More Eliane Faria »"/>More Eliane Faria »" /> Eliane Faria - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Eliane Faria

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Ganhou de Nelson Sargento o epíteto “A Filha do Samba”, não à toa, já que vem de uma geração de cantoras que valoriza não só a postura e a interpretação, mas também, o repertório, fazendo com precisão cirúrgica a escolha das músicas com a intenção de levar ao público o que gosta, tipo pérolas melódicas de um Nelson Cavaquinho.

Seu repertório inclui o biscoito fino que os marqueteiros de plantão insistem que o povo não entende. Ledo engano! Ela prova justamente o contrário. O povo gosta, não tem acesso e não ouve mais no rádio determinados ícones do nosso cancioneiro popular.

Nestes anos de carreira a cantora vem desfrutando do legado de compositores emblemáticos e essenciais à música brasileira. Criada nas rodas de choro e samba de Botafogo, capitaneadas por seu avô César Faria, transformou-se em uma intérprete destes gêneros tão cariocas.

No mesmo bairro, seu padrinho, Mauro Duarte, organizava rodas de samba, as quais a menina também frequentava, tornando-a imune às mesmices de mercado. Os primeiros shows já preconizavam o caminho musical, tendo Djavan como padrinho e repertório que incluía composições de Paulinho da Viola, não por ser seu pai, mas por sua posição no Olimpo dos compositores brasileiros.

Defendeu o panteão do Paraíso do Tuiuti e faz parte da Ala de Compositores da Portela, onde compõe com vários parceiros, parindo letras e melodias como as três filhas que trazem suas marcas em uma troca profícua de quem sabe o caminho a tomar, onde muita gente se vende por um lugar ao sol e muitos vão até de graça.

Sua carreira é permeada por encontros notáveis com Elza Soares, Beth Carvalho, Ademilde Fonseca, Jotinha Moraes, Rildo Hora, Dona Ivone Lara, Velha- Guarda da Portela, Martinho da Vila e tantos outros com os quais dividiu o palco e um pouco do dia a dia em viagens nacionais e internacionais.

Seu primeiro disco solo, “Alma feminina”, trouxe parte de sua vivência e preferência musical. Dificilmente uma cantora iniciante consegue impor sua vontade e fazer um disco do jeito e da forma desejada. Só mesmo que tem a régua e compasso da própria carreira o consegue.

Eliane Faria produziu e conseguiu o resultado esperado neste disco vivo, o que não é para qualquer um! Tem que se estar muito determinado. Bem lhe cabem os versos de Torquato Neto: “Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”. Seus novos projetos estão prenhes de determinação e atitudes insólitas, pois é disto que vive o artista, de sonhos e realizações. Texto de Euclides Amaral (Pesquisador musical, poeta e letrista).

Segue abaixo entrevista exclusiva com Eliane Faria para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 03.12.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Eliane Faria: Nasci em casa no dia 13 de agosto 1965, na Tijuca, Rio de Janeiro – RJ. Filha de Paulinho da Viola (Paulo César Baptista de Faria) e de Alcinéia Pereira (ex-passista da Escola de Samba Salgueiro). Neta do violonista César Faria e afilhada de Violeta Cavalcanti e Mauro Duarte. Registrada como Eliane Regina Pereira de Faria.

Integrante da Ala de Compositores da Portela. Atuou como segunda intérprete da Escola de Samba Paraíso de Tuiuti, sendo a primeira mulher grávida a interpretar um samba na avenida. Atuou como jurada no “1º Festival do Metrô”, do Rio de Janeiro. Presidente do bloco carnavalesco Bloco dos Gringos, que no ano de 2005 homenageou o cartunista Lan.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Eliane Faria: Meu primeiro contato com a música foi na barriga da minha mãe, Alcinéia, conhecida como Preta, uma grande passista do Salgueiro e, com o meu pai que cantava e tocava em casa.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Eliane Faria: Formei-me em Serviço Social em janeiro de 1990. Estagiei no Centro de Hematologia, no Hospital Da Casa do Hemofílico e na Casa do Hemofílico, mas não atuei na área, pois logo ingressei na carreira musical.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Eliane Faria: Sempre ouvi todos os estilos músicas e principalmente o Choro, o samba, a MPB, o Jazz, o Baião. Nos anos 70 e 80 ouvi muita música americana. Tudo me serviu de aprendizado para a minha construção pessoal e profissional.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Eliane Faria: Eu comecei minha carreira solo em janeiro de 1994. Antes estava no coral chamado “Maçã na Camisola”, só com mulheres e dirigido pelo Demetrio Nicolau, mas era amador. Com isso, fui convidada para cantar os 30 anos de carreira do meu pai com direção de Túlio Feliciano, produção do Nei Barbosa, e nunca mais parei.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Eliane Faria: Tenho dois CDs de carreira e outros de projetos.

Tal pai tal filho (1997); Ala dos compositores da Portela (2000); Clássicos do samba (2001) com Dona Ivone Lara, Martinho da Vila, Jamelão, Velha-guarda da Portela e da Mangueira e Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília; Conexão carioca 3 (2002); Conexão carioca 3 (2003); Alma feminina (2003); Samba, saúde & simpatia (2004); Circuito original (2006); Sociedade Carnavalesca Embaixadores da Folia – da Cidade Maravilhosa – Por Amor Ao Rio (2007); Desde criança sou Mangueira (2010); Três no samba (2017 pelo Selo Sesc) com André Mehmari e Gordinho; Festival de Sambas de Terreiro (2018) com a Ala de Compositores Ary do Cavaco.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Eliane Faria: Sou sambista, apesar de algumas vezes cantar bossa-nova e MPB.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Eliane Faria: Estudei com a Maria de Loures Cruz Lopes e a Jurema Fontoura técnicas vocais. Duas grandes pessoas, professoras e profissionais da voz. O canto requer estudar sempre. Faço aulas até hoje esporadicamente.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Eliane Faria: A voz é um instrumento muito delicado, mas cada um se adapta a um jeito. O vento, a mudança de tempo, alimentação, o emocional, o cansaço, enfim tudo conta para o cuidado da voz.

A fonoaudiologia ajuda muito, além dos exercícios. Com a técnica melhora tudo. Você aprende a se conhecer e a expandir sua voz. Você passa a conhecer seu timbre, expandir sua extensão de voz.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Eliane Faria: O Brasil sempre teve grandes vozes femininas e a diversidade de timbres me encanta. Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Nana Caymmi, Maria Bethânia, Elza Soares, Baby Consuelo e por aí vai.

Das masculinas gosto do meu pai (Paulinho da Viola), do Péricles, do Dorival Caymmi, Dick Farney, Emílio Santiago, Luiz Gonzaga, Dori Caymmi, Silvio Caldas. Difícil falar de uns e não de outros. Em 2001 gravei um álbum – “Alma Feminina” onde eu homenageei 18 mulheres que admiro e me influenciaram.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Eliane Faria: Eu não tenho uma regra. Faço letra e depois coloco a melodiaria e vice-versa. Gosto muito de dirigir e compor na estrada. As madrugadas também são ótimas. Quando recebo de outro compositor uma letra ou melodia algumas vezes vem a inspiração e outras requer utilizar mais a experiência que tenho.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Eliane Faria: Atualmente, por causa do samba enredo o Eli Penteado é o meu parceiro musical mais constante devido a parceria de sambas-enredos na Portela. Tenho feito ultimamente algumas músicas com o Luciano Bicudo, mas tem o Euclides Amaral, Telma Tavares, Maurílio do antigo Quinteto em Branco e Preto, André Bertini, Marquinhos do Pandeiro da Velha Guarda da Portela, Noca da Portela, Selma do Samba, Tayde Martins.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Eliane Faria: Há muitos anos o Nelson Sargento foi levar um disco dele na minha casa e ao sair ele me disse: “Minha filha, no dia que você fizer um disco não faça independente para que não passe o que eu estou passando batendo de porta em porta com o disco debaixo do braço”. Eu não o escutei. É muito difícil até financeiramente. Em compensação você faz o álbum da sua maneira. Tudo tem os prós e contras.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Eliane Faria: Sou uma artista que não tenho preocupação com projetos de álbuns, mas quando acabo uma temporada de shows já sei qual o novo projeto que farei. Sigo um cronograma de estudos e pesquiso músicas e tento trabalhar as mídias.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Eliane Faria: Meu maior empreendimento é o conhecimento que eu adquiro através do estudo, onde busco me atualizar a respeito das novidades do mercado musical.  Tenho bons músicos e faço questão de ter o melhor repertório possível, além das mídias socias que hoje é como chegamos ao nosso público.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Eliane Faria: No meu caso ajuda sempre. Faço a divulgação dos shows, projetos, lives, contatos com fãs que sempre é muito importante, assim como divulgo as minhas composições.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Eliane Faria: Com um home estúdio podemos gravar, fazer experimentos e executar mais rapidamente as ideias.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Eliane Faria: Eu só tive dois discos de carreira. Gravar se torna fácil quando se tem recursos. Levar o projeto para vender os shows, tocar nas rádios, divulgar na Tv é que não é tão fácil.

Eu resolvi na minha carreira fazer poucos CDs e ter uma carreira mais efetiva nos palcos. Gravei e gravo mais músicas individuais. Hoje em dia poucas são as pessoas que compram CDs. Me diferencio pela minha autenticidade, pois não existe uma receita.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Eliane Faria: Existem muitos talentos que não têm oportunidades, assim como tem muitos que só estão na mídia pela estrela, oportunidades, enfim por vários motivos. De quem surgiu nos últimos tempos e que eu gosto é a Ivete Sangalo. Bonita, inteligente, excelente cantora, produtora, empresária, maravilhosa. Gosto muito do havaiano Bruno Mars.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?

Eliane Faria: Nesses quase trinta anos de carreira aconteceram muitas coisas citadas na pergunta. Agora me vem à cabeça quando conheci o Baden Powell. Fazia um show em Ipanema – RJ e havia esquecido o meu sapato (gosto de fazer show com saltos finos e altos, me visto pelos sapatos que escolho). Desci para esperar o taxista que estava trazendo os sapatos quando entra o Marcel, filho do Baden, junto ao pai que queria me conhecer. Não inusitado, mas foi lindo. Não é sempre que temos um ícone da MPB querendo te conhecer.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Eliane Faria: Cantar é a própria felicidade, mas o triste são os altos e baixos de qualquer outra profissão liberal. Vejo muita gente competente, grandiosa que não tem oportunidade como deveria.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Eliane Faria: É aquilo que você já nasce. Tudo se torna mais fácil no aprendizado, mas nem sempre ajuda. Muitos se tornam desmotivados. Tem pessoas que gostam do que faz e se dedica, daí se torna um grande profissional. Determinação, estudo, objetivo, dedicação são fundamentais para se tornar um grande profissional.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Eliane Faria: É aquilo que temos que fazer quando não estamos esperando.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Eliane Faria: Claro! Eu não sou musicista de instrumento musical, a não ser com a voz, mas existem estudos que comprovam isso.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Eliane Faria: A improvisação te leva a ousar e como toda ousadia tem seu preço. A pessoa tem que estar preparada para isso.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Eliane Faria: Não sou apta para falar sobre isso, mas tenho certeza que como compositora eu tendo um estudo de harmonização me facilitaria muito na hora de passar uma obra minha da maneira que eu imaginei na criação.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Eliane Faria: Certamente se eu pagasse o jabá as músicas seriam mais tocadas.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Eliane Faria: Pela minha experiência, primeiramente gostar muito de ser um profissional da voz ou do instrumento, que é bem diferente de cantar ou tocar. Depois estudar, escutar os mais diversos estilos de música. Ouvir os profissionais da música. É através do que apreendemos e aprendemos na nossa vida que crescemos como artistas.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Eliane Faria: Revela novo talento, mas não quer dizer que fará sucesso. Os festivais de música foram de grande importância para a Música popular Brasileira.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Eliane Faria: Infelizmente, poucos artistas têm a oportunidade de ter o talento e a sorte juntos. Hoje, você tem que fazer a música no estilo que a grande mídia quer. Acredito que quando fazemos com amor e cuidamos com carinho da nossa carreira podemos fazer trabalhos lindos e reconhecidos pelo público sem precisar tão só da mídia. Vivo há quase 30 anos da música e tenho certeza que muitos aqui que estão lendo essa entrevista não me conhecem.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Eliane Faria: Acho ótimos esses espaços. Comecei no SESC Pompeia no Prata da Casa nos anos 90. Depois fiz alguns no Rio. Já fiz algumas vezes o SESI, mas nunca Itaú Cultural.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Eliane Faria: Lançar um álbum com músicas autorais, músicas autorais infantis, muitos shows. Tudo ainda são projetos…

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs? 

Eliane Faria: https://www.elianefaria.com.br

Contato Profissional pelo WhatsApp: (21) 99802 – 7658 | [email protected] 

Instagram: https://www.instagram.com/cantoraelianefaria

Canal: https://www.youtube.com/@elianefaria1405 

Eliane Faria e Paulinho da Viola (Coração Leviano): https://www.youtube.com/watch?v=pwpSuilAuoA 

Playlist Projetos e Entrevistas: https://www.youtube.com/watch?v=FutddjLoEbc&list=PLrgOEzuI9YPcwiiNm8i3ZURZFiydY2VTf 

Playlist Portela Cultural: https://www.youtube.com/watch?v=pOS3x1QZ8zc&list=PLrgOEzuI9YPchxfly0oUNUQ7p55N7gmDL 

Samba Concorrente Portela 2023 – Eliane Faria e CIA: https://www.youtube.com/watch?v=Pm-0Xd50FzE 

Eliane Faria convida Tia Elza: https://www.youtube.com/watch?v=4Ld_AjM-kGE 

Eliane Faria convida Tuco Pellegrino: https://www.youtube.com/watch?v=QBZ4lT-1aps 

Eliane Faria convida Chapinha da Vela: https://www.youtube.com/watch?v=VWunhz8t-Ow


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Comments · 1

  1. Muito boa a entrevista! Pergunta e repostas bem pertinentes à nossa realidade artística atual! Parabéns a ambos! Euclides Amaral

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.