A cantora, compositora baiana Fabiana Rasta, desde pequena mora em São Luís – MA, assimilou a cultura do reggae maranhense para a sua musicalidade.
A sua carreira se iniciou em 2000 em blocos afros, como o GDAM e e passou por algumas bandas de reggae local: Via Rasta, Fya, Imperial Night e Capital Roots. Fez participações em shows de: Célia Sampaio, Ângela Goulart, Roots Family.
Em 2013 começou a sua carreira solo. A sua influência é o reggae roots jamaicano da década de 70 a 90 e também as grandes divas como Márcia Griffithis, Dawn Penn, Judy Mowatt, Rita Marley, Dezarie. Durante a sua trajetória musical, já participou de grandes festivais como: Cidade do Reggae 2011 fazendo um dueto emocionante com Derrick Morgan; Maranhão Roots Reggae Festival 2012 em outro dueto com o grande baixista Lloyd Parks; Programação cultural da 64° SBPC; Tributo a Gregory Isaacs em Teresina – PI; Tributo a Bob Marley e Grito Reggae Amazônia em Belém – PA e II Cultural Reggae Festival em Fortaleza – CE. E foi indicada ao concurso Melhores do Reggae 2012 pela Bong Produções e ganhou em 3° lugar como destaque Feminino. E teve seu trabalhado destacado pela revista Reggae Brasil, na 3° e 5° edição, da mesma produtora paulista Bong Produções.
Trabalhou como back vocal de nomes do reggae como Eric Donaldson, Donna Marie, Horace Andy, Ijahman, Léo Graham, The Pioneers, Cedric Myton, Sidney Crooks. Fabiana Rasta é conhecida como O Grave Feminino do Maranhão, por possui uma voz grave e forte. Como compositora é autora das músicas: “Que Beleza”; “Reggae me Faz”; “Tranças Rebeldes”. As suas apresentações são carregadas de carisma e charme, trazendo assim o toque feminino para o reggae nacional.
“Que Beleza”: faz uma crítica ao sistema capitalista mostrando que a beleza não está nas coisas materiais. “Tranças Rebeldes”: é um grito de protesto frente ao preconceito que os dreadlocks sofrem. “Reggae me Faz”: relata um pouco da história do reggae em São Luís – MA e do prazer que se sente ao ouvir um bom reggae.
Formada em Letras. A profissão de professora de Língua Inglesa contribui para seu trabalho musical, na interpretação das músicas em covers e composições em Inglês. E fazer entrevistas com os artistas que fala inglês e que estão postadas no seu Blog, como exclusivas com Lloyd Parks, Léo Graham e Márcia Griffiths.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Fabiana Rasta para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16 de maio de 2014:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Fabiana Rasta: Nasci no dia 7 de maio de 1985 em Candeias, cidade metropolitana de Salvador – BA, mas me considero Ludo-Soteropolitana, pois fui para São Luís – MA, com três anos de idade. Então, toda minha formação cultural e musical foi construída em São Luís. E considero minha origem musical maranhense e minha origem natural baiana. Então, por isso, pertenço aos dois estados (risos).
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Fabiana Rasta: Desde pequena, falava da vontade de um dia me tornar cantora. E acalentava esse sonho no meu coração por uma questão de Dom e nunca para estar aparecendo em cima de um palco. Minha vontade de encarar a música como algo profissional se deu na minha adolescência, quando eu estava morando por um tempo com meu pai em Candeias – BA e ouvia muito Whitney Houston e Mariah Carrey. E sempre cantava junto com a música e fui percebendo minha afinação. Infelizmente, não nasci em uma família de músicos, não herdei este talento do meu seio familiar, sempre foi algo de dentro para fora. Até hoje na minha família, só eu trabalho com música.
03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Fabiana Rasta: Eu comecei a cantar quando tinha 15 anos de idade, sem muita instrução, mas com o passar do tempo, procurei lapidar o meu talento. Eu aprendi sozinha a tocar Violão. Depois fiz aulas de técnica vocal no curso de Música na UFMA (Universidade Federal do Maranhão). Iniciei aulas de contrabaixo na Escola de Música do Maranhão e participei de um coral formado por esta turma e passei por aulas de canto. Fora da área musical, sou formada em Letras com habilitação em Inglês e leciono na rede particular.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Fabiana Rasta: Com o passar do tempo abandonamos e conhecemos alguns gêneros musicais. Eu sempre ouvi muito reggae em casa com a minha família, mas já ouvi Whitney Houston, Mariah Carrey, Lauryn Hill e de tudo um pouco que tivessem aqueles vocais bem recheados e americanizados. Atualmente escuto reggae antigo da década de 60, 70, 80 a 90 como: Burning Spear, The Absynianss, Nasio Fontaine, Bob Marley, Rita Marley, Judy Mowatt, Márcia Griffithis, Banda Culture. E ouço muito Jass Stone, Ed Motta, Seu Jorge, Aretha Franklin, Nina Simone, Tim Maia. Na verdade, sou eterna pesquisadora dos diferentes ritmos musicais, procuro conhecer um pouco de cada estilo musical.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Fabiana Rasta: Eu comecei em São Luís – MA, em 2002 cantando no bloco de afroreggae GDAM. Em seguida, passei pelo bloco afro Akomabu do Centro de Cultura Negra até chegar à minha primeira banda de reggae, a Via Rasta. Cantar reggae sempre foi meu sonho e venho realizando a cada nova experiência que vivo na música.
06) RM: Fale do seu primeiro CD (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical do CD? E quais as músicas que se destacaram no CD?
Fabiana Rasta: Eu tenho um CD, com compilação de algumas músicas que já tinha gravado anteriormente na última banda que trabalhei (Capital Roots) e inclui outras faixas resultantes de parceria com o estúdio francês Dubwise Factory e com Dennis Alcapone. Com Dennis Alcapone, produzi a canção “I wanna love you so” que é a faixa carro-chefe do álbum. Ele me passou o riddim (playback com a base instrumental de uma música já conhecida, que outro músico acrescentam uma nova letra e melodia) de uma música que já havia sido gravada e eu criei minha própria interpretação, criando nova letra e melodia. E em cima dos riddims do estúdio francês, produzi as músicas: “Meu Nego” e “Liberte-se”. Neste álbum foco um estilo roots, com linhas de contrabaixo marcantes e uma bateria bem compassada, com metais e com influência direta de bandas como Culture, Burning Spear e outras que tenham este estilo. E se caracteriza por um reggae raiz com letras que militam em prol de várias causas como liberdade, abaixo ao preconceito com reggae, com o negro e com os dreadlocks. Minhas músicas pregam o não ao materialismo e falam das paixões que acontecem nos salões de reggae.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Fabiana Rasta: Totalmente roots, pois sempre ouvi reggae muito antigo, o qual é a cultura de São Luís – MA. Tenho feito duetos com alguns rappers e na forma de cantar, me inspiro nas grandes intérpretes do reggae e em outras como: Joss Stone, Amy Winehouse, Aretha Franklin e por ai vai…
08) RM: Como você se define como cantora/interprete?
Fabiana Rasta: Como uma cantora popular que consegue passar com naturalidade os sentimentos às músicas que interpreta.
09) RM: Você estudou técnica vocal?
Fabiana Rasta: Sim. Estudei e estudo. Fiz uma cadeira de técnica vocal na UFMA no curso de Música e tive professor particular de canto.
10) RM: Quais as cantoras que você admira?
Fabiana Rasta: Adoro Márcia Griffithis, Judy Mowatt, Célia Sampaio, Dezarie, Amy Winehouse, Lauryn Hill, Joss Stone, Avion Blackman, Sandra de Sá.
11) RM: Você compõem? Quem são seus parceiros musicais?
Fabiana Rasta: Sim. Componho e sou registrada na associação de compositores Amar. Sempre compus sozinha, tendo como único companheiro, ás vezes, o meu Violão(risos). E sou receosa em compor em parceria, pois sei que ás vezes isso gera muito conflito na divisão dos direitos autorais. Então, por isso, até hoje, só tenho uma parceiro, o qual é um grande amigo, Itamar de Alcântara, ex-baixista da banda Guetos e um excelente músico com sensibilidade incrível para ótimas melodias.
12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Fabiana Rasta: O lado bom é que eu posso desenvolver o meu trabalho da maneira como desejo sem precisar de alguém que aprove para acontecer. Mas o lado complicado é que muitas das vezes, fica complicado correr atrás de tudo sozinho e sem um apoio financeiro como um patrocínio. E muitas ideias ótimas acabam sendo postas de lado por falta de recurso.
13) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Fabiana Rasta: O cenário do reggae feito no Brasil é efervescente no quesito artistas e bandas. Em quase todos os Estados é possível ver muitas bandas e artistas empenhados em produzir reggae em suas diferentes vertentes. Há também vários sites que apoiam e divulgam o trabalho dos artistas brasileiros. No entanto, o que enfraquece mesmo o movimento, é a ausência de bons investidores e principalmente que tratem com respeito a nossa música. Alguns preferem sempre investir em um show internacional quando podem contratar três nacionais para o mesmo evento. E quando nos contratam, querem rebaixar o nosso cachê, o máximo possível, como se não tivéssemos o direito de receber um preço justo pelo nossa arte. Além disso, observo que alguns investidores estão preferindo outros estilos musicais como o Sertanejo, Forró e Pagode.
Outro ponto crucial no enfraquecimento do movimento de reggae nacional está no público regueiro, pois é preciso que as pessoas gostem realmente de reggae ao vivo. Ao contrário de uma grande maioria que ainda prefere o reggae tocando no som mecânico (Radiola) fazendo com quer uma banda não esteja tocando em tais ambientes. E para piorar, o reggae parece ser moda para determinados frequentantes que vão apenas para paquerar e beber e não pela fidelidade a música reggae. O que faz com que seja assim um público vulnerável e que pode ou não estar em um evento de reggae. Então, cenário tem ótimos artistas e bandas, mas faltam mais investidores (produtores de evento reggae), existe ainda uma falta de respeito. A maioria do público é vulnerável a aceitação de outros estilos musicais. E uma minoria é fiel ao reggae roots.
O resultado é uma queda do reggae nacional. E falando do trabalho dos outros irmãos, daqui de São Luís – MA, a banda Tribo de Jah tem um trabalho consistente e consolidado e continuam se apresentando dentro e fora todo o Brasil. Por outro lado, foi uma grande perda para nós, quando deixaram de existir as bandas: Mano Bantu e Mystical Roots.
14) RM: Quais os músicos da cena reggae já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Fabiana Rasta: Graças a Jah, na “reggae music “, existem muitos músicos bons. Posso citar alguns que acompanho o trabalho: Moisés Mota, ex – Mano Bantu; Mario Rocha, guitarrista da Alma Negra; Giani, Tecladista e líder da Rebel Lion, Eduardo Ferreira, trompetista do Brasilites; Guitom Santa Cruz, saxofonista e líder da Planeta Jah; Luis Henrique, Tecladista da Namastê; Diego Bueno, guitarrista da Namastê.
15) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Fabiana Rasta: Muitas situações! Várias vezes, eu cantei com sons péssimos que não tinham sequer um retorno. É muito complicado tocar sem retorno e ficar sem noção do que está saindo. Músicos discutindo em cima do palco, algo que considero ridículo. Um homem já tentou me derrubar de um palco me puxando pelo braço. O dono da casa de eventos não pagar o dinheiro combinado e meu cachê acabar sendo reduzido. Colega de profissão que se aproxima com atitude machista, com cantada maldosa. Acha que toda mulher em ambiente de trabalho deve se relacionar com os homens que lá estão.
16) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Fabiana Rasta: Sinto-me, realmente realizada, quando vejo o reconhecimento e respeito do meu público com meu trabalho e também por ver minha música indo além e tocando em vários Estados e até mesmo fora do Brasil. Um fato que me deixa triste é o machismo que ainda existe dentro deste segmento. Os homens julgam nossas qualidade inferiores apenas pelo simples fato de sermos mulheres, tentando nos testar á todo momento e não respeitando nossas opiniões.
17) RM: Nos apresente a cena musical reggae na cidade que você mora?
Fabiana Rasta: O reggae maranhense é divido em dois segmentos e um deles é ainda subdividido. Um é o reggae eletrônico, no qual as produções musicais são feitas de maneira digital em que os arranjos são montadas em um computador e assim é feito um riddim (base instrumental) e diversos cantores gravam a sua canção em cima do riddim. E os cantores se apresentam em estilo playback nos grandes Sound Systems (Radiolas). E o segundo segmento é o que chamamos de reggae roots e está dividido entre DJs e equipes de Vinil (tocam com LPs) que tocam o reggae da década de 60, 70 a 90 em um Sound Systems (Radiolas de tamanho menor) e as bandas de reggae maranhense que fazem trabalho autoral ou interpretando covers.
18) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Fabiana Rasta: Eu gosto de tantos, que fica até difícil dizer (risos). Eu recomendo ouvir muito Blues. É o grande influenciador de grandes estilos musicais como o Rock e o Reggae. Eu recomendo B.B King, Ed Motta, Tim Maia, Seu Jorge, Nina Simone, Joss Stone. E no reggae, indico Lloyd Parks, Fully Fullwood, Banda Culture, Burning Spear, Bunny Wailer, Bob Marley, Márcia Griffithis, Judy Mowatt, Dezarie, The Absynianss, Israel Vibration, Cristafari. E nacional: Banda Rebel Lion, Alma Negra, Namastê, Banda Guetos, Célia Sampaio, Clã Nordestino, Leões de Israel.
19) RM: Você acredita que sem pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Fabiana Rasta: Sim. Porque eu nunca paguei e elas tocam. Frequentemente, as pessoas fazem contato comigo, pedindo meu CD para tocarem em suas rádios na internet.
20) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Fabiana Rasta: Ter confiança em si mesmo e no seu próprio talento e não permitir que os outros diminuam a sua capacidade. E deve buscar se aprimorar, estudar canto ou estudar um instrumento de harmonia. E estar atento ás críticas construtivas, que mesmo não gostando no primeiro momento, mas que ajudarão a refletir e a crescer.
21) RM: Como você vê a relação direta que as pessoas fazem do reggae com o uso da maconha?
Fabiana Rasta: O reggae vem da Jamaica, que predomina a religião Rastafari e os Rastafaris fazem o uso da erva com intuito para a meditação. E muitos cantores jamaicanos são Rastafaris. É natural que você veja um deles, fumando maconha em algum momento no camarim ou até mesmo no show, ou seja, tem uma relação sim e é religiosa. O problema é que a erva adquiriu também, outra relação muito negativa, principalmente veiculada pela grande mídia, em ser relacionada a uma droga que estimula a violência.
E daí se criou a relação negativa que todo regueiro é maconheiro e todo maconheiro é marginal. Algo que discordo, a começar pela palavra maconha e maconheiro que estão embutidas de preconceitos, pois ela é uma erva chamada Cannabis Sativa e tem também ótimos usos medicinais. E quando se chama alguém de maconheiro, se está colocando a pessoa como marginalizado dentro da sociedade. Mas isso são apenas preconceitos, conceitos antecipados e por sinal, muito generalizados. Eu sou regueira de alma e não fumo a erva, nem bebo. Não vivo a margem da sociedade, muito pelo contrário, sou educadora da rede particular. Então por aí, se vê que são mitos que perduram com o passar dos anos até que nós mesmo possamos quebrá-los e mostrar a realidade dos fatos para a sociedade.
22) RM: Qual a sua opinião sobre a religião rastafari?
Fabiana Rasta: Eu admiro a religião e me considero simpatizante em alguns pontos. Os quais são os que estão na Bíblia, mas não aceito a ideia de adorar um homem de carne e osso como Haile Selassie (que foi Imperador da Etiópia). Acredito que Deus ou Jah é superior a nós, os seres humanos, pois frequento Igreja Batista. E acredito na visão protestante, ou seja, em Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo.
23) RM: Qual o motivo de Rasta no seu nome artístico?
Fabiana Rasta: O Rasta se deve ao fato de eu usar os cabelos dreadlocks e algumas pessoas ás vezes, nos chamam de Rasta. E quem me colocou este apelido foi o filho da minha amiga e cantora Adriana Nogueira. Ela me disse, que uma vez o seu filho Davi, me chamou assim para me diferenciar de outra amiga Fabiana. Então, pensei se para uma criança tão pequena na época, meu cabelo é o fato mais marcante, vou assumir esse nome: Fabiana Rasta.
24) RM: O Bob Marley não fez a amputação do pé quando deu a gangrena por conta das convicções Rastafari. O que você acha dessa opção dele?
Fabiana Rasta: O Bob Marley, foi radical, teve uma fé cega na sua religião e isso lhe custou à vida. Eu não faria isso, pois Deus é vida e nenhuma religião em que Deus habita, pode deixar que seus membros morressem devido ás suas doutrinas.
25) RM: Quais as diferenças das Radiolas de São Luís?
Fabiana Rasta: No passado as grandes Radiolas da Ilha, eram todas de reggae roots, tocavam Eric Donaldson, Ken Boothe, Bob Marley e tudo mais que fosse nesse estilo. Com o tempo, todas as grandes sound systems ou Radiolas como falamos aqui, migraram para o que hoje chamamos de reggae eletrônico.
26) RM: Nos espaços ou clubes que tocam as Radiolas tem espaço para banda tocar?
Fabiana Rasta: Não! Elas por si só, tem seu grande público, não precisam de bandas fazendo reggae ao vivo para fazer o seu evento ter sucesso. Os cantores do reggae eletrônico não precisam tocar com banda, eles cantam em cima das bases do playback. Então, porque eles precisariam de nós (risos).
27) RM: Existe rivalidade profissional entre os donos de Radiolas e as bandas e cantores(as) de reggae em São Luís?
Fabiana Rasta: Eu nunca percebi rivalidade, não são inimigos e se dão bem, mas os donos de Radiolas poderiam se fortalecer mais chamando as bandas para tocar em suas festas. Então, falta mais união entre as Radiolas e Bandas.
28) RM: Na letra Magnatas e Regueiros da Tribo de Jah. É relatado que os Magnatas, que são os donos de Radiolas, só pensam em Dinheiros, ou seja, no lucro do baile e não estão se importando com o regueiros nem com o reggae. O que você me diz dessa realidade local?
Fabiana Rasta: Existem sim, esses Magnatas que não se importam com os regueiros, pois no ambiente da festa, não há um banheiro digno, o ambiente é mal ventilado, a bebida está quente ou cara demais. E não valorizam as bandas maranhenses, preferem investir em atrações internacionais a contratar por um preço digno, uma banda local.
29) RM: O que justifica São Luís ser conhecida como a Jamaica Brasileira?
Fabiana Rasta: Creio que pelo fato, de São Luís ter muita similaridade com a Jamaica. Por sua grande população negra, pelos seus guetos sofridos e principalmente pelo amor a música reggae. Aqui é uma cidade que o dia da semana que você desejar, irá achar algum barzinho ou point que esteja tocando reggae. No entanto, com relação a produção de grandes eventos, a Jamaica Brasileira está fraca, pois grandes atrações internacionais fazem turnês pelo Brasil e sequer passam por São Luís – MA. Além de que não há Festivais de Música locais que valorizem as bandas maranhenses. Ouvi dizer que este apelido foi dado por Jimmy Cliff quando visitou a Ilha e sentiu a nossa semelhança com as pessoas e o ambiente da Jamaica.
30) RM: O reggae em São Luís é dançado agarradinho. Quais os motivos que levaram a essa característica local? Seria a semelhança do ritmo reggae com o Xote?
Fabiana Rasta: Foi devido à associação do reggae com a música lenta (balada). Quando o reggae chegou à Ilha, era tocado muito ritmos caribenhos e o reggae era colocado sempre para acalmar a festa.
31) RM: O shows de reggae no sudeste a presença maior é de jovens e em São Luís tem pessoas de várias idades. Quais os motivos levaram a essa característica local?
Fabiana Rasta: O reggae roots aqui na Ilha tem seu público composto por pessoas mais maduras, pois são pessoas que acompanham esta música, desde quando ela chegou aqui há 40 anos, através dos navios.
32) RM: Qual a receptividade dos regueiros de São Luís para com os músicos jamaicanos?
Fabiana Rasta: Eles são adorados e idolatrados aqui. O público maranhense trata com muito respeito todos os músicos jamaicanos que aqui chegam. Vão recepcionar no aeroporto, tentam ver o ensaio, dão presentes com camisas, cachecóis. Os colecionadores sempre estão pedindo a eles que autografem seu vinis, fazem questão de tirar fotos e pagam seu ingresso com muito orgulho.
33) RM: A receptividade dos regueiros de São Luís é a mesma para com os músicos e bandas de reggae brasileira?
Fabiana Rasta: Não é a mesma. Eles gostam mesmo do reggae jamaicano. O apreço por bandas nacionais é pouco e se faz por uma minoria e por um público mais jovem.
33) RM: A impressão para quem não mora em São Luís é que a cena reggae local é diferente das outras cenas reggae do Brasil. Essa impressão procede?
Fabiana Rasta: Sim. Em alguns Estados brasileiros a cena reggae é quase inexistente, mas aqui sempre há eventos de colecionadores, shows com bandas local e internacional, festas das grandes Radiolas (sound-systems). E Barzinho tocando reggae roots todos os dias da semana e até mesmo a moda reggae está em alta atualmente. É uma cena consolidada devido ao fato do reggae já estar aqui há 40 anos. No entanto, em termos de grandes shows, antigamente os regueiros jamaicanos passavam primeiro por São Luís. Atualmente, creio que estejamos todos incluídos na crise do reggae brasileiro, em que há poucos investidores.
34) RM: Qual a sua opinião sobre os regueiros adeptos a religião rastafari acharem que só eles fazem “reggae de verdade”?
Fabiana Rasta: Puro preconceito, pois, toda música para ser verdadeira depende muito mais do sentimento do que propriamente em ser adepto de uma religião. Diga-se de passagem, Jimmy Cliff que não é rasta, é muçulmano e tem reggaes maravilhosos.
35) RM: Você é uma regueira da nova geração. Qual a sua relação pessoal e profissional com os regueiros das antigas de São Luís?
Fabiana Rasta: Conheço muitas pessoas que ouvem reggae há muito tempo em São Luís-MA. Tenho uma relação de respeito e admiração por eles, devido ao conhecimento que muitos têm sobre a música reggae em geral. E por serem as fontes vivas de informação sobre a história do reggae maranhense. Muitos deles apreciam meu trabalho e sempre comparecem aos meus shows na cidade. Enfim, é uma ótima relação em que a diferença de idade não é obstáculo para que possamos sentar e trocar muitas ideias sobre a música reggae que tanto nos agrada.
36) RM: Você traz referências dos regueiros das antigas para seu trabalho de que forma?
Fabiana Rasta: Sim. Muitas referências. Nos bate-papos com alguns desses amigos das antigas, aprendi muito sobre a chegada do reggae aqui na Ilha. Os costumes antigos dentro das festas, a forma de se vestir, o comportamento dos regueiros há tempos atrás. E acompanho as análises que sempre são feitas sobre o reggae antigamente e como está atualmente. Os descontentamentos que eles trazem me inquietam, fazendo assim com que eu abrace a causa e expresse isso na minha música.
37) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Pinto da Itamaraty?
Fabiana Rasta: O Pinto é um grande produtor de eventos de reggae aqui na Ilha. Ele produz o Cidade do Reggae, Sunsplash e outros. É deputado Federal, é dono de uma das maiores sound systems (Radiola) de São Luís – MA, a Itamaraty. Minha relação com ele se resume a ter participado de alguns eventos que ele produziu com a última banda (Capital Roots) que cantei, mas nunca chegamos a trocar ideias.
38) RM: Quais os regueiros da Jamaica são mais queridos em São Luís-MA?
Fabiana Rasta: Eric Donaldson sem dúvida é um dos mais queridos. A maioria de suas músicas é sucesso até hoje. Ele já fez diversos shows na capital e interiores maranhenses. Eu mesmo, já me apresentei junto com ele em alguns eventos na Ilha.
39) RM: Quais os regueiros da Jamaica moram em São Luís-MA?
Fabiana Rasta: Vários moram por aqui, mas alguns não ficam fixos. Passam um tempo, produzem e voltam para seu país. No entanto, o Norris Cole, Bill Campbell, Sly Foxx, Honey Boy todos moram na Ilha, mas já ouvi falar que o Eric Donaldson e o grupo The Pioneers possuem residência por aqui.
40) RM: Quais os seus projetos futuros?
Fabiana Rasta: Os meus projetos futuros já estão acontecendo em meu presente. Estou fazendo a minha carreira solo que era algo que almejava há tempos. E montei uma banda para me acompanhar. Lancei meu CD e tenho feitos shows na Ilha e fora dela. No entanto, sempre tenho mais em mente, os próximos são gravar o segundo álbum com uma qualidade superior ao primeiro e conseguir levar meu trabalho a lugares que ainda não fui.
41) RM: Quais os seus contatos para show?
Fabiana Rasta: [email protected] | (71) 98858 – 0860 | www.facebook.com/FabianaRasta | youtube, blogger, buscando pelo nome Fabiana Rasta. Mantenho um blog e site que levam meu nome e esta á disposição do público para conhecer mais meu trabalho e manter contato comigo.
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