More Carmen Queiroz »"/>More Carmen Queiroz »" /> Carmen Queiroz - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Carmen Queiroz

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A infância e adolescência foram marcadas pelas mudanças de cidade. O pai (Nicanor Queiroz) – um fluminense de Barra Mansa aficionado por música – era motorista de caminhão da Andrade Gutierrez. A cada nova obra, uma nova cidade. De sua terra natal, Cornélio Procópio, no norte do Paraná, Carmen Queiroz sai com pouco mais de três anos de idade para a cidade mineira Santa Rita do Sapucaí, no Vale do Silício, de onde se muda para Porangaba, cidade paulista localizada entre Tatuí e Botucatu.

Porangaba é minha referência. Foi onde comecei a escola primária, o ginásio, o colégio. É uma cidade pequenininha. Morávamos em um acampamento, em casas de madeira. A cidade tinha uma referência diferente da gente: éramos o pessoal da Companhia”. Como em toda cidade do interior, a música passeava pelas ruas e pelas praças. Por estas, a banda de Lázaro Nogueira da Silva – maestro Pingo -, amigo da família e incentivador das serestas locais que a caçula Carmen participava.

“Tinha uma população que adorava fazer serenatas. Meu pai sempre gostou muito de música. Ele reunia muita gente em casa, não tocava nada, mas insistia para que os filhos aprendessem alguma coisa. Comprou violão pra uma, acordeão pra outra, ninguém aprendeu nada, mas era motivo suficiente para a gente se reunir e cantar, que era o que gente gostava de fato”.

Nesses encontros sambas antigos eram cantados pelos pais e peças de Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira interpretadas pelas irmãs mais velhas, como a Lázara e a Neusa, assídua participante de festivais locais. Arriscando em um desses, a tímida Carmen conquistou o Prêmio Revelação com a música “Negue”, artigo de sucesso de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos na voz volumosa de Nelson Gonçalves. “A vontade de cantar existia, mas o pavor do público e a timidez eram maiores.”

A música sem medo A música começa a despertar a menina Carmen a partir de 1964, início dos festivais de música popular. Mesmo com essas novas ondas e a Jovem Guarda (“Tinha aquela despreocupação da juventude. Tudo era Jovem Guarda. Martelava-se muito e não tínhamos escolha. E nem estávamos preocupados com isso”, confessa), zelava pelas melodias e harmonias das músicas das serestas e daquelas cantadas por suas irmãs.

A paixão pela música amadurece quando a estudante muda de Porangaba – SP para Sorocaba – SP, onde foi cursar Letras, em 1976. No fim desse ano, seu pai morre. A sobrevivência se dá por meio do emprego na Secretaria da Fazenda e das aulas de português e inglês que ministrava para alunos do 2º grau da rede privada. “Era uma opção, coisa de garota, eu sabia exatamente o que eu queria: ser professora. Fiz faculdade e dava aulas, não pensava em seguir carreira. Gostava de cantar, mas a timidez tinha seu espaço muito bem marcado. Mas para ser professora, não se pode contar com a timidez. Eu, dava aulas para alunos do curso noturno, a maioria adultos”.

A caminho da São Paulo. Sorocaba é determinante na carreira de Carmen. Ali inicia primeiro como coralista e depois, estimulada pelo maestro Fábio Luz, enfrenta sua timidez em bares e boates acompanhada por seu professor de violão, Paulo. No repertório, músicas daqueles anos 70, dos jovens Luiz Melodia e Djavan, e de Vinicius de Moraes.

Em 1982, buscando fazer da música profissão, Carmen se muda para São Paulo. Estreia no Casinha Branca, bar que ficava na rua Humaitá – Bela Vista em São Paulo e, pouco tempo depois, começa a cantar em outra casa, localizada no Largo do Arouche. “Havia uma floricultura ali no Largo do Arouche. Eu cantava quinta e sexta, até uma da manhã. Toda noite sempre tinha alguém que me dava uma rosa. A noite em que isso não acontecia, parecia que eu não havia cantado”. Ainda no começo dos anos 80, Carmen conhece Roberto Lapiccirela, um amante da música brasileira que havia comprado um bar no bairro de Pinheiros, o Bom Motivo. “Nesse bar mudei minha concepção de repertório. O Roberto inventava umas coisas. A cada fim de semana, focávamos um compositor brasileiro. Passávamos a semana inteira aprendendo músicas desse artista. Cantávamos Herivelto Martins, Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Noel Rosa etc., enfim, músicas dos anos 30 e 40, ou fazíamos um tema, sempre buscando a música mais antiga. Boa parte do meu repertório é formado de música antiga. E vem dessa época”.

No fim dos anos 80, Carmen Queiroz assumiu o posto da vocalista Carminha, uma das integrantes do Bando Flor do Mato – importante conjunto divulgador do folclore. Nessa época, em 1989, gravou seu primeiro disco-solo independente, “Flor da paz”. O álbum contou com o músico Vidal França (falecido no dia 12 de fevereiro 2022), que revelou a inédita faixa-título e arranjou o repertório formado de sambas como “Sala de recepção” (Cartola), “Tom maior” (Martinho da Vila) e “Antonico” (Ismael Silva), folclore (“Beira mar”) e exemplares de João Bá (“O menino e o mar”), André Filho (“O meu amor tem”), Taiguara (“Teu sonho não acabou”) e Geraldo Vandré e Carlos Lyra (“Quem quiser encontrar o amor”).

“A gente percebe uma certa imaturidade na forma de compor o repertório, mas não renego. Hoje o meu perfil se consolidou no samba. Foi o primeiro disco. Valeu. Ele me abriu alguns outros espaços, uma espécie de cartão de visitas profissional”, confessa.

Voltaria aos estúdios em 1995, como integrante do Bando da Rua, para gravar duas faixas (“Evocação nº 1”, de Nelson Ferreira; e “Eu dei”, de Ary Barroso) do independente Antologia musical popular brasileira – As marchinhas de carnaval – vol. 1 (Bom Motivo). Além de Carmen, o grupo era formado por Maria Martha, Roberta Valente, Márcia Torres, Roberto Lapiccirella, João Lúcio, Josias Damasceno e Ney Mesquita.

Leite Preto. Três anos depois, assina com a gravadora CPC-UMES para registrar seu segundo álbum de carreira. Leite preto, lançado em 2000, arranjado e dirigido por Edmilson Capelupi, mostrou um repertório mais consistente que o disco de estreia. Além da faixa-título, composta especialmente para a cantora, por Roberto de Oliveira e Benê Zambonetti, figuram dentre outras, “De volta ao samba” (Chico Buarque), Carvão e giz (Luiz Carlos da Vila e Paulo César Feital), Emoção sincera (Sombra), Canto do meu viver (Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho) e Amante vadio (Nelson Sargento e Zé Luiz).

“Eu queria muito um segundo trabalho, mas uma coisa mais assentada. A preferência era tentar uma gravadora. Para gravar esse CD com a UMES, a conversação durou quase dois anos. Eu vinha participando de shows no teatro da UMES e, depois de um deles, ficou essa promessa, vamos fazer, vamos gravar. Eu fui levando até que finalmente gravamos”.

Do meu jeito voltou à gravação solo, alçando notoriedade e reconhecimento como mais uma grande intérprete do cenário musical brasileiro com o tão festejado cd Do meu jeito (produção independente), onde privilegia, além dos autores consagrados, outros menos conhecidos do grande público, alternando canções inéditas e regravações. O repertório, que também conta com arranjos de Edmilson Capelupi, um dos grandes violonistas brasileiro, vem assinado por Chico Buarque, Nei Lopes, Paulo César Pinheiro, Cláudio Jorge, Luiz Carlos da Vila, Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, Silvio Modesto, Cabana e Norival Reis, Jacob do Bandolim, Roque Ferreira, Geraldo Pereira, Benê Zambonetti, Maurílio de Oliveira e Edvaldo Galdino (estes dois últimos componentes do já conhecido núcleo de compositores paulistas A Comunidade do Samba da Vela).

Segue entrevista exclusiva com Carmen Queiroz para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 26.10.2022:

01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Carmen Queiroz: Eu nasci no dia 04 de abril de 1955 em Cornélio Procópio, no Paraná. no norte do Paraná, sai com pouco mais de três anos de idade para a cidade mineira Santa Rita do Sapucaí, no Vale do Silício e mudei para Porangaba, cidade paulista que é minha referência e que fica localizada entre Tatuí e Botucatu.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Carmen Queiroz: A música sempre esteve presente na minha vida, primeiro, quero crer, pela paixão de minha mãe (Eugênia Martins Queiroz) pela música, pois ela sempre gostou de cantar e até tocava bandolim, e depois pelas minhas irmãs (Lázara e Neusa) que herdaram essa paixão. Em nossa casa sempre nos reuníamos para cantar. Em minha casa todos gostam de música e sempre ouviam muita música no rádio, reuniões musicais com amigos, festas. E depois curti a Jovem Guarda, música americana. Mas, ficaram mesmo os sambas-canção, as músicas brasileiras românticas, de letras bem elaboradas.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Carmen Queiroz: Sou formada em Letras, fui professora em escola de segundo grau e funcionária pública na carreira de Agente de Fiscalização. No campo da música sempre estudei canto com professores particulares.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Carmen Queiroz: Minhas influências musicais sempre foram as grandes divas da nossa música, Dalva de Oliveira, Carmen Miranda, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, por terem sido referências de minhas irmãs mais velhas (Lázara e Neusa) e por vê-las cantado em uma época em que pesquisei muito sobre a MPB quando também aprendi muito sobre nossos grandes compositores das décadas de 40 a 60 e outras cantoras mais contemporâneas como Clara Nunes, Beth Carvalho, Gal Costa, Maria Bethânia.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Carmen Queiroz: Minha estreia enfrentando público ou em palco se deu em Sorocaba – SP, cantando em coral, em bares noturnos. Depois resolvi buscar expandir meus horizontes musicais me mudando para São Paulo.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Carmen Queiroz: Hoje conto com cinco álbuns solos: “Flor da Paz” em1989 na época em que eu iniciava minha participação no grupo musical regional “Bando Flor do Mato”. Este disco mostra, assim, uma influência do estilo do grupo e o meu próprio que já começava a se delinear. Destaco a participação maravilhosa de Oswaldinho do Acordeon, cuja sensibilidade musical deu uma alma toda especial à canção “Flor da Paz”.

Depois vieram algumas participações como à registrada no CD – “Antologia Musical Brasileira – Marchinhas de Carnaval”, em 1996, onde gravei: “Eu dei” de Ary Barroso“Evocação nº 1” de Nelson Ferreira.

“Leite Preto” em 2000, um álbum em que traço definitivamente meu caminho musical: Sambas bem compostos, melodias feitas para ouvidos mais exigentes, sem deixar de ser popular. Destaque fica por conta dos arranjos de Edmilson Capelupi, um dos nossos grandes violões 7 cordas. Acredito que ele tenha somado muito com sua dedicação musical e conseguimos um casamento perfeito.

“Do Meu Jeito” em 2004, com canções, sambas cadenciados e sem deixar de registrar uma peça do regional, pois faço questão de não deixar para trás nenhuma das raízes que me influenciaram. Edmilson Capelupi fez os arranjos do álbum. 

“Carmen canta Cássio Junqueira” (2010). “Enquanto eu fizer canção” (2011), e outras participações em álbuns de outros artistas.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Carmen Queiroz: Eu me considero musicalmente eclética, mas o samba e a canção me definem melhor como estilo.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Carmen Queiroz: Sim e continuo estudando e me exercitando. Não se pode relaxar com as cordas vocais.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Carmen Queiroz: O exercício da técnica vocal tem o mesmo peso que o treinamento para os atletas. Não dá para parar de praticar exercícios sob pena de perder a vitalidade. Cuido da minha voz não fumando, ou bebendo gelado, tomando bastante água, fazendo exercícios de respiração etc…

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Carmen Queiroz: Já mencionei as divas que admiro e posso acrescentar os cantores que gosto muito como Luiz Melodia, Nelson Gonçalves, Ney Matogrosso, Djavan, Gilberto Gil. 

11) RM: Como é seu processo de compor?

Carmen Queiroz: É algo que gostaria de aprender. Chego lá, quem sabe um dia.

12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Carmen Queiroz: É difícil falar sobre a carreira “dependente”, já que a minha experiência voltada para o modo foi muito pequena. Aconteceu quando tive a oportunidade de gravar meu 2° CD Leite Preto em parceria com o selo Umes. Não houve um retorno significativo, talvez por ser uma gravadora pequena. O que posso afirmar é que a carreira independente se tornou uma realidade quase que imposta. Hoje o artista consegue com mais facilidade e com custos talvez menores, fazer seu trabalho sem precisar da retaguarda de um selo. É trabalhoso, mas acredito, compensador, pois você cresce muito com essa vivência.

13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Carmen Queiroz: Fora do palco, eu busco me inscrever em projetos com fomentos, me utilizo das mídias sociais para manter contato com público e divulgar meu trabalho e imagem. Sempre faço parcerias com produtores para vender meus shows.

14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Carmen Queiroz: Eu acho que esta pergunta se responde na questão anterior, e eu acrescentaria que procuro manter contato contínuo com meu público, virtual e pessoalmente sempre que possível.

15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Carmen Queiroz: A internet é uma ferramenta que ajuda muito na divulgação do artista e isso é ponto pacífico. Mas por vezes pode ser um campo minado, pois a sua exposição não depende só da sua escolha. O público está livre para postar sua imagem em qualquer situação que às vezes podem ou não lhe favorecer, principalmente no que diz respeito às suas performances. O artista tem que estar sempre preparado para dar o seu melhor. 

16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Carmen Queiroz: A evolução da tecnologia para gravação desmitificou bastante a dificuldade de se obter o registro do seu trabalho. Isso é bom. Por outro lado, o home estúdio contribuiu também para mostra de trabalhos que ficam muito aquém do esmero que se precisa ter para apresentá-los. É preciso continuar tendo cuidado e responsabilidade para se extrair o melhor para o público que merece sempre nosso respeito.

17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Carmen Queiroz: É sobre isso que expus acima. Não sei se exatamente estaria me diferenciando, mas ajo no sentido de sempre buscar os melhores profissionais ao meu alcance para desenvolver minhas gravações. O que produzimos tende a mostrar o que somos ou pretendemos profissionalmente. Não abro mão da qualidade.

18) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram às revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Carmen Queiroz: O universo da música popular brasileira sempre foi amplo e diversificado. Os caminhos são bastante variados e os espaços foram amplificados, cabendo muitas tendências. Gosto desta democracia. Sem dúvida a cantora Anitta é uma das grandes revelações e veio para incomodar e ficar. Os que se mantiveram foram aqueles que se adaptaram ao novo cenário como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Chico Buarque e outros, e os que regrediram não o fizeram por si só, mas sim por não se compatibilizarem com as novas tendências da autopromoção.

19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Carmen Queiroz: Bem, mais de 25 anos na estrada eu acho que já me aconteceu de tudo um pouco. Algumas coisas ficaram marcadas como quando num show pela Prefeitura de Itapecerica da Serra – SP, eu era uma convidada de um cantor amigo que tinha sua carreira voltada para a música de raiz. Fomos fazer a abertura do show da Angélica (faz tempo isso, quando o sucesso dela era “Eu vou de taxi”). O público naturalmente era todo de adolescentes voltados para a atração principal. Quando entramos no palco para cantar música de raiz, adivinhe, tomamos uma enorme vaia. Foi terrível, nunca me havia acontecido algo assim. Coisas de produtor que não conhece bem seu ofício. Não tinha nada que nos ligasse àquele show. E me lembro de também que no começo de minha carreira, lá atrás um cantei em carroceria de caminhão que servia de palco. Olha que louco!

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical? 

Carmen Queiroz: A música sempre me faz feliz, em qualquer situação. No cantar eu me encontro comigo mesma. Agora a parte triste de tudo isso é você ter que batalhar o tempo todo para ter reconhecimento.

21) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Carmen Queiroz: Eu acredito que o dom musical seja algo que realmente existe. A gente também aprende a cantar, mas o dom é algo que mantém o seu canto, é o que faz a sua profissão.

22)  RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Carmen Queiroz: Não sou dada a improvisar. Tiro o chapéu para quem tem esse talento de criar enquanto toca ou canta.

23) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Carmen Queiroz: Pelo que conheço a improvisação pode ser estudada, é o que a maioria faz, e pode ser, claro, uma performance de momento de um grande talento.

24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Carmen Queiroz: Há tanto tempo que desisti de ter minhas músicas tocando em rádios e este problema do pagar o jabá já não me toca mais. Viva as plataformas musicais da internet que nos acolhe!

25)  RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Carmen Queiroz: Se é o que realmente quer, que siga sempre em frente. É uma batalha árdua, de altos e baixos e que não acaba nunca. É lúdico, mas não podemos esquecer que é também uma profissão.

26)  RM: Festival de Música revela novos talentos?

Carmen Queiroz: Não está restrito aos festivais de música. A revelação de novos talentos hoje em dia pode acontecer pela internet como já constatamos em vários exemplos.

27)  RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Carmen Queiroz: Ocasional. Hoje em dia é o público quem procura as atrações que lhe interessam.

28) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Carmen Queiroz: Sempre muito bem-vindo. Quanto mais espaços para a visualização e vitrines dos artistas, melhor. E esses setores tem sido o grande apoio para a nossa cultura musical paulistana.

29) RM: Fale dos projetos musicais que você participou.

Carmen Queiroz:  Ao longo da carreira foram diversos. Tudo se iniciou com o projeto do “Bar Bom Motivo”, em que a tônica era contar e cantar a história da MPB, dando-se destaque a um grande compositor, meu repertório se expandiu muito com isso. Depois se sucederam outros: “UMES Cantarena”; um projeto musical dos estudantes secundaristas que visava apresentar ao público jovem os novos cantores e compositores em destaque. “Serenata na UMES”, o anfitrião, o cantor e compositor Gereba, dividia o palco com um convidado para mostrar o que de melhor se produzia na música popular brasileira. “Samba em Sampa” no Teatro Clown Plaza na Rua Frei Caneca no bairro da Consolação – São Paulo, onde os bambas do samba apresentavam artistas poucos conhecidos, fui à convidada de Dona Ivone Lara.

30) RM: Quais as vitórias e dificuldades na carreira musical?

Carmen Queiroz:  As vitórias, grandes ou pequenas, foram sempre importantes. Tudo se soma. Mas foi muito especial dividir o palco com Martinho da Vila no Teatro Municipal de São Paulo, em 2001, por ocasião das comemorações do dia Nacional da Consciência Negra; com Beth Carvalho, no Canecão, no Rio de Janeiro em 1999 como sua convidada no show. As notícias da veiculação de meu CD nas rádios do interior também considero uma vitória. É muito bom. Quanto às dificuldades, elas existem quase que dia a dia, tanto para mim quanto para todos os artistas que na mesma situação enfrentam a falta de apoio da grande mídia, tirando-nos oportunidade de mostrarmos nosso trabalho a um público maior; no passado a dificuldade na distribuição e venda do CD e hoje os algoritmos nas plataformas digitais e por aí vai…

31) RM: Como você analisa o mercado musical?

Carmen Queiroz: Já tivemos tempos piores. A música descartável que procuram nos enfiar goela abaixo. Mas já podemos combater com as produções das pequenas gravadoras e outros selos independentes, que primam por preservar a boa música popular brasileira, divulgando trabalhos com muita qualidade.

32) RM: Você já foi rotulada como uma cantora que só canta samba?

Carmen Queiroz: Isto não ocorre só comigo, acho que todos os cantores negros passam por essa experiência. É que uma parte considerável do público menos informado faz essa leitura, veem o negro apenas como sambista. Por outro lado, este preconceito atinge também o cantor branco que canta Samba, como se ele não pudesse fazê-lo ou nele não se encaixasse. São imagens que aos poucos vão sendo mudadas; fazem parte de um contexto cultural arraigado neste país que ensinou aos brasileiros que Samba (enquanto considerado como arte menor) era coisa de negros, nele refletindo-se, ainda, o mesmo preconceito.

33) RM: Como você analisa o panorama musical de São Paulo? Há espaço para desenvolver uma carreira com êxito? Quais os principais obstáculos na profissão de músico?

Carmen Queiroz: O panorama musical que de certa forma já analisei durante esta entrevista se molda perfeitamente São Paulo. Na verdade, São Paulo é um dos núcleos principais, juntamente com o Rio de Janeiro, onde tudo acontece e acaba sendo modelo para todo país. Talvez o Rio de Janeiro tenha sua própria história, mas não é de todo diferente.

34) RM: Quais os seus projetos futuros?

Carmen Queiroz: Tenho um disco sendo trabalhado. Desta vez estou fazendo uma experiência do processo inverso, ou seja, primeiro os shows e apresentações das músicas ao público e só depois entro no estúdio para gravar. Assim estou trabalhando o novo trabalho “O Novo Sempre Vem”. Trata-se de um show de músicas inéditas de compositores que não são tão conhecidos do grande público e para as quais imprimo minha criação e vou amadurecendo a forma de interpretá-las.  Tem sido muito gratificante. Contando também com a parceria dos músicos que compõem a minha banda nos arranjos coletivos e que vão sendo criados conforme vão sendo tocadas. Faço aqui a eles minhas reverências: Zé Barbeiro (violão) João Poleto (flauta), Cleber Silveira (acordeon), Roberta Valente (percussão e pandeiro), Douglas Alonso (bateria e percussão) e Fabricio Rosil (cavaco, baixo e violão).

35) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Carmen Queiroz: (11) 99956 – 1727 | [email protected]

Instagram: https://www.instagram.com/carmenqueirozcantora 

Facebook: https://www.facebook.com/carmen.queiroz.3

Spotify: https://open.spotify.com/artist/4N4Wa9AAl4QkMNssac7yWs 

Trabalho que já pode ser conferido na  https://www.youtube.com/carmenqueiroz   

Carmen Queiroz canta “Na tua voz Oxum”: https://www.youtube.com/watch?v=oYGLh3tHyp8    

Show/Live – O Novo Sempre vem:  https://www.youtube.com/watch?v=iWrQSE6Attg  


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.