O grupo Cascabulho surgiu em 1995, em plena afirmação da cena musical pernambucana. Espelhando seu trabalho a partir da obra de Jackson do Pandeiro – o mestre paraibano do coco – o grupo criou sua própria identidade, uma fusão de elementos rurais, trazidos de seus descendentes, às características intrínsecas adquiridas na vida urbana. Desse encontro de influências e de culturas, se pode referenciar uma “Música Cascabulho”. Uma música marcante, forte, como a definição de seu próprio nome.
Em 1997 foi a revelação do Abril Pro Rock em 1997, participou do Free Jazz Festival deste mesmo ano e, ainda sem ter gravado um CD, viajaram para a Europa e Canadá.
Em 1998 lançaram, ainda com a primeira formação, o CD Fome Dá Dor de Cabeça. Com esse disco, ganharam o Prêmio Sharp de Melhor Álbum Regional e Melhor Canção Regional, com a música Quando Sonhei que era Santo. O CD Fome Dá Dor de Cabeça foi lançado em 2000 na Europa, pelo selo Piranha Records, e no Japão, pela Nikita Records.
Já com Kléber Magrão assumindo os vocais, foi gravado o segundo CD, É Caco de
Vidro Puro. O segundo CD mantém a fusão de ritmos tradicionais e elementos pop. Traz, em sua mistura, benditos, cavalo-marinho, boi, maracatu, baião, cocos, música de jurema (espécie de candomblé com elementos indígenas).
Conta ainda com as participações especiais de Tom Zé, Fred 04, Marcos Suzano e Nana Vasconcelos. Em 2008, o grupo lança Brincando de Coisa Séria, com participações especiais como: Zeca Baleiro, Júnior Tostoi e Carlos Malta.
O manguebeat ainda fervilhava quando, em 1997, surgiu o Cascabulho, com uma proposta de forró. No ano seguinte a banda lançou o álbum de estreia, Fome Dá Dor de Cabeça, que deu ao Cascabulho dois Prêmios Sharp, então o mais importante da música brasileira. Logo, o grupo fazia a primeira viagem ao exterior para se apresentar em Festivais no Canadá.
Seguindo-se a isso, vieram shows nos Estados Unidos, Alemanha (Womex – 1999) e uma indicação ao Grammy Latino, em 2004. Também tiveram seu primeiro disco lançado no Japão e na Europa, consolidando assim uma trajetória internacional que chega até os dias atuais.
Em 2021, o Cascabulho apresenta o quinto álbum, Fogo na Pele, no qual ele mais se aproxima de um Forró que cada vez mais existe apenas nas recordações daqueles que o viveram até os anos 70. Com uma produção simples e elegante de Breno César Cunha, um raro exemplo de forró vintage.
As participações são ilustres, talentosas, e têm tudo a ver com o Cascabulho: Josildo Sá (em Noite de Forrobodó), que abre o disco, Mestre Galo Preto (Em Tempo de Coco) e Cláudio Rabeca (em Pela Trilha Sagrada).
Em todas as dez faixas, é curioso como o Cascabulho consegue a sonoridade dos forrozeiros dos anos 60. Neste novo álbum, todas as músicas são autorais e balançadas mais que suficientes para os calçados dos dançarinos levantarem poeira, um Forró que, como diz Gilberto Gil na canção “De Onde Vem o Baião”, vem debaixo do barro do chão. Com sua verve criativa e vigorosa, o Cascabulho segue esquentando nossa música. É Fogo na Pele!
Segue abaixo entrevista exclusiva com o grupo Cascabulho para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 31.07.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a data de nascimento e cidade natal dos músicos da banda?
Cascabulho: Jorge Martins (percussão e vocal) nasceu no dia 05/03/1965 em Recife – PE. Kléber Magrão (voz) nasceu no dia 16/06/1967 em Recife – PE. Léo Oroska (percussão e vocal) nasceu no dia 23/07/1981 Recife – PE. Rapha Groove (baixo) nasceu no dia 04/01/1981 em Olinda – PE. Matheus Vilela (violão e guitarra) nasceu no dia 19/10/2000 em Recife – PE.
02) RM: Fale do primeiro contato com a música dos músicos da banda.
Cascabulho: O primeiro contato com a música foi de forma diversa e muito pessoal. Na maioria dos integrantes aconteceu na adolescência e amadureceu até se tornar um profissional da música. Seguindo um caminho natural de descobertas e aprimoramento.
03) RM: Qual a formação musical e/ou acadêmica fora da área musical dos músicos da banda?
Cascabulho: Todos os integrantes da banda têm formação musical. Cada um com sua maneira de se apropriar do conhecimento. Sendo acadêmico ou de forma autodidata. Exceto o Matheus Vilela, que além de músico é Arqueólogo.
04) RM: Quais as influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância dos músicos da banda?
Cascabulho: Todas as nossas influências são importantes em nossa formação. Mantemos um leque diverso, plural e significativo para compor nossa música. Indo do elemento regional nordestino aos elementos do mundo contemporâneo. De Jackson do Pandeiro ao Jimi Hendrix, De Dominguinhos ao mundo POP. Cada integrante vem com suas referências, que são naturalmente incorporadas em nossa música.
05) RM: Quando, como e onde você começou a banda?
Cascabulho: O CASCABULHO teve início no ano de 1995, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife – Pernambuco.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Cascabulho: O CASCABULHO tem cinco CDs autorais lançados, participações em diversas coletâneas e discos lançados na Europa e Japão. Em 1998 – Fome dá dor de cabeça. Em 2004 – É caco de vidro puro. Em 2008 – Brincando de coisa séria. Em 2014 – O dia em que o samba perdeu pra feijoada. Em 2021 – Fogo na Pele.
07) RM: Como você define seu estilo musical da banda?
Cascabulho: O estilo musical da banda é uma música CASCABULHO. Onde todas as referências confluem para uma harmonia natural e um conteúdo verdadeiro. Prezando por uma qualidade musical de forma natural e antenada com o mundo…
08) RM: Kléber Magrão você estudou técnica vocal?
Cascabulho: Sim. Estudei…
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Cascabulho: O estudo da técnica vocal é de suma importância para termos uma performance tranquila e um desenvolvimento vocal sem maiores danos para nossa saúde vocal. Tudo isso sem nos deixar presos ao caráter técnico e que a nossa expressão seja a mais verdadeira e sublime.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Cascabulho: Admiramos muitas e muitos nomes da música brasileira e mundial. De diferentes estilos, atitudes e gêneros. Mas para citar um, vou citar o mestre Jackson do Pandeiro. O rei do Ritmo!
11) RM: Como é seu processo de compor?
Cascabulho: Nosso processo de composição é extremamente livre. As vezes partimos de uma letra pronta, as vezes de uma melodia e harmonia ou de uma composição pronta de algum integrante. Nesse caso trabalhamos o arranjo de forma coletiva…
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Cascabulho: Todos os integrantes da banda são possíveis parceiros. Uns mais outros menos. No nosso álbum atual trabalhamos muito as parcerias com o Breno César Cunha, que foi o nosso produtor e acordeonista no álbum.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Cascabulho: Os contra são todas as etapas do trabalho serem realizadas pela banda. Tendo que estar presente no artístico e em todas as questões executivas. Os prós são os mais importantes e desafiadores porque assumimos com isso o controle total do nosso trabalho. Dentro e fora dos palcos…
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Cascabulho: Procuramos seguir as estratégias que estão funcionando com o aprendizado e interação com as novas gerações. Saber trabalhar com as possibilidades das redes sociais e seus mecanismos é uma delas. Porém, sem perder a profundidade do nosso conteúdo e a nossa verdade!
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Cascabulho: Procuramos sempre atentar para a banda como uma empresa. Se apropriando de estratégias de marketing e tendo sempre orçamento previamente definido para as ações que a banda pode sempre realizar. Contratação da equipe técnica, figurino, divulgação, etc…
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Cascabulho: A internet ajuda em podermos alcançar um número maior de pessoas para conhecer o nosso trabalho, para conhecer nossa estética e o nosso fazer musical. Porém, buscamos sempre ter um conteúdo mais significativo e aprofundado do que normalmente os modismos propagam pelas redes sociais. Sendo assim, vamos construindo solidamente nossa projeção e nossa arte.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Cascabulho: Geralmente usamos o nosso Home Estúdio para o trabalho de Pré -Produção. Nos facilita por termos uma tranquilidade para produzirmos com calma, atenção e sem preocupações com o correr do tempo. Depois trabalhamos o material no estúdio que realmente faremos a finalização do processo. Edições, Mix, etc…
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que a banda faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Cascabulho: Pensamos que primordialmente é preciso trabalhar com a verdade e um conteúdo sério e aprofundado. Somos uma banda de música, que respiramos música e pensamos música em todas as horas do dia. Posteriormente pensamos nas outras questões. Mas a verdade do nosso trabalho é o que nos fez chegar aos trinta anos de carreira, sem estarmos atrelados a modismos. Porque o LIKE é líquido como o picolé que derrete no palito!
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Cascabulho: Consideramos o processo musical dinâmico, mas preferimos seguir o caminho dos grandes MESTRES. Muita coisa boa acontece na renovação da música brasileira, mas também muita coisa passageira e com interesses puramente mercadológicos acontecem cotidianamente. Preferimos não citar nomes e seguir o caminho coerente que aprendemos com os grandes nomes da nossa música…
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Cascabulho: Um pouco de todas essas situações citadas na pergunta acontece em quem trilha o caminho para viver de música no Brasil. No nosso caso, nada que tenha impedido de chegarmos aos trinta anos de carreira de forma íntegra, criativa e pulsante…
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Cascabulho: Ficamos felizes por fazermos música com a nossa verdade, com o nosso conteúdo, com respeito aos nossos MESTRES e ao nosso público. Ficamos um pouco desapontados por modelos mercadológicos que são propagados com verdades absolutas…
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Cascabulho: Dom musical é a facilidade que trazemos para o aprendizado desde criança. No mais, temos a certeza de que tudo depende de muito foco e trabalho.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Cascabulho: Improvisação é sair da zona de conforto e buscar o caminho onde uma nova música se apresenta. Seguindo novas possibilidades para além de questões puramente técnicas…
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Cascabulho: Claro que existe princípios técnicos estudados. Porém, isso deve estar naturalmente internalizado para que a música possa fluir e se apresentar com verdade e sentimentos…
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Cascabulho: Esses fatores técnicos dependem de como você se apropria e desenvolve em sua música. Não os vemos como uma receita que deva ser cegamente seguida. A própria evolução do fazer música já mostrou isso com a quebra de diversos paradigmas…
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Cascabulho: Como dissemos na resposta anterior, pensamos da mesma maneira na questão harmônica.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Cascabulho: Com os critérios mercadológicos previamente estabelecidos, talvez independente do pagamento ou não do “jabá” essa execução em massa seja inexistente. Porém, com as novas possibilidades tecnológicas isso possa ser trabalhado por caminhos alternativos, etc…
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Cascabulho: Que seja você. Sua verdade, sua música e coragem para mostrar ao mundo. Não seja moda, não seja cópia de algo que você não é!
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Cascabulho: Acreditamos que sim. Desde que fundamentado em princípios plurais e que as curadorias não vejam só o que o mercado quer que seja visto…
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Cascabulho: Muito restrita para uma estética puramente mercadológica. Com raríssimas exceções…
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Cascabulho: Vemos como de fundamental importância para a música brasileira. Pois, proporcionam um leque bem amplo da música produzida em todo o Brasil.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Cascabulho: No momento estamos circulando com o show do álbum atual e nos preparando para as comemorações dos 30 anos de carreira da banda…
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Cascabulho: (81) 99638.3141 – [email protected]
Instagram: @laymecomunicacao
Cascabulho na Rede:
Instagram: https://www.instagram.com/ocascabulho
Facebook: https://www.facebook.com/bandacascabulho
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCLCpGrds7Jv144I_GGGPTVw
Cascabulho LAB Recife 2021 – Edital Joel Datz – https://www.youtube.com/watch?v=s_TLlUbcVxI
Cascabulho LAB Olinda (Lei Aldir Blanc). Premio Conecta Arte da Prefeitura Municipal de Olinda – https://www.youtube.com/watch?v=sQqI1urWMzI
www.palcomp3.com.br/cascabulho
Gostei da abordagem que cita a história do artista e também cita como tem sido o cenário musical na atualidade. Sempre trazendo conhecimento para o público. Isso é muito bom!