Flavia Prando, violonista e pesquisadora. Iniciou seus estudos musicais no curso de violões da prefeitura de Santos, criado por Antonio Manzione, onde atuou na Camerata de Violões Heitor Villa-Lobos (1984- 1989) e lecionou no mesmo projeto (1997-1999). Trabalhou no Projeto Guri (2003-2004), inicialmente como professora e, posteriormente como técnica de cordas dedilhadas (2005-2010).
Atualmente é pesquisadora em Ciências Sociais e Humanas do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc/SP e atua como regente convidada da Camerata Infanto-Juvenil do Projeto Guri Santa Marcelina.
É doutora e mestre em Música pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sob orientação dos professores doutores Flávia Camargo Toni e Edelton Gloeden, respectivamente. Bacharel em Música, com habilitação em instrumento, violão, pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (IA/UNESP), sob orientação de Giacomo Bartoloni.
Sua pesquisa de mestrado (2008) recuperou e disponibilizou em partituras a obra de Othon Salleiro, psiquiatra e músico fluminense, professor de Sebastião Tapajós e presença constante nos saraus de Jacob do Bandolim, compositor inventivo, teve como parceiros João Pernambuco e João dos Santos.
Já o doutorado, tratou do violão em São Paulo, O mundo do violão em São Paulo: processos de consolidação do circuito do instrumento na cidade (1890-1932), recebeu a primeira menção honrosa no Prêmio Silvio Romero 2021 (IPHAN).
E deu origem a quatro álbuns de partituras Violões na Velha São Paulo, com edição de Ivan Paschoito (LEGATO EDITORA) e ao capítulo Violão paulistano: repertório e práticas do início do século XX, publicado no livro Cidade Dis(sonante): culturas sonoras em São Paulo (séculos XIX e XX), com organização de José Geraldo Vinci de Moraes (INTERMEIOS, 2022), ao programa no Sesc TV (2023), Os pioneiros, dentro do Movimento Violão.
Como Pesquisadora em Ciências Sociais e Humanas do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo (desde 2014), organiza e coordena cursos, oficinas, seminários, grupos de estudos e palestras, nas áreas das humanidades, com ênfase em música. Entre eles citamos o Grupo de Estudos Culturas Sonoras (2023), em co-coordenação com o professor Vinci de Moraes (FFLCH-USP).
A organização e curadoria: do Curso de Gestão Cultural em Contextos Tradicionais (atualmente na terceira edição – 2023) e da série de palestras (2022) Violão e Identidade Cultural na América Latina (Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Peru e Brasil); a organização, curadoria e apresentação de pesquisa do ciclo de palestras Espanhóis em São Paulo: Singularidades e Influências, em parceria com o Instituto Bixiga (2022), além de participar como mediadora em diversos eventos presenciais e virtuais.
Tem se dedicado a divulgar as obras recolhidas no doutorado, compostas por músicos que atuaram na cidade de São Paulo entre o final do século XIX e início do século XX (1868-1932) em palestras, cursos, programas de rádio, recitais, entre eles: programas sobre os compositores, com apresentação de biografias e músicas, como o podcast da USP sobre pesquisas ligadas à cidade de São Paulo, em Como a trajetória do violão marcou a história de São Paulo?; palestra recital de lançamento dos livros de partituras Velha São Paulo volumes 1 e 2.
Recitais no Movimento Violão, no Sesc Santana e Sesc Araraquara (2022) e no Teatro Maria Dudé (2022), as músicas estão registradas no canal do Youtube, e em um álbum com 13 músicas: Violões na Velha São Paulo, volume 1., lançado em 2024, com excelente repercussão, citamos a matéria de Camila Frésca, na Revista Concerto; Toque de Cordas, na Cultura FM, é possível ouvir algumas músicas do álbum Violões na Velha São Paulo, comentadas por Bruno Lombizani; CD da
Semana (04/02/2024), da Cultura FM, com comentários de João Marcos Coelho; matéria na Revista Prosa, Verso e Arte. O álbum deu origem a uma série de podcasts “Histórias dos Violões na Cidade de São Paulo”.
Participa de diversos festivais, concursos, congressos, seminários e simpósios de musicologia, apresentando palestras, ministrando cursos, participando de bancas, entre eles citamos: a organização de dois Simpósios temáticos sobre pesquisas em violão, o PANOVIO (2018-19), nos Congressos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Música (ANPPOM), em parceria com o pesquisador Humberto Amorim (UFRJ).
Lançamento do Projeto de Digitalização da Coleção Ronoel Simões, com apresentação de palestra, no Centro Cultural São Paulo (2022); Festival de Violão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2023), apresentando palestra e recital referentes à pesquisa de doutorado; participação na banca do tradicional concurso do Conservatório Souza Lima (2022-2023), com a curadoria de Sidney Molina.
Realizou a pesquisa e a coleta dos materiais para inventários sobre o Samba Paulista (2018) e os Circos Itinerantes de Lona em São Paulo (2019) para o CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, estas pesquisas servem de base para o pedido de registro dos bens culturais imateriais.
Atua como parecerista de revistas e congressos especializados em músicas, entre eles citamos os congressos da Anppom, as revistas Orfeu (UDESC), Opus (Anppom) e Vórtex (Unespar) e é membro da Comissão Editorial Revista +60 Sesc SP (desde 2014). Tem se dedicado também a publicações de artigos em revistas especializadas e anais de eventos.
Organização de publicações, entre elas citamos: organização e curadoria de dois dossiês temáticos da Revista do CPF-SESC, número 14 e 15 (2022), em parceria com a pesquisadora Emily Fonseca; Música de salão e modernismo: o violão em São Paulo nos idos de 1920, Anais do Congresso da Anppom (2022), em parceria com a professora Dra. Flávia Camargo Toni; publicação de artigo em inglês sobre a presença de músicos espanhóis em São Paulo, Spanish Guitarists in Nineteenth-Century São Paulo, na revista norte-americana Soundboard (2022).
Violão em São Paulo: informações sobre o instrumento no período imperial, (2023), Revista Orfeu, da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC).
Segue abaixo entrevista exclusiva com Flavia Prando para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 12.06.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Flavia Prando: Nasci no dia 10/08/1972 em São Paulo.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Flavia Prando: Fui criada em Santos – SP e lá há um curso de violão da prefeitura, comecei a estudar lá aos 9 anos de idade (em 1981).
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Flavia Prando: Bacharel em Música, com habilitação em violão pela UNESP, doutorado e mestrado em música pela ECA USP.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Flavia Prando: As influências são muitas, no passado Dilermando Reis e continua. Tom Jobim e Villa-Lobos e também continua, acho que não tenho influências que deixaram de ter importância. Garoto, Guinga e Radamés Gnattali também foram e continuam sendo influências.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Flavia Prando: Em 1985 comecei a tocar em Santos – SP na Camerata de Violões do Teatro Municipal e também tocando solo e duo nos espaços culturais da cidade e cidades vizinhas.
06) RM: Quantos CDs lançados? Cite alguns CDs que já participou como violonista?
Flavia Prando: Lancei meu primeiro álbum em 2024, com peças de músicos paulistanos desconhecidos. Participei do disco da Camerata de Santos, em 1989 e CD Amigos de Giacomo Bartoloni, em 2018.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Flavia Prando: Instrumental brasileiro.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Flavia Prando: Sou instrumentista e não sou compositora.
09) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Flavia Prando: Os prós são poder fazer os projetos que queremos, sem nos preocupar com o mercado formal, o contra, hoje em dia mais fáceis de contornar, é a questão da difusão do trabalho.
10) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Flavia Prando: Centro-me na pesquisa de repertórios desconhecidos, afim de poder trazer músicas novas e diferenciar o trabalho no âmbito do violão instrumental.
11) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Flavia Prando: Vídeos no youtube, podcast, redes sociais, publicação de partituras e artigos.
12) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Flavia Prando: No meu caso, que o nicho é muito específico, eu só vejo vantagens na internet.
13) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Flavia Prando: Acho que o home estúdio é mais uma ferramenta para divulgação dos trabalhos, embora não descarte o estúdio profissional, ajuda bastante na difusão dos projetos.
14) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Flavia Prando: Centro-me na pesquisa de repertórios desconhecidos, afim de poder trazer músicas novas e diferenciar o trabalho no âmbito do violão instrumental.
15) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Flavia Prando: O cenário da música instrumental tem expandido e julgo que seja pelas tecnologias novas, antes as gravadoras temiam investir em música instrumental, hoje pode-se consumir música instrumental com muito mais facilidade.
16) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Flavia Prando: Guinga, Fabio Zanon, Cristina Azuma, Badi Assad.
17) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Flavia Prando: Acredito que não tocarão na rádio, somente na rádio cultura e afins.
18) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Flavia Prando: Seja consistente, estude, faça sua rede, alimente-a e, se possível, diversifique seus estudos ao máximo, não se restrinja somente aos estudos musicais.
19) RM: Quais os violonistas que você admira?
Flavia Prando: Edelton Gloeden, Maria Haro, Guinga, Rosinha de Valença, Gabriele Leite.
20) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Flavia Prando: Villa-Lobos, Bach, Mozart, Debussy.
21) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Flavia Prando: João Bosco, Pixinguinha, Chico Buarque, Ernesto Nazareth, Gilberto Gil.
22) RM: Quais os compositores da Bossa Nova você admira?
Flavia Prando: Tom Jobim, Jonnhy Alf, Joyce Moreno.
23) RM: Apresente sua metodologia de ensino do Violão e seus métodos.
Flavia Prando: Normalmente dou aulas em conjunto, utilizo a bagagem musical dos alunos para introduzir os conceitos de técnica e mecânica do instrumento.
24) RM: Quais as diferenças técnicas entre o Violão Erudito e Popular?
Flavia Prando: É muito tênue a questão das fronteiras estéticas no violão, acredito que as técnicas do violão popular devem compreender questões rítmicas que não são usuais no violão erudito.
As técnicas do violão popular acabam abrangendo a simulação de texturas de instrumentos de percussão, enquanto o repertório do violão erudito tende a exigir uma técnica que evidencie mais o tecido contrapontístico, são fronteiras que tendem a ser cada vez mais borradas e é necessário que um violonista possa transitar entres os estilos e técnicas, cada vez mais, sobretudo os brasileiros.
25) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Violonista?
Flavia Prando: Eu diria técnicas como escalas, arpejos, rasgueados, ligados, trinados, mas isto seria o começo, pois ser um bom violonista requer bagagem, e, pela natureza híbrida do instrumento, cada vez mais exige ecletismo, conforme disse acima.
26) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Flavia Prando: Esquecer das dificuldades que você teve quando iniciante, pesar a mão no repertório, sem respeitar o nível técnico do aluno, seguir um método fechado, que não leve em conta as individualidades e vivências de cada aluno.
27) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Flavia Prando: Creio que existem facilidades e até prodígios, porém, nem sempre isto vai resultar em carreira musical a longo prazo. Por outro lado, é possível desenvolver-se na música, a ponto de ter prazer e sentir seus benefícios, através de estudo e disciplina. É claro que quando facilidades e ser prodígio andam juntas com disciplina e dedicação, daí você realmente vai ver o músico acontecer.
28) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical? Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Flavia Prando: Improvisar é utilizar ferramentas e fórmulas previamente estudadas e aprendidas, dentro de um esquema pré-determinado. Quanto mais incorporadas, melhor será a sensação de liberdade do intérprete/criador.
29) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Flavia Prando: Acho sempre válido, sobretudo porque causa muito interesse do aluno a sensação de estar criando algo novo, e, por outro lado, aprender e apreender estruturas musicais é sempre bom, seja para improvisar, compor ou interpretar.
30) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Flavia Prando: Só vejo prós, de modo geral só vejo prós em estudar qualquer coisa, desde que você tenha discernimento para aplicar seus estudos, eles serão sempre positivos.
Estudar harmonia ajuda na hora de compor, você tem mais liberdade para usar e ousar; é fundamental para quem quer improvisar, saber a estrutura básica do campo harmônico e as sequências harmônicas mais utilizadas nos diversos gêneros musicais e para quem é intérprete ajuda muito na performance, mesmo que muitos pensem que não é fundamental, entender o que se toca é muito útil para pensar e sentir a interpretação.
31) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista?
Flavia Prando: Na educação musical eu acho que é muito bom o educador tocar vários instrumentos, também se você é um compositor, é incrível você tocar vários instrumentos, fica mais fácil para entender o que pode ou não escrever, fazer escolhas que soem melhor em determinado instrumento. Claro que o contra fica no tanto que você pode se dedicar a cada instrumento, pode ser que fique tudo um pouco superficial, caso você queira ser um instrumentista, eu vejo como desvantagem tocar muitos instrumentos.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Flavia Prando: Divulgar o álbum gravado, terminar a série de podcasts referente ao álbum, gravar o segundo volume.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Flavia Prando: www.flaviaprando.com | [email protected]
| https://instagram.com/flaviaprando
Canal: https://www.youtube.com/flaviaprando
Playlist álbum Violões na Velha SP: https://www.youtube.com/watch?v=SxUhCeVVj-w&list=PL3EyLdjXbW1haLPjCNd1KdR3xLPqzz08z
Playlist podcast do álbum Violões na Velha SP: https://www.youtube.com/watch?v=djB6fl7dgs0&list=PL3EyLdjXbW1jrUGi13g4pqZxJWndPtkSC
Playlist Curso de Extensão FFLCH – Música e Cultura Sonora de SP: https://www.youtube.com/watch?v=Z2bxOqU2XY8&list=PL3EyLdjXbW1jw83gVKJMYZpdyeDPfJ0Bo
Playlist Memórias Musicais – SESC Dom Pedro II: https://www.youtube.com/watch?v=Fz5ASJnCEFM&list=PL3EyLdjXbW1g55MQsOlJavlCjoKo_mpC2