Cantor, compositor paulista Francis Rosa tem em seu repertório canções que traduzem seu amor e respeito pela serra da Mantiqueira. Sua inspiração veio em Joanópolis, cidade localizada em plena serra, onde foi nascido e criado.
Suas apresentações, são garantia de um público permanentemente entretido e emocionado, envolvendo o expectador em uma atmosfera bucólica e acolhedora, que o aproximará do que é sentido nas fogueiras e rodas de viola, muito comuns nos “terreirões” das fazendas e lugarejos tantos da Serra da Mantiqueira.
Segue abaixo entrevista exclusiva com para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 26.08.2019:
01) RM: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Francis Rosa: Nasci no dia 21 de maio de 1977 em Joanópolis – SP, na Serra da Mantiqueira.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Francis Rosa: Embora não haja músicos nela, minha família é muito musical. Minha mãe escutava músicas de nomes como Nat King Cole, Doris Day, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto; minhas irmãs me mostraram o Rock dos anos 80, U2, Tears for Fears, Midnight Oil; mas de meu pai que veio o pé no barro, Vieira e Vieirinha, Tonico e Tinoco, Liu e Léo. O primeiro contato efetivo com a música foi aos 13 anos de idade, ouvi um disco da banda “Os Incríveis” e pensei: Preciso aprender a tocar. Dali em diante, a música virou meu Deus, meu Norte, Minha Vida.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?
Francis Rosa: Sou autodidata, aprendi a tocar violão em uma régua de costura, desenhei os trastes e as cordas e aprendi as posições: Dó, Ré… A história pode até parecer triste, nossa, que família pobre… Na verdade não tínhamos muito dinheiro, mas minha mãe não quis investir em um violão porque como tudo o que eu fazia, sabia que aquilo não ia dar em nada mesmo (risos). Fora da área musical sou formado em Técnico em Edificações e Auditor Interno do Sistema PBGH pela Vansolini.
04) Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Francis Rosa: Eu tenho uma lista dos 15 melhores do mundo: Almir Sater, Pearl Jam, Neil Young, Zé Geraldo, Morrissey, Belchior, Renato Teixeira, Vieira e Vieirinha, R.E.M., Legião Urbana, Stevie Ray Vaughan, Jamie Cullum, Humberto Gessinger, João Bosco, Midnight Oil. Alguns artistas entraram e saíram desta lista, mas não por não gostar deles, mas talvez por ouvir mais em determinadas épocas, todos os artistas que me influenciaram no passado ainda fazem parte de minha personalidade e do meu jeito de tocar.
05) Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Francis Rosa: Em 1990 comecei aprender a tocar Violão, aos 13 anos de idade, daí a ter uma banda foram dois anos de estudo. Joanópolis – SP nunca foi uma cidade com efervescência musical, mesmo com violeiros e bandas na região, mas nunca me deparei com um cenário cultural estruturado, isso nos resumia a ensaios na garagem de casa. Em 1994, montei uma banda chamada DOI-CODI, que mais tarde passou a se chamar Árvores de Carvalho. Lançamos uma fita demo em 1998 e começamos a rodar a região, cidades como Bragança Paulista – SP, Piracaia – SP, Extrema – MG e Joanópolis – SP. Tocávamos em Bares e em Festivais de Música que insistiam em acontecer naquela época, tínhamos letras sócio-políticas, mas também tocávamos canções de bandas de rock nacional e internacional. Mas sempre sentia que havia mais coisa pra mostrar pras pessoas além daquele tipo de música. Uma vez li uma entrevista de um renomado baterista de jazz chamado Buddy Rich em que ele disse “If you don’t have ability you wind up playing in a rock band”: “se você não tem habilidade, você acaba tocando em uma banda de rock”. Hoje em dia entendo perfeitamente o que ele quis dizer, não é necessariamente a habilidade mecânica ou motora para se executar uma canção, mas sim alma, direção, paixão, sentimentos. Hoje em dia toco um tipo de música que não me exige tanta habilidade como na época em que só tocava rock, mas ainda assim preciso estar bem melhor capacitado para executar essas canções.
06) Quantos CDs lançados?
Francis Rosa: Em 2006 lancei o CD – “Orvalhado” com as músicas: Araucária (Francis Rosa), Quatro Dias de Verão (Francis Rosa), Hoje (Francis Rosa), Pra Um Caminho Mais Gentil (Cleiton Andrade / Francis Rosa), Orvalhado (Francis Rosa / Cleiton Andrade). Na Última Boa Noite de Sono Que Tive, Sonhei Que Morava em um Condomínio Fechado no Alto da Boa Vista (Cleiton Andrade / Francis Rosa). Produzido por mim, é um disco que conta com 6 canções autorais, inicio de carreira, composições menos rebuscadas, época marcada por composições em parceria com Cleiton Andrade. Destaco a canção: “Araucária”, a primeira canção que escrevi para minha carreira solo.
Em 2012 lancei o CD – “Passaredo” com as músicas: A Última Noite de Inverno (Francis Rosa), Lua Clara (Francis Rosa), Passaredo (Francis Rosa), …E de Lá se vê (Francis Rosa), Estrela da Serrinha (Francis Rosa), O Fim do Inverno (Francis Rosa), Ainda Quero Voltar; Pois Sou Um Homem Bom (Francis Rosa), Da Cor do Outono (Francis Rosa), Pinhão (Francis Rosa), Música do Meio (Francis Rosa), Caminhos da Mantiqueira (Francis Rosa), Quem Não Tem Viola, Caça com Violão (Francis Rosa), Cusco (Francis Rosa), De Tudo Que Já Vi (Francis Rosa). Produzido por Paulo Garciia e por mim. É disco Bucólico, totalmente composto para Serra da Mantiqueira, as canções foram compostas em meu sítio onde ainda moro, são 14 canções onde tive o privilégio de contar com a sanfona de Daniel Blando e o violino de Edson Lobão, ambos de Bragança Paulista – SP.
Em 2014 lancei o CD – “Tocando a Vida” com as músicas: O Jeito Desse Meu Lugar (Paulo Garciia / Francis Rosa), Romaria (Renato Teixeira), Senhorita (Zé Geraldo), Você Vai Gostar (Elpídio dos Santos), Estrela da Serrinha (Francis Rosa), Toque de Viola (Almir Sater), Pinha no Pinheiro / Arraiá feijão Queimado / Moreninha Linda (Geraldo Meirelles / Nhô Fio – Raul Torres – Tonico / Priminho / Maninho), Mais Uma de Outono (Francis Rosa), Peão (Almir Sater / Renato Teixeira), Gavião de Penaxo (Francis Rosa), Lírios (Francis Rosa), Meninos (Juraildes da Cruz), Tocando em Frente (Almir Sater / Renato Teixeira), Mês de Maio (Almir Sater / Paulo Simões). Esse disco foi registro ao vivo áudio visual gravado na Casa de Cultura – Bragança Pta. – SP no dia 16 de Agosto de 2014 e em meu sítio no dia 27 de Setembro de 2014 é um disco muito especial pra mim, primeiro porque é um registro ao vivo lançado em cd e DVD o que exigiu muito ensaio e paciência (risos), segundo porque é um disco onde mostro claramente minhas maiores influências e a direção de onde quero chegar com minha música. Tenho muito orgulho deste trabalho. Participações de Juninho Serafranny – Violão / Percussão / Vocal – Paulo Garciia – Baixo / Vocal – Jonas Barroso – Violão – Edson José – Flauta – Rafael Henrique – Cello. Em 2015 lancei o CD – “Estradas” com as músicas: Estradas (Francis Rosa / Juninho Serafranny), Recanto (Francis Rosa), Detardinha (Francis Rosa), Espelho D´Água (Francis Rosa), Tranqüilo Feito Água em Poço (Francis Rosa), Barro Branco (Francis Rosa), Dona Dalva (Helena Meirelles), Sambinha (Francis Rosa / Juninho Serafranny), Rio Grande (Francis Rosa), A Vida é Um Rio (Almir Sater / Renato Teixeira). Esse sem dúvida é o disco que mais gosto de todos, é um disco instrumental e isso cria um desafio, fazer canções que digam algo pras pessoas mesmo sem ter palavras! É meu amigo “Em terra de cego quem tem um zóio só é rei.” Disco produzido por Paulo Garciia.
O ano de 2015 foi muito produtivo, lancei três discos e selei parcerias muito importantes pra minha carreira e minha vida pessoal. Esse disco foi masterizado por Hamilton Griecco (Micca) produtor e engenheiro de som de Almir Sater, e também já produziu discos de Paulo Simões, Zé Geraldo entre outros, mas talvez a contribuição mais importante do Micca, não tenha sido na ajuda com a produção dos discos, ele me ajudou a entender que não sou louco, ele disse: Você tem talento e tem de mostrar isso pras pessoas, vamos nessa. Se eu passasse o resto do dia falando do Micca ainda não ia dar pra dizer o quanto sou fã e quanto sou grato a ele. Brigado Micca, te amo! Esse disco conta com a participação de Paulo Garcia – Baixo – Rafael Schimidt – Violão Nylon / Vocais – Gel Oliveira – Percussão – Rafael Henrique – Cello – Daniel Blando – Sanfona.
Em 2015 lancei o CD – “Lírios” com as músicas: Lírios (Francis Rosa), Mais Uma de Outono (Francis Rosa), Mantra (Juninho Serafranny / Francis Rosa), A Última Viagem (Vieira e Vieirina), Galos, Noites e Quintais (Belchior). Algumas pessoas entendem este disco como um single ou como um EP, mas na verdade é um álbum, nunca me importei com a quantidade e sim com a qualidade, sem contar que o trabalho para se lançar um disco com 12 ou com 5 músicas é o mesmo, esse disco traz nomes muito influentes pra mim, Belchior e Vieira e Vieirinha. Os músicos que participam deste disco são Paulo Garciia – Baixo – Junino Serafranny – Violão – Rafael Henrique – Cello – Daniel Blando – Sanfona – Jonas Barroso – Violão. Em 2015 lancei o CD – “O Jeito Desse Meu Lugar” com as músicas: Voltei (Francis Rosa), O Jeito Desse Meu Lugar (Paulo Garciia / Francis Rosa), Lírios (Francis Rosa), Tempo Negro (Rui Ventura), Gavião de Penaxo (Francis Rosa), Ainda Há Tempo Pra Contar (Francis Rosa), É Sempre Verão (Francis Rosa), Deixe o Céu Nos Embalar (Rafael Schimidt / Francis Rosa), Vi; Coisas Que Custaram a Passar (Francis Rosa), Amanhã (Francis Rosa), Um Caminho Pra Seguir (Francis Rosa), Zé Afrânio (Francis Rosa). Esse disco é um divisor de águas para mim, primeiro porque quem assina a produção do disco é Hamilton Griecco (Micca) juntamente com Paulo Garciia, segundo porque é o marco de minha parceria com o cantor e compositor Zé Geraldo, cantamos juntos “O Jeito Desse Meu Lugar”. Nesse disco me deu saudades de tocar rock (risos), compus algumas canções mais voltadas a esse universo, influências de artistas como Neil Young e Mark Knopfler são claramente sentidas neste álbum, toco guitarra em algumas canções, porém não perdi minha veia “pé no barro” o que pode ser sentido em canções como “O Jeito Desse Meu Lugar” e “Gavião de Penaxo”. Paulo Garciia – Baixo – Rafael Schimidt – Violão Nylon e Vocais – Lukita Oliveira e Gel Oliveira – Bateria – Daniel Blando – Sanfona – Juninho Serafranny – Violão – O Côro da Boca Murcha – Fran / Paulin / Schimidt / Beto Rosa.TXT / Pera / ET.
Em 2016 o lancei o CD – “Caminhada” com as músicas: Caminhada (Francis Rosa), Um Dia (Francis Rosa), Coração (Francis Rosa), Palavras (Francis Rosa / Tuia Lencioni), O Violeiro e a Viola (Francis Rosa / Maurício Folha Seca), Bonifácio (Francis Rosa / Zé Geraldo), Serrano (Francis Rosa / Rafael Schimidt), Sonhos (Francis Rosa), Eu Moro no Morro (Silvio Garcia), Mundo Véio Sem Porteira (Francis Rosa). Esse é um sonho para mim. Canções marcantes, participações mais que especiais e a gratificação de sentir que o estilo de composições que decidi seguir, é realmente o que mais me completa. Produzido por mim, este disco conta com a participação de Nô Stopa em “Coração”, Tuia Lencioni em “Palavras”, Filho dos Livres (Guga Borba e Guilherme Cruz) na visceral “O Violeiro e a Viola” e Zé Geraldo e Folk na Kombi na canção “Bonifácio”. Os músicos que participam do disco são Rafael schimidt – Violão Nylon – Rafael Henrique – Cello – Bel Bortolotti – Arranjo de Cordas / Viola Classica / Violino – Daniel Blando – Sanfona – Gel Oliveira – Percussão.
Em 2018 lancei o CD – Zé Geraldo e Francis Rosa “Cantos e Versos” com as músicas: Deságua (Zé Geraldo), Lírios (Francis Rosa), Galho Seco (Zé Geraldo), O Jeito desse Meu Lugar (Paulo Garciia / Francis Rosa), Lua Clara (Francis Rosa), Cidadão (Lúcio Barbosa), Maria Bonita (Zé Geraldo), Vendaval (Rui Ventura), Barro Branco (Francis Rosa), Caminho do Amor (Rafael Schimidt), Negro Amor (Bob Dylan – Versão: Caetano Veloso / Periclas Cavalcanti), Deixe o Céu Nos Embalar (Rafael Schimidt / Francis Rosa), É Sempre Verão (Francis Rosa), Peão de Trecho (Zé Geraldo), Reciclagem (Zé Geraldo), Hey Zé (Bill Roberts – Versão: Zé Geraldo). Meu Segundo registro ao vivo áudio visual, lançado em CD e DVD firmando de vez minha parceria com o cantor e compositor Zé Geraldo, gravado no dia 12 de Março de 2016 no Teatro Municipal Sylvia de Alencar Matheus – Vinhedo – SP, eu assino a produção do CD e DVD que conta com a participação de Paulo Garciia – Baixo / Vocais – Gel Oliveira – Percuteria – Jonas Barroso – Violão / Percussão / Vocais – Rafael Henrique – Cello – Rafael Schimidt – Violão Nylon – Hamilton Griecco (Micca) – Guitarra. Não é possível explicar o que se sente ao produzir um trabalho deste junto a um de meus maiores ídolos, sempre assisto novamente para ver se é verdade mesmo (risos).
Em 2019 lancei o CD – “Entre Serras e Águas” com as músicas: Terra de João (Francis Rosa), Café Passado (Juninho Serafranny), Foi Por Mim (Francis Rosa), Conselhos e Desejos (Francis Rosa / Silvio Garcia), Entre Serras e Águas (Francis Rosa), O Que Me Faz Viver (Francis Rosa), Pro Dia Chegar Ao Fim (Francis Rosa / Sineval Rosa), A Canção da Festa do Milho (Julio Santin / Waldinai Ferreira), Baruiada de Viola (Francis Rosa / paco), Tonta Saudade (Eugênio Leandro), Festa de Janeiro (Vieira e Vieirinha), Vou (Francis Rosa / Guga Borba). Produzido por mim, gravado, mixado e masterizado por Juninho Serafranny, lançado recentemente no dia 21 de maio de 2019 (dia de meu aniversário), provavelmente o disco mais “pé no barro” que já tenha escrito. Participações de Juninho Serafranny em “Café Passado”, Baitaca em “O Que Me Faz Viver”, meu pai Sineval Rosa em “Pro Dia Chegar ao Fim” e Paco em “Baruiada de Viola”. Os músicos Hamilton Girecco (Micca) – Baixo – Gel Oliveira – percussão – Daniel Blando – Sanfona – Filpo Ribeiro – Rabeca.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Francis Rosa: Não sei se dá pra classificar meu tipo de música. Num olhar mais superficial seria talvez “Música Regional”, mas se olhar melhor terá uma pitada de rock, uma pitada de sertanejo, um pouco de samba. Acho que a melhor definição seria Francis Rosa.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Francis Rosa: Não estudei. Cantar é uma coisa que vem da alma, ou você canta ou não canta. As técnicas podem ajudar a melhorar ou moldar um pouco a maneira de cantar, mas não posso afirmar nada porque nunca estudei.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Francis Rosa: Eu acredito que técnicas vocais possam ajudar a manter e melhorar a voz, mas acho que o que mais mantém a voz são as coisas que você fala (risos).
10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Francis Rosa: As cinco melhores vozes que ouvi na vida em ordem decrescente são: Cauby Peixoto, Eddie Vedder, K. D. Lang, Eugênio Leandro, Guga Borba.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Francis Rosa: Cara, quando chega uma música pra mim eu cravo “os doi jueio” na terra e agradeço. Não vejo uma regra, uma receita, já tive dias de estar com o que há de melhor em equipamento que um músico possa ter e não veio nenhuma música, mas as vezes com uma violinha veia no pé de uma cachoeira vem uma música que me tira o sono enquanto não gravo. Tem que está com a mente aberta, com o coração limpo, como diz Marcelo Camelo “A Paz de estar em par com Deus”. Você não escolhe as canções, você é escolhido por elas. Talvez essa seja minha maior briga com os compositores famosos atuais, a música não começa no bolso e sim no coração. Dinheiro é consequência. Você pode dizer o que quiser em uma canção, mas primeiro precisa saber se sua alma quer dizer aquilo.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Francis Rosa: Fiz algumas canções com Juninho Serafranny. Gosto muito da maneira com que o Guga Borba compõe, temos feito algumas músicas juntos. Atualmente eu e Zé Geraldo estamos gravando um disco que sairá no ano que vem chamado “O Poeta e O Violeiro”, Compusemos algumas canções para este disco.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Francis Rosa: Não sei se mais alguém teria coragem pra isso além do Francis Rosa (risos).
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Francis Rosa: A maior vantagem é a identidade musical intacta. Fazer o que seu coração manda. A desvantagem é a minha música não ser escutada por muitas pessoas como talvez fosse se estivesse em uma gravadora ou produtora de grande mídia. As pessoas têm resistência à música que a grande maioria desconhece.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Francis Rosa: É sua empresa, seu comércio, sua fonte de renda, então você tem que tratar sua carreira musical de maneira organizada. Temos as redes sociais que são ótimas ferramentas para levar a nossa música mais longe, mas tem um monte de gente que já se ligou nisso. E pior ainda, tem um monte de gente que põe um trabalho mal estruturado e acaba tendo a mesma visibilidade ou até mais que um trabalho bem estruturado. É difícil, trabalho de formiguinha. Eu estou nessa de música a mais ou menos 30 anos e um dia desses um “rapazinho” me perguntou qual a melhor maneira de se ter uma banda? Respondi: Trabalho. Eu vejo mais ou menos como o arquiteto e o engenheiro, sou muito bom em sonhar um novo disco, compor, a capa vai ser assim, terão tantos instrumentos, mas cadê a grana pra isso? É ai que você tem de cair na estrada e ter respeito com seu trabalho. Saber aonde quer chegar, um ano passa muito depressa. Meu maior medo era olhar para trás e me arrepender de algo que tenha feito com minha carreira musical, hoje sei que não corro mais esse risco. Meu trabalho está maduro, entende?
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Francis Rosa: O artista independente tem que estar preparado para tudo. Tem que ter site, facebook, instagram, as canções em plataformas digitais, vídeos com boa qualidade no youtube e boas canções. Quem vende você é você. São nove discos, você tem noção da “bica” que é pra ter esses nove discos editados e distribuídos em formato físico e digital? Sem contar as despesas para gravação dos mesmos. Você tem que contar com os amigos e as pessoas que te cercam, quando lancei meu disco entre serras e águas no dia de meu aniversário quando soprei as velas minha esposa disse: Faça um pedido. Ai pensei: Deus, não ligo em continuar pobre, mas gostaria de ver meus amigos cada vez mais ricos (risos).
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Francis Rosa: A internet te dá possibilidade de você levar sua música até às pessoas que querem ouvi-la, ou seja, te ouçam, te assistam e ainda tirem suas dúvidas ou mandem suas críticas digitalmente, tudo de uma maneira rápida e econômica. Acho que se bem usada, não há como a internet ser prejudicial.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Francis Rosa: Não existem desvantagens se você tiver um técnico de gravação que saiba o que esta fazendo com os programas de captação de som, mixagem e masterização.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Francis Rosa: O mais importante hoje é a música. Você tem de seguir seu coração. A internet é uma porta aberta pra todo mundo, sabe “Um País de Todos”? Então, é a internet, porém, no momento em que esse território é ofertado a todos. Você acaba não tendo território nenhum, a grande massa ouve o que a grande mídia diz para ouvir. E como disse a cima, as pessoas têm uma resistência muito grande ao desconhecido e pior ainda, uma resistência muito grande ao que as pessoas de seu meio não conhecem. A única arma disponível para você quebrar essa barreira, é a convicção de que seu trabalho lhe completa, lhe agrada. Músicas ruins passam, músicas boas ficam.
20) RM: Como você analisa o cenário da música sertaneja raiz. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Francis Rosa: É difícil dar nome aos bois, ainda mais quando o assunto é crítico. Não consigo ver na grande mídia, duplas ou artistas que realmente defendam esse tipo de música. Aparece uma ou outra dupla, mas embasada num tipo de música que pode ser chamada de qualquer coisa, menos de música sertaneja. Já aqui na parte de baixo, o chamado “Underground”, termo esdrúxulo, citaria pelo menos Paco & Tiago de Pedra Bela – SP, Luís Ferreira de Salto – SP, Mário e Mathias de Joanópolis – SP, Mineiro e Viola de Campos do Jordão – SP. Com certeza devem existir outros, mas estando fora da grande mídia fica difícil achá-los.
21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Francis Rosa: Acho que todos os artistas que estão nesse patamar, estão grande parte por mérito deles. Todos eles tiveram que se dar e se doar muito pra estarem onde estão; independentemente do tipo de música que fazem, ou das coisas que suas músicas dizem,
22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Francis Rosa: O que você imaginar de situação inusitada eu já passei. Carro quebrado, chegar atrasado, queimar equipamento de som novinho, cair no palco. Uma vez fui pego pelo colarinho por uma mulher que tava assistindo a minha apresentação porque não toquei uma música que ela queria. A pior situação que eu passei foi há um mês. Estava negociando uma apresentação em uma cidade mineira, por um preço bem abaixo do que cobro, mas tudo bem, tocar naquele lugar iria me dar certa visibilidade. O organizador, secretário de cultura ou sei lá o que me pede várias coisas, por exemplo, três últimas notas fiscais que comprovem o valor pedido, postagens em redes sociais, certidão negativa de débito de minha empresa e mais um monte de burocracias. Ai eu desisti, falei pra ele que não queria mais fazer parte do evento, ai eu ouvi a pérola: Você até que é talentoso, mas como outros aqui da região, não é profissional. Fiquei quieto.
23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Francis Rosa: O que me deixa mais triste é você praticamente se prostituir para ter um espaço para mostrar teu som e quando consegue, é muito difícil levar um público até lá, mas quando você consegue um bom lugar pra se apresentar e as pessoas entendem sua proposta musical, ai não tem preço que pague. Só felicidade.
24) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?
Francis Rosa: Não existe cena musical em Joanópolis – SP. Existem pessoas talentosas que trabalham bastante pela música, mas que acabam desistindo por não conseguirem ser ouvidas ou acabam montando uma banda em que tocam músicas que não lhe agradam para conseguir sobreviver. Existem bons artistas em minha cidade, porém, por conta de uma administração pública que não os apoia e por haver um descaso por uma grande parte da sociedade, os artistas acabam saindo de lá, como eu fiz.
25) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?
Francis Rosa: Juninho Serafranny, Helena Badari, Delmondes, Mário e Mathias.
26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Francis Rosa: Não.
27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Francis Rosa: Trabalhe.
28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Francis Rosa: Se você construir uma carreira atrelada a Festival de Música, você está fadado a desistir em pouco tempo. Músico tem de ir pra estrada, correr atrás. Os Festivais são um ótimo veículo para você mostrar suas músicas com boas qualidades técnicas para um show, geralmente os organizadores respeitam bastante os músicos.
29) RM: Na sua opinião, hoje os Festivais de Música para revelar novos talentos?
Francis Rosa: Acho que o problema é mais cultural do que falta de oportunidade. Você faz uma apresentação incrível em um Festival Musical e algumas pessoas captam aquilo que você quis passar, mas a grande maioria não vai querer saber quem você é e sim onde você toca; se não tem música em novela, então não interessa.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Francis Rosa: Superficial, é mais ou menos como corrida de cavalo, apostam muito em um só ai quando ganham, ganham muito.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Francis Rosa: Tenho 25 anos correndo o trecho, a única vez que toquei num SESC foi por intermédio do Zé Geraldo para lançarmos nosso DVD, não sei o que dizer sobre essas entidades.
32) RM: O circuito de Bar na sua cidade é uma boa opção de trabalho para os músicos?
Francis Rosa: Não.
33) RM: Qual as diferenças entre tocar a Viola de 10 cordas e o Violão de 6 cordas?
Francis Rosa: A viola caipira trás consigo algo mágico, não sei explicar direito. O violão de 6 cordas é um instrumento que mecanicamente você toca. Digamos que você nunca tenha tocado um violão na vida, se eu te falar, olhe, ponha o dedo um nessa corda e nessa casa, dedo dois nessa e dedo três nessa, agora passe a mão direita nas cordas, pronto você consegue tirar som. A Viola caipira é diferente, se você não tiver alma e acima de tudo não tiver propósito pra tocar aquele instrumento, fica um som Chocho. A viola caipira é um instrumento diferenciado dos demais. Muita história em um só instrumento. Sinto-me mais brasileiro quando toco Viola caipira.
34) RM: Qual as principais técnicas para tocar bem a Viola de 10 cordas?
Francis Rosa: Não sei. O que vejo por ai é que cada violeiro tem um jeito de tocar e todos eles têm algo novo a acrescentar nesse mundo da Viola caipira.
35) RM: Quais os seus projetos futuros?
Francis Rosa: Eu e o Zé Geraldo estamos gravando um disco chamado “o Poeta e O Violeiro”, será um disco bem sertanejo de verdade, com influências bem brasileiras. O disco contará com 10 canções, sendo duas regravações de artistas que gostamos, duas regravações de músicas de outros discos nossos e 6 músicas inéditas, provavelmente no começo do ano que vem este disco estará pronto.
36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Francis Rosa: www.francisrosa.com