O cantor, compositor, multi-instrumentista paulistano Carlinhos Antunes nasceu em uma família musical.
Seus tios-avós maternos eram músicos de orquestra, tocavam violino, viola e violoncelo; sua tia tocava piano e sua avó, que adorava música, pedia sempre para que ele tocasse para ela. Seu pai, que também era sapateador amador, costumava cantar músicas de cinema e clássicos antigos da música brasileira. Os irmãos mais velhos tocavam violão e guitarra em grupos na época da Jovem Guarda.
Aos quatro anos de idade, virou um concertista de garrafas: descobriu que, alterando seu volume de água, os sons mudavam e as melodias também. Passou a juntar dezenas delas e surgiram suas primeiras composições musicais. Aprendendo a usar o que tem de melhor: o ouvido e a intuição. O autodidatismo é a principal característica da sua formação musical. Tocava de ouvido, sempre criando afinações diferentes e batucando em tudo que via pela frente. Aprendeu a inventar acordes, melodias e até estudos para superar suas dificuldades. Ele muita coisa aprendeu vendo os outros tocando. Decorava os acordes, chegava em casa e os imitava. Dos músicos com quem convive e conviveu, destaca o violonista Arnaldo França. Logo formaram um duo. ComoFrança era aluno de Isaías Sávio (violonista clássico uruguaio radicado em São Paulo), começou, por tabela, a estudar com ele. Ele comenta que ao largar o curso de Administração de Empresa, após dois anos de curso, foi a melhor coisa que fez na vida. A partir daí, ele se dedica exclusivamente à música. Estudou os métodos que Isaias Sávio escrevia para mão direita, mão esquerda e mais algumas peças. Ele e Arnaldo França mergulharam na obra dos grandes compositores brasileiros, fazendo os arranjos para dois violões, de composições de Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Toninho Horta e Villa-Lobos.
Ele cita, entre os músicos importantes em sua formação, o cantor e violonista Filó Machado. Conta que, um mês depois de tê-lo conhecido, entrava pela primeira vez num estúdio, para gravar com ele um disco de suas composições. “Eram complicadíssimas, com melodias e harmonias muito sofisticadas.” Filó Machado foi sua melhor escola de música popular. Os músicos que tocavam com ele eram, entre outros, o baterista Nenê, o baixista Nico Assumpção, o violonista Celso Machado, a flautista Léa Freire e o guitarrista Netão. “Tinha que estudar como um louco para me apresentar com eles. Os arranjos vocais eram muito difíceis e, como não havia aparelho de som em casa, tinha ainda que aprendê-los ouvindo as gravações na casa de amigos”, conta o violonista.
Em 1978, ingressou na Fundação das Artes de São Caetano do Sul – SP, dirigida, à época, por Amilson Godoy. Seus estudos de violão clássico prosseguiram com o professor Edelton Gloeden na Escola Travessia, onde mais tarde deu aulas de violão popular. Sua carreira musical, por conta das viagens, torna difícil o trabalho regular de professor. Por conta disso, ele ministra cursos curtos, oficinas e palestras, no Brasil e no exterior.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Carlinhos Antunes para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 15.09.2011:
01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Carlinhos Antunes: Nasci no dia 15.09.1956 em São Paulo – SP.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?
Carlinhos Antunes: Dentre as lembranças musicais mais antigas, recordo-me de três momentos: Meu pai, enquanto se barbeava, cantando músicas brasileiras e latinas, como boleros e cha-cha-chás. Ainda criança, eu aprendi todo esse repertório, que cantarolava baixinho ao despertar. Boa parte dessas canções foi muito útil na minha vida profissional. Outra lembrança importante foi ter me tornado, aos quatro anos de idade, um concertista de garrafas: descobri que, alterando seu volume de água, os sons mudavam e as melodias também. Passei a juntar dezenas delas e surgiram minhas primeiras composições musicais. Por fim, a principal lembrança musical, quando criança, foi a participação na banda do externato Assis Pacheco, em que estudei dos seis aos dez anos. Na época, o professor perguntou-me se meu pai era maestro, pois se impressionou com minha musicalidade. Nesse mesmo dia, ele foi até minha casa aconselhar meus pais a que me fizessem estudar música. O professor da banda escolar foi figura decisiva em minha formação musical, pois seguindo seu conselho, a minha mãe colocou-me, aos oito anos de idade, em aulas de violão popular com Leila Pires, professora do bairro. Nós escrevíamos os acordes em braços de violão carimbados no caderno. O método era tirar músicas da época, da jovem guarda, principalmente. Eu estudava os arpejos e as batidas referentes a cada música.
03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?
Carlinhos Antunes: Nasci em uma família musical. Meus tios-avós maternos eram músicos de orquestra, tocavam violino, viola e violoncelo. Minha tia tocava piano e sua avó, que adorava música, pedia sempre que eu tocasse para ela. Desse tempo, o que ficou de mais útil foi adquirir a prática de estudar, aprendendo a usar o que tem de melhor: o ouvido e a intuição. O autodidatismo é a principal característica na minha formação musical. Depois de um ano de estudo de violão popular, minha família enfrentou dificuldades financeiras e não pude mais estudar com professores particulares. Comecei a trabalhar com 14 anos, em um banco. Tocava de ouvido, sempre criando afinações diferentes e batucando em tudo que via pela frente. Aprendi a inventar acordes, melodias e até estudos para superar minhas dificuldades. Muita coisa que aprendi foi vendo os outros tocar. Decorava os acordes, chegava em casa e os imitava. Quando frequentava o curso de Administração de Empresas na FAAP, e conheci o violonista Arnaldo França. Logo formamos um duo de violões. Como meu parceiro era aluno de Isaías Sávio (violonista clássico uruguaio radicado em São Paulo), comecei, por tabela, a estudar com ele. Com isso, larguei a faculdade dois anos depois de ter entrado. Foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Estudei os métodos que Isaías Sávio escrevia para mão direita, mão esquerda e mais algumas peças. Eu e Arnaldo França mergulhamos na obra dos grandes compositores brasileiros, fazendo arranjos, para dois violões, de composições de Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Toninho Horta e Villa-Lobos. Um músico importante em minha formação é o cantor e violonista Filó Machado. Um mês depois de tê-lo conhecido, entrei pela primeira vez em um estúdio, para gravar com ele um disco com suas composições. Eram complicadíssimas, com melodias e harmonias muito sofisticadas. Filó Machado foi minha melhor escola de música popular. Os músicos que tocavam com ele eram, entre outros, o baterista Nenê, o baixista Nico Assumpção, o violonista Celso Machado, a flautista Léa Freire e o guitarrista Netão. Eu tinha que estudar como um louco para me apresentar com eles. Os arranjos vocais eram muito difíceis e, como não havia aparelho de som em casa, tinha ainda que aprendê-los ouvindo as gravações na casa de amigos. Em 1978 ingressei na Fundação das Artes de São Caetano do Sul – SP, dirigida, à época, por Amilson Godoy. Meus estudos de violão clássico prosseguiram com o professor Edelton Gloeden na Escola Travessia, e mais tarde me deu aulas de violão popular. No mesmo ano ingressei na PUC São Paulo para estudar História. Durante muitos anos convivi com as duas áreas, tocando na noite e em peças de teatro, e cursando história. Fiz História na PUC, e pós-graduação na USP não concluída. Fiz Administração de empresas na FAAP, curso que abandonei, para cursar Música e História.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Carlinhos Antunes: Confesso que todas as influências que tive no passado, citadas acima, foram fundamentais para minha carreira. Porém, hoje o violão não é o único instrumento importante para mim e divide meu universo das cordas com todos os outros que toco e que pesquiso (viola caipira, cuatro, ronroco, tiple, saz, “n’goni”, que se assemelha a uma harpa, e alguns instrumentos de percussão).
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Carlinhos Antunes: Foram muitas as experiências importantes na minha carreira musical, das quais destaco: O início da vida profissional, a partir de 1976, no Duo com Arnaldo França fazendo trilhas para teatro junto a ECA e a EAD. Fui premiado em algumas trilhas e atuei com grandes atores e diretores e na convivência musical com Filó Machado e seu grupo com quem entrou no primeiro estúdio profissional de gravação aqui em São Paulo, cujo dono era Pedro Sertanejo (o pai do Oswaldinho do Acordeon). Além disso, fazia parte de Grupos Universitários de Música, que atuavam na periferia de São Paulo, com um trabalho que unia música e política. Não posso esquecer que atuei na época da ditadura militar no Brasil, que destruiu parte da criatividade dos artistas, mandou vários para o exílio, para a tortura, e para morte. Nesse período tive a oportunidade de tocar com Adoniran Barbosa no final dos anos 70. A minha descoberta, no início dos anos de 1980, da viola caipira, da música nordestina e da música regional de São Paulo foi de grande valia. Nessa mesma época atuei com João Bá, poeta e músico baiano. Em 1985 entrei para o Grupo Tarancón, que era conhecido em todo Brasil e ganhou segundo lugar no Festival da rede Globo, cuja vencedora foi Tetê Espíndola. Os meus anos vividos entre Marrocos e Espanha, de 1990 a 1994, em que tive contato com a música árabe e o flamenco. Eu pude aprofundar meu convívio com músicos brasileiros radicados na Europa, meu conhecimento da nossa música instrumental com forte influência jazzística. Voltei para Espanha em 2000, melhor dizendo fui morar no País Basco por um ano, em San Sebastian. A minha volta para o Brasil em 1994, quando então comecei a carreira no país como solista, compositor e arranjador, dedicando-se a reunir e a integrar sons de culturas diferentes. A gravação de meu primeiro disco solo – Paisagem Bailarina (Paulinas/COMEP, CD/1996, Lua Discos, CD/2001). A produção musical foi de Toninho Carrasqueira. Desde então, fiz inúmeros trabalhos de relevância no Brasil e em outros países. No tempo em que vivi na Europa, comecei trabalhar o violão como integrante da formação instrumental e não mais como solista, como vinha fazendo até então. Dali em diante, ocupei-me de arranjos e composições que valorizassem o diálogo entre os instrumentos. Isso trouxe outro sentido à minha carreira. Quando retornei ao Brasil em 1994, minhas composições e arranjos foram tomando novo rumo. Além das formações em grupo, comecei a pensar o violão e a viola em fusão como instrumentos como o alaúde, o sitar, a viola de roda, as flautas indianas e árabes. Elementos de culturas que parecem distantes da nossa cultura, mas que na verdade, representam nossas raízes mais profundas.
06) RM: Quantos CDs lançados e quais os anos de lançamentos (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram em cada CD?
Carlinhos Antunes: Discografia: Santo Dias – LP em 1982 – Independente – música de protesto. Mama Hue em 1987 – Grupo Taráncon– Continental- latino. CD – Samambaia em 1992 – Grupo formado na Espanha por dois brasileiros, um americano, um uruguaio – instrumental jazz brasileiro. CD – Paisagem Bailarina em 2001 – (Paulinas/COMEP, CD/1996; Lua Discos, CD/2001)- várias participações Proveta, Toninho Ferraguti, Toninho Carraqueira, Sergio Gomes, Caito, Guello etc. – instrumental. CD – Mundano (Lua Discos, 2003)-idem muitas participações Renato Martins, Gabriel Levy, etc- instrumental variado. CD – Carlinhos Antunes e Orquestra Mundana em 2006 (Produção Independente, – gravado ao vivo no Sesc Pompéia- instrumental variado. CD – Carlinhos Antunes e Pascal Lefeuvre Duo – (Albacarma, 2006)- gravado na França- Duo de cordas – instrumental variado. CD – Orquestra Mediterrânea – 2006 – Carlinhos Antunes, Lívio Tragtenberg e Magda Pucci (selo SESC) – 24 músicos do mundo – música do mundo mediterrâneo. CD – Trio Atlântico (Albacarma, 2007) – não foi lançado. Documentário – Sete Dias em Burkina – 2008- SESCTV- direção – música e dança africanos. CD – Quarteto Original – 2008 gravado no Brasil com Rohrer, Antunes, Stout e Barossi – Hibrido, Brasil e Escócia-instrumental variado. DVD – Carlinhos Antunes e Orquestra Mundana – 2010 – DVD gravado ao vivo no Auditório Ibirapuera – várias participações – instrumental variado. Documentário – Barka – 2010 – “SESC TV”- direção – música e dança africana. CD – Opera das Pedras – 2011- ópera contemporânea- vários compositores – Selo SESC SP – gêneros variados. CD – Muvuca – Carlinhos Antunes Quinteto – 2012- CD-Selo Daqui- França- gravado no Brasil- lançamento 2012-instrumental variado. CD – Live in Glasgow – gravado na Escócia-2012-CD-Octeto formado por dois Brasileiros, um Suíço, e cinco Escoceses – lançamento – Escócia – instrumental variado. Centenas de participações, produções e gravações de Cds, Dvds,Lps, de novos e velhos talentos do Brasil e do exterior, com gêneros os mais variados
07) RM: Como foi a gravação do DVD? Quais os músicos que participaram na gravação?
Carlinhos Antunes: Foram três dias de gravação do Auditório Ibirapuera com músicos da Orquestra Mundana mais participações especiais de Badi Assad, Barbatuques, Mawaca, Paulo Betti (ator), Luizinho Gonzaga, Luis Amato, Adriana Holtz, Celina Charlier, Simone Sou, mais os músicos regulares da Orquestra.
08) RM: Qual a importância da Orquestra Mundana para a música instrumental contemporânea?
Carlinhos Antunes: Tenho recebido diariamente, doses grandes de incentivo das pessoas que escutam e vêm a Orquestra Mundana. Os e-mails e cartas são sempre agradecendo pela felicidade que a nossa música proporciona e pela originalidade de juntar tantas culturas diversas. E o que é mais legal, jovens de dez anos de idade até adultos de oitenta que gostam do nosso trabalho. Fizemos uma série de concertos recentes para o Projeto Guri e os jovens realmente entenderam nosso som. Além do público, muitos músicos me escrevem para dizer que a nossa maneira de encarar a música instrumental e de juntar as culturas tem servido como um caminho ou estimulo para eles. O que eu poderia dizer é que a Música deve estar sempre na frente do músico. As grandes manobras, com milhares de notas voando para todo lado, só agradam meia de dúzia de pessoas e isso não tem nada a ver com música. Aliás, nunca teve. O virtuosismo é uma virtude, mas deve estar a serviço do som e não do ego do músico. Se estiver a serviço do músico apenas não há transcendência. A Orquestra Mundana é a junção de vários talentos a serviço da música e da diversidade cultural. Em que o conjunto é mais importante que os músicos individualmente. Em que os arranjos dão espaço para todos brilharem, para que a música esteja sempre à frente. Cada vez mais convido jovens para participar da Orquestra, e em vários lugares onde atuamos, convidamos jovens ou músicos locais para uma participação conosco. Isso eu aprendi com o Grupo Tarancón, nos anos 80, que deu chance para muito artista que hoje é conhecido.
09) RM: Como você define seu estilo musical?
Carlinhos Antunes: Variado, com influência de várias partes do mundo unindo a música popular e erudita.
10) RM: Você estudou técnica vocal?
Carlinhos Antunes: Sim durante um tempo na Fundação das Artes e com a cantora Tutti Baê, no período que vivemos juntos, que me ensinou muitas técnicas vocais. Embora eu não seja cantor, as utilizo para os vocalizes que faço nos meus shows.
11) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?
Carlinhos Antunes: Maria João, Verônica Ferriani, Badi Assad, Fátima Guedes, Rosa Passos, Renato Braz, Susana Baca, Dani Gurgel, João Bosco, Filó Machado, Caetano Veloso (falando e tocando eu dispenso), Djavan, Bilie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Ima Sumac, Louis Armstrong e tantos outros e outras. Admiro os cantores e cantoras que encaram o canto como um instrumento, que não é necessariamente solista, mas que pensam na totalidade do som, no arranjo, nas composições e nas formações musicais e não simplesmente na interpretação. Que estudam música de verdade. O que há no mercado é muito cantor ou cantora que entende de assessoria de imprensa, tem fortes amizades na mídia, nas agências de publicidade, mas isso não significa que saibam cantar. Os que transcendem são os cantores de verdade. Os outros passam.
12) RM: Quais os instrumentos que você toca?
Carlinhos Antunes: Eu toco violão, viola caipira, cuatro, ronroco, tiple, saz, “n’goni” (que se assemelha a uma harpa), e alguns instrumentos de percussão. Atualmente estudo guitarrón chileno, instrumento de 25 cordas, que os camponeses chilenos usam nos seus repentes e a Kora de 21 cordas que trouxe do Mali.
13) RM: Como é o seu processo de compor? Quem são seus parceiros musicais?
Carlinhos Antunes: Meu trabalho de composição é solitário. Antes compunha utilizando o violão. Atualmente componho com outros instrumentos e ou diretamente na pauta, sem nenhum instrumento como referência. Em algumas músicas com letras tenho alguns parceiros como Mauro Iasi, velho parceiro, e Flora Figueiredo, nova parceira. Mas me considero solitário nesse campo, embora solidário na vida.
14) RM: Como é seu processo de pesquisa musical?
Carlinhos Antunes: Minha forma de estudar, compor e escutar música depende do momento que estou vivendo. Trabalho muito, ininterruptamente, mergulhando profundamente no projeto musical com o qual estou envolvido. Escrevo um arranjo de música caipira com o mesmo empenho que um disco de música para orquestra ou para cinema, por exemplo; escuto com a mesma profundidade uma peça de jovens africanos de Burkina Faso e uma peça de Mozart, Bach ou Ravel. Tudo o que realizo consome muita dedicação e energia. Vivencio a música de forma muito intensa e preciso sempre estar ao lado de músicos verdadeiros e sinceros com o que fazem. Nunca faço música por fazer, ainda que viva só de música.
15) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Carlinhos Antunes: O que falta ao músico independente é apoio de órgãos Estatais ou dedicados à arte, que atuem de forma também independente. Editais sérios, políticas de apoio a artistas que de fato funcionem. Que respeitem os currículos dos músicos e não interesses próprios ou de amigos. Em suma, uma política séria e constante de apoio à cultura. Ficar à mercê de empresas privadas, por meio de leis como a Rouanet, é terrível para o músico que cria, e leva a sério a sua profissão. Só favorece os “articulados” que conseguem três milhões para fazer blogs ou outros milhões para fazer filmes que não aparecem, etc. O Brasil ainda é muito provinciano nesse sentido. Mas vai mudando aos poucos.
16) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira com música instrumental?
Carlinhos Antunes: Tudo que é feito com verdade e profissionalismo é maravilhoso. O que disse na outra resposta acima, prejudica a carreira, mas não a ponto de terminá-la. A solução para isso vem da Educação Musical nas escolas, principalmente para as crianças, a democratização das rádios e TVs, do acesso à informação, a política de música de qualidade (erudita e popular) para todos com concertos gratuitos nas escolas, nas praças, nos teatros, a popularização da ópera, tudo isso favorece à musica, a cidadania e por tabela a música instrumental.
17) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram as revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Carlinhos Antunes: Há muita criação no Brasil. Muitos novos talentos maravilhosos, cursos de música ótimos,(Unicamp por exemplo), jovens lendo literatura de qualidade, não necessariamente musical. NaOrquestra Mundana, por exemplo, há muitos músicos jovens, com um repertório e formação incríveis. Eu faço algumas curadorias e sou jurado de alguns festivais e fico contente de ver tantos jovens, do rock ao erudito, preparados, sérios, maravilhosos, com muita bagagem, que se contrastam bastante com os “produzidos pela mídia”, geralmente apadrinhados por sertanejos. Porém o cenário de contratações, curadoria, leis, empresas ainda é muito pouco profissional, com pessoas muito despreparadas e incultas e isso dificulta a carreira e a criação. Ligue a televisão aos sábados e domingos para ver o que existe. Na área de música uma piada, Faustão, Talentos, Ídolos, uma farsa geral. Os jovens cantando com os “vibratos” sertanejos. Poderiam pelo menos usar a técnica do abôio ou iodel, mas nem sabem o que é isso. Programas de baixíssimo nível de participantes e de jurados. Além da televisão, como disse acima, há os profissionais ou pseudoprofissionais que contratam produtores, assessores de imprensa, etc. Só que eles não têm um mínimo de bagagem e estudo musicais e conseguem espaço na mídia, nos festivais, no exterior. Mas como disse isso dura pouco, mas logo aparecem outros com a mesma fórmula. Isso desanima aqueles que estudam e se preparam, e dão exemplos ruins de como construir uma carreira, aos novos artistas.
18) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Carlinhos Antunes: Na verdade isso varia muito. Já vi concertos recentes de gente que eu admirava e muito e que me decepcionaram bastante. Seja pela falta de compromisso ou pelo estrelismo, pela falta de ensaio e estudo. Há outros que sempre me impressionam pelo profissionalismo como Pat Metheny, Renaud Garcia Fons (baixista francês), N’guen Lee (vietnamita) e Gilberto Gil, Paco de Lucia, Maria João, Mario Laginha, Lula Galvão, Avishai Cohen, e muitos outros, mas minha memória falha muito. Como ouço muita coisa e tenho muitos CDs, se eu fosse elencar tudo aqui seria uma lista enorme, felizmente.
19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Carlinhos Antunes: Falta de condições de trabalho em vários locais do mundo. Como Clubs de Jazz, com música ao vivo todos os dias, sem som adequado, ou às vezes sem som mesmo e sem condição nenhuma para o grupo, como o que ocorreram algumas vezes em Cardif, no País de Gales, por exemplo.. Teatros sem camarim, técnicos de som totalmente despreparados, os chamados mesários (risos). Uma vez, pedi Fanton na mesa e o técnico de som foi buscar uma Fanta e colocou em cima da mesa do bar. Isso ocorreu comigo e a Badi Assad, no interior de São Paulo em 1994. Chegar a um lugar pra tocar e ninguém saber de nada, nem que você existe também normal. Ter mais gente no palco que na plateia. O técnico de som sair para jantar e não voltar para o show. Também falha a memória aqui, mas imagine, devo ter feito uns 3000 shows até hoje, quanta coisa ocorreu nesses anos todos, por esses cantos do mundo. Outro dia, aliás, estava aqui em São Paulo, num teatro grande e muito conhecido, com a Orquestra Mundana, e começo a ouvir no meio do concerto um som estranho, parecido com microfonia grave. Fui olhar para o técnico de som, e era ele dormindo como uma cabra e roncando como um leão (risos). Isso nós com a Orquestra, com um volume forte. Imagina se fosse música new age, ele estaria dormindo até agora. O mais engraçado ocorreu comigo e com o Filó Machado em uma gravação, do LP do Filó Machado, no estúdio havia uma dupla de Aparecida do Norte – SP que pediu que fizéssemos na boa, um vocal, no LP deles. Gravamos e o Filó pediu para modificar a letra, que estava muito ruim e ele topou. A música era terrível, mas fez o maior sucesso em Aparecida e região, com a letra alterada pelo Filó na hora de gravar. E com a nossa voz gravada. Aliás, foi a minha primeira gravação oficial, acabei de me lembrar agora. Era assim “o tombo que o amor me deu, quase que não pude me levantar, mas o amor quando “dirruba’ a gente, se ele não mata, ele é capaz de quebrar” e a outra parte dizia “Triste vida. Amarga e dolorida, ontem contentes” dai o Filó pediu pra mudar para”ontem felizes” e o autor topou. Outra vez eu tocando com uma cantora, num programa de televisão, anunciaram: “Agora com vocês Fulana e violão”. Era gravação ao vivo, mas eu não entrei e mandei apenas o violão. Tiveram que corrigir o texto ao vivo e dizer Fulana acompanhada por Carlinhos Antunes ao violão. Dai eu fui. Caramba, o violão não toca sozinho. Mas se vocês juntarem o Arismar do Espírito Santoe o Filó para contar “causos” interessantes ai sim à coisa pega, e a memória deles é bem melhor que a minha.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Carlinhos Antunes: Mais feliz é poder tocar sempre. E mais triste é a falta de profissionalismo, a batalha do dia a dia para continuar tocando e criando, mesmo com tantos anos de carreira e tantos trabalhos publicados. Mas cheguei à conclusão que isso ocorre em todas as profissões e em muitos lugares do mundo. Não sei se serve de consolo, mas bola pra frente sempre. Tocar e ser feliz é o meu lema.
21) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora?
Carlinhos Antunes: São Paulo é a mais cosmopolita das cidades e a mais provinciana “a la vez”. Há muito pouco diálogo entre os músicos que aqui vivem. Principalmente os estrangeiros. Há Também uma programação enorme em bares que funcionam com música ao vivo todos os dias, sem investir um tostão nos músicos, na divulgação, nas boas condições de som. Trabalham com “o que vier artístico”, que chamam de “couvert artístico”. E como há muitos profissionais querendo e precisando trabalhar,eles funcionam normalmente como espaços de música . A arte para existir precisa de espaços e o músico sem tocar morre de tédio. Os SESCs são a salvação dos artistas, ainda que com muita coisa para aprimorar. As secretarias de Cultura têm programas que a maioria dos músicos não os conhece. Mas os Editais de Proac começam a surgir como uma coisa boa e séria. Deveriam ter muito mais programas estaduais e municipais democráticos e de incentivo. Nos outros estados do Brasil há muitos projetos de incentivo aos artistas locais. Em Minas e Bahia, por exemplo, há muitos músicos super conhecidos lá e pouco conhecidos no resto do Brasil. Graças a esses incentivos de gravação, shows, etc, eles conseguem viver e ter público grande. Isso é bom, mas faltam são os mecanismos nacionais de intercâmbios como Projeto Pixinguinha etc.
22) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?
Carlinhos Antunes: Prefiro recomendar que o público ouça a boa música do Brasil e de várias partes do mundo, sem nenhum tipo de rótulo ou modismo. Só assim o ouvido vai se desenvolver. Boa música é aquela que é feita com verdade, que leva em conta a arte e não o mercado, que te enriquece de uma maneira ou outra. Onde arranjo, instrumentação, originalidade, melodia, ritmos, te acrescentem algo. Mesmo que sejam gêneros que você não gosta ou não costuma ouvir. Isso vale para o rock e para a ópera, para o jazz e para a música dos Pigmeus de Baca, por exemplo, para o balafon e para a marimba de orquestra, para a música dos repentistas da Turquia e para as cantoras líricas, para os tocadores de tímpano de orquestra e os tocadores de Tama, etc.
23) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Carlinhos Antunes: Faz muito tempo que não me preocupo com a imprensa. Eles se esquecem de mim e eu deles. A frustração que eles causam na gente é muito prejudicial à criação. Por isso resolvi não levá-los a sério. Mesmo. E falo isso com muita tranquilidade, pois tive muitas matérias boas publicadas na imprensa. Os críticos sérios e bons foram expulsos dos jornais e rádios. Ficaram alguns, mas sem poder de decisão. Hoje existem os publicitários e assessores de imprensa amigos de alguns jornalistas que entendem de música como eu de física quântica. Nas rádios existem poucos profissionais sérios e interessados em música instrumental. Esses poucos estão nas rádios públicas. Há mecanismos de divulgação hoje em dia, muito eficazes, na internet, no boca a boca, nos próprios concertos, etc. Mas tenho certeza que ao longo dos anos esses críticos e profissionais que vivem de jabá vão acabar. Aliás, já estão acabando. Uma coisa que me deixa triste é ver algumas TVs Estatais virando privadas, veja a TV Cultura em São Paulo por exemplo. Uma pena. É triste.
24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Carlinhos Antunes: Ser músico é maravilhoso, uma benção, mas como qualquer profissão exige estudo, dedicação, verdade, profissionalismo, cultura geral, politização, e que organização. A era do “artista”, que fica em casa criando apenas, e esperando que caia tudo do céu, não existe faz tempo, acabou. E não serve mais de exemplo para ninguém. Foque na criação e no público sempre. Nunca desrespeite o público. Pode ser uma pessoa ou mil pessoas, sempre há alguém que entende de música e tem sensibilidade e vai saber te respeitar também. Não culpe o público por não entender tua música. Saiba criar para as pessoas e não para meia dúzia de entendidos. Mesmo que você tenha nascido em berço esplendido, seja humilde, mas exija respeito das casas de espetáculo, dos programadores, produtores, etc. Não se deixe enganar por uma carreira rápida e fácil. É mentira. Tudo exige muito esforço e dedicação.
25) RM: Qual é o momento certo para um artista brasileiro tentar uma turnê internacional?
Carlinhos Antunes: Acho muito importante um artista sair do seu país, de suas fronteiras para tocar, estudar, vivenciar outras culturas e aprender novas linguagens no sentido mais profundo da palavra. Isso enriquece sempre. Mas para mostrar seu trabalho de criação lá fora, seja como grupo ou solista, devemos ter maturidade profissional e acima de tudo muita personalidade musical para não se deixar levar pelos modismos, clichês ou estereótipos que já existem com relação musica brasileira no exterior. Como relacionados ao carnaval, mulata, Bossa Nova, Samba, etc. Isso é fundamental para o artista e para o próprio mercado lá fora que deve se reciclar. Nos últimos anos o nível musical dos artistas brasileiros lá fora aumentou muito, principalmente na músicainstrumental. Os rótulos e estereótipos estão paulatinamente caindo e a música brasileira de todas as regiões do país tem aparecido lá fora com força, ganhando cada vez mais públicos e novos admiradores. Eu posso dizer, com toda humildade que ajudei muito nesse processo, pois nunca fiz uma música lá ou cá pensando exclusivamente no mercado ou no que está na moda. Sempre fiz o som que considero o mais verdadeiro e que representa o Brasil como um todo e não simplesmente essa ou aquela região. O fato de ser de São Paulo ajuda bastante nesse sentido.
26) RM: Quanto tempo antes é preciso começar a planejar? Quais são as etapas deste planejamento?
Carlinhos Antunes: Penso que isso varia muito de artista para artista. Eu particularmente recebo muitos telefonemas de artistas, amigos ou não, perguntando qual o caminho das pedras para tocar lá fora. Mas não existe uma receita, às vezes você vai por meio de músicos e grupos de lá que se interessa por nosso trabalho, às vezes por meio de diretores de festival, às vezes por meio de agentes. Penso que o planejamento deve acontecer com antecedência (meses e até anos) para não se cair em “roubadas”. Mas não se deve esperar o grande momento, o sonho, onde todas as condições estejam a favor, porque isso é mitificar demasiadamente o tocar lá fora. Poderia resumir em duas coisas. Planejamento e bom senso, consultar os artistas amigos que costumam viajar pra fora, não ter medo de perguntar e esclarecer as coisas, saber se o contratante é idôneo, mas por outro lado arriscar também. Tocar lá fora só tem sentido se você tiver boas condições e for bem tratado sempre levando em conta que a experiência do intercâmbio é maravilhosa e criativa.
27) RM: Existe algum tipo específico de opção de financiamento para bancar uma turnê desse tipo?
Carlinhos Antunes: Os artistas precisam de apoios estatais ou privados. Sem isso é impossível manter uma carreira aqui ou fora daqui. Principalmente lá fora. Nesse sentido, deve haver mais políticas publicas de apoio à cultura, transparentes, que levem em consideração o currículo, o mérito, a carreira dos artistas e não apenas o caráter mercadológico ou de apadrinhamento. Nesse sentido o Brasil está muito longe de ser um País que apóia seus artistas. A maioria dos artistas fez carreira lá fora ralando muito, com muitas dificuldades e por meios próprios. A iniciativa privada por sua vez, com raras exceções, visa o lucro ou a visibilidade rápido. E os artistas que fazem um trabalho sério, de pesquisa, de estudo, etc, ainda que tenham um público bom, não são contemplados por esses apoios, porque o que se busca é simplesmente lucro fácil ou resultados imediatos. O setor público direto ou indireto tem o dever de apoiar o artista, pois fazendo isso está se projetando lá fora também. Na Europa isso é muito mais notório, embora nos últimos anos tenha mudado um pouco esse quadro para pior. Muitos artistas europeus têm reclamado do corte de verbas para a cultura. É a política neoliberal que lá chega também e vai destruindo as políticas públicas de apoio à cultura. Nos Estados Unidos existem políticas culturais nas Universidades que são muito interessantes para os artistas de fora e geram boas turnês e bons públicos, embora os cachês não sejam tão atraentes, mas vale muito a pena entrar lá por esses meios.
28) RM: Qual é a maior dificuldade em termos de produção? Há diferenças gritantes em relação ao mercado brasileiro? Ou seja, existem especificidades no Brasil em relação à produção de shows?
Carlinhos Antunes: As dificuldades são muito parecidas com as nossas aqui. Eu conheço mais o mercado europeu e o africano. Não conheço o mercado norte americano. Acho que não dá pra ter nenhuma ilusão de que lá fora as coisas são muito mais favoráveis que aqui. Há situações e situações. Os cachês na Europa de uma maneira geral são menores que os praticados no Brasil quando já temos certo reconhecimento. Isso tem uma explicação. Os artistas lá têm uma forma de remuneração indireta que nós aqui não temos, como: saúde pública boa, escola pública boa, transportes públicos, apoios Estatais para cooperativas. Em alguns casos, um fundo do governo para os períodos de entressafra, como no caso dos intermitentes na França, etc. Isso pesa muito. Com relação ao público também nota-se um maior respeito para com a música instrumental de qualidade lá que aqui, em países como Alemanha, Suíça. Holanda, França principalmente.
29) RM: De modo geral, qual é a maior dificuldade de se organizar uma turnê internacional?
Carlinhos Antunes: As dificuldades são muitas O preço alto das passagens aéreas, hospedagem e transportes internos por exemplo. As políticas do MINC de apoio às passagens aéreas, que não são claras e que não respeitam as agendas marcadas com antecedência na Europa. Outro ponto é como articular com os músicos ou agentes de lá para garantir uma boa turnê, ainda que pequena. Por exemplo, você recebe um convite de um festival na Alemanha para fazer um show apenas. Aí começam as dificuldades. Quais outras cidades ou países onde você poderá se apresentar para fazer valer todo o tempo de preparo, ensaios, envolvimento do Grupo, viagem, etc.? Para fazer um show apenas muitas vezes não compensa. Por isso que disse no começo que você precisa ter maturidade para saber dizer não muitas vezes para um convite. Ir para o exterior por ir não vale à pena. Por outro lado, pensando em investimento para o futuro pode valer a pena para o Grupo ou apenas para o solista. O que eu faço muitas vezes é trabalhar com músicos já residentes na Europa, sejam brasileiros ou de lá. Nesse caso exige-se um preparo anterior de ensaios e envio de material pela internet, etc, partituras, ensaios virtuais.
30) RM: Como, normalmente, o artista não é tão conhecido lá fora como é aqui, o investimento em divulgação tem que ser muito maior? Que tipo de coisa é preciso fazer (que não se faz aqui)?
Carlinhos Antunes: Todos os meios para tornar seu trabalho conhecido lá devem ser empregados. Através da internet, myspace, facebook, etc, etc. Contato com músicos mais conhecidos de lá, ou convites para uma participação especial deles. Abertura de shows de grandes artistas, o que na Espanha eles chamam de teloneros, através de pequenas turnês, aquelas de três ou quatro shows apenas, sem grandes pretensões, em que você vai fazendo um nome. O primeiro passo é saber que as primeiras viagens são de investimento. Não dão lucro. Por isso a dificuldade de convencer um grupo, ou músicos para ir com você. Humildade também é bom em todos os casos. Sem citar nomes, vejo artistas brasileiros, e não são poucos, vendendo uma imagem mentirosa lá fora, de que são grandes estrelas aqui, etc, que são grandes revelações, tudo isso para iludir o estrangeiro. Acho isso uma grande balela, uma grande enganação, que funciona por um tempo, mas não perdura.
31) RM: A internet é uma aliada nesses casos? Fica mais fácil o planejamento e a divulgação por conta da rede?
Carlinhos Antunes: Sim, é uma aliada indispensável. Ela socializa os trabalhos e não deixa apenas na mão dos agentes e intermediários a organização das turnês e dos shows. Libere suas musicas, faça com que todo mundo possa ouvi-las, baixar etc. Isso ajuda muito para você receber convites para tocar e fazer shows que é o que realmente sustenta o artista hoje. Existem reservas de mercado que são totalmente prejudiciais ao artista. O mundo musical é muito grande e existem muitas oportunidades. Acredite nisso, mas recicle o seu trabalho, estude, melhore sempre, aceite críticas, respeite o público, sempre. Mas a internet não deve ser o único meio que o artista deva utilizar. Ela pode causar uma falsa ideia de publico e do próprio trabalho do artista. Uma carreira se constrói utilizando-se de todos os meios lícitos de divulgação e formação de público.
32) RM: Qual é a grande vantagem de se tentar uma turnê internacional? Que tipo de precauções é preciso tomar para não jogar dinheiro fora? Há que se ter mais cuidado com alguns aspectos que aqui, talvez, nem seriam levados em conta?
Carlinhos Antunes: Bom senso, ousadia, humildade, companheirismo são fundamentais para a carreira dentro e fora do país. Conhecer minimamente quem está te contratando, e quais condições. Não acredite em Papai Noel, pois lá fora, tudo é multiplicado por 10: o prazer e a roubada também.
33) RM: Em que mercados há mais espaço para os artistas brasileiros hoje em dia? Há lugares em que a música nacional penetra mais facilmente?
Carlinhos Antunes: Não há um mercado especifico melhor ou pior. O mundo está sedento de boa música. E a música brasileira é uma das mais respeitadas no mundo. Os mercados existem em todos os lugares, dos países mais pobres aos mais ricos. Depende muito das aspirações de cada artista. Se você quer ganhar dinheiro apenas, a África ou centro América, etc não são exatamente “bons” mercados. Mas se você visa aprender muito, ensinar muito, enriquecer o seu vocabulário musical e abrir portas, esses mercados são muito interessantes por exemplo. A Ásia é um continente em potencial para os músicos, sobretudo a China, mas temos que tomar cuidado com esses mercados. A música não pode ser pensada como uma mercadoria simplesmente. Ela necessita de vários fatores para ser bem feita, bem produzida, etc. Conheci muitos músicos que se deram mal na China, no Japão, nos países árabes ricos em petróleo, etc. Já a Europa e Estados unidos têm tradição de música brasileira. São mercados antigos que estão sofrendo mudanças positivas a meu ver ao receber artistas de gêneros variados e de qualidade. Nesse sentido eu posso dizer que há muitos anos contribuo para mostrar ao mundo uma musica brasileira com muitas facetas, sem rótulos, nem regionalismos baratos.
34) RM: A participação de músicos/bandas brasileiros (as) vem crescendo no mercado internacional? É possível contabilizar isso?
Carlinhos Antunes: Sim, é possível. Claro que não se trata de um mercado de banana, soja e café. Os graus de mensuração são outros, mas tão importantes quanto o mercado de produtos palpáveis. Além da venda de CDs, DVD, etc, que não representam uma grande fatia de mercado, há milhares de valores agregados à cultura que infelizmente não são vistos por nossos dirigentes públicos e privados. Falta preparação intelectual para eles. Esse assunto envolve artistas e técnicos de alto nível, que não dá para tratar nesse pequeno questionário. Há muitos artistas levando o nome do Brasil há anos para fora sem que isso signifique que tenhamos mais apoios estatais ou privados. Creio que a internet ajudou muito para isso ocorrer. Além disso, há mais empresas aéreas operando e os custos ainda que caro das passagens, diminuíram. Eu particularmente viajo para fora do país desde 1982, sempre misturando apoios de artistas, amigos, festivais, projetos, etc.. Às vezes apoio do Estado ou outras instituições. Um artista que fica esperando só ajuda ou o príncipe encantado, morre frustrado.
35) RM: Qual sua opinião sobre o ex ministro da cultura Gilberto Gil?
Carlinhos Antunes: Grande artista que como administrador público teve muitos méritos, que não estão sendo aproveitados pela atual ministra (Ana de Hollanda). E o Gilberto Gil não foi nada arrogante como ministro, eu mesmo falei com eles diversas vezes em debates e ele foi bem humilde.
36) RM: Fale de sua experiência na fundação e participação na Cooperativa de Música. Quais os prós, os contras e a importância de uma associação de classe para os músicos?
Carlinhos Antunes: Participei da fundação da Cooperativa de Músicos, já faz muitos anos e ajudei muito, no inicio, na divulgação e na legitimação dela. Porém faz muitos anos que não tenho contato com eles e não pertenço mais à cooperativa. Por isso não posso opinar de forma mais objetiva. Penso que toda forma de organização dos músicos é válida e necessária, mas desde que isso não altere sua vida de artista nem de profissional. Nossa vocação, de quem é músico verdadeiro, é e sempre será a arte que fazemos e em última e primeira instância, o público. O risco de uma associação ou sindicato é tirar o músico da cena e colocá-lo na mesa. Ele virar um burocrata. Se isso não ocorrer, os benefícios para todos serão muitos e há muito bons exemplos por esse mundo afora.
37) RM: Quais os seus projetos futuros?
Carlinhos Antunes: No momento, lançar os CDs e DVDs já gravados no Brasil e fora do Brasil. E continuar com os concertos que unem a Orquestra Mundana com Orquestras Clássicas.
38-) RM – Contatos ?
Carlinhos Antunes: [email protected] / www.myspace.com/carlinhosantunes / www.facebook.com/carlinhosantunes
Mundano Produções – (11) 9255 – 2435 (11) 3862 – 8816 | Conheça nossos trabalhos em vídeo: http://youtu.be/fnHkZE_YKRc