A cantora e compositora niteroiense Denise Pinaud; lança seu primeiro CD: Primeira Audição encantando os ouvintes mais exigentes apreciadores da Bossa Nova.
A magia do seu canto de sereia e o bom gosto do repertorio e da seleção de músicos são os maiores responsáveis pelo êxito dessa cantora serena e madura. Ela encanta não por ser inaugural, mas por ter a coragem de cantar pérolas da Bossa Nova imortalizadas por maravilhosas cantoras brasileiras; sem cair na mesmice, inferioridade artística nem suplantação das suas referencias musicais.
Seu CD é um tributo a Bossa Nova. Gênero musical brasileiro respeitado dentro e fora do país, mas que não tem tantos seguidores novos. Ela surgir como Sangue Novo da Bossa Nova. Outras cantoras brasileiras famosas cantam nos seus CDs uma ou outra Bossa Nova, mas sem a caracterização de ser um trabalho de Bossa Nova.
Esse CD mostra a audácia de uma excelente cantora, mas que não tendo ainda o prestigio da fama, arriscasse em transitar por um gênero musical cristalizado por seus mestres criadores.
O risco de cair no lugar comum da interpretação e das comparações inevitáveis; por gravar musicas imortais como: Você (Roberto Menescal/Ronaldo Boscoli); Samba de Verão (Marcos Valle/Paulo S. Valle); A Rita (Chico Buarque); Triste (Tom Jobim); Asa Delta (Baden Powell); Chega de Saudade (Tom Jobim).
Mas o CD traz canções tão belas quanto às citadas acima de outros bossanovistas, menos divulgados, mas importantes no desenvolvimento da Bossa Nova como: I Love You, You Love me (Durval Ferreira; que faz a produção musical desse trabalho); Primeira Audição (Guilherme Godoy/Sergio Botto); Obvio (Fátima Guedes); Antonio brasileiro (Durval Ferreira/Tibério Gaspar). Elis Regina e Nara Leão que descansam felizes sentir a energia de uma estrela que brilha na constelação do novo milênio: Denise Pinaud.
Foi uma satisfação entrevista-la, conhece e aprender e saber que não se trata de uma bela voz a deriva, mas uma propagadora da Bossa Nova. Nesse novo milênio de mau gosto musical invadindo nossos ouvidos, mente envenenando nosso coração. Receito essa boa nova em dose de forte emoção por 3 vezes ao dia. Um CD agradável e eterno na Primeira Audição.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Denise Pinaud para a www.ritmomeloia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.11.2002:
01) RitmoMelodia: Fale do seu primeiro contato com a musica. Qual a sua data e local de nascimento?
Denise Pinaud: Nasci no dia 13 de maio de 1958 em Niterói-RJ. Meu primeiro contato com a música foi aos 5 anos de idade, quando comecei a estudar piano.
Foi uma caminhada longa até parar os estudos de música aos 19 anos, quando já estudava também violino e cheguei a spalla da Orquestra Infanto Juvenil do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho com a voz veio muitos anos depois a partir de um trabalho de Música Orgânica, uma forma de terapia com sons.
02) RM: Quais as suas principais influências musicais?
Denise Pinaud: Não digo que tenha tido influências, mas algumas preferências me inspiraram muito, exemplo, Elis Regina, Leila Pinheiro, Fátima Guedes e Leny Andrade.
03) RM: Fale da cena musical musical de Niterói
Denise Pinaud: Saí de Niterói em 1987 e já estava afastada da música há 10 anos, portanto, não convivo intensamente naquele meio artístico, mas tenho conhecimento de alguns projetos importantes e cito o projeto “Palco Livre” organizado pela Fundação de Arte de Niterói e dirigido pelo artista Sérgio Ricardo. “Palco” para músicos niteroienses que foram ganhando notoriedade como é o caso de Fred Martins, Francisco Frias, Cássio Tucunduva, entre tantos outros.
Quando recomecei com a música através do canto, residia em Nova Friburgo, cidade que possui um número enorme de artistas de vários segmentos, principalmente músicos.
Começamos a nos mobilizar e reativamos a Associação de Artistas de Nova Friburgo que hoje, sou Presidente e Coordenadora da área de música.
04) RM: Fale do seu início na carreira musical. Quais foram os principais obstáculos na carreia musical?
Denise Pinaud: Comecei meu caminho como cantora no Coral Cantomusarte em 1996. Em 4 meses de coro, tornei-me a Soprano Solista. Desejava aprender cada vez mais e comecei a estudar canto lírico, algum tempo depois descobri que o que queria mesmo era interpretar a música popular brasileira. Comecei a apresentar-me pela cidade. Em 1999 fui considerada “Cantora Revelação”. Ousei então cantar em algumas casas noturnas; no Rio de Janeiro.
Em 2000, apresentei-me com Guilherme Godoy em Buenos Aires – Argentina, mostramos a música brasileira no Centro Cultural Borges, Centro de Estudos Brasileiros e Tobago Café, sempre com uma receptividade maravilhosa. Ao voltar, juntei-me a Durval Ferreira (um dos alicerces da Bossa Nova) e Bebeto Castilho (Tamba Trio); fizermos uma série de shows apresentando “O Som Brasileiro de Denise Pinaud”, com muito sucesso.
Em junho deste ano (2002), lancei meu primeiro CD – “Primeira Audição” – no Teatro Municipal de Niterói e no momento, os shows que apresentamos juntamente com mestre Zé Paulo, Luiz Sobral, Paulo Midosi e Ronaldo Diamante, dizem respeito ao CD. Nos dias 06 e 19 de novembro 2002, estarei lançando o CD no Mistura Fina, RJ. Não posso dizer que tive obstáculos. A carreira foi se desenhando de uma forma rápida, porém tranquila.
A família toda apoiando, os amigos, dando a maior força, a mídia local divulgando o trabalho e os parceiros musicais fazendo a qualidade crescer cada vez mais. Nunca tive a pretensão de ser um grande sucesso, mas sim, de cantar o que mais me dava prazer e oportunidade de me expressar e assim, comecei pela Bossa Nova.
05) RM: Fale do seu primeiro CD. Como você define esse trabalho?
Denise Pinaud: Meu primeiro CD – “Primeira Audição” é uma coisa muito séria! Escolher o repertório, dar nome a este filho, definir que “cara” ele terá, são decisões que, depois de pronto, ficarão para sempre. Mas eu o defino, finalizado, como um trabalho FELIZ.
Encarte primoroso; muita Bossa Nova, repleto de arranjos bonitos, músicos experientes, mixagem e masterização primorosos e a voz limpa, leve e bonita. Definitivamente, Primeira Audição tem a minha cara!
06) RM: Fale da importância do incentivo cultural da prefeitura. Como surgiu esse projeto de lançamento de CD dos artistas locais?
Denise Pinaud: O incentivo da Prefeitura Municipal de Niterói é importantíssimo! O Brasil é um país extremamente musical, mas são poucos os artistas que têm condições de produzir seu primeiro trabalho com qualidade e com o respaldo de um Selo.
Este projeto nasceu no Governo Jorge Roberto Silveira, completou 11 anos de existência e produziu mais de 170 trabalhos. Agora, é torcer para que o sucessor do governo municipal continue apoiando esta iniciativa primordial para os artistas.
07) RM: Fale das participações nesse primeiro disco. Quem são os maiores incentivadores da sua carreira musical?
Denise Pinaud: Fátima Guedes, além de me dar uma música inédita para gravar, dividiu comigo a faixa: “Óbvio”; Marcel Powell colocou seu violão primoroso em uma canção de seu pai, Baden Powell: “Asa Delta”; mestre Zé Paulo, grande cavaquinista e parceiro; Bebeto Castilho e o seu Baixo, meu querido irmão; Zé Bigorna nos sopros; Caio Márcio, jovem violonista talentoso; Zeca Winick e o seu Baixo suingado; Paulo Midosi e o seu teclado maravilhoso e os arranjos personalizados de Ed Lincoln e Durval Ferreira.
Recebi incentivo vital de Guilherme Godoy, letrista excepcional e autor de “Primeira Audição”, meu primeiro produtor; dos músicos que me acompanharam em várias empreitadas; dos amigos que estão sempre por perto; da mídia de Nova Friburgo; da minha família (porque ter esposa e mãe artista é uma dureza!) e de Durval Ferreira que assina a Direção Musical e vários arranjos deste trabalho e que é incansável como parceiro e amigo.
08) RM: Como você vê o mercado musical brasileiroe a Bossa Nova nos dias atuais?
Denise Pinaud: Produzo dois programas musicais na Rádio Comunidade Friburgo, estou sempre pesquisando e descobrindo novos artistas. Por várias vezes tive que reconhecer que o mercado não é muito justo para os grandes talentos que o Brasil gera.
A questão seriíssima da pirataria e a dificuldade de trabalhos independentes terem seus trabalhos divulgados na maioria das rádios, são pontos que nos remetem a um cenário pouco favorável para tudo que se produz de qualidade no país.
A Bossa Nova aos 44 anos ganha mais força no cenário musical brasileiro, o que me deixa muito feliz. Em Nova Friburgo, tenho espaço para a divulgação deste estilo, pois produzo o único programa de radio de Bossa Nova da região e tem uma audiência incrível.
No Rio de Janeiro, a Rádio MPB FM produz um programa específico de Bossa e tive a alegria de ter uma faixa do disco na programação. A verdade é que se continua compondo Bossa no Brasil, nossos grandes intérpretes estão atentos a este ressurgimento e algumas gravadoras estão investindo nesta “ótima ideia”.
09) RM: Qual a importância do gênero Bossa Nova para música brasileira?
Denise Pinaud: Convivo com alguns dos alicerces da Bossa Nova além de ler muito sobre este movimento que começou de forma despretensiosa no final da década de 50 e o que se percebe, é a importância não só para a música brasileira.
Até os dias de hoje, composições brasileiras são estudadas nas Universidades de Música dos Estados Unidos, como é o caso de “Estamos aí” de Durval Ferreira e Mauricio Einhorn. Compositores de hoje ainda bebem da fonte da Bossa Nova com seus arranjos bem trabalhados.
10) RM: Quais os prós e contras da cena musical independente?
Denise Pinaud: Hoje em dia o artista não depende de contrato com gravadora para mostrar seu trabalho. Nossos estúdios estão cada vez mais bem equipados, com ótimos técnicos e preços accessíveis garantindo assim, discos independentes de ótima qualidade, porém, em contrapartida, o caminho para o reconhecimento ficou um pouco mais longo.
O trabalho independente exige uma garimpagem difícil de espaços alternativos que acreditem nesta qualidade, como é, para nossa alegria, o caso da Revista Musical RitmoMelodia.
12) RM: Como vê a responsabilidade de superação e o perigo de lugar comum quando se grava canções que marcaram época e cantoras?
Denise Pinaud: Quando se escolhe um estilo como a Bossa Nova para trilhar o caminho de intérprete, as comparações são naturais. No começo, as pessoas me relacionavam com Nara Leão e Leila Pinheiro, com o tempo fui amadurecendo, descobrindo, dentro de mim, minha própria fórmula.
A Bossa Nova dá elementos essenciais para a interpretação e, aproveitando a experiência que tenho em teatro, uso e abuso deles. Neste primeiro trabalho, minha personalidade ao interpretar está marcada da primeira a última faixa e olhe, é um desafio maravilhoso de se aceitar! O reconhecimento pelo trabalho, só faz aumentar a minha certeza de que estou no caminho certo.
13) RM: qual a mensagem que você deixa para as cantoras e cantores que acreditam numa música de qualidade que é ignorada pelo mercado musical?
Denise Pinaud: O caminho costuma ter trilhas diferentes para os artistas, mas percebo a importância vital de sermos profissionais em tudo que fazemos para alcançarmos nossos objetivos; ter uma meta, outro ponto indispensável para trilhar este caminho, nem sempre cor-de-rosa, e, finalmente, confiança naquilo que nos propomos a fazer, para que nada nos tire do nosso ideal.
Contatos: (21) 98191 – 7981 | [email protected] | www.denisepinaud.com