More Etel Frota »"/>More Etel Frota »" /> Etel Frota - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Etel Frota

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A escritora, poeta, letrista, roterista, romancista – e ex-médica paranaense Etel Frota, natural de Cornélio Procópio, viveu os anos 70 em Londrina e desde 1980 mora em Curitiba.

Foi nutrida no seio farto da grande música popular do Brasil. Estudou piano na adolescência. Graduada em Medicina, atuou como clínica geral por dezoito anos. Depois dos 40 anos, acontece-lhe começar a escrever poemas e letras de canção, de forma diletante e incontrolável. Voltou a estudar música, em cursos livres e oficinas no Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba. Em 1994 participou do “Coral Brasileirão”, embrião do futuro “Vocal Brasileirão”, com a regência de Marcos Leite. Data desse ano o primeiro roteiro que escreveu, para a estreia do grupo.

Em 1997, inscreveu três canções com letras suas no II Festival de Compositores do SESC da Esquina. Duas delas foram premiadas com o primeiro e segundo lugares: “Fim de Tarde”, parceria com Luís Otávio Almeida, defendida por Suzie Franco e segundo lugar com “Medo de amar”, parceria com Iso Fischer, defendida por Rogéria Holtz. Seu envolvimento com poesia e música se tornou público e notório. A médica ainda sobreviveu por pouco mais de um ano, mas acabou morrendo de desnutrição.

Desde 1999 atua de forma exclusiva como escritora – poeta, letrista, roteirista, com algumas incursões pela dramaturgia. Várias indicações e algumas premiações, em anos sucessivos, ao Prêmio Saul Trumpete – os melhores da música no Paraná e ao Prêmio Gralha Azul, o prêmio do Teatro Paranaense.

Em 2002 lançou “Artigo oitavo”, livro mais CD de poesia escrita, falada e cantada, com prefácio de Thiago de Mello, concepção gráfica de Paola Faoro e produção musical de Rodolfo Stroeter. Trilha executada por André Mehmari, Caíto Marcondes, Lydio RobertoRodolfo Stroeter, Sérgio Justen, Teco Cardoso, Participações de Cacá Carvalho, Cris Lemos, Liane Guariente, Mônica Salmaso, Nice Luz, Suzie Franco.

Sua produção como letrista abrange uma enorme gama de gêneros musicais (do erudito à música caipira); de parceiros no Brasil e Escandinávia (de Zé Rodrix a Måns Mernsten, passando por Iso Fischer, André Mehmari, Consuelo de Paula, Davi Sartori); de intérpretes (de Nasi a Maria Bethânia, passando por Viola Quebrada, Kátia Teixeira, Carla Visi, Marianna Leporace, entre dezenas de outros). Uma significativa parte dessa produção de canções está reunida no livro virtual “Lyricas – a construção da canção”, lançado em janeiro de 2007, e desde então disponível para download no site www.lyricas.com.br. Etel Frota assina o roteiro de diversos importantes espetáculos musicais em Curitiba – “As canções: Vocal Brasileirão canta Zé Rodrix”, “Eu, Stelinha”, entre dezenas de outros. Em parceria com o jornalista e pesquisador Alan Romero, produz e apresenta o programa semanal “Poemoda, a canção em verso e prosa”, na Rádio Paraná Educativa, FM 97.1 em Curitiba.

Acompanhou, em 2016, o lançamento do projeto musical “Flor de Dor – Tao do Trio canta Etel Frota” (Cris Lemos, Fernanda Sabbagh, Suzie Franco; direção musical Vicente Ribeiro), que reúne parte de sua obra. O grupo foi indicado ao 28º Prêmio da Música Brasileira ao lado de Quarteto em Cy e MPB4 que ganhou como melhor grupo vocal da MPB. O CD – Flor de Dor – Tao do Trio canta Etel Frota está disponível em https://soundcloud.com/gramofone/sets/tao-do-trio-canta-etel-frota

Etel Frota participou, em 2016, do “Primeiro Treinamento Sênior em jornalismo diário da Folha de S.Paulo”. Desde então, vem atuando como colaboradora eventual do jornal.

Foi contemplada com o “Prêmio Grão de Música 2016” – curadoria de Socorro Lira e Elifas Andreato – concedido anualmente a artistas brasileiros que se tiverem destacado por sua obra e trajetória.

“O Herói Provisório”, seu primeiro romance, foi lançado em 2017. Em 2018 ganhou o segundo lugar no Prêmio José de Alencar da União Brasileira de Escritores.

Neste último trimestre de 2019, Etel Frota participa dos eventos de lançamento de “MAHADEVI – A Árvore da Vida” o primeiro livro da fotógrafa mineira Dani Leela, para cujas imagens escreveu texto poético.

Etel Frota segue trabalhando em novas letras de canção e roteiros, na reedição de seus dois livros, e nos seguintes novos projetos: “A menina que engoliu uma estrela”, romance infanto-juvenil, “Santosha”, poesia, e no projeto musical “Canções do dia seguinte”.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Etel Frota para a www.ritmomelodia.mus.br. Entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 06.11.2019:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Etel Frota: Nasci no dia 05 de maio de 1952, em Cornélio Procópio, norte do Paraná. A Terra do “pé vermelho”.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Etel Frota: Missão impossível. Meu pai, o Candinho, nascido em 1918, foi um dos primeiros locutores da Rádio Cornélio ProcópioZYR5. Ele faz parte da pré-história da radiofonia da cidade, porque já trabalhava como locutor do serviço de alto-falante, antes mesmo do rádio chegar à cidade. Quando me dei conta de ser gente, morava nos fundos da rádio. Comecei a me entender como gente no meio de discos 78 rpm, programas de auditório, Revistas do Rádio.

03) RM: Qual a sua formação acadêmica?

Etel Frota: Licenciatura em Ciências, depois graduação em Medicina, pós-graduação em Saúde Pública. Trabalhei como Clínica Geral por 18 anos. Trabalhei no Banco do Brasil, primeiro em serviços bancários, enquanto estudava, depois no quadro médico, onde me aposentei. Voltei a estudar música, em cursos livres e oficinas no Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Etel Frota: Sempre tive o ouvido muito aberto. Talvez porque lá na adolescência eu ouvisse Jovem Guarda, Beatles, MPB engajada, Rock´n Roll, Bossa Nova, Tropicália, tudo meio que ao mesmo tempo, ou ao menos uma audição se sobrepondo à outra, sem nenhuma preocupação com coerência ou linha evolutiva. Mas a partir do momento em que começo a me perceber como indivíduo-ouvinte-com-alguma-crítica, a grande influência sempre foi a da canção popular brasileira, com ênfase para as palavras dos grandes letristas: Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Vítor Martins, Fernando Brant, Torquato Neto. Caetano Veloso e Gilberto Gil, os grandes cancionistas. E, num altar em separado, a devoção maior, Chico Buarque de Hollanda. Esse um, por cuja vida e obra nós devemos manter permanentemente acesa uma vela votiva. Zeus absoluto do meu Olimpo.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Etel Frota: Em 1997, ainda médica, eu inscrevi – envergonhada e secretamente – três canções com letras minhas no II Festival de Compositores do SESC da Esquina, em Curitiba – PR. Fomos premiados com o primeiro lugar com “Fim de Tarde”, parceria com Luís Otávio Almeida, defendida por Suzie Franco e segundo lugar com “Medo de amar”, parceria com Iso Fischer, defendida por Rogéria Holtz. Havia já alguns anos que eu estava envolvida com música e literatura, mas de forma diletante e casual. Com o Festival de Música, esse meu “segredo” se tornou público de um dia para o outro. Nos anos seguintes continuei compondo com vários parceiros, mas ainda não levava aquilo tudo muito a sério. Em 1998 pendurei o estetoscópio e passei a me dedicar unicamente à escrita.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Etel Frota: Não sou musicista nem cantora. Minha ligação com a música é literário, sou letrista. Assim, grande parte do meu trabalho em música  (tenho cerca de 130 canções compostas) está dispersa em discos de parceiros e intérpretes. Tenho dois CDs, por assim dizer, “autorais”: “Artigo oitavo – poesia escrita, falada e cantada”, livro + CD, lançado em 2002 e “Flor de Dor – Tao do Trio canta Etel Frota”, lançado em 2016. Ainda como letrista, lancei o songbook “Lyricas, a construção da canção”, de 2007, livro virtual de letras e partituras cifradas disponível para download no site www.lyricas.com.br . Algumas canções que se tornaram mais conhecidas são: “Onde os anjos não ousam pisar”, parceria com Zé Rodrix, originalmente gravada por Nasi no álbum “Onde os anjos não ousam pisar”, lançado em 2006; “A Comadre”, parceria com Ceumar, cantada por ela no CD – “Meu Nome”, lançado em 2009; “Sete Trovas”, parceria com Rubens Nogueira e Consuelo de Paula, que teve várias gravações, entre elas a de Maria Bethânia no álbum “Encanteria”, lançado em 2009, e entrou no repertório do show “Claros Breus”, com que ela comemora, em 2019, os seus 50 anos de carreira.

07) RM: Como você se define como letrista?

Etel Frota: Como letrista, uso e abuso da deliciosa irresponsabilidade de não ter de me ater a um estilo musical. Escrevi letras para composições que vão da música caipira à música sinfônica. Valsas, acalantos, sambas, xotes, blues, modinhas. Acabei de compor um RAP para uma peça de teatro que escrevi. Acho isto uma coisa maravilhosa, não troco essa liberdade por nada.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Etel Frota: Até já estudei, de raspão, mas me ative a cantar diletantemente em corais e grupos vocais amadores. Já faz muitos anos que não canto mais.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Etel Frota: Para o cantor é fundamental. Mas como ouvinte de música, devo confessar a tendência de me emocionar de menos com vozes educadas demais.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Etel Frota: Ah, são tantas, tantos… Aqui na minha terra, eu começaria pelas meninas do Tao do Trio – Suzie Franco, Cris Lemos, Fernanda Sabbagh – juntas ou em solo. São maravilhosas. Ana Cascardo, Rogéria Holtz.  Cida Moreira e Renato Braz me viram do avesso. Zé Luiz MazziottiCeumarConsuelo de PaulaZé Renato, Cláudio Nucci. Tato Fischer. São muitos, muitos!

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Etel Frota: Não tem fórmula. Às vezes, ganho melodias e escrevo letras pra elas. Outras vezes, algum poema antigo aparece musicado por um parceiro. Com menos frequência, escrevo algo já com a intenção de que seja uma letra de canção.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Etel Frota: Também são muitos. Zé Rodrix me chamava de promíscua (risos). O primeiro, e principal, é Iso Fischer. Compus mais de uma dezena de canções com Rubens Nogueira, que nos deixou tão cedo. Tenho composto bastante com Oswaldo Rios e Rogério Gulin, do grupo Viola Quebrada. A cada nova fase, novos parceiros vão aparecendo. Considero-me abençoada também por esta diversidade.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

Etel Frota: Tao do Trio, Cris Lemos, Suzie Franco, Ana Cascardo, Rogéria Holtz, Renata Melão, Bernini, Ceumar, Consuelo de Paula, Carlos Navas, Nasi, Maria Bethânia, Carla Visi, Viola Quebrada, Mônica Salmaso, Katya Teixeira, Felipe Radiccetti, Juju Fontoura, Ana Luiza & Luis Felipe Gama, a banda sueca “A Bossa Elétrica”, a cantora sueca Mirian Aïda. São muitos intérpretes maravilhosos, benzadeus.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Etel Frota: Um único e poderoso contra: estar sempre à margem, sem divulgação, sem mídia, sem público. Todos os “a favor”: a liberdade e independência, que não têm preço.

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira como letrista?

Etel Frota: Não tenho estratégia, sou errática. Trabalho o tempo todo, sete dias por semana. O que a vida vai me trazendo (as coisas que me emocionam, me mobilizam, que eu sinto que são para mim) eu vou pegando, vou fazendo e tornando a entregar para o mundo.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Etel Frota: Devo à internet absolutamente cada leitor que leu uma linha que já escrevi e a cada pessoa que ouviu uma letra minha cantada. Em 1998 eu começava a me aventurar na internet, quando comecei a escrever letras de canção e tomei coragem para começar a pensar em publicar meu primeiro livro de poesia. A partir do final de 1999, através da lista M-Musica, fui conhecendo compositores, intérpretes e amantes de música dos quatro cantos do país, surgiram dezenas de parcerias e centenas de ouvidos e corações interessados no que se estava compondo. Até hoje somos amigos, nos frequentamos, fazemos música juntos, 20 anos depois.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia  de gravação (home estúdio)?

Etel Frota: Todas as vantagens para o artista, o produtor de conteúdo. A facilitação tecnológica está possibilitando já a uma terceira geração de artistas exporem ao mundo a sua obra. Se é que isto é uma desvantagem (acho que não é…) para o ouvinte de música, ficou mais trabalhoso separar o trigo do joio, já que a oferta é interminável, diária, intensiva. Mas sou partidária entusiasmada de que as porteiras estejam abertas para todos.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro de um nicho musical?

Etel Frota: Minhas letras não são fáceis, as canções de cuja composição eu participo não têm qualquer apelo popular. Na verdade não escrevo nada para me “diferenciar”. Até porque desconheço qual seja meu nicho, talvez seja o nicho da literatura, já que me considero antes de tudo uma escritora. Não penso muito, na verdade não penso nada nessas questões de circulação, aceitação. Simplesmente faço o que sei fazer e boto no mundo, na esperança de que a obra encontre sensibilidades nas quais possa ressoar. Mas desconheço qual possa ser essa trajetória.

19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Etel Frota: Quem regrediu? Há compositores que eu admirava, cuja obra se deixou apequenar, mas não cito nomes e nem me ocupo com as suas existências. A cada um seu cada qual. Chico Buarque e Gilberto Gil só melhoram. Impressionante a capacidade criativa desses dois gênios. Mulheres compositoras maravilhosas que eu não conhecia vinte anos atrás, cuja obra hoje faz parte integrante da minha vida – Consuelo de Paula, Ceumar, Socorro LiraLuhli Lucina, ícones que continuaram seus trabalhos solo. Luhli, que nos deixou no ano passado foi uma compositora mais orgânica e prolífica que já conheci. Lucina continua compondo, cada vez mais lindamente, sem parar. Tem Alexandre Lemos, que também conheci há menos de 20 anos, que considero o maior letrista que o Brasil já produziu. Meu parceiro Iso Fischer, que é fenomenal. A retomada de Zé Rodrix, tão bruscamente interrompida. Joana Garfunkel, Jean Garfunkel, cantautor, menestrel, e o seu trabalho incansável em favor da literatura brasileira. Caetano Veloso se reinventa a cada novo trabalho, é bonito e emocionante ver a linha evolutiva dele com os filhos. E, por falar em filhos, ah, os filhos, os meninos e meninas filhos de grandes artistas, que seguem com a tocha olímpica sem ficar devendo nada aos pais – Lucas Franco, Victor Gulin, Bárbara Rodrix, Dudu RamosPedro Altério, Pedro Viáfora, Yan e Yuri LemosJúlia Borges, Ana Clara Fischer. Mais do que tudo o mais, isto me emociona.

20) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Etel Frota: Pode ser três palavras? Chico. Buarque. De Hollanda. Artista absoluto, gênio da raça, coerência na vida e na obra. Um deus.

21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira profissional?

Etel Frota: O trabalho do autor é solitário. Não tenho grandes histórias para contar. As mais divertidas são de um breve período em que me meti a produzir algumas coisas que eu escrevi, me improvisei na direção de alguns espetáculos. Aconteceu uma vez de eu estar como “produtora” de um espetáculo que eu tinha roteirizado e ter levado um “tombo” de um pilantra que sumiu com o cheque com o pagamento de todos os cachês do grupo. Uma tragicomédia de erros e bandidagens que hoje é engraçada, mas na época quase me causou um infarto. Foi útil para eu entender que não tinha competência para levar adiante a “carreira de produtora”.

22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Etel Frota: Duas grandes felicidades: o momento em que a última sílaba da última palavra encaixa na melodia, feito aquela última peça do quebra cabeças, e tudo soa redondinho e o momento em que um intérprete canta o seu texto imprimindo-lhe a mesma emoção do instante da composição. Àquela hora em que a canção completa o seu ciclo, tudo se irmana em sentido, fecha-se a Gestalt. Tristes são os períodos em que me sinto incapaz como letrista, em que tudo o que escrevo soa falso e banal.  São fases que costumeiramente passam, mas enquanto a gente as está atravessando bate um desespero e parece que a fonte secou.

23) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Etel Frota: Curitiba – PR tem uma pré-história musical riquíssima, como um dos berços do jazz no Brasil. Está tudo contado no livro “Curitiba no Tempo do Jazz Band”, de Adherbal Fortes. Essa pujança coincidiu com o ciclo do café e com ele decaiu. Depois, um vigoroso momento da canção popular, grandes cancionistas, Paulo Leminski como catalizador local, colocando Curitiba no mapa brasileiro da MPB. Um terceiro ciclo nos anos 1990, com o Clube dos Compositores e o Conservatório de MPB, celeiro de grandes nomes da cena atual. O maior evento de todos é a Oficina de Música, o maior Festival Musical de Verão do país, teve, em 2019, sua 36ª edição.

24) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?

Etel Frota: Vocal Brasileirão, Vocal BrasileirinhoTao do Trio (Vicente Ribeiro, Suzie Franco, Cris Lemos, Fernanda Sabbagh), Iso Fischer, Grupo Viola Quebrada, Curumim, Rogéria Holtz, Grupo Nymphas,  Mulamba, Vidro e Corte, Samba da Resistência, Selma Baptista, Grupo Fato, Estrelinski e Téo Ruiz, Ana Cascardo, Edith de Camargo, Iria Braga, Gerson Bientinez, Mundaréu, Itaércio Rocha, Raíssa Fayet, Maria Faceira, Paulo Vítola, Marinho Galera, Daniel MigliavaccaOrquestra à base de cordas, Orquestra à base de sopro, Du Gomide, Ju Cortes, Camerata Antiqua de Curitiba,  Davi Sartori, João Egashira, Sérgio Allbach, Glauco Solter, Lydio Roberto, Clarissa Bruns, Guego Favetti, Trio DFavetti. Também Alexandre Nero e Anna Toledo, que embora se tenham “expatriado” mantêm musicalmente o DNA curitibano. E é claro que acabei de perder uma dúzia de amigos com esta resposta. É uma perigosa associação de gente talentosa demais com memória de menos.

25) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Etel Frota: Temos o privilégio, em Curitiba – PR, de ter a Rádio Paraná Educativa FM 97.1, referência nacional na execução de música autoral brasileira. Rádio pública, a palavra jabá não consta do dicionário de lá. Quanto à minha música, cuja composição eu sou parceira, eu não tenho a menor ilusão de que possam tocar em rádios comerciais, com ou sem jabá; não são populares.

26) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Etel Frota: Fé em Deus e pé na tábua. Ou, como disse José Saramago: “não tenhas pressa e não percas tempo”.

27) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música? Hoje os Festivais de Música revela novos talentos? Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?

Etel Frota: Não consigo ver “contras” em Festival de Música. É uma vitrine para novos talentos que estão fora da grande mídia. Muitos talentos têm aparecido a partir de Festivais de Música. O que não significa, absolutamente, que esses talentos passem a ser conhecidos do público, como acontecia a partir dos Festivais de Música do passado. O Festival de Música passou a ocupar um espaço marginal, periférico. Hoje, as redes de grande mídia investem nos “festivais” de intérpretes, The Voice da vida. A música autoral continua acontecendo lindamente, mas num universo paralelo, na internet e em guetos. O Festival de Música revela talentos independentes para o gueto da música independente. Assim como os saraus, os grupos de música na internet, os clubes de compositores. Não têm nada a ver com a indústria musical, com divulgação pela grande mídia. O compositor independente de uma música mais consistente nunca vai “chegar lá”, exceto as exceções que só servem para confirmar a regra. Mas repito, acho que o Festival de Música é um importante espaço de resistência da música autoral.

28) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Etel Frota: Fundamentais e insubstituíveis. Mesmo aqui em Curitiba, onde temos um número infinitamente menor de espaços disponíveis, o SESC e o SESI desempenham papel importantíssimo na circulação da produção cultural. O Brasil inteiro está de luto pelo encolhimento da presença da CAIXA Cultural e do Banco do Brasil Cultural, bem como de todas as instâncias governamentais no fomento de ações culturais. É doloroso testemunhar o desmonte que estamos assistindo.

29) RM: Fale sobre os seus Livros.

Etel Frota: Meu primeiro livro é de 2002, “Artigo oitavo – poesia escrita, falada e cantada”, livro mais CD com prefácio de Thiago de Mello, produção musical de Rodolfo Stroeter, participação de Cacá Carvalho, Thiago de Mello, Mônica Salmaso e outros importantes nomes da cena musical de São Paulo e Curitiba. Está esgotado, em vias de ser reeditado. O segundo livro, de 2007, é o “Lyricas, a construção da canção”. É um songbook virtual, disponível para download gratuito no site www.lyricas.com.br“O Herói Provisório” foi o meu primeiro romance lançado em 2017. Em 2018 ganhou o segundo lugar no Prêmio José de Alencar da União Brasileira de Escritores. Um romance histórico, que ficcionaliza um episódio da história do Paraná, o Incidente Cormoran, ocorrido em 1850 em Paranaguá, quando a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres abriu fogo contra um navio inglês que invadira a baía de Paranaguá e capturara navios negreiros brasileiros. Lançou em 6 de novembro de 2019 em parceria com a fotógrafa Dani Leela, o livro “Mahadevi – a árvore da vida”, em que “ilustrei” com poesia as fotos da obra.

30) RM: Quais os seus projetos futuros?

Etel Frota: Trabalho na finalização de um segundo romance, “A menina que engoliu uma estrela” e do projeto musical “Canções do dia seguinte”, que deverá ser lançado brevemente em EP. Neste momento voltei à Universidade para estudar tradução literária, mirando uma leitura mais acurada de uma autora neozelandesa, Janet Frame, por cuja obra eu estou perdidamente apaixonada. Esta última aventura deverá desaguar em algum projeto de dramaturgia.

31) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Etel Frota: O contato pode ser feito através da minha fanpage no facebook, Etel Frota | email: [email protected]

“Mahadevi – a árvore da vida” está à venda no site da Kotter Editorialhttps://kotter.com.br/loja/mahadevi-a-arvore-da-vida/ “O Herói Provisório” pode ser adquirido pelo: www.oheroiprovisorio.com.br | Todas as quartas, às 9 da noite, estou apresentando “POEMODA, a canção em verso e prosa”, que pode ser ouvido no site da Rádio Paraná Educativa:  http://www.paranaeducativa.pr.gov.br/modules/programacao/radiofm_ao_vivo.php . Durante a apresentação do programa, Alan Romero e eu interagimos com os ouvintes, no animado chat do grupo “Ouvintes Online”, aberto a quem quiser participar https://www.facebook.com/groups/poemoda/ | Embora não seja de palco, faço atualmente parte de um grupo feminino que tem se apresentado com um repertório de poesia e canções que falam sobre maternidades sem purpurina, o “Acalanto de Ar e de Pedra”.


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.