More Edson Duarte »"/>More Edson Duarte »" /> Edson Duarte - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Edson Duarte

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O cantor, compositor e percussionista alagoano Edson Duarte, descobriu sua vocação musical ainda menino, batucando um pouco aqui, cantando um pouco ali, e com o tempo, começou a trabalhar como seresteiro e sambista. Na época o seu pseudônimo era “Pirril”, um apelido de infância que só foi usado no início de sua carreira.

Aos 13 anos em busca de uma vida melhor, migrou para o Rio de Janeiro – RJ, fazia pequenos serviços a fim de garantir sua sobrevivência e nas horas vagas já tocava pandeiro nas rodas de samba e cantava nas serestas da vida boêmia do Rio de Janeiro. Aos 18 anos foi servir o exército onde se engajou durante 2 anos. Durante essa época conheceu e ficou amigo de artistas que hoje são considerados as raízes do Forró: Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Noca do Acordeon, entre outros grandes nomes da época.

Naquele momento seu estilo musical sofreu uma transformação do Samba para o Forró, passou a tocar triângulo e integrou o trio “Os 3 Cangaceiros” formado por Severo do Acordeon, Parafuso e Edson Duarte (Pirril), que durou aproximadamente cinco anos. Após sua saída do trio, passou a comandar o baile do Forró do Moraes. Nessa época, acompanhava, tocando zabumba, o sanfoneiro Zé Gonzaga, e em algumas oportunidades também acompanhou Luiz Gonzaga em suas apresentações. Ainda sob o pseudônimo de Pirril, gravou o primeiro LP na Cantagalo, bem na época que a gravadora teve seu catalogo comprado pela Tropicana. Sendo assim, seu primeiro LP foi lançado em 1976, pela Tropicana, que era um dos selos da CBS.

Edson Duarte permaneceu na CBS, até 1983, onde gravou vários sucessos nacionais, como por exemplo: “De cigarro no bico”, “O homem da perna de pau”, “De rolha na boca”, “Outra como ela”, entre tantos outros. Em 1986, saiu da CBS e foi morar em Fortaleza – CE, onde gravou mais alguns LPs pela Continental e Gogó da Ema Discos, e com o fim dos discos de vinil, gravou alguns outros discos já em formato CD. No total, gravou cerca de 20 discos, entre LPs e CDs, além de diversas participações em coletâneas e discos de forrozeiros amigos. Em 2008 foi para São Paulo – SP. Ajudou a consolidar o Forró tradicional na Europa aonde tem ido anualmente para se apresentar nos principais festivais de forró pé de serra.

Edson Duarte atualmente está em Vitória – Espirito Santo aos seus 75 anos de idade, ele está muito debilitado, com a pandemia do Covid-19 teve depressão e a diabetes agravou seu estado de saúde. Ele não está conseguindo tocar mais pandeiro, triângulo e perdeu aproximadamente 18 kg e está com labirintite.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Edson Duarte para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa 14.05.2021:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Edson Duarte: Nasci no dia 02.11.1952 em Riacho Doce – Alagoas, com dois dias de vida, fui para Palmeira do Índios – AL, mas como precisei viajar quando era menor de idade, fui registrado como nascido no dia 02.11.1947 com 5 anos a mais, como José Eusébio da Silva.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Edson Duarte: Aos 11 anos de idade (1963) fui cantar e tocar pandeiro em um cabaré de Palmeira do Índios – AL, para ganhar dinheiro e ajudar a criar meus irmãos. Eu tocava para as mulheres dançar, mas tinha que ficar de costa para o salão, pois era menor de idade. Cheguei a ser preso, aí um juiz de Direito virou meu amigo e ajudou a me soltar. Ganhei um documento de licença para tocar. Aos 13 anos de idade (1965) no Rio de Janeiro tive o contato com a música nordestina.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Edson Duarte: Aprendi música na raça, sou semianalfabeto.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Edson Duarte: Só minha intuição mesmo. Penso e começo a fazer e cantar meus negócios. Não tenho referencia de nada. Escutava um programa que Luiz Gonzaga fazia na Rádio Mayrink Veiga, lá pelos meus 7 anos de idade em 1959. Depois quanto eu estava com meus 11 anos (1963) eu ia para os cabarés e comecei a ouvir Ary Lobo cantando nos carros de som em Palmeira dos Índios – AL. Aprendi muitas músicas com Ary Lobo e Jackson do Pandeiro, era muito fã dos dois e de Luiz Gonzaga. Nenhum deles deixaram de ter importância, todos foram influentes na minha profissão e muitos outros amigos.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Edson Duarte: Em 1965 aos 13 anos de idade cheguei no Rio de Janeiro, vim sozinho de Palmeira do Índios – AL cima de um caminhão pau de arara. Dormia nas ruas e praças por quatro anos. A vida só melhorou um pouco quando fiz 18 anos e entrei para o serviço militar e passei dois anos. Fiz parte dos Três Cangaceiros (Severo do Acordeon, Parafuso, Edson Duarte), e depois seguir carreira solo e atuar também como compositor.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Edson Duarte: “Edson Duarte e Grupo nordestino – Ao vivo”. Em 2016 – “Me Dá Licença”. Em 2014 – “Jogo de Palito”. Em 2013 – “Simbora Mais Eu”. Em 2010 – “Dizincana”. Em 2009 – “Papai Noel Dos Sonhos”. Em 2009 – “Tô de Boa”.

Em 1998 – “Edson Duarte e Banda Sol & Mar”. Em 1998 – “O Homem Sempre Menino” pela Chantecler. Em 1994 – “Edson Duarte e Banda Perna de Pau”. Em 1994 – “Um Tantinho de Amor”. Em 1988 – “Homem Sempre Menino”.

Em 1984 – “Carregadinho de Amor” pela Chantecler. Em 1982 – “Chamego e Balanço” pela Veleiro. Em 1981 – “Só Você e Eu” pela Veleiro. Em 1981 – “Bicho Papão” pela Veleiro. Em 1980 – “Homem da Perna de Pau” pela Uirapuru. Em 1979 – “A Feira de São Cristóvão”. Em 1976 lançou o primeiro disco.

Músicas que se destacaram: “Bicho do Mangue” (com João Gonçalves), “Canta Fortaleza” (Edson Duarte), “Cartão Vermelho pra Solidão” (Edson Duarte), “Mania de Beijar” (com Florival Ferreira), “Não Quero morrer Solteiro” (com Mano Neto), “Tanto lá Como Cá” (com Oscar almeida), “Tem de Sobra no Jumento” (com Poeta Oliveira).

07) RM: Como você define seu estilo musical? 

Edson Duarte: Sou forrozeiro e sambista, os dois ritmos tinham mercado na época.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Edson Duarte: Nunca estudei música, tudo que aprendi foi como autodidata. Eu sempre achei que não dava para estudar, pois eu não aprendia. Mas depois velho se eu entrar na escola eu aprendo, inclusive estou aprendendo dedilhar no violão para me ajudar a compor.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz? 

Edson Duarte: Eu bebo água gelada e minha voz abria, entendeu!? Eu me dei bem fazendo o oposto da prática da maioria dos cantores, mas eu sei que para quem canta tem que aquecer a voz antes. Mas eu não aprendi aquecer a voz e também nunca me preocupei. Bebo água gelada e nunca deixei de fazer show. Aquecer a voz é muito importante para quem quer ser um bom cantor.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Edson Duarte: Luiz Gonzaga, Ary Lobo, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, sempre gostei deles, souberam se apresentar e faz a jogada deles bem feita. Péricles (Péricles Aparecido Fonseca de Faria) gosto dele cantando; Xande de Pilares gosto como sambista. Eu sou fã de muitos que cantam bem por aí…

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Edson Duarte: Não tenho processo para criação. A música vem na cabeça, não me escondo, nem me guardo nos cantos, onde estiver, na beira da rua, em qualquer canto vou cantando, vou fazendo. Aí quando chego em casa gravo e depois vou lapidando e registrando no gravador. Mas não tem processo, pode ser em casa ou no botequim, dentro do Forró, mesmo cantando. Faço assim os meus Forrós. Eu me acho mais compositor do que cantor.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Edson Duarte: Sempre fiz minhas músicas sozinho. Quando tem parceria em alguma música, eu dei a parceria, mas sempre fiz música sozinho. Quando ler “Edson Duarte e fulano de tal”, eu dei a parceria.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

Edson Duarte: A maioria das minhas músicas eu que gravei e quem gravou minhas músicas: Os Três do Nordeste, Douglas Marcolino, o pai dele Tião Marcolino, Sandoval, Diego Oliveira, Trio Dona Zefa, banda Coisa de Zé, Aluísio, Bernadete de França, Trio Potiguá com Severo cantando, Zinho e muitos outros.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Edson Duarte: Não tem vantagem nem desvantagem, temos que dar sorte, ser competente, tendo um pouco de sorte da tudo certo. Sem sorte, não dar bem. Tudo da vantagem, quando tem fé em Deus tudo dar certo.

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Edson Duarte: Eu não sei que diabo é estratégia! (risos). Todo mundo pensa que eu quero enricar, nunca tive ambição para enricar, ser o primeiro do mundo. Sempre fiz minhas músicas e fui juntando, amontoando, continuando meu trabalho com fé em Deus. Eu faço minhas músicas, o que vem na cabeça, fiz até música para Papai Noel. A minha intenção é viver da minha música e por ser leigo passaram a mão em algumas das minhas músicas e eu não me acordei. Foi uma maldade da porra quem fez isso, meu mal foi confiar em todo mundo, confiar em quem eu não devia e me lasquei.

16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Edson Duarte: Eu não tinha ideia do que ia acontecer comigo quando saí garoto com 13 anos de idade de Alagoas e passei três dias de viagem em um caminhão pau de arara até chegar ao Rio de Janeiro. Eu pensava em trabalhar para juntar dinheiro para mandar dinheiro para minha mãe criar meus irmãos e viver uma vida melhor. Eu trabalhei de servente de pedreiro, era minha profissão na época e não tinha a ambição de nada. A carreira musical e a composição aconteceram sem eu esperar. Quando eu me toquei já estava em uma gravadora, já estava sendo considerado um compositor e assim foi sendo a minha vida. Mas eu nunca tive essa ambição, nunca pensei nisso não. Saí de Alagoas na intenção de trabalhar de servente de pedreiro e viver minha vida. Na época de garoto, eu era muito bom tocando pandeiro, mas nem sabia que era bom, pessoal que dizia que eu era, mas não sabia o que era seria um bom tocador de pandeiro. Mas depois descobri que eu era melhorzinho do que os outros pandeiristas, mas nunca tive a intenção de ser melhor do que ninguém, sempre toquei meu pandeiro por tocar. As coisas foram acontecendo na minha vida, sem eu esperar, foram acontecendo, acontecendo e chegou até aonde chegou.

17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Edson Duarte: Ajuda em tudo, mas tendo uma pessoa para me guiar como: Joabe Zabumbeiro, aqui em Vila Velha – Espírito Santo e Robson Brito em São Paulo. Tem alguns amigos me ajudando, pois eu não sei lidar com a internet, não sei pra onde diabo vai. Só sei e muito mal apertar o microfonezinho e falar com alguém pelo WhatsApp e ouvir mensagem em áudio. Eu não sei escrever, não entendo nada de celular, só sei apertar e falar e ouvir.

18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Edson Duarte: No meu caso não tem muita vantagem, pois eu não mexo com nada disso. O que gosto é de escrever, compor música em casa sozinho, pois faço no meu tempo, paro, começo, descanso e volto a compor. Agora a parte tecnológica só no estúdio, para quem usa hoje em dia deve ser muito bom. Eu não uso esses recursos, então para mim não tem vantagem nem desvantagem. Mas deve ser muito bom para quem sabe mexer direitinho e deve ter muitas vantagens.

19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Edson Duarte: Hoje em dia eu vivo do nome que construí ao longo da minha carreira! Vivo do nome para me manter na frente do povo. Mas se eu fosse depender de começar agora eu estava lascado, pois virou banal a gravação de disco e de música. Hoje em dia eu vivo do nome que fiz.

20) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Edson Duarte: Quem se manteve o nome em alta foi Flavio José e a revelação foi Mestrinho. Flávio José é meu fã de graça, Mestrinho é mais na dele. Genival Lacerda regrediu, rodou o mundo, mas caiu muito. Morreu, mas o nome dele foi muito divulgando pelas grandes mídias.

21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Edson Duarte: Flavio José é um exemplo de profissional, grande pessoa, tanto educado como bacana. É meu amigo de graça, entendeu? A profissão dele é muito bem conduzida, impecável. Não vou falar de outros, pois para mim não têm outros.

22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical e vida pessoal?

Edson Duarte: O momento pior que eu passei foi com o velho que era meu vizinho em São Paulo, ele me agrediu fisicamente e mudei para Vitória – ES. Foi o momento pior que eu tive na vida.

Mas por onde fui cantar só tive um momento muito ruim, as duas vezes que fui para Paris, o contratante não me pagou direito e eu voltei muito triste. Mas em todo canto que fui tocar e cantar sempre fui muito bem recebido. Cantada de mulher nunca levei (graças a Deus) e quando acontecia sempre foi na brincadeira. Eu levo minha carreira muito a sério, elas sempre tiveram respeito por mim e eu por elas, graças a Deus.

O que mais me chateou foi o desentendimento que tive com meu ex-vizinho, aproveitei uma oportunidade que apareceu em 2019 aqui em Vila Velha – ES para formar um Trio com Isac do Acordeon e com Joabe Zabumbeiro e aqui estou. Depois fiz meu último show em Boston nos Estados Unidos, quando cheguei de lá o Wanderson (Forró Fest) me ofereceu um tratamento dentário já que estava com problemas na dentição. Falou para eu procurar uma clínica e recolocar meus dentes. O pessoal que ficou de colocar meus dentes me deram uma canseira danada, pois foi bem no começo da pandemia do Covid-19 e até agora ainda não terminaram e também está me chateando.

Agora de tristeza, teve uma situação chata em um show que fiz em Belo Horizonte – MG há alguns anos atrás, cantei e não recebi. Fiquei muito magoado, com raiva, chateado, mas graças a Deus superei, tive que pagar os músicos do meu bolso, mas graças a Deus deu tudo certo. O meu amigo Robson Brito sabe da minha vida melhor do que eu.

Tive uma história com Luiz Gonzaga em um show em Bangu no Rio de Janeiro, eu era menino ainda, fomos fazer à tarde, pois ele só me levava para toca de dia, porque eu era menor de idade e tinha que pegar autorização de um juiz de menor. Quando cheguei lá tinha muitos artistas e estavam jogando ovo na sanfona do Severo, ovo podre no Waldick Soriano e foi uma confusão danada, sei que foi aquele arranca rabo desgraçado. E Gonzaga ficou com medo de se apresentar, tomamos um susto danado e foi só no tempo do Luiz Gonzaga que passamos esse susto, mas no fim deu tudo certo graças a Deus.

Outra vez em um cabaré, quando eu toquei em Palmares dos Índios em Alagoas, era menor de idade e a polícia me levou preso, mas aí o juiz de menor era muito meu fã lá na cidade, era meu fã mesmo. Quando terminou me deu um documento para eu cantar de costas no cabaré, as mulheres dançando, eu cantando, mas eu não olhava pra elas. Elas bulindo nas partes íntimas dos clientes, aí se alguém me levasse preso, o juiz mandava ir me buscar na cadeia: “Solta meu artista”. Ele me deu um documento pra eu botar no bolso e cantar de costas na cadeira. Deu certo até eu vim me embora para o Rio de Janeiro, que fui de caminhão pau de arara, foi essa minha vida e o rumo que eu tomei.

Também teve um episódio com Tiziu do Araripe, querendo tomar os músicos que tocavam comigo, até hoje ele diz que era mentira, mas nunca disse a verdade né!? Em outra situação arrumou confusão comigo na estrada e eu comecei a reclamar para ele diminuir a velocidade, terminou ele me deixou na estrada, na Rodovia Dutra, era 17:00 e chovendo, fiquei sozinho, ele foi embora com o zabumbeiro e o sanfoneiro. Depois chegou falando que eu que tinha arrumado confusão e que ele pelejou para eu ir embora e eu não quis. Ele me chamou, mas perguntei se iria diminuir a velocidade, mas ele falou: o carro é meu, a velocidade é dessa pra pior, eu tenho pressa pra chegar, pois eu tenho show. Aí eu falei: Então eu vou ficar. Eu pedi informação para um policial como eu fazia para pegar um ônibus para São Paulo. Ele chamou um motorista de ônibus que estava lá e perguntou se ele podia me dar uma carona, ele disse que sim. Quando entrei no ônibus, eu disse que pagaria a passagem e dei um disco meu para ele. Ele que me conhecia e me adorava. No final não cobrou a passagem e ficou com meu disco dizendo que era o pagamento.

No tempo que eu servi o exército me botavam como guarda para vigiar o quartel de noite. Uma vez teve um Forró do Zé do Baile, aniversário do Trio Nordestino, eu queria assistir e fui. Deixei o capacete, arma e o coturno, formei um boneco e fui embora. Quando eu voltei tirei um mês de cadeia, mas a cadeia foi bacana, só pra cumprir as ordens lá de dentro.

Fomos tocar no interior de São Paulo no aniversário do Alex, eu, Pablo Moura sanfoneiro, Ivan Rodrigo Zabumbeiro e meu amigo Robson Brito e a sua namorada Magrela (Mayra), que me ajudavam na minha produção na época. Saímos de manhã do show e fomos dormir na casa de um colega pra de noite ir fazer outro Forró que era lá perto. No meio do caminho de manhãzinha o sol na cara, passamos por um carro da polícia local e logo depois eles nos seguiram e pediram para nós pararmos. Policial enquadrou a gente, menos a Magrela, botou a gente encostado na traseira do carro e pediu o documento. Na hora eu entreguei os documentos para o guarda e comecei a contar a história que já fui militar “por isso que estou quieto, eu sei o que é isso”. Eles estavam fazendo o trabalho deles e eu estava de acordo, “vocês não sabem quem é a gente”. Terminou aquilo fiz amizade com eles, o guarda conversou com os outros, maneirou pra gente e nos liberou.

23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Edson Duarte: Na música sempre tive muito mais momentos felizes do que tristes. Comecei minha profissão como artista (garoto) cantando bolero, samba canção, valsa. Nunca tive tristeza, sempre tive alegrias, tudo que fiz e ainda faço vem me trazendo alegria, pois gosto muito da vida que levo. Não posso reclamar de nada: cansaço, fome, rejeição e sempre o pessoal me tratou bem onde trabalhei com meus forrós. No caminho sempre tiveram alguns colegas ou músicos que faziam bagunça, mas eu ia tirando eles de perto de mim e assim acabava com o que me incomodava. Graças a Deus, só foi felicidades e sou grato a Deus por tudo!

24) RM: Qual a sua opinião sobre o movimento do “Forró Universitário” nos anos 2000?

Edson Duarte: Não foi só o “Forró Universitário”, mas também as bandas do Ceará, eles fizeram uma coisa só. Tomaram tudo que a gente do Forró Pé de Serra estava fazendo e pegaram a frente e criaram só para eles uma espécie de Forró Estilizado, todas as bandas do Ceará. Mas acostumamos a nos aproveitamos daquilo. Aquelas bandas fizeram com que o povo não tivesse mais vergonha do nosso Forró, pois antigamente o povo tinha vergonha de falar do Forró e também dançar Forró. Mas com aquelas bandas do Ceará, isso tudo foi ajudando.

Ao mesmo tempo as bandas lá do Sudeste e principalmente São Paulo começaram a criar suas músicas baseada no nosso Forró que segundo Carlos André (cantor e sanfoneiro do Trio Mossoró) era o “Autentico” Forró Pé de Serra.  Quem começou essas bandas no Ceará foi Paulo Ney, João Bandeira, Sirano, Mastruz com Leite, Mel com Terra, Cavalo de Pau, Calango Aceso etc. Pessoal do Sudeste começou a escutar as bandas de lá, mas não pegou e começou a ficar forte o Movimento Universitário e os Trios começaram a aparecer tocando o Pé de Serra e se deram bem, mas porque a força todinha já vinha de Fortaleza. Eu estava lá nos anos 80 e foi bem complicado, acabaram comigo, com Messias Holanda, Carlos André, se nós não fossemos espertos tínhamos passado fome por causa das bandas. Mas depois nos ajudou, as bandas saiam na frente ganhando dinheiro e a gente ia ganhando uns trocados atrás, ajudou muito! Inclusive alguns dançarinos montaram Trios e se deram bem. Outra coisa, o sanfoneiro do Trio Alvorada tocava nessas bandas e outros músicos viviam nessa vida dupla, ou seja, tocava o Pé de Serra no Sudeste e nas bandas no Nordeste. Agora quem sempre garantiu o meu ritmo, tempero e meu balanço foi eu mesmo, pois eu nunca sai das minhas origens.

25) RM: Quais os grupos de “Forró Universitário” chamaram sua atenção?

Edson Duarte: Falamansa se destacou, pois conseguiram chamar atenção da grande mídia e o povo acabou os conhecendo. Eles aproveitaram a onda para fazer o que eles queriam. Teve muita gente que apareceu, mas não me lembro muito bem de todos, pois muitos apareceram, mas sumiram rápido também.

26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Edson Duarte: Sem pagar o jabá não tocam nossas músicas, só se o radialista ou dono da rádio for amigo, um exemplo é o Flávio José, dono da rádio Monteiro FM. Ele é meu fã de graça e toca minhas músicas na rádio dele. Para ele, eu sou um dos melhores cantores do mundo e a música “Parafina” é a melhor do mundo. Tanto ele e quanto a sua família são demais!

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Edson Duarte: Que procure um trabalho paralelo ou fazer outra coisa (risos), pois para seguir a carreira dentro do Forró, tem que ter muito dinheiro para gastar com ele próprio e se não tiver cuidado vai passar fome. Vai ser muito humilhado, menosprezando por muita gente. Eles querem ser o que não são. Tem uns que menosprezam a gente que é mais antigo e isso é chato pra caramba. Precisamos ter o pé atrás com quem nos explorar e não pagam o justo e ficam falando que tem bandas e trios novos que custam menos o cachê. Por isso, pra começar tem que parar tudo, ter dinheiro pra se cuidar, tomando conta de si e as vezes gastar à toa também. Se tiver dinheiro pra gastar e investir mesmo, pode ser que arrume alguma coisa na carreira musical.

28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Edson Duarte: As vantagens no Festival de Música são para o pessoal que vai assistir e arrumar um monte de mulher e se divertir com mulher todos os dias, fumar seus “cigarrinhos” e isso não leva a resultado nenhum. Quem vai tocar leva prejuízo, as vezes não recebem, outros tocam e querem receber mais que merecem. Tem muitos querendo ser artista sem poder ser, isso é uma falta de respeito com os artistas sérios que se dedicaram a vida toda. Outros vão pra passar o tempo, não tem o que fazer e passam farreando e nada mais. O que é bom é quando se faz uma coisa que se ganha dinheiro, para se sustentar, para se manter, pra pagar despesas. Mas quando a gente vai fazer só pra ver os outros se dá bem, não é bom. Os festivais no passado eram mais sérios e apareciam mais talentos e artistas de futuro. Hoje dificilmente se vê alguém saindo desses festivais.

29) RM: Hoje os Festivais de Música revelam novos talentos?

Edson Duarte: Se os Festivais de Música fossem mais sérios era pra servir. Se trabalhar com moral, com respeito e com vergonha, se é só pra mostrar seu trabalho direito nos festivais, aí sim serve muito. Pra mostrar o novo talento é uma porta aberta, agora se for fazer bagunça, só querer ser o que não é, vira o contrário.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Edson Duarte: A cobertura feita pela grande mídia é de muita injustiça! A Som Livre, por exemplo, se eles pegarem algum artista que nem o Wesley Safadão, o Tiaguinho, o Falamansa, aí fazem a maior divulgação. O sertanejo de sofrência, dão a maior cobertura e ao mesmo tempo não abrem espaço para outros ritmos de jeito nenhum. Eu acho uma injustiça imensa…

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Edson Duarte: Eu achei muito bom.  Porque pelo menos ganhamos um dinheirinho justo, Sesc, Sesi, Itaú Cultural sempre ajudam muito. Também da oportunidade pro povo conhecer muitos artistas que não circulam muito no circuito.  O problema é que pros mais velhos que estão pobres e sem condições de fazer as inscrições é muito difícil. A maioria dos artistas velhos não sabe nem escrever direito, igual eu!

32) RM: Qual a sua opinião sobre as bandas de Forró das antigas e as atuais do Forró Estilizado?

Edson Duarte: Quem tocava Forró Pé de Serra ficava sem fazer nada só olhando os outros trabalhar. Eu acho uma batida de panela o que fizeram. Eu acho que teve bandas de Forró Estilizado que quem começou foi o próprio dançarino. Eles chegavam perto da gente, aí diziam: rapaz me ensina aqui como é que toca o pandeiro, como é que toca o zabumba, como que toca um triângulo? Aí iam pra cima do sanfoneiro como é que toca uma sanfona? Sanfoneiro dava uns dois, três tons e daqui a pouco formavam uma banda. Quer dizer, os próprios dançarinos formavam bandas e assim foram tomando o lugar da gente trabalhar! Eu, Trio Juazeiro, Trio Potiguá que trabalhávamos direitinho, sempre tomávamos pau na frente dessas bandas. Não estou com inveja, nem revoltando por causa disso, pois o meu trabalho foi e é bem feito do jeito que eu comecei e eu continuei. Essas bandas lá do Ceará têm muitas que se seguraram: Calcinha Preta, o Xandy é legal, Mel com Terra, Calango Aceso, Cavalo de Pau, se seguraram muito tempo, foram se aperfeiçoando até chegar num ponto que dá pra gente escutar. Mas colocam teclado, guitarra, bateria, botaram muitas coisas em cima do Forró que não redonda de jeito nenhum. Forró é triângulo, sanfona, zabumba, pandeiro e violão sete cordas e estamos conversados. 

33) RM: Qual sua relação pessoal e profissional com Luiz Gonzaga?

Edson Duarte: Eu passei a minha infância toda com meu querido velho Luiz Gonzaga. Foi o tempo melhor que eu vivi no Rio de Janeiro, aprendi muita coisa, ele me ensinava muito, me dava muito conselho, me dava comida pra eu não passar fome. Era bacana na casa dele lá na Ilha do Governador. Tenho nada que reclamar. Ele me tinha como filho também, eu, Dominguinhos, Gonzaguinha, ele tinha a gente tudo como filho. Ele era muito querido, gostava muito da gente, muito bom de se levar, dava conselho bonito, bem dado da porra.

34) RM: Qual sua relação pessoal e profissional com Jackson Pandeiro?

Edson Duarte: Fiz amizade com Jackson do Pandeiro, mas depois ele virou cantor de Forró e já estava gravando. Conheci ele na CBS e ele me chamou para ir na casa dele, fizemos amizade, a gente ia comer feijoada nas gravações dele. Jackson quando ia comer feijoada, ele manjava que eu estava sem grana e sempre me chamava. Eu sempre ia na casa dele pra gente conversar, ele me ensinar montar pandeiro. Além disso aprendi muito tocar pandeiro, tinha muita conversa com ele, gostava muito dele, era muito fã dele. Eu já era de maior, para mim foi uma temporada boa com Jackson do Pandeiro também. Além do Jackson tinha mais alguns que eu fiz amizade também, mas as amizades profundas: Luiz Gonzaga, Lindú, Jackson do Pandeiro.

35) RM: Quais os seus projetos futuros?

Edson Duarte: Fiz o meu álbum – “Parafina”, todo mundo elogiando, então eu já realizei o meu projeto futuro. Que volte tudo ao normal após a pandemia do covid-19, continuar fazendo os shows possamos ter a liberdade de poder abraçar os amigos, ir para todo canto, sem precisar andar com máscara, sem precisar estar se preocupando com tudo, esse vírus horrível! Espero que Deus ajude que volte tudo ao normal em 2021/22 e que tudo dê certo. Agradeço ao meu amigo Robson Brito pela paciência de ter gravado minhas respostas e fazer a transcrição dos áudios.

36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs? 

Edson Duarte: Faleceu no dia 07.02.2022 no Rio de Janeiro após passar 14 dias internado, antes da internação ele teve um derrame cerebral e contraiu uma infecção urinária sendo internado e teve uma parada respiratória vindo a óbito.

Depoimento de sua filha, Ana Lúcia: https://www.instagram.com/tv/CZsyNCctHHv/?utm_medium=share_sheet

cerebral | https://web.facebook.com/forro.edsonduarte/ 

Canal Edson Duarte Oficial: https://www.youtube.com/channel/UCVadkUMivhrwWZI4GlwgYcg 

Edson Duarte Live São João #ficaemcasa e cante #comigo: https://www.youtube.com/watch?v=BUb4dtGHKGs

Canal Edson Duarte – Tema: https://www.youtube.com/channel/UCzsKbsaZdVXbsTRwti25Lww 

Playlist Edson Duarte – Simbora mais Eu: https://www.youtube.com/watch?v=rnd1q6SmfnA&list=OLAK5uy_nrx4vZK529RRG7cLYCXpydB0wZjhBYFJ8 

Playlist Edson Duarte – Me dá licença: https://www.youtube.com/watch?v=veR18A_iDSw&list=OLAK5uy_nN9vLouF0iQenzLbnhQg5lqME3YWmK0pg 

Playlist Edson Duarte e banda Perna de pau: https://www.youtube.com/watch?v=T4542opSRDU&list=OLAK5uy_nNUiy-vI18c-uMU_ejC3bNsKTT8ELqA7I 

Playlist Edson Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=9D906ng6h3g&list=OLAK5uy_kxuy5ZoXnHAf3k8GKKOX4FVohkrp4FiBY 

Playlist Edson Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=kIrDNm896O4&list=OLAK5uy_nv3RG9pm1NZYY4pvK_uWR7EFKAwCMS5Hs 

Playlist Edson Duarte e Banda Mar & Sol: https://www.youtube.com/watch?v=1D3n2lznjqE&list=OLAK5uy_naunrOL_YgHJudCJlVL4Kvw1ZXM6Sj0vc 

Edson Duarte, Fabiano Santana, Enrique e Beto Camará – Forró Fest USA 2018: https://www.youtube.com/watch?v=UFMY_NUjyis

Milena Morais e Valmir Coelho – Apresentação no Forró Fest USA – Lamento Sertanejo tocada por Fabiano Santana, Enrique Mattos e Edson Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=crYphcZcNTk

http://www.musicapopular.org/edson-duarte-grupo-nordestino/ 

https://www.palcomp3.com.br/edsonduart/ 

https://www.letras.mus.br/edson-duarte/discografia/ 

http://www.forroemvinil.com/tag/edson-duarte/ 

http://www.forroemvinil.com/tag/edson-duarte/page/6/ 

https://www.forroemvinil.com/release/edson-duarte-release 

https://www.ouvirmusica.com.br/edson-duarte/1727127/


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.