O cantor, compositor e violonista cearense Ciço Gnomo traz nas suas canções um ritmo contagiante, letras irreverentes, muita presença de palco e um vozeirão inconfundível. Uma força gigante dentro do seu 1,20 de altura.
As suas músicas são embaladas em um estilo próximo do blues, do movimento mangue beat, da cantoria popular nordestina e do fino da MPB e do Rock in roll. Esse caldeirão de ritmo fez a diferença e contribuiu para que ele ganhasse o Festival SESC da Música Cearense no ano de 2001. Ele aborda na suas letras temas históricos, do meio ambiente e o engajamento político, sempre com um teor de contestação e crítica, sem deixar de ser romântico. Na música “A cidade tá comendo a mata” critica de forma criativa e bem humorada o desenvolvimento desequilibrado dos meus meios de produção. Já na música “Assim que se quis amar”, ele expõe o futuro incerto de crianças abandonadas.
Após seu primeiro CD – CONTRADIÇÃO, que foi lançado em julho de 2003 no programa do Jô Soares. Ele está gravando um novo álbum: NÓSDESTINOS. Que dá nome também ao seu novo show. A proposta é mostrar ao público a contribuição do seu pensamento em forma música. E o seu ritmo forte e letras provocantes. Ele engaja romantismo e perspicácia abordando fatos que o instigam a superar limites em as suas necessidades físicas.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Ciço Gnomo para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01 de dezembro de 2013:
01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Ciço Gnomo: Nasci em 12 de Julho de 1971 em Missão Velha – Ceará.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Ciço Gnomo: Quando criança já me chamava atenção às músicas de sucesso da época. Quando jovem, morei muito tempo vizinho a uma discoteca. E meu irmão, Ivan, era uma espécie de DJ e também técnico de instalação elétrica. O batuque das músicas da discoteca era toda nos cômodos da casa em que morávamos e aí inevitavelmente eu as ouvia e curtia todas. O primeiro contato com o violão se deu por conta desse meu irmão. Por um momento na sua adolescência, ele andava pra cima e pra baixo com um violão e o levava pra casa. Eu lembro que, em um dado momento, passei os dedos nas cordas do violão que era guardado lá em casa com muita recomendação dele de ninguém pôr a mão. Um dia, com um medo danado, passei os dedos em todas as cordas, o som me fascinou, fiquei emocionado no momento. Daí, aqui e acolá em mexia nele mesmo escondido. Várias vezes a princípio, eu só passava os dedos em todas as cordas sem tirá-lo do lugar, não empunhava o instrumento. Só batia nas cordas com os dedos e saia assustado e emocionado, pois a ordem era de não mexer. Mas logo eu voltava e fazia o mesmo, até que um dia eu fui mais longe e o empunhei e já fazia os primeiro ritmos, cantarolando.
03) RM: Qual sua formação musical e acadêmica fora música?
Ciço Gnomo: Minha formação musical foi totalmente empírica, fazendo na marra e descobrindo as coisas da música com experiências práticas e lúdicas no decorrer da busca por essa arte. Nunca fiz nenhum curso superior ou técnico especializado nessa área. Já em outros estudos, depois de muito tempo, já depois do primeiro CD – “CONTRADIÇÃO”, eu prestei vestibular na UNIP e UNINOVE em São Paulo para Direito e passei nas duas chegando a cursar sete meses na UNINOVE. Depois, devido às dificuldades de sobrevivência em São Paulo, voltei para Juazeiro do Norte – CE e formei-me em Teologia pela INTA/FACETE. E depois fiz uma especialização em Gestão Ambiental com Ênfase em Perícia e Auditoria pela Faculdade do Vale do Jaguaribe em Crato – CE.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Ciço Gnomo: As minhas influências musicais mais marcantes e diversas foram as baladas internacionais e muitos músicos nacionais dos anos 80. Aquelas músicas que tocavam na discoteca do vizinho. Lá tocavam Phil Colins, All Jarreau, Queen, Billy Idon, Michael Jackson, Julien Leno, Madonna, Paralamas do Sucesso, Prince, Sindy Louper, Beatles, Chico Buarque, Djavan, Tears for fears, Gonzaguinha, Emílio Santiago, Tim Maia, Erasmo, Roberto, Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Chiclete com Banana, Banda reflexu’s, Léo Jaime, Luiz Caldas, Barão Vermelho, Cazuza, Titãs. Mas a morte de Raul Seixas em 21 de agosto de 1989 trouxe-me as suas músicas e pensamento. Aquelas reportagens mostrando cenas do velório dele no palácio das convenções doAnhembi em São Paulo, me chamaram muito a atenção para saber o que significava aquele artista até então desconhecido para mim. Putz foi uma paulada! Meu peito pulava à medida que descobria a obra musical e o pensamento do Raul Seixas. Essa foi a minha grande influência musical que perdura até os dias de hoje. O que deixou de me influenciar foram as baladas românticas americanas que muito tocavam na discoteca. Dali pra frente só ficou Raul e o seu Rock.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Ciço Gnomo: Minha carreira musical começou no evento “Semana da Terra” no SESC-Juazeiro do Norte – CE em 1994. Essa foi a minha primeira vez cantando para o público. Foi um convite feito pela Roseane Limaverde, gerente de cultura daquela entidade. Fiquei emocionado com o convite. Só cantei duas músicas e fui acompanhado pelo parceiro Márcio Souza, um poeta e artista plástico. Foi assim quebrando a casca do ovo. Eu e o Márcio depois comemoramos e ficamos impressionados com a boa recepção dos que estavam presentes ali. Daí eu comecei a cantar pelos bares no Juazeiro do Norte, e apresentava minhas composições no meio do repertório que cantava músicas de sucessos de outros cantores. Eu sempre quis me afirmar como um cantor, pois desde criança via os cantores na TV e ficava ali hipnotizado com as imagens e foi nesse período que comecei sonhar. Daí, sempre que via algo relacionado minha atenção se voltava pra aquilo. Quando vi pela primeira vez o Raul Seixas no programa Casino do Chacrinha (Aberlado Barbosa) foi como se algo em me tivesse destravado. Então eu ficava tentando soltar a voz(risos). Cantarolava e daí uma vez meu irmão me apareceu com um violão lá por casa. Uma vez passei os dedos por todas as seis cordas e aí aquilo estremeceu na minha alma. Quando da primeira oportunidade com um violão já comecei a tirar uns sons. Isso foi bom. Daí, eu fui inventado notas, sons e tentando adequar com umas cantigas que inventava (risos).
06) RM: Quantos CDs lançados (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram em cada CD?
Ciço Gnomo: Lancei o CD – CONTRADIÇÃO. Neste CD participaram músicos como: Pedrinho na bateria, Otílio Moura na sanfona, Jofran na percussão, Jorge Barros e Júnior Finnis no baixo, Célio Uchôa na guitarra e violão de aço, Ana Cléria no sax e flauta, Alex Soul no Teclado, Maurício Braga na engenharia de som e gravado no estúdio AUDIOCOM no segundo semestre de 2001. Nele há uma mistura de ritmos e estilos musicais, mas, predominantemente Rock. Destaque para a guitarra de Célio Uchôa, o Sax da Ana Cléria, a sanfona do Otílio Moura e a bateria do Pedrinho.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Ciço Gnomo: A exemplo do que Raul Seixas respondeu ao ser perguntado sobre seu estilo musical dizendo ser RAULSEIXISMO eu diria também que meu estilo musical é o GNOMISMO (risos). O Gnomismo musical é o meu cantarolar, minha expressão musical, com a minha inquietação de transpor as barreiras do som em busca de algo mais nas combinações das notas, no arranhar das cordas nos meus dedos pequenos que encontra caminhos outros para acordar os acordes que eles não podem preencher da forma formal. é meu tempero melodial, rítmica e mungangos onomatopoéticos de extrair o som no meu jeito de cantar.
08) RM: Como você se define como cantor/intérprete?
Ciço Gnomo: Como cantor/intérprete, eu me defino como em construção, em uma busca, me descobrindo sempre.
09) RM: Você estudou técnica vocal?
Ciço Gnomo: Não estudei técnica vocal.
10) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?
Ciço Gnomo: Admiro o Raul Seixas, Frank Sinatra, Prince, Altemar Dutra, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Arnaldo Antunes, Elvis Presley, John Lennon, Itamar Assumpção, Tom Zé, Bob Marley, Fred Mercury, Gonzaguinha, Adriana Calcanhoto, Janis Joplin, Marisa Monte, Nana Caymmi, Luiz Gonzaga, Nando Reis.
11) RM: Você compõe? Quem são seus parceiros musicais?
Ciço Gnomo – Componho sim. Não tenho parceiros musicais. Geralmente componho só.
12) RM: Como você conseguiu ser entrevistado pelo Jô Soares, sendo um músico desconhecido?
Ciço Gnomo: Daí, depois da carona de Caetano na sua carreta até São Paulo, eu fiquei certo tempo morando na casa da minha irmã e me adaptando às ruas, movimentos, etc. Depois sobe que a TV Globo ficava na Av. Dr. Chucri Zaidan, 46 no bairro do Brooklin. Ao chegar à portaria, conversei com o guarda lá e disse: Oi, me chamo Ciço Gnomo e sou um artista de Juazeiro do Norte – Ceará e vim aqui para me apresentar aqui na Rede Globo. O porteiro me perguntou: Quem você conhece aqui na TV Globo? Eu respondi que conhecia todo mundo lá! O cara entrou em uma cabine lá e eu fiquei esperando. Ao voltar ele me disse que ninguém lá me conhecia nem estava me aguardando (risos). Daí foi que me toquei da pergunta inicial. Mas depois fui entrevista pelo Jô. Eu falei: Como pode isso! Vim de Juazeiro do Norte pegando carona para me apresentar aqui no programa do Jô Soares e me recebem desse jeito! (risos). Eu achava que bastava ser artista para se apresentar nos programas da TV Globo (risos). Daí, perguntei ao porteiro, então como faria. Ele me disse que era necessário que eu levasse um material para entregar para a produção do programa e aguardar depois um contato deles. Daí eu fui embora e preparei em uma dessas gráficas rápidas uma espécie de portfólio com tudo sobre meu trabalho, minha trajetória e depois voltei lá com uns cinco pacotes. Deixei um pacote para o programa do Serginho Groisman, outro para Ana Maria Braga. Mas, no meu coração, eu queria era ir ao Programa do Jô Soares. Perguntei novamente ao porteiro: Rapaz, eu como faço para conversar com o Jô? Que horas ele está aqui e por onde ele sai. Será que eu não poderia conversar com ele na saída? Ele me informou que eles gravavam nas terças e quartas e que eu poderia ir para lá novamente e esperar que eles saíssem, pois passariam por lá, naquele portão que conversávamos. Daí, voltei em outro dia. Bem próximo ao fim das gravações que, embora não tinham uma hora específica para terminar, mas, eu estava lá naquele horário em que mais ou menos era o certo para estar ali. Daí, esperei. O cara lá da portaria olhou lá para dentro da recepção da TV Globo disse para mim: Veja, lá vai o Derico entrando no carro e parece que vem passar por aqui. Posso conversar com ele? Ele afirmou: Pode! Mas quando o carro vinha. Nem brecava muito e vidro escuro não dava para ver ninguém dentro (risos). Eu fazia um sinal para o carro parar e que queria conversar, mas, o carro não parava. E assim foi com bem uns três carros que passaram lá naquele momento em que a produção do programa do Jô estava saindo do trabalho. De repente lá vinha um carro mais simples e branco, vidro aberto, não era fumê. Daí eu perguntei novamente ao porteiro: E esse quem é? Ele me respondeu: Esse é o Osmar Baruti. Daí, quando ele se aproximou da saída eu gritei: Osmar! Osmar, êi Osmar, por favor, quero levar uma palavrinha com você. Pode ser? Por favor, só um minutinho, só quero que me escute. Ele, educadamente, foi parando o carro depois de saída do portão e à medida que ele ia puxando o freio de mão e estacionando, eu fui logo contando a minha história toda (risos). Eu vi do Ceará de carona, com o sonho de me apresentar no programa do Jô, pois faz tempo que quero ser um cantor e meu coração diz que o Jô poderá me dar uma oportunidade. E muito ofegante fui dizendo de tudo que já fiz, onde eu me apresentei. E que aquilo era de suma importância na minha vida, pois há muito tempo eu sonhava com isso, de me firmar como um artista e tal. O Osmar tentava me acalmar e saindo do carro ele disse: Calma, pode contar a sua história compassadamente. Mas eu o interrompia dizendo: Não, não! Escute-me. Eu não quero nada demais só quero que você receba meu trabalho aqui, veja, ele está aqui dentro desse envelope. Por favor, quero que você veja ou entregue aí para a turma apreciar, pois eu tenho certeza de que irão gostar. O Osmar com muita delicadeza e fineza, olhou para mim e disse: Olha tudo bem, vou receber seu trabalho e posso entregar lá para apreciação da produção, mas fique calmo, pois vejo que você sonha muito com isso. Quero lhe dizer que não fique assim, pois tem gente já esperando ser chamado há cinco anos. Eu, rapidamente disse: Sim. Tudo bem. Mas não se preocupe. Só quero te entregar e peço que entregue para que eles apreciem. Algo me dizia que seria chamado. Despedimos-nos e fui embora e fiquei no aguardo de um contato. Passou sete meses até ser chamado. Nesse período eu estava tocando por comida, por dormida. E ficava perambulando pela cidade em busca de lugares para me apresentar, mas me perdia na capital paulista, onde tudo era totalmente diferente do lugar que eu vivia até então. Ao receber o telefone de uma mulher da produção dizendo: Oi, você é o Ciço Gnomo? Respondi, pois não sou eu mesmo! Ela disse: Parabéns você foi pré-selecionado para uma entrevista no programa do Jô Soares. Eu dei um grito e disse: Consegui. Consegui. Eu consegui. Caramba, eu vou vencer. Eu Vou vencer (risos). Foi uma loucura na minha cabeça. Daí, ela me fez um monte de perguntas pelo celular. Dia seguinte, foram me pegar onde eu estava e me levaram lá para a gravação da entrevista e foi isso aí. Foi em 2003 e o dia da gravação foi dia 7 de julho e foi ao ar no dia 12 de julho. E 12 de julho é o dia do meu aniversário. Presentão.
13) RM: O que mudou na sua carreira após a entrevista no Jô Soares?
Ciço Gnomo: Depois da entrevista fiquei atônito, anestesiado. E aí praticamente desisti de cantar. Tinha a impressão de que seria um sucesso após a visibilidade em um programa de TV de prestígio nacional. Eu já estava exausto com toda luta de 16 anos cantando na noite. E depois da entrevista no programa do Jô Soares não soube administrar as coisas. Não me refiro à grana nem nada, mas, o assédio das pessoas em querer saber como é ser entrevistado pelo Jô. E fiquei triste com a falta de patrocínio que achei que aconteceria após a entrevista. Mas é que antes eu não tinha nada mesmo. Pensei que ao me apresentar no Jô fosse pelo menos arrumar mais oportunidade de espaço para cantar. Mas não foi assim. Daí, eu me vi tendo de pensar no que fazer da vida dali para frente. Começar uma nova profissão. E urgente por que as coisas não esperam. Daí, eu comecei outra história. Mas em breve estarei cantando só pela música com o objetivo de poder depois viver cantando que é o que gosto. Sou formando Teologia e estou terminando a minha especialização em Gestão Ambiental com Ênfase em Perícia e Auditoria. Agora mesmo terminei meu artigo científico de término do curso. Passei no concurso público para Técnico Ambiental do município Juazeiro do Norte. E estou me preparando para montar meu equipamento de som e nas horas vagas sair cantando por aí.
14) RM: Como foi seu contato com o Budismo?
Ciço Gnomo: Isso foi no ano 2000. Conheci o Budismo por intermédio do amigo Roger Silva, que também é compositor e me passou o mantra budista e comecei a recitar.
15) RM: Como foi a sua escolha em fazer o curso de Teologia?
Ciço Gnomo: Eu fiz o curso de Teologia com o objetivo de entender o sentido da religião (2006 a 2010). Com minha conversão ao Budismo, queria compreender outras versões e experiências de outras no sentido da compreensão da fé.
16) RM: Como a sua deficiência ajudou e atrapalhou na sua carreira musical?
Ciço Gnomo: A minha deficiência física me ajudou a atrair a curiosidade das pessoas ao me ouvir cantar. Mas ao mesmo tempo me atrapalhou porque eu queria que as pessoas vissem meu talento. E quando eu escutava algo como: Ele é anão e sabe tocar violão e cantar (risos). Era decepcionante. Quando me deparei com esse tipo de abordagem vi que as pessoas (normais) têm muita deficiência. E antes eu não tinha consciência disso. Depois fui entendendo. Aprendi muito.
17) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Ciço Gnomo: Ser um cantor independente é tudo para mim. Acho que não ter dinheiro para investir no próprio trabalho é o que tem de ruim nessa carreira.
18) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Ciço Gnomo: Sinceramente não me importo com o que é produzindo atualmente, assim de ficar pesquisando ou selecionando. Vou ouvindo o que me toca nos acidentes da vida ao ligar o rádio, a TV, etc. Não ando pesquisando, nem procurando saber. Vou apenas curtindo aquilo que me toca. E nessas últimas duas décadas poucas coisas me tocaram, mas, o pouco que tem me mexido, tem sido muito marcante para mim que são Itamar Assumpção, Tom Zé, Lenine, Barão Vermelho, Roberto Frejat, Chico César, Nando Reis e o Arnaldo Antunes. Não sei dizer quem evolui e quem regrediu. Só sei que curti e curto o que me tocou e foram esses.
19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Ciço Gnomo: Músicos com qualidade artística são: Carlos Santana, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Morais Moreira, Pepel Gomes, Danilo Caymmi, Tom Jobim, Toquinho, Carlinhos Brow e o João Barone, o baterista do Paralamas do Sucesso, entre outros.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Ciço Gnomo: Quando no caminho até São Paulo minha carona inicial me levou até Camaçari na Bahia. Lá eu fiquei três dias no pólo petroquímico onde tinha muitos caminhoneiros, e eu, estava em busca de outra carona para segui até São Paulo. E aí, quando me perguntavam para onde eu ia, eu dizia que ia para São Paulo para participar do programa do Jô Soares e dizia ser cantor e compositor. Simplesmente eles me achavam maluco total. Eu percebia que eles (motoristas) me tratavam com certo cuidado. E eu ouvia as conversas soltas deles em seus cochichos dando entender que eu era doido. Na segunda noite que dormi naquele local, foi em uma choupana que ficava bem no meio do pátio onde ficavam os caminhões. Nesse local vendia comida, lanches, caldo, essas coisas. Ali fiquei e comecei a conversar com um cara lá até a madrugada. Eu falava para ele sobre meus sonhos, minhas músicas, o ideal de ser artista e nos entendíamos muito bem. Conversamos muito. Ao amanhecer o dia. O dono lá do quiosque me perguntou admirado: Rapaz, você dormiu por aqui mesmo! Como pode ter conversado tanto com o fulano de tal. Aquele cara é louco (risos). Rapaz, isso me deixou muito grilado (risos). Fiquei me indagando, como posso ter conversado com um louco a noite toda e ter me entendido tanto com ele? Será que estou ficando louco (risos). Depois de conversar com muitos caminhoneiros conheci Caetano, um carreteiro que ia para São Paulo. Daí depois de uma conversa ele me levou para São Paulo. Deu-me a carona. Outra foi quando da minha estréia em meu primeiro show lá no Bar Cultural do SESC. Uma mulher comentou depois que, antes deu chegar ao local do evento, ela lia um folder com a minha propaganda e pensava: Nossa! Êita cidade para ter “Cícero”! Tem até um Ciço que é um Gnomo! Ciço Gnomo! Ao eu chegar ela ficou admirada com o meu tamanho físico e se perguntou: Será que esse baixinho canta de verdade?(risos). Por fim, ela adorou o show e as minhas músicas. Resultado é que vivemos quatro anos juntos (risos).
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Ciço Gnomo: O que me deixa mais feliz é ser reconhecido pelo meu talento. E o que me deixa mais triste é ser conhecido pelo estereotipo de um anão que cantar e toca um violão.
22) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?
Ciço Gnomo: Juazeiro do Norte tem uma cena musical rica, diversa, na noite sempre tem um artista se atrevendo a mostrar a cara. Há um número grande de artistas que surge das entranhas populares nos perguntando como faz para encontrar um caminho para os palcos, onde se apresentar, mostrar seu canto.
23) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Ciço Gnomo: Itamar Assumpção, Tom Zé, Abdoral Jamacaru, João do Crato, Lenine, Titãs, Paralamas do Sucesso…
24) RM: Você acredita que sem pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Ciço Gnomo: Eu não acredito que as minhas músicas tocarão sem pagar o jabá (risos).
25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Ciço Gnomo: Digo da minha experiência na área, do que sei e do que passei. E sou solidário e amigo em compartilhar minhas experiências da melhor forma para que ele sobreviva e salve sua musicalidade das intempéries do mercado e das mazelas sócio-culturais. Hoje vejo como qualquer outra carreira profissional. Há necessidades específicas e um estudo técnico para se aplicar na prática. Eu estava convicto do que queria quando comecei a minha carreira musical. Mas acordei para outras realidades que julguei mais importantes.
26) RM: Quais as dificuldades e preconceitos que você enfrentou na vida pessoal, educacional e profissional por ser portador de deficiência?
Ciço Gnomo: Putz! Enfrentei e enfrento várias. Injúria qualificada. Difamações por conta de acharem que a capacidade e o caráter estar no tamanho físico.
27) RM: Como você foi desenvolvendo a sua carreira musical em São Paulo?
Ciço Gnomo: Eu já tinha deixado o meu material para a produção do Jô Soares. E aí fiquei a perambular por São Paulo quando conheci o radialista Val que tinha um programa em uma Rádio em Mogi das Cruzes – SP. Conheci o Val como funcionário de um estacionamento na Rua Voluntários da Pátria (comprei um Voyage com as economias que a minha esposa Lourdes trouxe da venda de um terreno dela em Fortaleza-CE. Adaptei com alongamento de pedais). E eu andava com meu CD na mão e comentava com as pessoas. Ele se aproximou e disse que tinha como me ajudar e perguntou se eu aceitava ser artista do grupo dele que viajava pelo interior fazendo shows. Depois ele me levou para conhecer o Temístócles. Que dizia ser caçar talento e que ele iria ficar rico comigo. Ele foi produtor de uma casa noturna na Serra da Cantareira – O CÁLLI. Ele era mais conhecido como “T” mandava no Val. Eles tinham lá uma parceria… Quando fui ao programa do Jô Soares, os levei e posaram de empresários. Para os outros artistas, eles posavam que eles que abriram a porta da TV Globo para mim. Eu os achava bem atrapalhados. Daí ficou pior quando descobri que o “T” dava meus CDs para qualquer um e dizia que era para apresentar a grandes empresários do meio musical. O “T” mandava o Val ficar na minha cola. Ele tinha medo de alguém me tomar (risos). E eu nem sabia disso. Eu pensava que o Val vinha para ajudar. Sempre que alguém se aproximava muito de mim, o Val já cortava o barato. Eu cansei de dar cabeçadas. Eu resolvi cuidar de mim e recomeçar. Resolvi voltar para Juazeiro do Norte. O que os deixou bastante irritados, principalmente o “T”. Ele achava que eu não iria embora que estava blefando. Ele dizia que eu estava com algum outro empresário e que iria os deixar na mão. Tínhamos um contrato que venceria em dezembro de 2003. Mas o tranquilizei e disse que eu precisaria aceitar a minha vida. Até porque eles só estavam era me dando prejuízo.
28) RM: Quais os seus projetos futuros?
Ciço Gnomo: Juntar um grana para gravar meus próximos CDs que já estão prontos há tempos para irem ao estúdio e que nunca consegui incentivos financeiros para isso… Daí, hoje, me vi forçado a trabalhar em outra área para bancar o meu sonho de continuar sendo cantor…
29) RM: Ciço Gnomo, Quais os seus contatos?
Ciço Gnomo: (88) 99979 – 8784 | 98833 – 6399 | [email protected]
Links da Entrevista no Jô Soares: http://www.youtube.com/watch?v=eTPA6kJtQ8I
http://www.youtube.com/watch?v=J6glYkLd7Yg
http://www.youtube.com/watch?v=DZa4uvAD-dk
http://www.youtube.com/watch?v=kXGH-EAQYBc
http://www.youtube.com/watch?v=ohvdLCLiXpo
http://www.youtube.com/watch?v=gmZpsr7Uilc&hd=1