contato para Shows: [email protected] (A/C: Thais)

Canal: https://www.youtube.com/c/GrazielaMedori

“Forró de Pai pra Filha”, uma grande celebração à música nordestina!
Trabalho maravilhoso do querido amigo Chico Medori (ex baterista de Dominguinhos). Das 8 faixas, 7 foram interpretadas pela incrível voz de Grazi Medori:
https://open.spotify.com/album/2rWlhGyuAlYRTsnCVXoNch?si=sWpqXM94Q4C2ZopUsCFEKQ


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.