A banda “Falamansa” foi uma das pioneiras do movimento “Forró Universitário” e sem dúvida a que mais se popularizou.
O idealizador da banda é o vocalista, violonista e compositor Tato Cruz. Um paulista que teve o primeiro contato com o Forró em Itaúnas no Espírito Santo na função de DJ. Em 2000 com o lançamento do primeiro CD – “Deixa entrar” pela DeckDisc, com músicas autorais no gênero do xote, baião, arrasta-pé. As músicas que fizeram sucesso foram: “Rindo à toa”, “Xote dos Milagres” e a sugestão do Valdir do Acordeon para gravar “Confidência” (Jorge de Altinho / Petrúcio Amorim) uma música de sucesso no Nordeste nos anos 80 na voz de Jorge de Altinho e já teve várias regravações.
Como tudo que faz sucesso dividi opiniões. A banda “Falamansa” e o “Forró Universitário” foi à bola da vez no novo milênio. Os puritanos (músicos, jornalistas e forrozeiros) saíram em defesa da autêntica música nordestina que estava sendo “desvirtuada” pelo modismo desses jovens do sudeste. Os moderados ponderaram que no fundo eles estavam tocando nada mais, nada menos que Xote, Baião, Arrasta-pé eu me incluo com essa visão. Então, o melhor termo para esse movimento seria Forró “tocado e dançado” por universitários (e estudantes em geral). É claro, que existia o preconceito por parte do público que acompanhava esses grupos que não assistiam os shows de Trio Pé de Serra. E a forma de dançar se assemelhava aos passos do samba – rock e do reggae praiano. Na verdade, eram jovens do Sudeste no estilo do “novo hippie” com alpercatas de couro e roupas de brechó. Um reviver dos anos 60, 70.
As bandas não discriminavam os Trios Pé de Serra e os têm como referência e reverenciam o Forró Pé de Serra e inclusive muitos mantém a trindade: sanfona, zabumba e triângulo na formação da banda. A prova disso é que alguns membros desses grupos procuravam lugares alternativos que tocasse música regional para se divertirem. Passado uma década do início desse movimento entre mal estar, preconceitos mútuos, insultos e ofendidos, todos tranquilos e exaltando o Forró.
E a banda Falamansa com uma carreira consolidada lançou um DVD e lança em julho em 2007 o quinto CD. E Tato Cruz fez participações especiais em CDs e shows de Forrozeiros. O mais importante é que o Forró, Xote e Baião continuam vencendo preconceitos dentro e fora do Nordeste e se firmando como uma legítima expressão da música popular brasileira e da cultura nordestina.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Tato Cruz para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 06.06.2007:
01) Ritmo Melodia: Fale do primeiro contato musical e influencias musical dos membros do Falamansa.
Banda Falamansa: Tato Cruz (Voz, Compositor e Violão) nasci no dia 26.04.1978 em São Paulo – SP. Fui registrado como Ricardo Cruz e com um ano de vida a minha família foi morar em Piracicaba e com 14 anos de idade comecei tocando guitarra em Piracicaba, na época ainda dentro do movimento Rock and Roll. Em 1994 voltei para São Paulo e depois de conhecer Itaúnas – ES passei a trabalhar no final dos anos 90 em eventos de “Forró Universitário” como DJ. Assim, quando compunha as músicas saiam automaticamente no ritmo do Xote, Baião, Arrasta-pé. Até hoje ouço de tudo. Amo Indie Music tipo Pixies, Pavement, Fugazi, etc. Gosto de buscar musicalidade nos sambas antigos de Cartola como nas salsas cubanas.
Valdir do Acordeon: nasci no dia 27.10.1959 em Arcoverde – PE, toco sanfona desde menino.
Douglas Machado Capalbo – “Alemão” (Zabumba): nasci no dia 17.02.1979 em São Paulo – SP, toco guitarra na adolescência e sempre gostei de Rock and Roll, conheci o Forró nos movimentos universitários.
André Canônico – “Dezinho” (Percussão): nasci no dia 20.03.1978 em São Paulo – SP, toco bateria e conheci o Forró nas Casas de Forró de São Paulo.
02) RM: Como surgiu a banda Falamansa? A formação inicial e o significado do nome?
Banda Falamansa | Tato Cruz: A banda Falamansa surgiu exclusivamente para um Festival de Música da Faculdade Mackenzie no final dos anos 90. A formação inicial tinha Flauta Transversal no lugar da Sanfona. Na inscrição do Festival, pediram que eu falasse o nome da banda, e como só eram bandas de Rock and Roll em sua maioria, e nós tocaríamos uma música bem calma, achei que cairia bem o nome “Falamansa”. Pegamos em segundo lugar e daí não paramos mais.
03) RM: Quem nasceu primeiro o movimento do “Forró Universitário” ou a banda Falamansa? Quais as motivações levaram a criar a banda?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Com certeza o movimento do “Forró Universitário”. Quando a banda Falamansa surgiu às Casas de “Forró Universitário”, já completavam dois e três anos de existência. Eu mesmo trabalhei com divulgação de eventos e como DJ por dois anos. O grupo foi criado exclusivamente para o Festival de Música da Faculdade Mackenzie, na verdade eu ia me apresentar sozinho, mas fiquei com vergonha. Era uma boa oportunidade para mostrar minhas composições.
04) RM: Como surgiu o movimento do “Forró Universitário”? Foi planejado ou nasceu naturalmente?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Eu diria que nasceu nos anos 90 em Itaúnas – ES, onde jovens de várias partes do Brasil tinham como balada noturna o Forró Pé de Serra. Ao voltar para suas respectivas cidades, implantaram o Forró como um meio de matar a saudade e dançar agarradinho.
05) RM: Quais as convergências e divergências do movimento do “Forró Universitário” de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Todos têm como musicalidade o Forró Pé de Serra. Acredito que há mais convergências do que divergências. Esse movimento é muito unido, por isso há um intercâmbio de bandas e trios muito sadios.
06) RM: Qual o termo mais adequado: “Forró Universitário” ou Forró tocado por Universitários?
Banda Falamansa | Tato Cruz: “Forró Universitário” foi um rótulo usado para definir o Forró Pé de Serra, tocado e frequentado por universitários. Mas ainda assim, prefiro chamar de Forró Pé de Serra, ou seria a mesma coisa de chamar o Samba tocado nas casas de jovens de “Samba Universitário”.
07) RM: Como foi a produção e gravação do primeiro CD e se vocês esperavam tamanha aceitação?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Gravamos independentes, e depois de seis meses de gravação; pois já tínhamos shows quase todos os dias, ficou pronto. O disco chegou até o selo Abril Music, que gostou da ideia e abraçou o trabalho.
08) RM: O segundo CD chegou com o amadurecimento da fama? O que impactou o fechamento do selo Abril Music. Qual foi a expectativa de manter a popularidade e superar a mudança de gravadora?
Banda Falamansa | Tato Cruz: A quantidade de shows era enorme, e a popularidade já tinha se espalhado pelo Brasil. Quase não tivemos impactos, pois continuamos com quem nos descobriu: João Augusto que era diretor artístico do selo Abril Music e agora presidente da DeckDisc.
09) RM: No início os jovens do sudeste aderiram ao “Forró Universitário” e não ao Forró tradicional?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Os jovens aderiram à cultura, que faz parte da história brasileira. Essa cultura chama-se Forró Pé de Serra, trazida até nós por Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino, Marinês, Anastácia, Trio Virgulino, Trio Sabiá e muitos outros.
10) RM: Qual o panorama em 2007 do movimento do “Forró Universitário?”
Tato Cruz: É muito mais amplo, mas com menor impacto. Já viraram comuns as Casas de Forró em qualquer cidade do Brasil.
11) RM: Em entrevistas vocês sempre exaltam o Forró Pé de Serra. Isso mostra que o termo “Universitário” é apenas um “sobrenome” e não um rompimento com as origens do Forró Tradicional?
Tato Cruz: Com certeza, o “Forró Universitário” traz como base o Forró Pé de Serra. As mudanças acabam acontecendo como uma adaptação aos dias de hoje, sem alterar a essência.
12) RM: De que forma os grupos de “Forró Universitário” somaram força com forrozeiros tradicionais. Comentem a importância dessa integração?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Graças à cordialidade dos Trios de Forró mais antigos os jovens aprenderam o Forró e passam hoje para frente. É como uma bandeira carregada por Dominguinhos, Trio Virgulino, Trio Nordestino, Trio Xamego e muitos outros, que com consciência trouxeram até nós jovens.
13) RM: O surgimento do movimento do “Forró Universitários” foi oportunista (Grupos e Casas de Show) visando só o lucro? Hoje o jovem estar curtindo o Forró sem rótulos, como um som alternativo?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Essas Casas de Forró ajudaram de uma forma ou de outra a difundir o movimento. Os grupos que apareceram já sumiram, junto com a grande mídia. Quem fica, é que tem a real intenção de levá-lo adiante. Eu acredito que esse movimento sempre foi e será uma segunda opção para a maioria. Desde seu surgimento, roqueiros também eram forrozeiros, regueiros, dançavam xote, donas de casa ouviam sertanejas e achavam o Forró bonitinho. Portanto um som alternativo, porém universal.
14) RM: Passados à euforia inicial do movimento “Forró Universitário”, como o som da banda Falamansa está sendo recebido pelo público e crítica? Houve renovação de público?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Crítica sempre acompanha a grande mídia, portanto está ausente. O público é fiel a nossa musicalidade, eu acredito que mais por causa das mensagens. Não é só o Forró que interessa, mas também o que a gente diz. O público se renova a cada dia, pois ainda tocamos em lugares pela primeira vez, e ainda existem pessoas vendo nosso show pela primeira vez. Será assim sempre.
15) RM: O segundo CD foi tão aceito como o primeiro?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Foram 750 mil cópias vendidas, um número bem expressivo, mas já menor do que o primeiro (1 milhão e 500 mil cópias). A novidade fez a diferença, mas a musicalidade era basicamente a mesma.
16) RM: Hoje a grande mídia não fala mais em “Forró Universitário”. A banda Falamansa agora será identificada igual a um Trio de Forró?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Hoje, temos um espaço na musicalidade nacional não só como banda de Forró, mas como uma banda do cenário musical brasileiro. A grande mídia pode não falar em “Forró universitário”, mas ainda assim termos espaço nos programas de TV e Rádio. Espero com isso, trazer esse movimento à tona.
17) RM: A participação do Tato Cruz em álbuns de forrozeiros tradicional mostrou que não existe disputa, mas união? Cite os Trios e músicos que você fez participação especial no CD?
Banda Falamansa | Tato Cruz: A união sempre prevalece, já fiz participações com o Trio Nordestino, Trio Virgulino, Anastácia e tivemos participação de Dominguinhos no nosso álbum, e fiz “Chama” para o disco de Elba Ramalho e Dominguinhos.
18) RM: Fale sobre o problema de saúde que lhe pegou de surpresa.
Banda Falamansa | Tato Cruz: Ao voltar de uma turnê pelo Japão, estava sentindo fortes de cabeça. Até então eram esporádicas, o que não levantavam suspeitas de nenhum problema, por achar que era uma enxaqueca comum. Como as dores se tornaram diárias, procurei fazer exames e assim foi constatado um tumor, chamado de Meningioma no lado direito do cérebro. Como seu estado era avançado, minha cirurgia foi no dia seguinte ao exame. Após 18 horas de cirurgia, foi totalmente retirado o tumor e minha recuperação incrivelmente rápida em um mês já estava nos palcos quando a previsão era cinco meses. Hoje sou muito melhor do que eu era. fisicamente e emocionalmente, Graças a Deus.
19) RM: Quais os projetos da banda Falamansa em 2007?
Banda Falamansa | Tato Cruz: Estamos em estúdio para gravação do nosso novo disco chamado “Segue a Vida”. São mais 14 músicas inéditas desta vez com muito mais mensagens positivas. O disco deve sair em junho, junto às festividades Juninas.
Discografia atualizada até 2021: Em 2000 “Deixa Entrar”, ganhou o prêmio de disco de diamante. Em 2001 “Essa é pra Vocês”, ganhou o prêmio de disco de ouro. Em 2003 “Simples Mortais”. Em 2004 “Um Dia Perfeito”. Em 2005 MTV ao Vivo. Em 2007 “Segue a Vida”. Em 2008 “Essencial”. Em 2010 “10 anos “Rindo à Toa – Por um mundo melhor!”. Em 2012 “As Sanfonas do Rei”. Em 2014 “Amigo Velho”. Em 2016 “Lá da Alma”. Em 2018 “Falamansa – 20 Anos – Ao Vivo em Itaúnas – ES”.
Contatos: http://falamansa.com.br
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