A cantora, compositora e escritora carioca, residente em Brasília – DF, Cássia Portugal percorre feliz trajetória de palcos há 27 anos.
Nasceu em berço musical, com pais cantores da igreja evangélica e atuou por muito tempo em corais, desde a infância, tendo iniciado sua carreira solo por incentivo de Jane Duboc e pelo apoio e condução da cantora Cristina Vasconcelos.
Participante Top dos Tops do The Voice Mais em 2022, Cássia conquistou as quatro cadeiras dos técnicos viradas para seu canto, tendo escolhido seguir com Fafá de Belém.
Cássia tem 1 CD e 1 DVD lançados em 2014, autoral, intitulados “Minha História”. Foi finalista com sua obra de 3 festivais do SESC (2 terceiros lugares) e um da Rádio Utopia de Planaltina (DF). Tem um livro de poemas e prosas lançado em 2007, intitulado “Textos, temas, teses e poemas”.
Cássia Portugal possui canções compostas por ela e parceiros, gravadas por excelentes artistas como Sandra Duailibe, Renata Jambeiro, Mirian Marques e Rosana Sabença.
Lançou três singles em 2022: “Sóis e Luas” (criação solo), “Nós” (feita em parceria com Daniel Júnior) e “Verso de Improviso” (em parceria com Gilton Della Cella – criação e interpretação). Em junho de 2023, teve a canção “Jogo Virado” (criação solo) incluída no álbum “Vozes do Brasil”, criado por Gilton Della Cella, e nela divide voz com Bruna Tassy, que também tocou todas as cordas. Anne Eoketu tocou todas as percussões.
Tem em revisão um novo livro onde reúne com ela, mais 9 mulheres artistas do Planalto Central entrelaçando histórias reais da vida de mulheres artistas e o lúdico e poético contexto da vida de uma personagem, criada por ela, que reúne sentimentos e vivências do universo feminino.
Em 2023, Cassia estreou 2 projetos de shows em Brasília – DF: Memórias Afetivas, com a cantora e produtora Eliza Borges e Mães das Canções, com a cantora, compositora e mentora do projeto, Danuza Borges.
Em João Pessoa – PB, estreia em 25 de agosto de 2023 o projeto Sambas e Serestas, que já está com lotação esgotada na sua primeira edição.
Hoje, Cassia Portugal divide sua vida e carreira entre as cidades de Brasília e João Pessoa e prepara novos projetos e parcerias para 2024.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Cássia Portugal para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 22.09.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Cássia Portugal: Nasci no dia 29/06/1958 em Rio de Janeiro – RJ. Filha de Saulo da Silva Barroso e Eunice Portugal Barroso e registrada como Cássia Portugal Barroso.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Cássia Portugal: No ventre da minha mãe (Eunice Portugal Barroso). Ela e meu pai (Saulo da Silva Barroso) cantavam para mim. Nasci no meio dos corais evangélicos. Sempre houve música dentro de casa e desde menina eu já cantava em corais. Era música sacra. Belíssima.
Meu contato com a música popular aconteceu aos poucos, ainda pequena, com meu pai, que cantarolava serestas de Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, entre outros. Interessante que minha mãe não nos deixava tocar música popular em casa, mas sempre tinha uma “modinha” nos lábios. E a mais importante delas, era a canção Nanci, nome que ela deu à minha irmã.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Cássia Portugal: Eu me formei em Publicidade e Propaganda, mas só fiz o estágio. Fiz pós graduação em Análise de Sistemas e trabalhei por 39 anos com T.I.
E a partir dos 33 anos de idade, eu estudei na Escola de Música de Brasília – DF, começando com Canto Lírico com os profs. Francisco Frias e Amélia Niemeyer, que cursei por 2 anos, e depois seguindo para o Canto Popular com a prof. Myrla Muniz.
Fiz aulas particulares de canto por anos com a saudosa Katia Azevedo, tendo passado também pela orientação excelente de Wilzy Carioca, de Janette Dornelas e de outros professores com quem tive passagens rápidas.
Além das escolas formais, continuo a fazer aula de canto, sendo que meus mestres atuais são Mirna Rubim e Jorge Maia.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Cássia Portugal: As boemias e a MPB tradicional me deram a base. Lembro-me de ficar loucamente encantada com a poesia das letras das canções de Milton Nascimento, de Chico Buarque, de Caetano Veloso, de Taiguara, entre outros.
No final da adolescência, fui muito influenciada pela jovem guarda e queria ser roqueira. Em seguida, bebi da fonte de Beto Guedes, Djavan, Geraldo Azevedo, Xangai, da poesia profunda de Oswaldo Montenegro e das delicadas e envolventes canções de Almir Sater (amor total por ele) e de Renato Teixeira.
Tive também a época de ser influenciada pelo rock dos anos 80: Cassia Eller, Zelia Duncan, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana (tive a sorte de conviver com Renato Russo antes da fama e ficava louca com a capacidade poética dele), Cazuza (Que poeta) entre outros.
Neste período todo também queria ser The Beatles, The Monkees, Dire Straits, Cat Steven (fui loucamente apaixonada por ele), Bread, Peter Frampton, entre outros. E também passeava boquiaberta por Ella Fitzgerald, Janis Joplin e lembro de pirar quando conheci Nina Simone. Foi aí que percebi que se não estudasse ficaria estagnada e que seria uma longa jornada pra chegar a 10% dessas mulheres. Importante dizer que quase enlouquecia quando ouvia Elis Regina, Zizi Possi e Jane Duboc!
Há cerca de uns 20 anos, o samba chegou forte em minha vida. Sorvi Arlindo Cruz, Jorge Aragão, D Ivone Lara, Luis Carlos da Vila, Wilson das Neves, entre outros, mas também os grandes mestres do passado: Noel Rosa, Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho e assim vai. Tenho até uma canção em parceria com Helena Pinheiro, que homenageia estes 4 mestres.
E sim! Vinicius de Moraes, Toquinho, Tom Jobim, Dorival Caymmi e tantos outros deste fértil movimento me levaram ao êxtase musical e poético. E ainda o pessoal do Clube da Esquina. Mas foram em diversos períodos, nada pontual. Acho que quando minha alma precisava de genialidade!
Hoje, meu olhar é para o que me emociona, para letras poéticas, para melodias que me inquietam, de forma que já não há mais uma ou outra influência pessoal, mas uma avidez de conhecer novidades e a beleza de criação e interpretação de brilhantes artistas que não rolam fácil nas rádios nacionais. Pesquisar e descobrir me fascina.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Cássia Portugal: Eu comecei a cantar na adolescência (anos 70), no quarteto Gospel, Som Louvor (Eu, Nadjana, Rossana e Mirian – quatro amigas cantantes). A gente compunha canções e participava de festivais de música, interpretando nossas canções ou de um grande compositor Lácio Pontes, que é um querido amigo até hoje. Ganhamos dois Festivais. Depois parei por muito tempo.
Em 1997, fiz o Curso de Verão da Escola de Música de Brasília – DF, com a Divina Jane Duboc. Ao final do curso ela me disse olhando nos olhos: “Vá, você está pronta”.
Eu tinha muitos medos: de errar, da crítica, de julgamentos alheios. Foi quando uma querida parceira de curso, que cantava muito e tinha uma carreira brilhante na cidade, me chamou pra começar ao seu lado: Cristina Vasconcelos.
Essa anja me tomou pelas mãos e por 6 meses aproximadamente eu fiz vocais com ela, dividia canções e, me atrevia com uma ou duas canções solo. Assim fui pegando intimidade e paixão pelos palcos.
Mais ou menos no meio do ano de 1997, fiz meu primeiro show sozinha. Com a parceria dos músicos Henrique Gomes (violão), Vladimir Barros (contrabaixo elétrico) e Jorge Macarrão (percussão), estreei no antigo Le Bistrot, de Leninha Camargo, que ficava no Hotel Metropolitan, em Brasília – DF. E nunca mais parei.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Cássia Portugal: Tudo que gravei estão nas plataformas digitais, ou prensado fisicamente, são autorais, em parceria ou solo.
Em 2013 lancei o álbum em CD e DVD – Minha História. As canções percorrem diferentes momentos e sentimentos meus, como mulher e como artista, revelando minha alma. Neste album tenho canções em parceria com Marco Abdo (Muito prazer, eu sou da Vila), Helena Pinheiro (À Benção, meu Poeta), Daniel Junior (Carioquinha de Fora), Leandro Fregonesi (Necessito Amar), Eu sou assim (Mirian Marques) e Flávio Oliveira (Salve a Portela).
Três canções que fazem parte dos álbuns do Festival do SESC – Distrito Federal: Me permita contar (2009 – 3º lugar), Ingratidão (2010 – finalista) e Graças à Deus pela Canção (2011 – 3º lugar).
A canção Vermelho Carmim que foi finalista do Festival da Rádio Utopia, no álbum do Festival (2011).
Três singles lançados em 2022: “Sóis e Luas” (criação solo), “Nós” (feita em parceria com Daniel Júnior) e “Verso de Improviso” (em parceria com Gilton Della Cella – criação e interpretação).
Em junho de 2023, a canção “Jogo Virado” (criação solo) foi lançada no álbum “Vozes do Brasil”, criado por Gilton Della Cella. Nesta canção divido voz com Bruna Tassy, que também toca todas as cordas e Anne Eoketu toca todas as percussões.
E tenho canções gravadas por outras artistas – curiosamente todas mulheres. Renata Jambeiro (a canção “Negra” eu fiz pra ela), Mirian Marques (“Eu sou assim” em parceria com ela e “Ingratidão”, só minha), Rosana Sabença (“Saudade do Rio” composição em parceria com Carlos Bivar), Sandra Duailibe (“Bolerar”, interpretação dela e composição minha, dela e de Marcia Fortes).
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Cássia Portugal: Música Brasileira. Gosto de passear pelos diversos estilos, inventar misturas e buscar o desafio de ritmos e intensidades diferenciadas. Muitas pessoas me reconhecem como sambista, porque a maioria de minhas canções são sambas, tanto as que componho, quanto as que interpreto.
Então sim, tenho essa tendência e carinho todo especial pelo samba. Mas lembra-se que eu queria ser roqueira? E que minha base é a MPB tradicional? E que estudei canto lírico? Então também faço misturas e, crio e canto músicas românticas e baladas pops. E hoje, estou toda derretida pela música nordestina, compondo e cantando essa graça que empolga a gente e faz sorrir.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Cássia Portugal: Sim. Ainda estudo e pretendo sempre estudar.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Cássia Portugal: É precioso e importante não só para a qualidade do meu trabalho, mas também para a saúde vocal. O corpo da gente é delicado e fantástico. Há tanto o que descobrir e te falo que não cheguei nem nos 10% do que gostaria, em mais de 25 anos de estudo.
E também é importante estar acompanhada de um profissional em fonoaudiologia, especializado na voz cantada. Eu tenho minha anja, Carla Oliveira, que me coloca no prumo, me orienta e me ajuda a manter a voz saudável.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Cássia Portugal: Essa pergunta é tão difícil de responder quanto a das minhas influências. Como já citei diversos anteriormente, vou citar mais três pessoas, que me impressionam e me comovem toda vez que as ouço.
A primeira é Maria Bethânia. Ela representa tudo que quero ser: doce e intensa, poética e autêntica, além da voz perfeita e que entra dentro da alma da gente. A segunda é Vanessa Moreno. É surreal o que ela faz com a voz. Eu passaria horas ouvindo seu canto. A terceira é Mirna Rubim. Como ela consegue passear pelo lírico, pelo popular, pelo sacro, e em tudo ser perfeita.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Cássia Portugal: Bastante inusitado e sem padrões. Às vezes vem tudo de uma vez na minha cabeça, letra e música, aos pedaços ou até mesmo inteira. Às vezes penso em um tema e sai uma frase que gosto. Escrevo e amadureço mais tarde. Às vezes me vem uma melodia do nada.
Pego o celular, gravo, dou um nome temporário só pra achar depois e quando posso a revejo. Na verdade, de vez em quando olho minhas anotações e gravações e descubro pedaços que já havia esquecido. Esses dias mesmo retomei versos antigos, completei e iniciei a melodia.
Gravei e preciso terminar agora. Como diz a canção: “é uma luz que chega de repente, com a rapidez de uma estrela cadente, e acende a mente e o coração”. Em parceria tenho apenas dois canções que recebi a melodia e coloquei a letra.
Normalmente eu mando a letra pra alguém e a pessoa coloca a melodia. E algumas vezes fazemos juntos, como acontecia sempre com Daniel Junior, e como aconteceu com Mirian Marques, ambos presencialmente.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Cássia Portugal: Daniel Junior foi o maior deles. Fizemos seis filhos juntos. Tenho três canções com Vanessa Pinheiro. Tenho dois com Leandro Fregonesi. Tenho dois em finalização com Danuza Borges.
E uma canção com cada um desses amores: Sandra Duailibe, Carlos Bivar, Mirna Rubim, Gilton Della Cella, Helena Pinheiro, Flavio Oliveira, Alberto Salgado, Marco Abdo, Tatá Souto. Isso músicas prontas, finalizadas. E ainda diversas em construção com outros maravilhosos artistas. Acho que uma dúzia, aproximadamente, prontas pra nascer.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Cássia Portugal: Puxa, essa é complexa. Prós: a autenticidade em todos os setores, você fazer exatamente o que ama e deseja fazer. Mas isso tem um preço, que poderia até ser visto como um contra: talvez seu público seja mais restrito. Outra coisa boa é que o processo de criação é fértil e pode ser explorado em todos os sentidos, não apenas o necessário ou vendável.
Cássia Portugal: O contra seria trabalhar duro e ter pouco retorno, já que tudo necessita recursos e nem sempre temos o suficiente pra realizar os projetos como merecem. Quando há alguém à frente, patrocinando e dirigindo, temos mais tempo para trabalhar somente a nossa arte.
Sendo independente, acabamos sendo artistas e também: produtores, assessores de imprensa, diretores etc. Às vezes, torna-se bem cansativo. Às vezes, é muito desafiador. Mas como também crescemos vencendo desafios, isso também pode ser visto como pró e como contra. É uma trama embolada. E verdadeiramente, é desafiador.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Cássia Portugal: Tenho estudado muito a respeito e, confesso, ainda me sinto muito amadora em termos de planejamento de carreira. Acho que sou muito intuitiva. Crio projetos. Procuro me unir a quem entende a essência deles. E com coragem e dedicação do meu tempo, alma e coração, engato a primeira e vou. Boa parte das vezes dá certo. Nem sempre.
Essa é uma atividade que gostaria de ter juntinho de mim: uma produção que tratasse do planejamento, das estratégias de ação, dos contatos e da assessoria e me liberasse pra criar, gravar e cantar.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Cássia Portugal: Eu já tive ao meu lado, profissionais que atuavam como empreendedores e isso fazia toda diferença. Hoje não tenho. Como sou muito emoção, ainda estou na busca de parceria para esse olhar, porque não é exatamente meu melhor atributo.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Cássia Portugal: A internet mais ajudou. Tudo bem que tenho dezenas de CDs e DVDs ainda em casa (risos). Hoje em dia é bem difícil alguém querer o material físico. As plataformas digitais para chegar a nos monetizar decentemente, necessita de zilhões de seguidores e visualizações. Neste ponto, prejudicou a venda de álbuns, limitando nossos ganhos.
Mas a visibilidade que tive através da internet é surreal. A gente consegue vender um show, lotar uma casa, pelas redes sociais. A gente consegue fazer o lançamento de um produto de forma bem leve e rápida. Nossa música chega ao mundo, e a gente também conhece o mundo. Acho genial e curto muito trabalhar nesses espaços. Mas que fique claro: não sustenta.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Cássia Portugal: O home estúdio simplifica nossa vida, pois em contraponto à dificuldade de venda do álbum físico, há a facilidade de se gravar música com qualidade e menor custo. Provavelmente, a perda é de não estar ligada a um selo, que poderia ajudar no lançamento e divulgação da obra.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Cássia Portugal: Somente ser eu mesma e será que isso me diferencia? (risos). Por algum tempo, quando eu era bem jovem, pensei que ter sucesso era ter fama. Hoje eu considero que sucesso é conseguir fazer uma obra de qualidade e que represente quem eu sou, e conseguir emocionar alguém com minha obra. Creio que, se fui divinamente dotada de algum dom, é para ser usado e trazido ao mundo.
E que esse dom veio do jeitinho que era pra ser, com todo meu romantismo, com toda minha paixão pela poesia, com todas as minhas buscas por caminhos diferentes e, sempre haverá quem entenda e sinta. Sei que há concorrência, mas ela não me define. O que me chega e eu entrego é que me define. E assim me sinto completa.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Cássia Portugal: A Música Popular Brasileira está reamadurecendo, ressuscitando em meio a muita comercialização. É uma loucura. Não vou dizer que há música boa e ruim, porque gosto não se discute. Sei que há pessoas que amam e se emocionam por obras que não me sensibilizam, e vice versa. Mas é fato que há uma distribuição exagerada do que os grandes produtores consideram música “que pega”, pois o retorno é gigante.
Durante muito tempo eu temi pela nossa música. Temi pela perda da poesia, das tradições, das culturas diversas. Desde que comecei a pesquisar cantores e compositores que não estão na grande mídia, tenho sentido alívio e felicidade. Há belíssimas obras, vozes encantadoras e instrumentistas virtuosos no oculto. A poesia está viva!
E gosto de lembrar que em tempos atrás, muita coisa popular e que “pegava” comercialmente, era a música que eu consumia, que me fazia sorrir e dançar. Gosto do pop e da balada que traduz o romantismo doce e tão apaixonado. Gosto das obras sofisticadas que mostram que há gênios nascendo e crescendo todos os dias.
Em Brasília – DF, a Escola de Choro Raphael Rabello revelou virtuosos em número bem considerável. Agora, se alguém regrediu? Esse julgamento não me cabe.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Cássia Portugal: Tem muita coisa interessante e divertida no decorrer da minha carreira musical, seu eu olhar hoje, mas que na época foi louco. O que acontece de vez em quando é que me torno “compositora em palco”.
É, eu esqueço as letras e naturalmente eu coloco alguma palavra ali pra dar continuidade a canção. É interessante quando alguém que conhece bem a letra depois vem me dizer: olha, aquela frase não é assim (risos). Eu agradeço e nem justifico. Não precisa. Deixo a pessoa seguir feliz porque me ajudou.
E tem cenas toscas, como quando eu usava mega hair (extensões feita nos cabelos) e algumas mechas caíram no palco em pleno show; ou quando fui fazer a estreia do álbum Minha História, que a faceta do meu dente da frente pulou, cinco minutos antes de eu entrar em cena e eu a colei de volta com superbonder porque o show não pode parar. E olha, foi um dos mais belos shows que já fiz na minha vida.
Nunca tive brigas nos meus grupos, graças à Deus e quanto havia alguma diferença de opiniões ou alguém se magoava, ou a gente sentava pra falar disso, ou a pessoa se afastava. Eu mesma já me afastei de um projeto pra manter uma relação afetuosa e respeitosa com todos os envolvidos. E hoje somos todos amigos de verdade.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Cássia Portugal: Triste: não poder fazer mais, devido ao tempo e recursos. Mas não penso muito nisso.
Feliz: TUDO! Cantar me renova. Compor me impulsiona. Escrever me emociona. Sentir a energia de quem ouve me fortalece. Ouvir alguém interpretar minha obra me liga ao Divino.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Cássia Portugal: Creio que sim. É saber colocar sua alma na música de forma fluida. É entender o desenho melódico, a pulsação e a emoção de cada compasso, nota, respiração. É quando a coisa acontece de forma natural.
Mas também creio na determinação e na busca do aprendizado. Conheço grandes interpretes que no começo não tinham métrica ou afinação. E conheço talentos definhados pela preguiça, pela frustração ou as vezes, pela falta de incentivo. E assim, cala-se o dom. É uma pena.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Cássia Portugal: Improvisação musical é a capacidade de dançar pelo tema, colocando sua identidade, sem perder o fio, sabendo pra onde retornar naturalmente.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Cássia Portugal: Com certeza existe improvisação de fato. Pode ser um dom natural ou adquirido através de estudo consciente. Mas tudo bem se a pessoa estudar um “improviso” ensaiado. Em gravações a gente vê muito isso.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Cássia Portugal: Não sei dizer sobre esses métodos de improvisão. Tenho o meu e se resume a estudar a harmonia e buscar a essência dela. Pra mim, estudar a canção é entender a sua mensagem, da letra e da melodia, absorvê-la e entender onde posso ou devo ir. E então, decidir se devo improvisar ou não.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Cássia Portugal: Não conheço contras pra se estudar harmonia musical. Mas como não tenho formação profunda nessa área, não me sinto à vontade de falar dos métodos. Estudar harmonia me fez entender as inúmeras possibilidades e não me perder nas “invenções”. Acho fundamental.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Cássia Portugal: Jamais paguei ou pagaria o jabá para tocar minhas músicas na rádio. Se tocar ótimo, se não, tá tudo bem. Minha arte eu entrego ao mundo pra quem desejar receber.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Cássia Portugal: Pergunto ao artista: Te faz feliz? Te faz pulsar e te move? Consegue se ver fazendo isso todos os dias da sua vida, mesmo que a fama não chegue? Então, vá! Segue teu caminho com muito estudo, com dedicação absurda, com entrega total e comprometimento consigo mesmo. Procure profissionais bons, que te façam crescer que te valorizem em cada ganho.
Procure ajuda quando não souber. Busque parceiros que se afinem com o que você crê. Fique atento às oportunidades. Escolha. Não tenha medo de dizer não. Não aceite que te aprisionem. Não se venda. Tenha humildade e respeito. Seja generoso com você e saiba onde já chegou. Não exija que o Universo te dê o que você ainda não tá pronto pra receber. Aprenda, aprenda… Todos os dias de sua vida. E se jogue e seja feliz.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Cássia Portugal: Sim. Festivais de música, torneios, programas de talentos etc. Há tanto talento incrível escondido no oculto. Agora, é preciso entender que participar de algo assim tem que valer por estar lá, pela oportunidade de visibilidade e bons contatos, pelo crescimento profissional. Se for só pensando no prêmio, há uma grande probabilidade de frustração. Porque com raríssimas exceções, esses eventos não te promovem a virar uma celebridade.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Cássia Portugal: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é o trabalho deles, né. Lamento por ver distorções. Mas, exatamente por isso, nem eu, nem ninguém sabe tudo que há.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Cássia Portugal: O SESC eu amo, e tive excelentes momentos com ele, através dos Festivais e do SESC Seresta. O SESI e o Itaú não sei como funcionam… Ainda. Pessoal, podem me chamar que eu vou! (risos).
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Cássia Portugal: Compor, gravar, cantar, fazer poesia, criar novas conexões, parcerias, sem medo de ser feliz!! Publicar o novo livro que tá pronto e iniciar outros. Colocar o que recebo no mundo. E tenho me dedicado a conhecer talentos, que trago pra tocar no meu cantinho que faço às quartas, na Rádio Canto de Lá (www.musicprime.com.br/radiocantodela). Não tenho prazos. Não tenho limites.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Cássia Portugal: [email protected] | www.instagram.com/cassia.portugal
| www.facebook.com/cassiaportugaloficial
Canal YouTube: www.youtube.com/CassiaPortugalAbdo
NÓS – Cássia Portugal & Daniel Júnior: https://www.youtube.com/watch?v=ljgz_fAdbL0
Sóis e Luas – Cássia Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=WLUJe40Mm8o
Verso de Improviso – Cassia Portugal · Gilton Della Cella: https://www.youtube.com/watch?v=dys5Yg2sp60
Playlist do álbum Minha História: https://www.youtube.com/watch?v=PMh9CeKxefo&list=OLAK5uy_kUx9xyHqWA-yA5D8lu-EPVip9w93FrHEY
Programa Refrão- 2012: https://youtu.be/-GxL2HmYPCc
Clipe Minha História de Amor pela Portela – 2013: https://youtu.be/JzY6lUs2gYA
The Voice Mais 2022: https://youtu.be/Besd0nsb0sc
4 Festival SESC Ingratidão Cássia Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=o2qvvOvn3Ts
Vermelho Carmim – Cássia Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=gtjGzb-72Us
ME PERMITA CONTAR – Cássia Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=hePgZcSXM9o
CARIOQUINHA DE FORA – Cássia Portugal e Daniel Júnior: https://www.youtube.com/watch?v=-Y8QPs3fn4k
Jogo Virado – Cássia Portugal e Bruna Tassy · Cássia Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=OVowC2ezseI
Que entrevista linda, Cássia!!! Que privilégio te ouvir cantar, ter tua luz brilhando no céu da arte de conteúdo desse país 👏🏻👏🏻👏🏻
Cássia, continue brilhando como sempre o fez, carvando suas próprias trilhas mas mantendo integras a alma e coração. Privilégio é ter meu nome em sua lista e contar com seu carinho.
Parabéns, seu interesse por à música Nordedtina é gratificante pra gente aqui do Nordeste, parabéns pelo projeto em João Pessoa, você é uma verdadeira musa da nossa música…