More Carl Qoz »"/>More Carl Qoz »" /> Carl Qoz - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Carl Qoz

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O cantor, compositor e multi-instrumentistas carioca Carl Qoz adepto todos os oriundos da cultura brasileira mais o que é chamado de Jazz.

A Música é o alimento para Carl Qoz que sem o qual eu não saberia viver. Iniciou como músico em 1964, uma década que foi a para ele a melhor escola musical que frequentou, pois deu elementos para ele seguir a sua caminhada como músico nos conjuntos que animavam os bailes no Rio de Janeiro.

A sua primeira influência e inspiração foi transmitida pelo seu pai que era violonista. Além do seu pai, ele tenho como ídolos: o excelente baixista Alex Malheiros (fundador do Azymuth), Milton Nascimento e Carlos Santana.

Os seus primeiros projetos surgiram quando começou a compor e montou um grupo para tocar suas composições em festivais de música estudantis. Em 1964, ele ainda era uma criança, mas já tinha como meta ser músico profissional. Os seus principais objetivos, na época, era ser aceito pelos colegas de profissão, que quase em 100% dos casos são eles que abrem as portas na carreira. Conseguiu na sua trajetória tocar ao lado dos grandes músicos e alguns famosos. Ele continua tendo muito prazer em levar alegria para os ouvintes. Sonhar é permitido e tornar os sonhos realidades é possível.

Segue abaixo entrevista com Carl Qoz para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 12/02/2025:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Carl Qoz: Eu nasci no dia 07/05/1952 no bairro do Méier – Hospital Municipal Salgado Filho – Rio de Janeiro – RJ. Registrado como Carlos Alberto Queiroz.

A minha primeira residência foi no bairro de Inhaúma – RJ, onde residi até os três anos de idade, em seguida nos mudamos para o bairro de Marechal Hermes, onde fiquei até 1984, ano em que por desejo de conhecer os lugares por onde o meu pai (Sebastião Queiroz) esteve na Europa (um ex combatente durante a segunda grande guerra mundial) e conhecer esta parte do mundo, atravessei o oceano atlântico e moro na cidade Pirenéus Atlânticos na França.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Carl Qoz: Eu guardo em minhas lembranças imagens da minha infância, antes de começar a andar (com meses de idade) o meu pai (Sebastião Queiroz) que era violonista, quando chegava das apresentações, na sua maioria eram realizadas nos palcos das emissoras de rádios. Ele colocava o estojo do violão no chão, abria e eu ficava me divertindo com o violão sem imaginar que um dia este seria o meu principal parceiro de trabalho. Considero que este foi o meu primeiro contato com a música. Eu tive o imenso prazer de rever estas cenas encenadas pelos meus filhos e agora pelos, os meus netos.

03) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Carl Qoz: As minhas influências são inúmeras. Familiar: meu pai (Sebastião Queiroz) sendo músico, tocava chorinhos e outros, minha mãe (Ruth Ur Queiroz) cantarolava tocava pandeiro. Eu fiz parte das bandas de músicas do ginasial (experimentei Clarinete, trompete, flauta doce, percussão) tocando dobrados e outros. Na escola Técnico em Mecânica de Máquinas fiz parte da Furiosa, que era a banda da escola. Toquei atabaque em cerimonias religiosas. Ouvi tudo o que passava perto dos meus ouvidos e sem preconceitos: Rock, Blues, Jazz, todos os estilos brasileiros, música erudita, etc.

04) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Carl Qoz: Como a maioria dos jovens da época (década dos 60) com a influência dos estilos musicais: Twist, iê iê iê, rock and roll que serviram como modelos para o que foi chamado de Jovem Guarda, aos 10 anos de idade peguei o Violão do meu pai (Sebastião Queiroz) e comecei a literalmente arranhá-lo (risos).

Aprendi os três primeiros e mais fáceis acordes no violão: Lá maior, Ré maior e Mi maior (sem saber que eles eram chamados assim) e ficava ouvindo as emissoras de rádio para reproduzir o que eu ouvia.

Antes de continuar citarei o meu percurso de estudos. O que na época chamávamos de curso primário (cinco anos), o que chamávamos de curso ginasial (quatro anos) o que chamávamos de curso científico (três anos no qual me formei na minha segunda profissão Técnico em Mecânica de Máquinas. Fiz um estágio obrigatório de seis meses para ter o diploma e nunca mais trabalhei com essa profissão) quando ainda no conjunto The Braves scouts. 

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Carl Qoz: Em 1964 (triste e famoso ano por conta do início da Ditadura Militar no Brasil em 31 março), aprendendo outros acordes, e mesmo sem conhecimentos teóricos e técnicos convencionais fui desenvolvendo à minha maneira de tocar, mostrei para dois vizinhos meus (Sérgio Sued Ouro, César Roberto Ouro (falecido), Roberto Gomes do Rosário) o que eu havia aprendido e surgiu o primeiro conjunto musical que eu fiz parte, com influência de um conjunto famoso da época The Pop’s, batizamos o nosso conjuntinho de Os Mini Populares.

Nesta época em cada esquina tinha um conjunto que animava bailes que, aconteciam todas as semanas (sextas, sábados e domingos) nos inúmeros clubes do Rio de Janeiro. Fui chamado para ser o guitarrista de um destes conjuntos do bairro, Os Vibrantes. 

Um fato curioso que acontecia nesta época e que éramos crianças e não tínhamos preocupação com dinheiro, uma pessoa abria um crediário comprava todos os instrumentos e o dinheiro arrecadado através dos contratos de bailes serviam para pagar o crediário e as despesas de transportes e manutenção do material.

Obviamente que nós os músicos tínhamos a promessa de que quando o crediário fosse concluído os instrumentos seriam nossos (doce ilusão) este conjunto me serviu como laboratório de pesquisa musical, contato com o público, entre outros preciosos aprendizados que adquiri. Está foi a melhor escola de música que frequentei e colho frutos desta época.

Fiquei neste conjunto durante uns seis meses tocando músicas variadas, em seguida fui convidado para ir tocar em um outro conjunto do bairro chamado The Braves Scouts, com um maior status pois eu já não era mais um iniciante, já tinha um pouco de experiência.

E a minha função era aprender as músicas que deveriam ser acrescentadas ao repertório e ser capaz de indicar aos outros músicos o que eles deveriam fazer, de uma certa maneira estes foram os meus primeiros passos como arranjador (ainda sem conhecimentos teóricos e técnicos) no ouvidômetro. E comecei a receber pelo meu trabalho.

Ensaiávamos semanalmente duas vezes às terças e quintas-feiras e tocávamos às sextas-feiras, sábados e domingos. Eu fiquei responsável pelo local de ensaio e eu sempre chegava mais cedo que os outros músicos e aproveitava para testar os outros instrumentos com teclado, baixo e bateria.

Paralelo à minha atividade artística, eu tinha que ser bom na escola porque o contrato (moral) que os meus pais fizeram comigo tinha uma cláusula que se fosse quebrada a minha atividade artística terminaria: O dia em que os resultados dos exames escolares não fossem acima da média seria o fim dos bailes para mim.

Eu tive a certeza de que ser músico seria a minha profissão, comecei a me interessar por conhecer os códigos ligados à esta profissão, teoria, técnica instrumental, solfejo (no início com o auxílio do meu pai Sebastião) trabalhei com The Braves scouts durante aproximadamente um ano.

Eu entendi que deveria procurar um outro meio para evoluir profissionalmente, o que mudou completamente o meu destino foi uma noite que ouvindo no radio as apresentações das músicas do festival da canção e me assustei quando ouvi pela primeira vez a voz do Milton Nascimento cantando Travessia, eu não entendi nada, pois nunca uma música havia me impressionado tanto.

Comecei a tentar copiar cada vez que a música tocava nas rádios e aprendi a tocar e cantar esta música e comecei tentar ouvir tudo o que Milton fazia. Comecei a compor as minhas primeiras músicas, como na época eram realizados muitos festivais estudantis.

Eu me inscrevia em todos os festivais que me eram possíveis, quando eu descobria que um determinado colégio iria organizar um festival. Eu ia para a porta deste estabelecimento e perguntava aos alunos que saiam se eles iriam participar do festival e quando a resposta era negativa, eu pedia para eles participarem como meus parceiros e assim eu poder ter o direito de participar.

A minha busca não era concorrer e sim ter um palco, material, público e assim poder testar os meus arranjos e ideias musicais. Ainda guardo alguns troféus que recebi embora o que mais me enriqueceu foram os conhecimentos que adquiri.

Citarei alguns poucos nomes e omitirei a maioria, pois na minha maneira de ver a vida eu não gosto de me apoiar no nome de famosos para me promover. Chegou o momento da virada para onde eu queria ir, dois amigos músicos do bairro Humberto e Jairo Guterres (são irmãos) que eram amigos de um dos maiores expoentes da nossa música me disseram que eles haviam falado a ele sobre a minha maneira de tocar.

E ele lhes pediu para me levar ao seu encontro e foi assim que eu comecei a trabalhar com Johnny Alf (Alfredo José da Silva) e comecei tocando violão em algumas músicas nos shows, ele parava de tocar o piano e eu o acompanhava sozinho no violão, em seguida passei para o contrabaixo.

Esta foi a minha grande porta que se abriu profissionalmente, pois tocar com um ícone como este é como se você tivesse um doutorado na visão dos outros artistas, nunca tive que fazer testes para tocar com ninguém, pois diziam se você tocou com Johnny Alf está tudo certo, além de me deixarem livre para me expressar.

Fiz o vestibular para a escola de Belas Artes (UFRJ) na ilha do fundão – RJ curso de Cenografia, e na UNIRIO (na praia do Flamengo – RJ) curso de Licenciatura em Música e Violino (que nunca mais toquei, o meu desejo era saber como as cordas funcionavam para poder escrever corretamente). Lecionei em uma escola de música na ilha do governador …

06) RM: Quantos álbum lançados?

Carl Qoz: Eu ainda não lancei nenhum álbum. Explicarei: Eu junto com Sérgio Sued Ouro, César Roberto Ouro (falecido), Roberto Gomes do Rosário montamos o conjunto Os Mini Populares que quando não estávamos atuando, ilustrando o trabalho alheio, eu alugava salas de teatro para realizar os concertos executando as minhas composições e arranjos.

Com o desejo de participar da programação da Sala FUNARTE no Rio de Janeiro, a qual fui um atuante constante como ilustrador do trabalho alheio, eu não gosto de usar a palavra acompanhador ou acompanhante, pois acho que seria diminuir o imenso valor dos artistas com os quais troquei algumas notas musicais. Eles não precisam de serem acompanhados, pois sozinhos são imensos. Entre a

fundação da sala FUNARTE nos anos 70 até a minha mudança em 1984 para a França e por incrível que pareça eu não conseguir ser programado para tocar na FUNARTE.

Nesta época para conseguir lugar para tocar, contrato com gravadoras (isso eu não quis) e outros era necessário ter o que chamávamos de uma fita K7 demo e foi assim que aluguei um studio de gravação para realizar a fita demo.

Eu estava na época ao lado de uma das nossas estrelas, a Gal Costa e dividia o camarim com outros três músicos da banda. Lembro que eu estava escrevendo o que iriamos gravar no dia seguinte e um dos músicos pegou o saxofone e por cima dos meus ombros tocou o que eu estava escrevendo e me perguntou: O que é que você está escrevendo?

Eu respondi: é um tema meu que vou gravar amanhã e ele chamou os dois outros colegas e disse: vai gravar um álbum escondido. Eu tentei argumentar e explicar que era somente uma fita K7 demo, mas, não consegui convencê-los. Em um momento ele disseram: se você quiser nós podemos participar, marca o dia da gravação e nós iremos.

Eu meio sem saber como agir, falei: aguardem que vou escrever os arranjos para várias músicas e falarei com vocês. Tive a participação de um dos maiores naipes de sopros da nossa história, em seguida ligaram para um outro grande artista com o qual eu também trocava notas musicais.

E este me ligou dando bronca, quando é o meu projeto, eu te convido agora, estou sabendo que você está fazendo o teu escondido, o mesmo aconteceu veio e participou. E o resultado é que foram aproximadamente 50 artistas que participaram do que seria uma fita demo.

Com este material em mãos me senti na obrigação e como forma de agradecer a estas pessoas de lançar um disco que a maioria chamava de independente e eu chamava de autoprodução, pois eu era livre para decidir que direção seguir sem ter que ouvir abobrinhas de ninguém.

Trabalhei muito como músico e arranjador para as grandes gravadoras e por isso eu conhecia muito bem como era o funcionamento e como eram tratados os artistas contratados e eu não queria este tratamento.

As gravações que me deram e me dão prazer em ouvi-las foram as que o artista me convidou para participar ou seja, projetos como o meu, autoproduzidos em que tocamos por amor e solidariedade e não por dinheiro. Gravei alguns outros projetos com as minhas composições, mas nunca tive a coragem nem a vontade de lançá-los talvez por saber que dificilmente eu consiga algo como a fita demo que virou disco.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Carl Qoz: Se eu posso chamar de meu estilo musical eu diria que, sobretudo atualmente, é uma mistura de tudo o que ouvi e ouço, de tudo o que pude e continuo a armazenar oriundos das trocas que faço com outros artistas. E claro as pessoas que assistem as apresentações também influenciam emocionalmente e fazem com que o resultado musical também tenham um pouco da energia deles.

Sinceramente eu nunca me preocupei com isso, o que mais me fascina é quando eu consigo emocionar com o que faço alguém que não tem conhecimentos técnicos e teóricos ligados à música. Ser elogiado por colegas também faz bem ao ego.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Carl Qoz: Sim eu estudei técnica vocal na UNIRIO embora o meu objetivo nunca foi ser um cantor, mas, me ajudou e ainda me auxilia quando quero usar a voz como mais um instrumento musical e claro a voz é um dos mais belo instrumento musical.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Carl Qoz: Justamente, o estudo de técnica vocal permite ao utilizador de evitar acidentes que possam causar danos irreparáveis nas cordas vocais. Nos ajuda propondo vários exercícios, como posturas, respiração entre outros.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Carl Qoz: São várias, mas, vou citar cinco que pra mim fazem a diferença, não estão em ordem de preferência: Alaíde Costa, Carminho (cantora portuguesa), Miu Queiroz, Gal Costa, Ângela Maria.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Carl Qoz: Nas minhas primeiras composições, eu usei o método que penso ser o usado por vários artistas, esperava ter o que chamamos de inspiração. Até que um dia eu estava na casa de uma amiga e uma pessoa que estava presente me solicitou uma composição para uma peça teatral, me deu detalhes sobre o personagem sobre o qual eu deveria me basear para realizar a composição e eu respondi: está certo, assim que eu me inspirar eu componho e te envio a música.

Quando a pessoa saiu a minha amiga me disse: você com essa história de inspiração acabou de perder uma boa oportunidade e eu respondi, mas é assim que todo mundo trabalha. Ela me disse, você não pode trabalhar assim; detalhe ela não tem nenhuma relação direta com a música, quando alguém te solicitar uma música você tem que apresentar no mínimo três e rápido pois se duas não agradarem ou não se adaptarem possivelmente a terceira ou a quarta agradará e sem essa de esperar a lua cheia pra ter inspiração.

Eu me lembro que discordei, disse que ela não podia entender este processo de Criação. Fui para casa e, depois deste episódio eu passei a compor quando e como eu quero, é claro que nem tudo é aproveitado mais funciona, eu crio uma história na minha mente e traduzo em música.

Quando os meus filhos eram pequenos e ficavam brincando no meu espaço de trabalho (Home studio), eu deixava uma composição ou arranjo tocando ininterruptamente, se eles continuavam ali brincando eu acreditava que deveria seguir com o que eu estava fazendo em caso contrário ou eu modificava alguma coisa no que estava fazendo ou abandonava.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Carl Qoz: Melodista eu nunca tive parceiro, pois penso que este é o meu lado mais natural e nunca fui letrista colocando na melodia de outro compositor. E parceiros letristas tive no início da carreira, eu tive dois parceiros com os quais fiz umas duas músicas com cada um, por outro lado, eu tive uma excelente parceira que escrevia letras para melodias como se bebesse água.

No álbum no qual citei na resposta à pergunta número seis, tem algumas parcerias com Luciana, mas durou pouco, ela na época era estudante de medicina e me disse que não queria mais se envolver com a música, pois isto a estava desviando de seu objetivo principal que eram os estudos.

Fiquei muito triste e no álbum em questão, eu compus a música Adeus que pra quem não conhece este fato pode parecer uma história de amor. Um dos versos são: “…Se me perguntarem por meu grande amor, podes estar certa de que não tentarei nenhum álibi, desculpas ou mentiras pra justificar a tua ausência…”. A partir daí, eu mesmo escrevo as letras para as minhas melodias. Penso que eu perdi, mas ganhei (risos).

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Carl Qoz: Hoje, eu não sei o que os criadores têm como objetivo e somente meia dúzia de três ou quatro conseguem ter um contrato interessante com uma distribuidora.

Agora se pensarmos no passado bem passado, o sonho de todo artista era ter um contrato com uma gravadora, achando que esta era a melhor solução (Sim ou Não?) eu, como já citei antes, por ter conhecimento de como funcionava por detrás das cortinas, em nenhum momento desejei ser um artista contratado por uma gravadora.

O positivo quando você não é prisioneiro de um contrato é que você decide tudo (certo ou errado. Bonito ou feio, mas é como você quer) o contrário, eu vi artistas famosos sendo obrigados a fazer o que o seu mestre mandar, como se vestir, como se pentear, como falar, como cantar etc…

Em compensação, eles eram possivelmente tristes, mas famosos e em algumas vezes recebendo um bom salário. Eu sinceramente nunca pensei em ter dinheiro, se fosse o caso a última profissão que eu iria exercer é a que eu exerço com muito orgulho.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Carl Qoz: O meu foco sempre foi e é: respeito, organização, sinceridade, honestidade, pontualidade, ter consciência dos meus limites e nunca tentar ultrapassar estes limites, buscar sempre ser melhor do que eu fui há um minuto antes, como artista e como um ser, em qualquer situação. Eu faço tudo para dar o melhor que eu sei fazer em prol da música, nunca trair um amigo ou colega de profissão, etc…

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Carl Qoz: Esta resposta, talvez, incomode alguns, mas é assim que eu sou. Eu como citei na resposta anterior, eu me organizei para que as coisas funcionassem e funcionem como eu quero.

Eu nunca bati na porta de ninguém para pedir para trabalhar e continuo ainda, hoje a me comportar assim, porém, uma coisa que eu aprendi é que ninguém vai bater na minha porta sem saber quem eu sou.

Hoje é mais fácil pois somos o piloto das nossas naves de divulgação e para isto basta um simples computador, um celular e um acesso à internet e você em segundos faz a tua mensagem chegar do outro lado do mundo, mas antigamente não era assim e penso que eu soube utilizar o que eu tinha a meu favor na época e funcionou. Hoje, já não tenho tantas ambições, pois fiz tudo o que sonhei e planejei. O que vier d’aqui para frente é o lucro que não estava nos planos.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Carl Qoz: No meu caso a internet não ajuda e nem prejudica, mas, abriu algumas portas para alguns e fechou muitas para outros. Fechou para as grandes gravadoras, produtores, para artistas que perderam muito com a arrecadação de direitos autorais, com as vendas de discos, entre outros.

Por outro lado, para os que não possuíam meios de fazer propaganda dos seus trabalhos, não podiam fazer a sua música ser ouvida em qualquer parte do planeta etc. A porta se encontra bem grande e aberta. Sem a internet dificilmente eu estaria na RitmoMelodia escrevendo um pouco sobre a minha caminhada, isto é um fator positivo. 

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Carl Qoz: Eu não vejo nenhuma desvantagem do home studio para os artistas que aceitaram e tiveram condições de fazer suas gravações caseiras, infelizmente para os studios e profissionais da área é claro que não é interessante.

Na metade da década dos 80, eu comecei a fazer as primeiras gravações caseiras usando dois gravadores K7, uma mesinha de mixagem, um par de headfones e um microfone.

Eu entrava a guitarra em um canal da mesinha de mixagem equalizava colocava um pouco de reverb que tinha na mesinha e endereçava para a saída L da mesa, entrava o microfone em outro canal da mesinha, timbrava… e endereçava para a saída R da mesa em seguida pegava as saídas L e R da mesa e enviava para as entradas do gravador K7 L e R, monitorava com o Headfone equilibrava os volumes e fazia a captação.

Em seguida pegava as saídas deste gravador enviava para dois canais da mesa, fazia algum tratamento se necessário, por exemplo, plugava um contrabaixo em um canal, fazia o gravador ler as pistas de guitarra e do microfone, fazia uma mixagem com o contrabaixo e enviava esta mixagem para o segundo gravador… dessa forma eu ia montando as minhas músicas. Quando alguma coisa não me agradava eu podia refazer, pois eu não apagava nada e trocava de K7, tudo numerado e etiquetado.

Depois passei para um gravador de rolo 8 canais, aí a brincadeira ficou mais interessante e mais fácil de manipular, até que pude comprar o meu primeiro computador popular que somente usava o MIDI, veio o rwindows, Mac… Adoro ter a liberdade de poder usar a hora que quero e como eu quero. 

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical? 

Carl Qoz: Sim, hoje ter um projeto gravado é a coisa mais simples e fácil de realizar e obviamente a dificuldade é veicular este produto. A solução é fazer apresentações ao vivo que, é a única maneira de provar que você sabe tocar, cantar etc…

E ter um projeto pessoal de preferência diferente do que as pessoas possam ouvir gratuitamente na internet, se o que você faz emociona os ouvintes, eles compram o teu CD. Ouço muito as pessoas dizerem que ninguém compra mais CD, mas compram, eu toco com artistas que vendem CDs, camisetas, etc e os ouvintes no final do concerto compram os produtos.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Carl Qoz: Eu não tenho elementos para responder a esta pergunta porque eu não vivo no nosso país assim sendo eu não me acho no direito de opinar a este respeito, o pouco que chega aos meus ouvidos algumas coisas me emocionam positivamente e muitas não. As minhas referências continuam sendo os que já eram conhecidos quando eu me mudei e que por sinal continuam até hoje ativos.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Carl Qoz: Eu me considero uma pessoa que adora dar risadas e observo muito o lado engraçado que na maioria não o é para quem está na situação, eu poderia escrever um livro com tantos casos que vi e nos quais algumas vezes fui um dos personagens, mas para ter graça eu teria que citar nomes e por respeito à vida alheia prefiro continuar contando no meu círculo de amizades próximas de mim.

Mas para não passar em branco, vou contar uma que aconteceu comigo: Na primeira edição do Projeto Pixinguinha que era uma série de concertos com duração de uma semana em cada estado do Brasil patrocinado pela FUNARTE e o Ministério da cultura.

Eu tocava com a cantora Alaíde Costa e o concerto era no Sesc em São Paulo no ano de 1977. Eu não participava do início do show, entrava algumas músicas depois do início, eu deixava o violão em um suporte no palco porque como a diferença de temperatura entre o camarim e o palco era muito grande. O palco tinha ar-condicionado e o camarim não tinha. E esta diferença influenciava na afinação do violão, por isso eu o afinava e deixava no palco para estabilizar a afinação.

Em um dos dias, eu saí do camarim, pois fui avisado pela produção que faltava uma música para a minha entrada, desci as escadas e fui para a entrada do palco, quando a música terminou; apagaram-se as luzes e eu entrei no palco e fui para o banquinho para pegar o violão e fazer a introdução da música.

Entrei todo empolgado e o público aplaudiu, mas quando eu cheguei no banquinho, cadê o violão? Ficou aquele clima horrível e claro eu saí correndo para ir buscar o violão, quando retornei foi um misto de risada e aplausos. Hoje eu dou risadas, mas no momento foi complicado. Esta foi uma das situações engraçadas que vivi nos palcos da vida.

21) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Carl Qoz: Felicidade é fazer o que gosto, é levar alegria para os que assistem as minhas apresentações artísticas, é saber que de certa forma, eu nunca trabalhei, pois sou pago para fazer o que eu amo. E graças ao que eu faço tive a oportunidade de conhecer o meu país ao ponto de ter ido por várias vezes em todos os estados e em várias cidades destes estados.

E conhecer uma boa parte do mundo, encontrar e conviver com pessoas, incríveis, e mesmo depois de todo este tempo ainda ter a mesma vontade de estar nos palcos. Na carreira artística nada me entristece. Fiz a excelente escolha como profissão.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Carl Qoz: Normalmente quando encontramos pessoas que conseguem fazer algo muito bem (não necessariamente ARTE) e temos mania de dizer que esta pessoa é talentosa.

O talento não é o único elemento que faz com que esta pessoa execute com aparente facilidade determinada tarefa. Nós copiamos o que vemos (bom e ruim) aprendemos a falar porque copiamos os nossos familiares, andamos etc. Melhorar o que já foi feito é mais fácil do que criar.

O dom existe, mas uma pessoa que tem dom, mas é preguiçosa não vai longe, por trás de uma pessoa talentosa tem muitas e muitas horas de estudos; mesmo que não seja formal ou acadêmico, muita abdicação, muita solidão, muita incompreensão. E quantas vezes colegas me convidavam para ir me divertir com eles e eu não ia porque tinha que preparar um arranjo, ou uma música ou mesmo estudar.

O que eles não entendiam é que eu estava feliz, enfim o público assiste aos shows que duram uma hora e quinze minutos, mas não imaginam quantas horas foram utilizadas para que naqueles 75 minutos, eles pensam que somente o talento ou dom gerou aquele resultado. Ouço muito isso, você tem sorte em ter nascido com Dom para a música.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Carl Qoz: A palavra improviso quer dizer que é algo que não foi preparado antes ou que foi decorado. Eu quando ensaio músicas que tem o que chamamos de improviso, como para o exemplo o Jazz, eu nunca toco o meu improviso, deixo para a hora do valendo.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Carl Qoz: Eu defino a minha forma de improvisar como um ato de criação momentâneo, espontâneo e efêmero de forma que, se por acaso, eu querer tocar novamente este improviso nunca mais ele será repetido de forma idêntica.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Carl Qoz: Eu não sou contra, pois estes métodos permitem aos que não podem ou que não querem usar o ato de criar algo passageiro sobre este sujeito possam se expressar. Eu conheço músicos que me pedem para cantar um improviso e eles escrevem e toda vez tocam a mesma coisa.

O que eu usei e uso para não ter medo quando me perguntam se eu quero improvisar é ter o máximo de domínio técnico do meu instrumento para que as ordens enviadas pelo cérebro possam ser executadas com facilidade pelo físico (dedos, etc). É aí que o método usado para ter este domínio tem sua importância.

Eu encontro muitos músicos que me dizem, eu estudo 8 horas por dia e não consigo melhorar, eu dou risada e digo errou. A pessoa fica tocando e pensa que está estudando, eu separo bem estudo é estudo e divertimento é divertimento, normalmente eu estudo em casa para poder me divertir nos palcos.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Carl Qoz: Nada contra a Harmonia é a base de tudo, a maioria dos músicos querem ser solistas, tocar mil notas por segundos etc. Se o músico é um gênio e conseguirá somente tocar o que gosta, tocará no quarto e não dependerá de salário como músico para viver isso funcionar, caso contrário terá que acompanhar alguém.

Dificilmente um artista vai dar emprego para um músico que não tenha um mínimo de conhecimento de Harmonia. Mesmo os maiores músicos do mundo alguma vez tiveram que acompanhar (Pesquise).

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Carl Qoz: Penso que o jabá mudou de lugar, agora é na internet e o artista paga para ter visualizações. Como antes, quem tem dinheiro para aplicar terá muitas visualizações, a diferença é que antigamente as músicas tocavam nas rádios e nós (compositores) recebíamos direitos autorais.

Atualmente para recuperar o que foi pago para as chamadas distribuidoras digitais é praticamente impossível. Por este motivo, artistas que quase não faziam apresentações ao vivo voltaram para a estrada, pois infelizmente, os que somente cantam, sem a venda de discos como antigamente não tem salário e os compositores não recebem direitos autorais. São raríssimos os que conseguem. Até o rei Roberto Carlos voltou para a estrada e está fazendo muito mais apresentações que antes.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Carl Qoz: Responder à esta pergunta é de uma responsabilidade muito grande, pois cada caso, é um caso diferente, mas, vamos lá. É claro que o que aconteceu com a minha geração não acontecerá mais da mesma forma, o mundo mudou, a maneira de consumir música mudou.

Se for iniciante, comece fazendo coisas pequenas e simples para aprender como funciona, perder o medo do palco. Eu vou falar sobre músico que é o que faço, não opinarei sobre cantores e cantoras (isto é uma outra história).

Se você tem o desejo de ser um músico profissional (ter somente a música como fonte de renda) saiba que só vai ficar rico se ganhar na loteria ou se a Madona te convidar para tocar na banda dela e assim mesmo se ficar lá por muito tempo.

É necessário como em qualquer profissão: ter condições técnicas e teóricas para fazer o que o patrão ou patroa quer, se você aceitar acompanhar alguém, mesmo que você não goste do que esta pessoa faz faça o teu melhor e evite criticar e demonstrar que você não gosta do que ela faz.

E seja disciplinado, organizado, pontual, tenha instrumentos dignos deste nome (não é questão de marcas, mas que afine tenha um timbre correto, etc), saiba como timbrar o instrumento, estar disponível para viajar, entre outras qualidades que serão exigidas a um profissional.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Carl Qoz: Depende do que chamamos de festival de música, na minha juventude eram concursos (nos colégios na sua maioria) nos quais só eram permitidos compositores, autores e intérpretes amadores. Não citarei nomes, mas existem algumas pessoas famosas que foram reveladas em festivais estudantis. Atualmente eu não tenho condições para verificar se ainda existem estes tipos de festivais. Penso que seria de grande utilidade.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Carl Qoz: A grande mídia tem o mesmo comportamento em qualquer lugar do Mundo. Quanto pior a música mais eles divulgam e o pouco que eu tenho acesso é triste o que vejo e ouço, na França também a coisa é feia. Mas o importante é buscar caminhos alternativos porque se a tua música não se enquadrar nos moldes por elas exigidos você não chega nem perto da porta de entrada.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Carl Qoz: Eu participei de vários projetos no Brasil inteiro promovidos pelos SESC e SESI, eles são corretíssimos, nós viajávamos, éramos hospedados, tínhamos alimentação correta, tudo por conta deles, cachê, etc. Não tenho ideia de como funcionam hoje, mas, é uma possibilidade para jovens artistas fazerem propostas para eles. Eles tem uma verba destinada à arte em geral. Com o banco eu nunca fiz nada.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Carl Qoz: Eu depois de algum tempo fiquei ainda mais seletivo com relação às minhas participações. Eu faço parte da banda que acompanha a cantora franco-brasileira Miu Queiroz (compositora, autora, arranjadora e produtora artística e minha filha) que tem um projeto artístico que muito me agrada.

E participo de dois trios com formações instrumentais diferentes, em ambos, eu toco contrabaixo. Um é formado por Acordeon, Violão e Baixo (é um baixo vertical com um braço de baixo acústico com 5 cordas). E tocamos composições próprias e algumas de compositores conhecidos que gostamos e adaptamos aos nossos gostos.

E no outro trio a formação é: Sax tenor, Percussão e eu no contrabaixo elétrico tocamos temas de jazz e algumas composições minhas. Não sabemos quando será a próxima apresentação.

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Carl Qoz: +33 7 83 14 52 82 | [email protected] 

https://www.facebook.com/carl.qoz 

Links de vídeos tocando: https://www.facebook.com/carl.qoz/videos/3527732577555658 

https://www.facebook.com/carl.qoz/videos/560586568988929 

https://www.facebook.com/carl.qoz/videos/863286229231068 

https://www.facebook.com/carl.qoz/videos/1799402550466366 

https://www.facebook.com/carl.qoz/videos/3679723382339866


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Comments · 3

  1. Que maneiro, ler essa entrevista com Carl Qoz, artista que morou bairro de Marechal Hermes, RJ, onde eu também morava e foi lá que a gente se encontrou algumas vezes antes dele ir para a França. Carl Qoz é um grande figura da boa música!
    Valeu pela brilhante entrevista, caro jornalista Antonio!

  2. Carl Qoz é um daqueles amigos que passam a pertencer à família. Hoje, nossos exatos 12 anos de diferença (nascemos no mesmo dia e mês) não fazem muita diferença. Mas na minha adolescência, Carlinhos, como ainda o chamamos, já era pra mim um ícone da música. Eu o considerava um violonista e guitarristas do mesmo patamar dos melhores do mundo que eu conhecia (na época eu ainda não tinha noção da pluralidade de sua mestria musical :)). Mas poder ver de perto a rapidez de seus dedilhados e ouvir a limpeza e nitidez de suas notas era o bastante para eu saber que estava diante de um dos grandes instrumentistas contemporâneos. Ouvir a sua música é puro prazer.

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.