O cantor, compositor, produtor cultural e educador cearense Duda Jardim defini seu gênero musical como MPB, em que mistura suas diversas influências, que vai desde Belchior e Zé Ramalho até Arnaldo Antunes e Vander Lee.
Sua ideia é conciliar a bagagem cultural adquirida com as novas tecnologias e as influências dos novos parceiros musicais como: Elaine Frere, Kléber Albuquerque, Mc Donald Parris, na construção de um trabalho diferente e de relevância cultural e artística.
Já lançou dois álbuns: “Parede da Memória”, em 2021 e “Enquanto é Tempo”, em 2023.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Duda Jardim para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 15.04.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Duda Jardim: Nasci no dia 08/10/1962 em Juazeiro do Norte – CE. Registrado como José Ferreira dos Santos.
E meu nome artístico Duda Jardim, foi uma junção de dois nomes, o Duda era como meu irmão mais velho (Miguel Alves) me chamava desde criança, ao ponto de eu achar que esse era meu nome de registro, inclusive eu tomava falta na escola por não responder: “presente”, quando a professora chamava meu nome registro. Minha mãe teve que ir na escola entender o motivo de eu ter tantas faltas mesmo indo à escola. O Jardim tem a ver com a época nos anos 80 que os artistas em geral estavam voltados para consciência e preservação da natureza.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Duda Jardim: Meu primeiro contato, que me chamou a atenção, foi em uma Festa de Boi Bumbá…. tudo era muito colorido, o boi era enfeitado, as pessoas se vestiam de cores quentes, o ritmo era alucinante.
Até que fui parar embaixo do Boi Bumbá e para minha surpresa, tinha um homem lá. Ele era quem conduzia o Boi. Depois disto, vi muita Roda de Viola, Sanfona e Seresteiros, na boca da noite… vi muita gente fazendo Serenata. Parecia um sonho.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Duda Jardim: Sou Formado em Educação Artística com habilitação em Música e Artes Cênicas.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Duda Jardim: No passado, onde eu vivia, não tinha como não ouvir Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Roberto Carlos e toda aquela turma da Jovem Guarda.
Em 1972 vim para São Paulo, fui descobrindo outros sons e vários artistas como Hermeto Pascoal (depois descobri que ele é de Alagoas), Egberto Gismonti, Arrigo Barnabé…. era tudo muito estranho, mas eu gostava…
Por fim caí na seara de Caetano Veloso, Chico Buarque… até chegar em Vander Lee, Chico César, Arnaldo Antunes…. sem se falar em Belchior, Zé Ramalho, Oswaldo Montenegro. Todos tiveram e ainda têm sua importância em minha vida pois são minhas referências.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Duda Jardim: Em 1975 (acho), meu irmão comprou um violão e me deu para aprender a tocá-lo. Mudamos em 1978 de São Paulo para Arapiraca – AL e quando chegamos lá, no início não tínhamos muito o que fazer…. passei a aprender meus primeiros acordes e a estudar o método Bona. Continuo aprendendo até hoje.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Duda Jardim: Lancei dois álbuns: o primeiro “Parede da Memória” em 2021, um trabalho totalmente despretensioso, feito exclusivamente para “registro” de minhas primeiras canções. O segundo álbum “Enquanto é Tempo” em 2023. Um trabalho mais voltado para as “parcerias musicais” com Kléber Albuquerque, Elaine Frere, Mc Donald Parris e as pessoas com quem convivo no meio musical.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Duda Jardim: Creio que seja MPB… ou não… acho que sim. Estou curtindo muito aprender ritmos diferentes, parceiros de várias vertentes…
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Duda Jardim: Só na época da Faculdade. Preciso repensar essa questão.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Duda Jardim: O estudo de técnica vocal é de suma importância…. temos que ir atrás de profissionais da área e se disciplinar no cuidado com a voz.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Duda Jardim: Gosto muito do trabalho de Elaine Frere, Fernanda de Paula, Titane, Ceumar…. além das mais famosas como Rita Lee, Gal Costa, Marisa Monte…
11) RM: Como é seu processo de compor?
Duda Jardim: Não sei… às vezes, pode ser acordado, as vezes cochilando, as vezes estou trabalhando, as vezes estou no trânsito. E às vezes, quando fico só eu e o violão a gente tem longas conversas…. inspiração é algo tão tênue. O mais impressionante é quando vem tudo de uma vez só: melodia, letra, arranjo, solo, coro… é mágico e sublime.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Duda Jardim: Já tive vários parceiros como Beto Rio, Hélio Braz… atualmente são Kleber Albuquerque, Elaine Frere e Mc Donald Parris.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Duda Jardim: Os prós seria uma condição financeira que te permitisse arriscar mais, sem ter medo e conquistar o seu espaço com mérito e talento. Os contras seria a falta de apoio, de incentivo material e financeiro, aumentar o número de espaços culturais, dar mais opções para o artista sobreviver de seu trabalho.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Duda Jardim: Estamos em formação… ela começou nos anos 80, não decolou. E, diga-se de passagem, não houve um investimento nem tão pouco planejamento. Eu parei por mais de 30 anos e estou voltando agora. Com a Pandemia do Covid-19, muita coisa passou em nossa cabeça, inclusive voltar a atuar como artista independente. Estamos na lida.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Duda Jardim: Estou pensando e este ano já avancei bastante em relação ao ano passado…. ainda é pouco, mas estou construindo um caminho.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Duda Jardim: Não tem como dizer o contrário. Com certeza, a Internet é uma grande aliada e pode nos projetar para além do que pensamos. É um excelente meio de comunicação, de divulgação do seu trabalho e também muito útil para conhecer e reaproximar as pessoas.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Duda Jardim: Nunca pensei em montar um home estúdio, mas faço uso de home estúdio constantemente com os amigos, pois vejo nele um meio de sobrevivência e de boa atuação no mercado fonográfico. Fico feliz quando um amigo monta um home estúdio com qualidade. As vantagens são os preços…. a concorrência aumentou e os preços ficaram negociáveis. Desvantagens? Acho que manter o espaço e os equipamentos.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Duda Jardim: Pretendo conciliar minha bagagem musical obtida em ícones como Belchior, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga até artistas contemporâneos como Arnaldo Antunes, Chico César, Vander Lee, com as novas tecnologias e influências de novos parceiros. É complicado ser novo e diferente… só quero ser bom no que faço.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Duda Jardim: Eu penso positivamente e como tal, ainda, acho que temos a melhor música do mundo… quanto as revelações, como disse anteriormente gosto dos trabalhos de Elaine Frere, Fernanda de Paula, Titane, Ceumar… ainda creio em Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Duda Jardim: Já tive problemas com falta de microfone, caixa de som, som ambiente péssimo, acústica horrível. O maior problema mesmo é a falta de incentivo de órgãos oficiais.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Duda Jardim: Mais triste é viver nesta inércia, pagando para trabalhar na área musical e a parte alegre é quando cantamos e temos uma boa relação com o público.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Duda Jardim: Acho que existe dom, mas é preciso o estudo e a técnica. Dom é talento.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Duda Jardim: Criatividade em tudo; na voz, no toque no instrumento, nas letras na hora de compor, nos arranjos e no arremate final.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Duda Jardim: Existe antes, durante e depois. Quando se pensa, quando se cria e quando se executa.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Duda Jardim: Os prós dos métodos de improvisação estão na liberdade de criação e os contras estão na falta de condições financeiras, para aprimoramento e desenvolvimento do trabalho.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Duda Jardim: Os prós são os momentos em que usufruímos na construção harmônica. Não vejo nada nos contras.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Duda Jardim: A gente tem que acreditar que a nossa música tocará nas rádios sem pagar o jabá, né?
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Duda Jardim: Eu digo: Vai fundo!
29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Duda Jardim: Só cobre sempre os mesmos; mas acredito no crescimento da mídia alternativa.
30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Duda Jardim: São Entidades que fazem parte do sistema S: As empresas pagam contribuições às instituições, que investem na Cultura e nas Artes. São bem estruturadas de pessoas e recursos materiais de boa qualidade, excelentes localizações, público diferenciado e uma programação com artistas muito bons.
31) RM: Quais os seus projetos futuros?
Duda Jardim: Lançar em 2024 meu terceiro álbum em parceria com Elaine Frere.
32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Duda Jardim: [email protected]
Instagram: https://www.instagram.com/dudajardimoficial
Facebook: https://www.facebook.com/duda.ferreira.351
Canal: https://www.youtube.com/@dudajardimoficial
VADIAR E AMAR / Duda Jardim e Elaine Frere: https://www.youtube.com/watch?v=pfACOm4lH58
Bate Papo de Duda Jardim com Jorge Mello parte I: https://www.youtube.com/watch?v=smCYAlnwPFo
Bate Papo de Duda Jardim com Jorge Mello Parte II: https://www.youtube.com/watch?v=jJw-WqiAfEw
Live com DUDA JARDIM para o Programa “Acordes Urbanos”: https://www.youtube.com/watch?v=ZHbx7gzZRaM
LIVE/BATE PAPO COM DUDA JARDIM, CELSO SOLEC E SAULO SILVA: https://www.youtube.com/watch?v=ff91q9NbmZY
Bate Papo de Duda Jardim com Arnaldo Afonso: https://www.youtube.com/watch?v=F1r1ntM_nNc
Bate Papo de Duda Jardim com Kléber Albuquerque: https://www.youtube.com/watch?v=CmKvAZHxpYA
Bate Papo de Duda Jardim com Elaine Frere: https://www.youtube.com/watch?v=gegs_O7uWUQ
Bate-papo de Duda Jardim com Rafael Leite no Bar do Frango: https://youtu.be/liEA89ZkmF4?si=BOWeNXFPcc5lH1K0
Gostei de conhecer. Excelente!