O cantor, compositor paulista Fernando Cavallieri já teve uma música “Samba de uma noite só”, como tema de novela: “Caminhos do Coração” da TV Record. E Atualmente está em estúdio gravando seu quarto CD.
Em 2006 lançou o seu terceiro CD – “Inefável” gravado no estúdio Gato Discos entre as primaveras de 2004 e 2005, período em que realizou diversos shows em São Paulo divulgando o CD – “In Alpha” gravado ao Vivo em outubro 2003. Época que participou dos Festivais de Música de Serra Negra, Ilha Solteira e o FAMPOP – Feira Avareense de Música Popular, em que foi premiado com o terceiro lugar (Troféu Celso Viáfora). Em 2007, estreou em março, dia 13, o espetáculo “Todas Numa Noite Só…” no qual 14 cantoras de vozes marcantes e estilos diversos interpretam suas composições: Andressa Feigel, Anna Lee, Beatriz Silveira, Cris Lemos, Juliana Kehl, Karina Ninni, Kika Carvalho, Lis Rodrigues, Lucia Helena Correa, Mariane Mattoso, Rita Maria, Ritinha Carvalho, Vanda Breder, Vanu Rodrigues. O Espetáculo foi dirigido pelo próprio compositor e a estréia deu-se no Café PIU-PIU – no bairro do Bixiga – SP. O show foi gravado ao vivo pelo selo independente GATO DISCOS e lançado em 26 de Setembro de 2007 no próprio Café Piu-Piu.
O seu samba “Samba de Uma Noite Só” virou hit na noite paulistana (música gravada ao vivo no seu segundo CD – “Alpha” e depois gravada em estúdio no terceiro CD – “Inefável”). Este samba tem feito muito sucesso em Festivais de Música. Foi um dos 12 finalistas do “1º FESTIVAL DE SAMBA PAULISTA” em junho de 2007 e já havia recebido o troféu Celso Viáfora em 2004 no Festival de MPB da cidade de Avaré – SP (o FAMPOP). Fernando tem como principais parceiros musicais: Élio Camalle, Zé Edu Camargo, Léo Nogueira, Sonekka, Adolar Marin, Ricardo Moreira, Nilton Bustamante, Abimael Pessoa, Álvaro Cueva.
É um dos mais ativos artistas do Clube Caiubi de Compositores – WWW.clubecaiubi.ning.com (movimento musical de São Paulo que agrega uma gama de compositores, cantores (as), poetas, gente do quilate de Zé Rodrix, Tavito, Celso Viáfora, Guarabira). Em 2005 teve quatro músicas de sua autoria gravadas no CD de estréia de Vanda Breder, intérprete que acompanha Toquinho há mais de 10 anos em excursões pelo Brasil, Europa e Japão. Na obra de Cava, como é carinhosamente chamado pelos amigos, tem canções singelas e outras com um pé no experimental. Mas o humor inteligente é o combustível mantém a chama da criatividade e originalidade acessa.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Fernando Cavallieri para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.04.2009:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Fernando Cavallieri: Nasci no dia 07 de Outubro de 1962 em Santo André – SP. No ano seguinte à renúncia de Jânio Quadros, que fora empossado presidente da República em Janeiro de 1961.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Fernando Cavallieri: Minha mãe (Dona Conceição) passava roupa na cozinha e cantava com sua voz linda o repertório do rádio da época, o que não é pouco. Eu ficava brincando em cima de um cobertor, ou tapete, quase embaixo da mesa, eu devia ter uns 3, 4 anos… E ouvia minha mãe cantando… Meu pai (Doraci, mas que todos o chamavam de “Seu” Darci) formou uma dupla caipira, ele era canhoto e eu também sou. Ele cantava aquele repertório caipira clássico do interior de São Paulo... “Boiada triste boiada, na estrada cheia de pó. Boiada o meu coração também caminha tão só”… Esta ainda hoje é a música “caipira” que mais me faz recordar do meu pai cantando. Eu olhava bem lá no fundo dos olhos dele, e lá tinha uma mágoa que saía toda no Violão e na melodia… Não, acho que não saía toda não. Acho que ela nunca saiu de todo.
03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica (Teórica)?
Fernando Cavallieri: Bem, como canhoto que não inverte as cordas, o autodidatismo no meu caso se impôs naturalmente. Não foi nem opção minha. Minha formação musical é o conjunto dos contatos muito íntimos que tive com a música desde a infância. Como comecei muito cedo, cresci praticamente reproduzindo no violão e na voz tudo aquilo que eu ouvia. Vou falar do lance do meu pai tocando violão. Ele também era um canhoto que não invertia as cordas. “Não inverter as cordas” possibilita a este reduzido grupo de instrumentistas canhotos tocar em qualquer violão de músico destro. E foi assim que eu aprendi a tocar num violão “normal” para destros, mas com a mão direita fazendo os acordes e a esquerda arpejando, dedilhando, batendo… Eu fui “alertado” de que eu deveria “virar as cordas” quando eu já tinha um repertório razoável e estava tocando razoavelmente… Isso eu achava, né, com meus 10, 11 anos idade (risos). Eu não tive paciência de começar tudo de novo, não.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Fernando Cavallieri: Bem, eu cresci ouvindo Beatles, Clube da Esquina, Roberto Carlos, Martinho da Vila, Chico Buarque, Caetano Veloso, Música Caipira, Nelson Gonçalves. E, a partir dos 11 anos de idade o “bicho pegou” de vez, conheci Jimi Hendrix, Alice Cooper, Led Zeppelin, Deep Purple, Yes, ELP, Pink Floyd. Fui “conhecer” a Bossa Nova com 16 anos. Aí a “cobra fumou”! Aqui não vai nenhuma ordem cronológica dessas manifestações musicais na linha do tempo. Quando eu tinha 11 anos o Hendrix já tinha morrido. Mas eu só fui saber da existência dele nesse período. A Bossa Nova, então, nem se fala, né? Decididamente não era música “do momento”. O Rock Progressivo e a Bossa Nova são os estilos que mais me impulsionaram a formatar um estilo tocando violão. Mas acho que seria injusto dizer que alguma das minhas influências deixou de ter importância. Até o Wanderlei Cardoso, cujo “Tijolinho” eu cantava com quatro anos, de pé, no berço, antes de dormir, foi importante.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Fernando Cavallieri: Well… Eu considero o marco zero da carreira profissional como músico o dia que comecei tocar num boteco de São Caetano do Sul-SP, cujo nome nem me lembro mais, começava com Z. Sei lá, acho que era Zimba. E ganhando uns trocados que dava pra tomar cerveja à semana inteira, comprar uns LPs, umas “becas” e umas “peita” e um “pisante”. Eu tinha 16 anos de idade. De lá pra cá já toquei em lugares de A a Z. Incalculáveis vezes. Espeluncas, risca-facas, bordéis, botecos, churrascarias, pizzarias, casas de boa família, ilhas paradisíacas, templos oníricos, teatros de arena, teatros de areia, florestas virgens, shoppings, micro-festivais, Festivais, Festivais, Festivais, praças, ruas e avenidas.
06) RM: Quantos CDs (músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas preferidas do seu público?
Fernando Cavallieri: Ual, essa pergunta é 10 em uma! Well… Bom, CDs de carreira são três. Estou concebendo o 4º CD. Pode vir a se chamar VOLUME QUATRO, simplesmente. Mas não escrevemos no mármore, ainda. Lancei em 1999 o meu primeiro CD – “Evoé!”, cuja capa é uma reprodução do belíssimo óleo sobre tela “UM COPO DE VINHO” de Vicente do Rego Monteiro. Na época eu já era um enólogo (vinhólatra, sabem os íntimos), e sempre bradava o meu “Evoé!” ao brindar qualquer que fosse a bebida (vinho, jurubeba, cerveja…). EVOÉ! É o grito de invocação a BACO, o deus do vinho, proferido pelas bacantes, na idade média, durante os rituais orgiásticos. Quando eu fizer regressão quero conhecer… celebrando as colheitas, especialmente a do vinho. Evoéééééééé!
Foram 16 músicos ao todo que participaram do disco, nas 10 faixas. Das 10 faixas, oito são minhas, letra e música, uma é parceria com o Adolar Marin (Gênesis II) e Maria Joana é de João Domingues, cujo violão foi o primeiro take do CD, no dia 08 de agosto de 1997. Tínhamos a intenção, na época, de fazer o trabalho (o “Evoé!”) chegar às rádios, então tomamos muito cuidado com cada faixa, num esforço pro disco ter uma “pegada” pop, sem descuidar, obviamente, do lado poético, mais “underground” ou “inteligente”, digamos. Sem cair no ridículo. Tem uns naipes de metais “foderosos” em várias faixas, solos arrasadores de guitarras, baterista e tecladistas meio jazz-fusion. Foi neste CD que gravei pela primeira vez a música “He Man”, que durante mais de uma década foi o meu maior sucesso. Entrou em mais de 30 Festivais, inclusive o Festival Carrefour, por onde passou Chico César, Madan, Celso Viáfora, meu parceirinho Álvaro Cueva, enfim, uma safra de gente boa. O Celso, inclusive, ganhou uma das eliminatórias. A música “He Man” também foi lançada, à minha revelia, numa coletânea da Sony Francesa chamada “Música do Brasil” ao lado de nomes como Djavan, Chico Buarque, Tom Jobim, Milton Nascimento, João Bosco, Gilberto Gil. NUNCA recebi um centavo sequer por esse “privilégio”. Mas, voltando ao assunto, o “Evoé!” eu considero um “puta” CD. Estamos relançando o “Evoé!” agora em 2009, remixado, remasterizado, comemorando os 10 anos de lançamento. Esse CD foi produzido pelo baixista Marcus Torrada, com quem toco até hoje (recentemente formamos um trio de jazz – o Jazz & Bossa, pra nos divertirmos). Nos anos 80 também formamos juntos uma banda cover de Led Zeppelin e Deep Purple. Foi a realização do sonho dos quatro elementais do grupo, na época. O Torrada só não participou do segundo CD, ao vivo, e, pensando bem, nem eu mesmo sei por que ele não tocou no “In Alpha”. No VOLUME QUATRO, ele faz a co-produção.
O segundo CD – “In Alpha”, foi um acontecimento mágico na minha vida e das pessoas que participaram de todo o processo. Com Mauro Cannalonga no teclado, Fabio Azeitona na percussão-bateria e eu, voz & violão. Foi um show produzido pelo Ricardo Moreira, gravado ao vivo no Espaço Cultural & Livraria ALPHARRÁBIO, pelo selo Gato Discos, do Fegato, por sugestão intuitiva do próprio Fê. O Fegato é um dos caras mais importantes no desenvolvimento da minha carreira nos últimos anos. A história deste CD daria um conto. Resumi-lo em poucas linhas é um exercício muito exigente de poder de síntese. Eu havia ficado já há quatro anos sem gravar, tinha abortado o projeto de um CD, que se chamaria “Odisséia”, minha vida pessoal não estava lá essas coisas. Muitos bloqueios e acontecimentos tristes. A passagem (falecimento) do meu pai, do meu sogro, minha mulher na época baleada num farol, eu vítima de seqüestro relâmpago, depois minha separação e minha volta para Santo André. Eu estivera morando sete anos em Diadema. E foi lá em Diadema, no teatro Clara Nunes, que fiz um show em junho de 1997, cujo cachê foi o “start” para eu começar a gravar o meu primeiro CD. Então de volta à terrinha, desde junho de 2003, decidi que gravaria finalmente meu segundo CD e marquei um show-Niver no Alpharrabio, com bastante antecedência. Minha intenção era ensaiar bastante e experimentar minhas novas canções, uma safra que foi nascendo em meio a todos os acontecimentos que me envolviam. Assim, seríamos mais práticos e eficientes, quando entrássemos em estúdio. Mas fui contar pro Fegato sobre o show e sobre as minhas expectativas, já querendo agendar o estúdio por um período, quando ele sugeriu (intuiu? canalizou? risos) que gravássemos ao vivo. Fiquei alguns segundos, atônito, mas topei imediatamente o desafio. Um arrepio muito forte percorreu minha KUNDALINI. Ali tinha história. Bem, durante os ensaios, que duraram cerca de dois meses, nasceu o “Samba de Uma Noite Só”, que posteriormente acabou indo parar na trilha sonora da novela “Caminhos do Coração”, da TV Record. Mas isto já é outra história, ou conto. Mas o “In Alpha” representou mesmo para mim, acima de tudo, um renascimento como Compositor, além de um grande encontro com parceiros queridos e geniais. No “In Alpha” tenho parcerias com: Léo Nogueira, Abimael Pessoa, Zé Edu Camargo, Sonekka, Élio Camalle, Adolar Marin, além das participações especiais do Kleber Albuquerque e do Sonekka no show (único!) que deu origem ao CD. Apenas 5 minutos após o último acorde do show uma tempestade maravilhosa que durou mais ou menos 2 horas desabou sobre nós. O equipamento nem pode ser removido na mesma noite. Não dava pra chegar ao estacionamento. Em seguida, no embalo do “In Alpha”, vieram às canções, a vontade, a disposição e a oportunidade de gravar mais um disco. Veio o CD – “INEFÁVEL”, lançado em 2006. Também produzido pelo selo Gato Discos, do Fegato. O “INEFÁVEL” é fruto do mesmo turbilhão de acontecimentos, idéias, parcerias, encontros e desencontros que já havia dado origem ao “In Alpha”, só que com o timing do estúdio, né, em que se pode dar um acabamento mais aprimorado às gravações. E foi o trabalho com o maior número de participações, incluindo compositores, músicos e a cantora e maestrina Mariane Mattoso, que conheci durante o processo e convidei imediatamente pra dividir algumas vozes e arranjos de voz comigo no CD. O resultado foi sensacional. Produzi em 2007 um show no Café Piu-Piu chamado “Todas numa noite só”, em que 14 cantoras interpretam minhas músicas. Foi também gravado ao vivo, mas até hoje não conseguimos lançá-lo. Aqui está a relação em ordem alfabética das cantoras que participaram, que me deram essa honra, esse prazer, essa felicidade: Andressa Feigel (A Flor do Cerrado – Fernando Cavallieri); Anna Lee (Samba do Papai Noel – Fernando Cavallieri; Beatriz Silveira (O olho do furacão – Élio Camalle/ Fernando Cavallieri);Cris Lemos (Coisa Mandada – Cris Lemos/ Fernando Cavallieri); Juliana Kehl (Coroa do Divino – Fernando Cavallieri); Karina Ninni (Samba do Bem – Fernando Cavallieri); Kika Carvalho (O homem e o Capim – Fernando Cavallieri/N.Bustamante); Lis Rodrigues (Imperatriz Solidão – Fernando Cavallieri); Lúcia Helena Corrêa (Febril – Fernando Cavallieri/Zé Edu Camargo); Mariane Mattoso – (Inefável – Mauro Cannalonga/ Fernando Cavallieri); Rita Maria (Outras Estrelas – Fernando Cavallieri/ÁlvaroCueva);Ritinha Carvalho (Segunda Via – Fernando Cavallieri/Ricardo Moreira); Vanda Breder (Trampolim – Fernando Cavallieri/Abimael Pessoa); Vanu Rodrigues (Manhã de Cinzas – Fernando Cavallieri/Zé Edu Camargo /Sonekka).
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Fernando Cavallieri: Acho muito difícil definir-me em um estilo ou rótulo, porque eu componho samba, bossa nova, baladas, blues, funk-rock, instrumentais meio fusions, vinhetas e quetais. Alguns amigos e músicos que convivem há mais tempo comigo costumam dizer que eu tenho um estilo sim, uma marca, uma identidade. Principalmente na sonoridade do violão, por ser canhoto, mas também nas letras, etc. Em Igaratá, São José dos Campos, Jacareí. Tem uma geração inteira de músicos que cresceram me ouvindo, ouvindo meus CDs, me vendo tocar em volta da fogueira, etc. Por ser muito amigo do Roberto Zakharov, (das famosas FACAS ZAKHAROV), freqüento a região desde o início dos anos 90. O Roberto tem seu atelier e um sítio por lá, no qual fizemos incontáveis encontros etílico-lítero-musicais. E esses meninos tocam minhas músicas, compõem, montam acordes com a cara dos meus, enfim. E eu reconheço traços do meu trabalho no trabalho deles. Tem uma geração novíssima aí, muito linda, de compositoras-cantoras também, interpretando algumas canções minhas, que me “fazem sorrir com meu coração”. (“You Make me smile with my heart” de My Funny Valentine…). Além de uma safra poderosa de cantoras, com trabalhos excelentes, com CDs prestes a serem lançado, cujos nomes serão de músicas minhas como é o caso do CD da Lucia Helena Corrêa que está lançando traz como título o nome da música “FEBRIL” (minha e do Zé Edu Camargo) e o segundo CD da Karina Ninni, “SAMBA DO BEM”, um samba de minha autoria que está no CD “In Alpha”. Tem o primeiro CD da Vanda Breder, cantora que acompanha o Toquinho há muitos anos. Ela gravou quatro músicas minhas, as quatro primeiras do CD, ao lado de Djavan, Chico Buarque, Tom Jobim… Tem também o CD de estréia do Márcio Bragança, do Rio de Janeiro, ele gravou três músicas minhas, inclusive, a “Odisseia”, que dará nome ao CD. E o que é melhor, é amigas, amigos, pessoas muito queridas. Isso tudo, pra mim, não tem preço.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Fernando Cavallieri: Em certas ocasiões sou muito intuitivo, ou canalizado, ou “inspirado” na hora de iniciar algo. Algumas músicas ficam praticamente prontas em 20 minutos. Mas outras levam, dias, semanas, meses, até anos. Do que mais gosto é por letra em melodia. Mas o que mais tenho feito é colocar melodia em letra. Recebo muitas e muitas letras de amigos pra colocar melodia. É uma angústia. Porque às vezes tem letras maravilhosas que não consigo musicar, não sei, não pinta, não vem o sopro da Deusa. Outras eu bato o olho e saio cantando uma melodia. Ficam prontas, rapidinho. Que é o caso de “Outras Estrelas”, letra do Álvaro Cueva, que estará no Vol. QUATRO. Não existe uma fórmula. Acho importante que a letra seja poética e direta, numa linguagem popular, que tenha métrica e rimas originais de preferência. Não quero dizer que você não possa rimar amor com dor, flor, ardor. Mas Céu de anil com Brasil Varonil já é pra soltar um PQP! E rima, ‘inda por cima!
09) RM: Quais são seus principais parceiros musicais?
Fernando Cavallieri: Sonekka, Zé Edu Camargo, Adolar Marin, Ricardo Moreira, Léo Nogueira, lvaro Cueva, Élio Camalle, Abimael Pessoa, Nilton Bustamante, Mauro Cannalonga, Mariane Mattoso, Yara Camillo, Cris Lemos, Francisco Freitas. 50 chibatadas desde já se me esqueci de alguém porque eu mereço.
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Fernando Cavallieri: Os contras primeiro: falta de grana e estrutura. Falta de apoio, de divulgação, etc. Tudo que envolva aporte financeiro. Os prós: a liberdade de criar e experimentar e, ainda, ser dono do próprio trabalho. Não ter que pedir autorização pra ninguém pra fazer com sua música o que bem entender. Não ser obrigado a cantar ou tocar o que um produtor acha que é o melhor pra você no momento. Acho que essas coisas podem ser computadas como vantagens de atuar na cena independente. Mas é uma liberdade sem protetor solar, “sem nenhum prum vinho”, uma liberdade quase lúmpen. Eu adoraria ter um Quincy Jones ou um Liminha me dizendo o que tenho que fazer.
11) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram as revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Fernando Cavallieri: Bem, se a pergunta se refere ao pequeno grupo de artistas bafejados pela sorte que conseguiu ter seus trabalhos incensados pela mídia e reconhecidos de certa forma, eu diria que Lenine, Chico César, Zeca Baleiro. Nem vou me estender muito na lista porque o foco é outro: “Revelação para quem, cara-pálida?” Digo isso porque dentro do universo de artistas independentes no qual transito há trabalhos, muitos, muitos com potencialidade e consistência tão ou mais significativas quanto os trabalhos dos citados. Nada posso dizer sobre a possível regressão ou decadência na obra de nenhum artista, até porque não me sobra muito tempo pra acompanhar o desenvolvimento deles, a não ser o dos que convivem comigo nos mesmos espaços de luta e ralação. E nesses espaços só vejo progresso e evolução.
12) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Fernando Cavallieri: Outra pergunta muito difícil… Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Mas esses são Medalhões. Bem, sou muito fã da Leila Pinheiro (ao vivo é IMPECÁVEL!!), Tavito, Zé Rodrix (esses, por terem se tornado meus amigos eu tenho acompanhado de perto e posso afirmar que estão “tinindo”. O Zé Rodrix está lançando um DVD e o Tavito acaba de lançar um CD de inéditas, chamado “Tudo”), Lenine, Chico César, Ivan Lins. A lista é muito grande.
13) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Fernando Cavallier: Foram inúmeras. Vou falar do mico mais recente. Foi agorinha, no final de janeiro 2009, lá em Belém – PA, no Fórum Social Mundial. Um mico histórico. Montaram uma estrutura gigantesca, palco, som e luzes, muito além do que eu imaginava fosse acontecer. Isso dentro da Universidade Federal Rural da Amazônia, onde estava instalado o Acampamento Internacional da Juventude. Uns 40.000 jovens vindos de todo o Planeta. Inscritas no Fórum, 90.000 pessoas. Claro, tudo mais ou menos isso ou aquilo. A quantidade exata aqui não importa. Meu show aconteceria no sábado à tarde, dia 31. Só que logo após a primeira noite, quinta-feira, o palco e toda a estrutura foram interditados pela Secretaria de Segurança Pública, por conta de umas invasões ocorridas durante o primeiro show. A explicação para isso levaria semanas, aqui. Mas tem a ver com o esquema de segurança implantado em razão da presença na cidade dos presidentes da Venezuela e Bolívia, Hugo Chaves e Evo Morales. E Bom, foi disponibilizado, então, um palco fora da cidade. Onde costumam acontecer entretenimentos tais como micaretas, sertanejos, axés e etc. E toda a programação musical oficial do fórum foi transferida para lá. Evidentemente não foi ninguém do fórum, além dos artistas.
14) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Fernando Cavallieri: Deixa-me feliz saber que dezenas de cantoras, cantores, músicos, estão por aí cantando, interpretando, rearranjando minhas músicas. Deixa-me feliz ter um público que me ama, que se emociona com meu trabalho, que vai aos meus shows, coleciona meus CDs, me deixam recados e scraps sempre muito generosos, amorosos. Mas triste mesmo é que tudo isso não reverta em uma mínima estabilidade pra continuar. Eu só tenho continuado por um impulso insano.
15) RM: Nos apresente a cena musical de Santo André e do ABCD?
Fernando Cavallieri: O Grande ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema), como um todo, é e sempre foi um celeiro de grandes músicos, cantores, compositores. Não vou citar ninguém pra não correr o tremendo risco, de ser injusto, de me esquecer de alguém, mas a lista é imensa.
16) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Fernando Cavallieri: Há casos em que isso acontece. Na verdade eu não tenho muita paciência pra ficar fazendo o corpo a corpo necessário pra se conseguir isto. Mas se um empresário quisesse me bancar e pagar pra minha música tocar, eu não serei hipócrita em dizer que não aceitaria. O que eu não aceitaria seria compor dentro de um estilo ou fórmula que fossem ditados por qualquer fulano, por um modismo descartável qualquer.
17) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Fernando Cavallieri: “Prepare o seu Coração” e que Deus o proteja e ilumine! Estude, tenha muita fé e perseverança, “filtre” o que vai ouvir com muito critério. Com o tempo você consegue passar dentro de uma micareta sem ouvir absolutamente nada. Quando um pássaro estiver cantando, preste atenção. E exercite o desapego material. Você vai precisar muito (risos).
18) RM: Qual a sua participação no Clube Caiubi e qual a sua relação pessoal e profissional com alguns membros do clube?
Fernando Cavallieri: Conheci o Clube Caiubi nos primórdios. Fiz muitos amigos e parceiros. Não conheço hoje no Brasil um movimento musical mais consistente, criativo, de alta qualidade como o Caiubi. O Caiubi faz sete anos no dia 30 de Março 2009 e acontecerá uma grande festa no Villaggio Café em São Paulo-SP. Conheçam o Clube Caiubi Virtual e fiquem sabendo de tudo que rola: http://clubecaiubi.ning.com
19) RM: Quais os projetos futuros?
Fernando Cavallieri: Quero relançar este ano, em CD e no I-Tunes, o “Evoé!” remixado em comemoração aos 10 anos de lançamento e terminar de gravar o VOLUME QUATRO, lançando-o no segundo semestre também em CD e no I-Tunes. E fazer muitos shows, viajar pelo Brasil, pelo mundo.
20) RM: Qual os seus contatos?
Fernando Cavallieri: [email protected] – Tenham a bondade de me escrever os que sentirem vontade. E aqui vai minha página: www.myspace.com/fernandocavallieri