Edson Natale é o organizador do Guia Brasileiro de Produção Cultural e do livro “Direito, Arte e Liberdade”, ambos com Cristiane Olivieri.
Sua discografia é composta por doze discos, o primeiro de 1985 e o mais recente “A Egípcia e o Mecânico” de 2022.
É autor dos livros “Pequeno Calendário Colorido para os que sabem ler o tempo” e os infantis “A História do Incrível Peixe Orelha” e “Balila, a Minhoca Bípede”.
Foi gerente de música do Itaú Cultural por 22 anos e gerente coordenador do Auditorio Ibirapuera e de sua Escola de Música, por 9 anos.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Edson Natale para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 08.02.2023:
01) Ritmo Melodia: Onde e quando nasceu?
Edson Natale: Nasci no dia 18 de março de 1962 em São Paulo.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Edson Natale: Não venho de uma família musical. Minha mãe, que é egípcia, contou que meu bisavô era músico no Egito, mas eu não o conheci. De criança me lembro de alguns LPs que meu pai ouvia, tipo Burt Bacharach e depois quando ganhei um rádio de pilha no Natal e que ouvia o dia inteiro. Nessa época o Benito Di Paula tocava muito na rádio, eu adorava e pedi para meus pais comprarem o LP dele para mim. Depois comecei a comprar discos e não parei mais. O disco do Clube da Esquina foi um divisor de águas pra mim…
03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Edson Natale: Tive aulas com Ronoel Simões, Celso Machado, Ulisses Rocha e também frequentei o Conservatório Fego Camargo, na época que fiz Agronomia em Taubaté – SP. Meu instrumento é o violão, então além das aulas com esses professores que citei, aprendi muito com o Paulinho Nogueira, André Geraissati e Suba que informalmente também foram meus professores. Fora a música, tenho me dedicado bastante aos livros: em 2023 vou lançar meu primeiro livro contando histórias da música (as vezes de histórias a partir da música…), além disso teremos o lançamento da nona edição do Guia Brasileiro de Produção Cultural.
04) RM: Quais suas influências musicais?
Edson Natale: As influências vão se sobrepondo, criando camadas e interseções entre si que as vezes você só descobre muito tempo depois…além destes que já citei anteriormente, posso dizer que carrego, com prazer, influências dos muitos e muitos músicos, intérpretes, arranjadores e compositores com os quais convivo.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Edson Natale: Minha carreira começou quando pisei em um palco pela primeira vez para participar de um Festival Universitário, em 1983, em Taubaté. Dessa forma posso dizer que completo 40 anos de música este ano de 2023!
06) RM: Quantos discos foram lançados?
Edson Natale: São doze discos até agora. Minha discografia começa com o compacto duplo “Tietê” que fiz com Alfredo Victor, em 1985. Depois vieram os dois LPs do Grupo Dharana: “Dharana” (1996) e “Guerreiros do Arco Iris” (1989) e os discos solo: Nina Maika (1990), Sol de Inverno, Aboio, Quando eu soube que você viria, Lavoro, Calvo, com sobrepeso (2008), Hagat, Âmbar, A Egípcia e o Mecânico (2022).
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Edson Natale: Não tenho a mínima ideia! Prefiro que isso seja dito por quem ouve. Mas gosto muito de no mesmo disco misturar canções, música instrumental, poesia…
09) RM: Como você se define como cantor, intérprete?
Edson Natale: Apesar de cantar em algumas das minhas músicas, não me considero um cantor…apenas dou vida as canções que faço, se não elas nunca sairiam da gaveta…
10) RM: Você estudou técnica vocal?
Edson Natale: Nunca. Gostaria muito, aliás mais do que gostar eu deveria…
11) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?
Edson Natale: Poxa, são inúmeros e inúmeras! Mas para não deixar de responder vou reverenciar em nome de todos e todas, Alaíde Costa e Dori Caymmi.
12) RM: Como é seu processo de compor? Quem são seus parceiros musicais?
Edson Natale: Tudo começa meio aleatoriamente até que me apaixono por alguma coisa e começo a mergulhar mais verticalmente, até enxergar (ou ouvir) algo que valha intensificar ainda mais esse mergulho…até que sair do outro lado do rio com uma música nova. Tenho a sorte de ter vários parceiros e parceiras: Jards Macalé, Anelis Assumpção, Maurício Pereira, Paulo Freire, Gustavo Ruiz, Lincoln Antonio, Toninho Mattos, Alex Braga, Roberto Gomes…
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Edson Natale: Acredito que atualmente é imprescindível que você saiba e possa se movimentar de maneira independente (este conceito mudou muito dos anos 80 pra cá…). Mesmo que você esteja ligado a um selo, gravadora, plataforma, editora, etc…é sempre bom estar atento ao seu próprio protagonismo nas decisões importantes da carreira…
14) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas?
Edson Natale: O cenário musica brasileiro é fértil e tem dado bons frutos: a colheita é sempre farta. Para não deixar de responder, cito o movimento pernambucano “Reverbo” que tem uma produção e uma maneira de fazer as coisas muito criativa e instigante…além disso vou citar o show que fui ontem, lindíssimo, da cantora mineira Titane acompanhada pelo violonista André Siqueira, que também é professor na UEL, Universidade de Londrina.
15) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Edson Natale: Um grande exemplo de profissionalismo, qualidade artística; alguém que me ensinou muito foi o Suba, um irmão que a música me deu e que infelizmente partiu muito cedo…
16) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Edson Natale: Foi numa apresentação do Dharana, em Caçapava – SP: um rapaz tentou entrar sem pagar e veio pelo forro que desabou por causa do peso. O rapaz caiu em cima do estojo do meu violão…
17) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Edson Natale: Mais feliz, a música, os músicos e o burburinho todo. Adoro trabalhar para que a música aconteça, independente de quem seja… Mais triste? O inevitável da vida quando, por exemplo, músicos como Itamar Assumpção, Suba, Serena Assumpção, Gal Costa ou Rafael Rabello partem daqui…
18) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Edson Natale: A obra da cantora egípcia Om Kolthoum.
19) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Edson Natale: Seja bem-vindo! Tenha paciência, disciplina e controle seu ego. Pergunte-se se quer ser músico para ser famoso ou porque ama a música. No mais são anos de estrada, como em qualquer outra profissão…
20) RM: Existe o Dom musical?
Edson Natale: Olhando aqui do meu cantinho para alguns monstros sagrados, sem dúvida!
21) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Edson Natale: Amo a definição do mestre Arismar do Espírito Santo: improvisação é quando você brinca com a música. Acho isso lindo!
22) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Edson Natale: Recentemente soube, através da Camila Cortielha, da realização do “Corrente – I Simpósio de Jornalismo Musical”, interessantíssimo! Vou ficar ligado para ver se consigo acompanhar mais de perto a próxima edição…
23) RM: O que impactou para a cultura e a classe artística a pandemia do covid-19? Quais os aprendizados ficaram?
Edson Natale: Acho que não consigo responder genericamente, porque muitos se foram e essas perdas são irreparáveis. Me lembro de termos recebido no Auditório Ibirapuera em marco de 2020 o maravilhoso Coro Luther King e semana depois receber a morte do maestro e amigo Martinho Lutero… Para mim o maior aprendizado foi de reconhecer minha insignificância diante da natureza…
24) RM: Quais os seus projetos futuros?
Edson Natale: Em 2023 teremos a nona edição do Guia Brasileiro de Produção Cultural, o lançamento de meu livro de música e minhas modestas comemorações de meus 40 anos na música…
25) RM: Qual o seu Contato?
Edson Natale: https://edsonnatale.com.br
| https://www.instagram.com/edsonnatale
https://discografia.discosdobrasil.com.br/musico/4955
Playlist do álbum A Egípcia e o Mecânico: https://www.youtube.com/watch?v=YDgZep-dwsM&list=OLAK5uy_n1YIGi-DXz8QOB7LwraWA6wLr_DKbnDXA
Playlist do álbum Âmbar: https://www.youtube.com/watch?v=stH59D7IVjY&list=OLAK5uy_lwbdQIzd4L-Ote7RfeZJREXJC60-w1g6c
Playlist do álbum Most: https://www.youtube.com/watch?v=OyOnKMgpwzI&list=OLAK5uy_nqQU7tFqf-yo_dV4iIMWQZKSj9CzlaV9c
Playlist do álbum Calvo, com sobrepeso: https://www.youtube.com/watch?v=NDTAFolfm-A&list=OLAK5uy_m8A63_JGnfLirtSwDK3z69Oq94Oza08E0
Playlist do álbum Sol de Inverno: https://www.youtube.com/watch?v=mHbv_KVHrwM&list=OLAK5uy_niXWY8cRoTw6uydW7Qa29r_rVkgzYx77s
Playlist do álbum Quando Eu Soube Que Você Viria: https://www.youtube.com/watch?v=JrvPKKdAXcQ&list=OLAK5uy_kyuUY10lKnY409kTMv10t2TBImus95d_Y
Playlist do álbum Hagat: https://www.youtube.com/watch?v=qF-VVnuiz_s&list=OLAK5uy_lJyvmxnCgJZcmvM450HYLIvgseSwGq7u0
Playlist do álbum Nina Maika: https://www.youtube.com/watch?v=Zd5AWYvwRFU&list=OLAK5uy_nL4HaS8KEosyM3To4mJc7QisMDS1vQCvw
Álbum – A Egípicia e o Mecânico: https://open.spotify.com/album/6Yea1jEo9rk1A5wKfJPOaD?si=1O-7iViRQnu8SEVQiChQmQ&nd=1
Álbum – Âmbar – os afluentes da Música: https://open.spotify.com/album/59N6VBsreoqwUhdqxYfClk?si=O8aGyXahS–z9Pu782vL9g&nd=1