A cantora e compositora paraibana Flávia Wenceslau teve diversas influências artísticas ao longo de sua carreira musical. Foi estimulada a explorar o seu dom desde cedo. Ainda criança se envolveu com a música no ambiente familiar.
Na adolescência foi vocalista de bandas de baile e se apresentou em bares e restaurantes ao estilo “um banquinho e um violão”. Participou de Festival de Música e construiu ao longo de duas décadas uma sólida experiência de palco por diversas cidades do país. Convivendo com o universo multicultural brasileiro, construindo assim sua própria identidade.
Flávia transita com facilidade entre os vários estilos da música popular brasileira. Em seus discos, os arranjos simples favorecem o brilho de uma voz marcante, que impressiona pelo timbre singular. A técnica vocal refinada, aliada a uma interpretação permeada de sentimento. Ela é mesmo o que canta. A estréia em estúdio veio em um momento de maturidade, refletida nas composições que assina. O primeiro CD – “Agora”, reúne 12 músicas, sendo 11 de sua autoria.
Um CD que traz, além do forró, outros ritmos que revelam a versatilidade da artista. Uma das músicas do CD chegou a ser tema de novela em 2006. Executada nas rádios e na TV, a faixa “Imensidão” deu mais expressividade a cantora no concorrido cenário musical brasileiro. Foi o passo inicial da fase profissional, que se consolidou com o lançamento do segundo CD – “Quase Primavera”. Reúne 12 composições em que assina a autoria de quase todas.
O CD mescla arranjos de violão, violoncelo, flauta e percussão. De uma poesia singular. As canções falam sobre tudo de sentimentos como amor e esperança. O destaque da obra, mais uma vez, é interpretação da cantora. Livre dos “rótulos”. Sua obra é o reflexo de uma personalidade forte e marcante. Fruto de um grande potencial artístico. É uma das vozes femininas mais elogiadas da nova safra de artistas brasileiros. Flávia consegue ser suave e ao mesmo tempo firme em suas interpretações.
Segundo ela, o que a define como artista, não é só a técnica vocal, mas principalmente a capacidade de expressar através de seu canto o que está em sua alma. Desde que iniciou a carreira solo ela tem colecionado elogios por onde passa. Em shows cada vez mais prestigiados pela crítica, vem conquistando um público fiel.
Atualmente se divide entre o trabalho de divulgação do novo disco e a agenda de apresentações em várias cidades brasileiras. Aclamada por levar o troféu Caymmi, com o CD – “Agora”. Que teve fortes influências da música nordestina, a paraibana se superou no novo disco. No CD – “Quase primavera”, ela traz toda a experiência artística acumulada ao longo de sua carreira.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Flávia Wenceslau para www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 02.06.2010:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Flávia Wenceslau: Eu nasci no dia 17 de abril de 1981, Nova Floresta – PB. Registrada como Flávia Wenceslau Sartori.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Flávia Wenceslau: Meu pai era músico e cantava muito bem também. E meu irmão mais velho também já cantava em bandas e me incentivou a ir cantar com ele.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica dentro ou fora música?
Flávia Wenceslau: Minha formação musical, eu acredito que ainda não está concluída nem estará. A música para mim é um aprendizado constante, uma descoberta que caminha junto com o amadurecimento da nossa visão de mundo. E nossa forma de pensar sobre tudo. Eu sempre dei mais valor à emoção, ao conteúdo mais tocante das canções.
Se a matriz de onde sai à canção, se o que o artista tem a dizer não tenha nascido de seu coração. Não tem conservatório nem técnica que vá realmente fazer a diferença onde precisa fazer. Então a minha formação musical, eu considero estar ligada a minha formação como ser humano.
Que é uma estrada infinita ainda a ser explorada e desenvolvida, mas o pouco que sei, eu aprendi sozinha tentando, quando comprei o meu primeiro Violão.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Flávia Wenceslau: Sempre ouvi muita música brasileira. E minhas exceções internacionais foram poucas, porém marcantes: Janis Joplin, Fred Mercury, por exemplo, era o que realmente me emocionava ao ouvir. E as cantoras que admiro até hoje não posso deixar de citar Marinês, Maria Bethânia, Zizi Possi, Fafá de Belém. Em fim, este time vasto que temos de bons espelhos de profissionalismo.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Flávia Wenceslau: Comecei aos 13 anos de idade. Eu fui cantar com meu irmão mais velho acompanhada por um Teclado no interior de uma cidade chamada Pocinhos – PB. Depois fui cantar em bandas da cidade de Campina Grande – PB.
06) RM: Quantos CDs você lançou (músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil de cada CD? E quais as músicas de cada CD que o público mais gostaram?
Flávia Wenceslau: Meu primeiro disco foi experimental. Gravei acompanhada de Zé Newton no Violão quem tocava muito comigo na Paraíba. Gravei canções de outros artistas como um meio de descobrir se eu me sentiria bem ou não cantando determinadas coisas. O CD teve uma tiragem mínima.
Depois comecei a escrever pra falar do que eu realmente sentia necessidade e da maneira que eu sentia tais necessidades. De lá pra cá gravei minhas canções em CDs posteriores, com algumas canções de outros artistas. Cujo tema tenha me tocado verdadeiramente.
E as canções que caem no gosto do público são simples e falam do cotidiano, das vivências sinceras sobre o amor. Uma tristeza, uma esperança, alguma falta de resposta das nossas tantas perguntas. Mas falo isso embasada no meu estilo de público, quem dera pudéssemos generalizar.
Discografia:
- 2010 – CD – Saia de Retalho.
- 2008 – CD – Quase Primavera.
- 2003 – CD – Agora.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Flávia Wenceslau: Eu não sei em que estilo me definiria, mas escrevo de acordo com meus sentimentos e aprendizados da vida. Falo português, canto em português. Não sou uma intelectual nem falo difícil, minha busca é descomplicar sempre.
Naturalmente já tenho algum motivo pra me definir como música popular brasileira. Embora do jeito que estão às coisas. Já não sei mais se é uma coisa decente ou não, me incluir no rótulo MPB.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Flávia Wenceslau: Eu escrevo a partir dos sentimentos. Seja de tristeza, alegria, saudade, esperança. Sempre baseada em acontecimentos da vida, conclusões, aprendizados, partindo de algo que senti. Ou pra alguém ouvir, ou por alguma situação.
Das vezes que eu fui tentar escrever pela obrigação de compor nunca funcionou! Meu processo de criação é deixar fluir, sem me preocupar com uma obra de trezentas canções que só cresce.
E sim viver as emoções confiar que a fonte da inspiração não seca. E que enquanto eu não me preocupar com quantidade, nem me envaidecer daquilo que escrevo, sempre vou ter algo bom e alegre a dizer e cantar.
09) RM: Quais são o seus principais parceiros musicais?
Flávia Wenceslau: Ainda não tenho parcerias nas canções. Sei que vai chegar o momento de identificação plena com alguma parceria e naturalmente vamos ter trabalhos feitos. Estou começando uma parceria com uma grande cantora e amiga Mariene de Castro. E sei que vamos fazer canções muito sinceras e felizes.
Temos uma visão de mundo e um compromisso com a arte é bem parecido. Mas compor com alguém, só pra dizer que tenho música com fulano e sicrano. Não faço isso não.
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Flávia Wenceslau: Eu não sei ainda como que é desenvolver uma carreira de outra forma, que não seja independente. Até hoje o que consegui e consigo é de forma independente. Dá trabalho e muito, mas me sinto bem em fazer e cantar exatamente o que eu acredito. Não tenho nenhum complexo por minhas músicas não tocarem em muitas rádios.
Quem sabe um dia tocará, vamos ver. E os fãs que tenho gostam da minha música por opção, por sinceridade, não foi imposição de modismos.
Eu quem conquistei cada um, através do meu compromisso em fazer minha parte para mudar as coisas que precisam ser mudadas. Os laços da minha carreira independente com o meu público são laços sólidos que vai durar. Eles são quem mais me divulga. No mercado fonográfico de gravadora faliu pela ganância e falta de compromisso com a sociedade.
O foco no dinheiro à custa da ignorância alheia. E estamos vivendo no mundo um processo de mudança que esse tipo de monopólio não terá mais cabimento algum. E os artistas independentes são parte importante para essas mudanças.
11) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Flávia Wenceslau: Existe a análise do que a gente tem conhecimento. E existe a análise que a mídia faz para parte da população acreditar que é arte, né? Pra mim o cenário musical continua rico de cantores, cantoras, poetas, intérpretes e etc. Um trabalho consistente: Zeca Baleiro, Lenine, Vander Lee, Ceumar, Mariene de Castro.
Pessoas que lutaram muito antes de aparecer na mídia. Já traziam consigo uma estrutura espiritual para poder permanecer e continuar onde estão. Quanto a regredir. Cada um deve ter seu motivo emocional ou comercial para agir da forma que age. Não tenho direito de sair julgando as pessoas, principalmente se eu não as conheço de perto.
Mas vejo alguns artistas passarem a cantar coisas completamente destoadas do que fizeram durante toda uma carreira. Letras vazias e denigrem a imagem do ser humano, da mulher. Em outro âmbito usar a imagem que tem e fazer propaganda de bebida alcoólica. Uma droga que tem cada vez mais assolado a sociedade.
Criou-se uma cultura de que o artista pode tudo. Discordo completamente disto, mas eu não irei mudar o mundo sozinha.
12) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Flávia Wenceslau: Almir Sater, Zé Ramalho, Marisa Monte, Nonato Luiz, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Gilberto Gil e tantos mais.
13) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Flávia Wenceslau – Cantar e não receber, quem nunca passou por esse infortúnio nas “prefeiturinhas safadinhas”. Mas algo que me recordo e foi assustador, foi uma confusão no local de uma festa que cantei em que ouve tiroteio.
Isso foi no interior da Paraíba e eu era novinha. Assustou-me bastante. E outras chatices do ramo aconteceram mais na época do barzinho. Pessoas desagradáveis e desentendidas do assunto sempre se colocam a disposição pra atrapalhar de uma forma geral.
14) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Flávia Wenceslau: As tristezas para mim não são tão profundas a ponto de aparecer em uma entrevista. Fazem parte do caminho. E as alegrias são muitas. Você pode mudar um pensamento para melhor.
E receber de volta tanta consideração, reconhecimento. Às vezes até de onde se menos espera. É um motivo de alegria e de encorajamento.
15) RM: Nos apresente a cena musical paraibana e da cidade que você mora?
Flávia Wenceslau: Faz um tempão que não moro na minha terra querida. Então citar uns e esquecer outros não seria justo. E por mudanças no caminho, sempre toquei mais com músicos de outros estados, mas a Paraíba é um celeiro de grandes artistas. Adoro minha terra.
16) RM: Quais os músicos e bandas paraibanas que você recomenda ouvir?
Flávia Wenceslau: No momento não tenho conhecido nenhuma banda paraibana ou trabalho solo que toque o meu sentimento. Fora os artistas paraibanos conhecidos nacionalmente.
Que exista algum trabalho novo e eu ainda não tenha tido oportunidade de conhecer. Então da cena contemporânea, das coisas que eu conheço. Se eu citasse o nome de alguém ou de alguma banda, seria por educação, por uma simpatia pelas pessoas.
Ou até mesmo pra não ser julgada de maneira desagradável pelos “artistas” paraibanos de minha geração. Que por ventura terão conhecimento dessa entrevista, mas nenhum desses motivos me convence a não ser sincera comigo mesma.
Então continuo ainda a curtir o CD – Baioque de Elba Ramalho. O primeiro disco ao vivo de Chico César. As Letras antigas de Vital Farias. A genialidade de Sivuca. E esperando novas emoções que me toquem tanto quanto.
17) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Flávia Wenceslau: Acredito.
18) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Flávia Wenceslau: É preciso ter determinação e originalidade.
19) RM: Quais os projetos futuros?
Flávia Wenceslau: Meu CD – Saia de Retalho ficou pronto em fevereiro de 2010. Faremos shows pelo Brasil. Tenho um convite pra uma temporada fora do Brasil no mês de novembro. E quero gravar nosso DVD.
19) RM: Flávia Wenceslau, Quais os seus contatos?
Flávia Wenceslau: www.Fláviawenceslau.com.br / www.myspace.com/Fláviawenceslau / Flá[email protected]