A cantora, compositora e cientista política mineira Cleo está inserida na cultura underground desde 2010. A sua proposta inicial foi o RAP e hoje alcança desde a MPB ao Samba. Enfrentou diversos desafios na cena independente, mas isso só a engrandeceu e fortaleceu seu trabalho.
Vem com uma proposta psicodélica, underground e ao mesmo tempo pop. Cleo também é ativista política, e atua no cenário político carioca há 10 anos. Já foi filiada a partidos como PC do B e PDT e hoje suas ideias a aproximam mais do PSOL.
Com o intuito de ser professora, Cleo jamais imaginou trilhar carreira artística ou política, mas as coisas foram acontecendo e aí está. Com muitos projetos e muita sede de inovar, empreender e revolucionar a cena.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Cleo para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 08.03.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual sua data de nascimento e sua cidade natal?
Cleo: Nasci no dia 07 de maio de 1992 em Poços de Caldas – Minas Gerais. Registrada como Cleo Gomes da Silveira.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Cleo: Meu primeiro contato com a música foi quando eu tinha 16 anos de idade, quando ganhei meu violão e compus uma música para um rapaz que eu gostava e eu chamava: Leonino, porque ele era do signo de Leão! (risos).
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Cleo: Sou formada em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e fiz um curso de Produção Musical na Providencia, mas esqueci tudo (risos).
04) RM: Quais suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Cleo: Gosto muito de música internacional, posso fazer uma lista aqui das minhas influências, Mf Doom, o principal, Freddie Gibbs, gosto muito, Mac Miller, Dilated Peoples, Public Enemy, Pac Div, Blue & Exile, Madilib, Nas, Coomom, Murs, 9th Wonder, Aloe Blac, D Angelo e por ai vai..
Nacional, minha principal influência é: Marcelo D2, depois vem Speed, me inspiro muito em mulheres da MPB, como Maria Bethânia e do Samba Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara, Leci Brandão e etc. Conheço muita coisa de música internacional, mas prefiro música brasileira, mas antes conheci o que vem de fora, os gringos também fazem arte, não como nós, mas fazem! (risos).
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Cleo: Em 2010 no bairro Vila Isabel, berço do Samba do Rio de Janeiro, terra de Noel Rosa, é um lugar muito especial para mim e cheio de significados, pois a minha avó morou lá e meu pai foi nascido e criado lá. Eu tocava violão pros meninos rimarem e um belo dia fumei maconha e comecei a rimar a galera foi à loucura. E comecei a participar de batalhas de Rimas, aí me destaquei e aproveitei para lançar meus trabalhos.
06) RM: Quantos CDs lançados:
Cleo: Estou terminando de gravar meu primeiro álbum – “NUA”! Já lancei alguns singles.
07) RM: Como define seu estilo musical dentro do RAP?
Cleo: Sou mais underground, RAP de mensagem, música de protesto.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Cleo: Não. Mas pretendo estuda técnica vocal.
09) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Cleo: Maria Bethânia, Leci Brandão, Marcelo D2, Mf Doom, Mac Miller, Mart’nália (minha preferida) e por aí vai…
10) RM: Como é o seu processo de compor?
Cleo: Nos meus momentos de crise sempre saem os melhores rimas, não sei explicar minha criatividade vai ao pico.
11) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Cleo: Não tenho, componho minhas músicas sozinha, mas tem muitos amigos de trabalho que admiro e quero gravar com eles.
12) RM: Quais os prós e os contras de desenvolver uma carreira musical independente?
Cleo: O lado é bom, é que você pode ser você mesmo, e explorar sua criatividade e unicidade ao máximo, sem precisar se adequar ou mudar seu estilo como é feito em gravadoras. O lado ruim é que você não ganha dinheiro e fica mais difícil de viver da sua arte.
13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Cleo: Ser de verdade e trazer um pouco de luz e paz pro mundo, acho que essa é a melhor estratégia.
14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver sua carreira?
Cleo: Ensinar, sempre. O Artista só tem a ganhar quando troca informações e alimenta seu público com conhecimento.
15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira?
Cleo: A internet ajuda na divulgação dos projetos, ajuda a manter uma conexão com o público. Não atrapalha em nada, eu que me atrapalho as vezes (risos).
16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Cleo: A vantagem de produzir música em home estúdio é que sai mais barato e com uma qualidade boa. A desvantagem é que dependendo de quem grava, o som não fica com ar de profissional.
17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje, gravar um disco não é mais um grande obstáculo. Mas a concorrência de mercado se tornou um grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Cleo: Eu sou eu mesma, sem máscaras, sem copiar ninguém. Isso que faz a diferença. É por isso que poucos se destacam, a maioria é cópia.
18) RM: Como você analisa o cenário do Rap Brasileiro. Em sua opinião, quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Cleo: Eu quase não ouço RAP nacional, mas gosto muito do Mahal, Bk, Start Rap, Passo a frente, pra mim foram as revelações. Black Alien permaneceu consistente com esse último álbum que lançou. E quem regrediu foi Criolo, os seus sons antigos são muito melhores.
19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Cleo: Mart’nália, Zeca Pagodinho, a galera do Samba em geral, muita qualidade, MPB também, no RAP acho que está faltando uma referência.
20) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Cleo: O mais feliz é poder fazer show e mais triste é não poder fazer show (risos).
21) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá suas músicas tocaram nas rádios?
Cleo: Sim, tudo depende do próprio artista, tem gente que paga o jabá e não fica nas paradas de sucessos… Depende do público alvo e da qualidade das músicas, eu acho.
22) RM: O que você diz pra alguém que quer trilhar carreira musical?
Cleo: Coragem! (risos).
23) RM: Quais os prós e contras do festival de música?
Cleo: Os pros de Festival de música é que enriquece a cena musical e promove muitos artistas, além de revelar muitos artistas também. O contra é que as vezes esses artistas não são tão bons.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Cleo: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é lamentável. Artistas bons não tem a visibilidade que merecem e artistas medíocres se sobressaem, tudo gira em torno de dinheiro.
25) RM: Qual sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI, Itau, Banco do Brasil e CAIXA Cultural para a cena musical?
Cleo: Interessante, para promover a cultura, divulgar e dar espaço para novos artistas e novos talentos terem mais visibilidade.
26) RM: Qual sua análise política do governo Bolsonaro?
Cleo: Um governo de extrema direita, costumo dizer que nossa maior perda foi o fim do PSDB, era uma direita moderada, humanizada, que enriquecia o debate de ideias, diferente do bolsonarismo. O partido novo veio com essa proposta, de se tornar uma direita moderada, mas acabou se tornando um apêndice do bolsonarismo.
Perdemos o PSDB e ganhamos o Bolsonarismo, que configurou a conjuntura atual uma das mais violentas. Ele surfou na onda do antipetismo, conceito que se tornou uma máscara, no qual os fascistas se escondem e em nome dela falam e fazem as maiores atrocidades já vistas em um governo. Foi o mais sinistro esquema de corrupção que esse país já viu, o esquema das vacinas durante a pandemia do covid-19. Foram mais de 500 mil vidas perdidas, tragédia anunciada… Ele merece ser preso.
27) RM: Qual sua análise política e expectativa do governo Lula?
Cleo: Um Surfou na onda do outro, o Lula também surfou na onda do anti-bolsonarismo. E não podemos esquecer que sim, o PT também é um partido corrupto. Não a ponto de matar 500 mil pessoas, mas é. Minha expectativa é que o Lula não se submeta ao congresso, porque ele tem o povo, nunca precisou de maioria, todos os acordos, compra de votos, entrega de ministérios etc, foram desnecessárias. E hoje, o maior desafio do PT é com a oposição, ele não pode mais dar motivos para essa oposição sedenta de sangue.
28) RM: Qual o impacto social e político da pandemia do Covid-19?
Cleo: Na pandemia do Covid-19 o maior impacto foi o econômico, milhares de pessoas perderam empregos, o poder de compra diminuiu, os preços subiram e a postura e incompetência do ex presidente Bolsonaro acentuou esse impacto.
29) RM: Quais são seus projetos futuros?
Cleo: Eu pretendo lançar outros álbuns, o resto fica em segredo pra dar certo (risos).
30) RM: Quais são seus contatos, para shows e para os fãs?
Cleo: [email protected]
| https://www.instagram.com/silveiracleo
Canal: www.youtube.com/cleozinha175
CD NUA COMPLETO – CLEO: https://www.youtube.com/watch?v=Zp7N_KilFJs
Sim – Cleo: https://www.youtube.com/watch?v=DU-yQGLMHK4
Despertador- Cleo: https://www.youtube.com/watch?v=x6FJXQNPhGA
Cléo – Vida: https://www.youtube.com/watch?v=YNsgxhXmYvI
Conselho – Cleo: https://www.youtube.com/watch?v=LuzZw2rq0C0
Amor de Bamba – Cléo: https://www.youtube.com/watch?v=PVVCJxaHfKg
Soundcloud: www.soundcloud/clecleo