Carminha Guerra é mineira de Belo Horizonte. Graduou-se na Escola de Música da UFMG; participou do curso de pós-graduação da Universidade Holística da Paz – UNIPAZ.
É criadora do Selo Karmim, que surgiu com o objetivo de valorizar, resgatar e divulgar a arte musical e seus diversos intérpretes. “O Selo Karmim nasceu de um desejo de contribuir para o bem-estar do mundo com uma proposta de valorizar os nossos músicos e a nossa arte”, afirma Carminha.
Selo Karmim em agosto de 2022 celebrou seus 35 anos de música, poesia e arte. Mais 60 títulos lançados e diversos festivais de música marcam a existência do Selo desde a música instrumental à poesia, tanto para o público adulto quanto infantil.
O Selo Karmim produz festivais que valorizam a cultura brasileira e a mineira e leva, de forma democrática, música, arte e poesia para todas as pessoas. Carminha Guerra, produtora cultural, idealizadora do Selo Karmim, conta um pouco sobre essa história: “O Selo Karmim começou como uma produtora fonográfica com o objetivo de gravar, pois havia muitos músicos mineiros que não tinham registros. Era muito carente essa questão da gravação aqui em Minas Gerais. A primeira gravação do Selo Karmim foi “A Floresta do Amazonas”, última obra escrita por Villa-Lobos, um poema para orquestra, coro masculino e solo da Maria Lúcia Godoy, com a regência do maestro Henrique Morelenbaum”.
A partir daí vários outros projetos foram surgindo, como a gravação da pianista Tânia Cançado, “Tributo a Ernesto Nazareth”, que foi indicado ao Prêmio SHARP; o lançamento do violonista Gilvan de Oliveira, com o LP “Cordas e Corações”; o LP “Vinicius nas Cordas de Gilvan, os CDs: Retratos, Sol e Traquina; a série infantil “Cantos e Encantos”, “Lua de Papel”, “Sementes do Amanhã” Coral infantil Cariúnas; e “Cirandas”. Marco Antônio Guimarães, um resgate do folclore brasileiro, com a releitura do Marco Antônio Guimarães; as poesias gravadas com os poetas Thiago de Mello, Helena Jobim e Adélia Prado; e gravações de grandes mestres, como: Rufo Herrera, Fernando Araújo, Cleber Alves, entre outros.
Segundo a musicista e produtora artística e cultural Carminha Guerra, foram vários os momentos que marcaram esses 35 anos, mas pontua alguns que vem a sua memória, o lançamento do CD “O Tom de Adélia Prado”, “Poesia e Música ao vivo com Adélia Prado” e a trilha musical do Mauro Rodrigues, realizado em várias cidades do Brasil. “Foi profunda a emoção de fazer o recital com a poeta Adélia Prado, no teatro SESI Minas, onde a gente entrou em estado de choque ao ver o Teatro de 750 lugares lotado. Foi um momento gratificante demais perceber como as pessoas têm sede do belo. Foi muito emocionante sentir a receptividade das pessoas de ouvir poesia”.
Carminha Guerra também relembra outro momento que marcou a história do Selo Karmim: “o show de lançamento do CD “Violões do Horizonte” com os mestres Gilvan de Oliveira, Juarez Moreira, Geraldo Viana, Weber Lopes, Beto Lopes, Caxi Rajão. Foi maravilhoso, quatro dias de teatro lotados”.
Queda de venda de CDs e a pandemia. Com a digitalização de tudo, a indústria fonográfica teve uma queda e, em vez dos CDs, surgiram festivais com grandes mestres da música brasileira: “Festival Mozart; Festival 200 anos de Chopin; Villa-Lobos e outros mestres”. E, na pandemia, o Selo Karmim não parou. Foram mais de 20 vídeos gravados para o canal do YouTube do último Festival Villa-Lobos, em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna e em homenagem ao maestro, pelos seus 135 anos”.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Carminha Guerra para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 12.10.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Carminha Guerra: Nasci no dia 28 de junho de 1950 em Belo Horizonte – MG. Registrada como Maria do Carmo Guerra Simões.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Carminha Guerra: Tive meu contato com a música por meio das aulas de piano com a encantadora professora Ana Lúcia de Paula Xavier, em Belo Horizonte – MG.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica?
Carminha Guerra: Graduei em Música na Escola de Música da UFMG – Universidade Federal de Belo Horizonte – MG, com a competente professora Vera Nardele. Frequentei o curso de Psicologia da UFMG, entre 1978 e 1981. Participei do curso de pós-graduação da Universidade Holística da Paz – UNIPAZ.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente.
Carminha Guerra: A grande “escola” foram os Festivais de Inverno em Ouro Preto – MG, nas décadas de 60/70. Não só na música, mas, nas artes em geral. Grandes mestres, oficinas, encontros, experiências fantásticas com o melhor da expressão artística da época. Posteriormente, a busca pelo belo por meio de viagens, pesquisas musicais, concertos, leituras e filmes.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Carminha Guerra: Como aluna, bem jovem! Com o passar do tempo, exatamente, há 35 anos (1987) criei a produtora cultural KARMIM Promoções Ltda – O selo do compromisso. O KARMIM Promoções começou como uma produtora fonográfica com o compromisso de registrar e valorizar a nossa música e os nossos músicos, oferecendo a oportunidade de mostrar a sua criação artística.
Também grandes eventos, como festivais, encontros, turnês de lançamento dos CDs produzidos com apresentações em várias cidades. “Minas canta Villa – Lobos” com a cantora Maria Lucia Godoy; Recital de poesia “O Tom de Adélia Prado” com a poeta, acompanhada com a trilha musical do compositor Mauro Rodrigues, com violão, cello, oboé e flauta; o show muito marcante “Violões do Horizonte”, reunindo os mestres do violão, em homenagem a Toninho Horta (também no palco) acompanhados por piano, baixo, bateria e percussão, mostrando a música mineira da década de 90. Festivais “200 anos de Chopin” (5 dias de apresentações musicais e palestras, “Festival Mozart”, “Festival Liszt”, “Festival Villa – Lobos”, entre outros.
06) RM: Quantos CDs lançados pelo Selo KARMIM?
Carminha Guerra: Foram aproximadamente 60 títulos. O Selo KARMIM produziu vários CDs, entre outros: “A Floresta do Amazonas”, de Heitor Villa-Lobos, com a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, regida pelo maestro Henrique Morelembaum e solo de Maria Lúcia Godoy; “Cartão de Visitas”, com o pianista Arthur Moreira Lima; “Tributo a Ernesto Nazareth”, com a pianista Tânia Mara Lopes Cançado; “Bandoneon”, com Rufo Herrera; “Violões do Horizonte”, com Toninho Horta, Gilvan de Oliveira, Juarez Moreira, Beto Lopes, Weber Lopes, Geraldo Vianna, Caxi Rajão; “Balada para um Loco”, com Quinteto Tempos, Rufo Herrera e a solista Sylvia Klein; “Latinidade”, com a Orquestra Ouro Preto e solo de bandoneon com Rufo Herrera. Este CD foi indicado ao prêmio Grammy Latino.
O selo KARMIM produziu ainda CDs de poesia: “O tom de Adélia Prado” e “O sempre Amor”, ambos com a interpretação da própria poeta e com trilha sonora de Mauro Rodrigues; “Areia do Tempo”, com poemas de Helena Jobim e música de Tom Jobim; “A criação do mundo”, com poemas de Amadeus Thiago de Mello e música de Gaudêncio Thiago de Mello.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Carminha Guerra: Música é emoção. O meu estilo é aquele que emociona.
08) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Carminha Guerra: Nossa Muitas. No momento, Mônica Salmaso, Marisa Monte. São tantos! O Brasil tem uma riqueza musical muito grande.
09) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a cada dia o Selo KARMIM?
Carminha Guerra: Nosso objetivo é sempre desenvolver projetos valorizando os mestres da música, da poesia. Acabamos de produzir 20 vídeos sobre Villa-Lobos, pelos 135 anos de nascimento e pelos 100 anos da Semana da Arte Moderna. Encontra se no youtube @selokarmim Temos o projeto “A Arte da Palavra”, uma homenagem a Clarice Lispector, que também está disponível no youtube @selokarmim, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Moraes, entre outros.
10) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da carreira dos músicos atualmente?
Carminha Guerra: Sem dúvida, a internet ajuda muito a carreira dos músicos, não tem barreiras, mas a energia do público e os aplausos contribuem para o processo de criação do artista. A troca do dar e receber é uma experiência misteriosa, e faz milagres.
11) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Carminha Guerra: É uma ferramenta incrível, mas com o risco do excesso da tecnologia e a falta da verdadeira essência musical: a emoção.
12) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar no mercado?
Carminha Guerra: Dizem os críticos que sobrevivo na contramão …no meu caso, acredito que é a boa qualidade técnica, musical e artística dos músicos e da música que selecionamos. Como disse bem o crítico José Domingues Rafaelli: “A gravadora KARMIM sempre nos surpreendeu agradavelmente com seus lançamentos muito bem idealizados e melhor produzidos. Carminha Guerra, sua responsável, há anos desenvolve um trabalho que busca unicamente a qualidade artística para oferecer o melhor da música, inteiramente divorciado dos modismos e passando ao largo na busca desenfreada da parada de sucesso fácil, como dita a regra do mercado operado para a grande maioria das gravadoras nacionais e multinacionais”.
13) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro.
Carminha Guerra: A Criação musical é uma manifestação da educação e do momento social-político que estamos respirando e vivenciando. Infelizmente em decadência.
14) RM: Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas. Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Carminha Guerra: Os que têm obras consistentes continuam no cenário musical; os outros são de passagem.
15) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram nesses 35 anos de Selo KARMIM?
Carminha Guerra: Muitasssssss. Daria um livro
16) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste nesse mercado de produção musical?
Carminha Guerra: Feliz com a boa manifestação artística e triste com a falha na educação artística.
17) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Carminha Guerra: Sim, talento musical existe e não tem explicação… é um mistério da vida, mas se desenvolve com dedicação e estudo.
18) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Carminha Guerra: Sinta amor pelo que faz! Sinta desejo de desenvolver seu talento. Ouça os mestres! Tenha perseverança!
19) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Carminha Guerra: Sim. É uma grande oportunidade para o conhecer os novos talentos.
20) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Carminha Guerra: Ainda é carente a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira.
21) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Carminha Guerra: Sensacional, espaços são sempre bem-vindos e necessários para a difusão da arte, da dança, da cultura e da música.
22) RM: Quais os seus projetos futuros?
Carminha Guerra: Desenvolver o projeto “Tributo a Piazzolla & Rufo Herrera” e o projeto “A Arte da Palavra”.
22) RM: Quais os seus contatos?
Carminha Guerra: Studium Eficaz Comunicação (31) 999680652 – (31) 97150-7415
Canal do Selo Karmim: https://www.youtube.com/c/SeloKarmim
PALESTRA – 100 anos da ARTE MODERNA MINEIRIDADE – Prof. Maria de Lourdes Gouveia: https://www.youtube.com/watch?v=DvQG9UE4ud4
O Charme do Violão Mineiro – Entrevista 08 – Carminha Guerra: https://www.youtube.com/watch?v=HbFzcifm784