Cacala Carvalho é uma artista brasileira, nascida no Rio de Janeiro que abraçou Niterói, vivendo hoje na região oceânica da cidade. É cantora, compositora e violonista. Está preparando o seu mais novo trabalho autoral, fiel a sua bossa psicodélica influenciada principalmente pelo jazz e pela MPB, mas também com um traço de influência do rock ‘n’ roll.
Além do seu trabalho solo, Cacala faz parte do conhecido e premiado grupo de samba Arranco de Varsóvia, do trio vocal feminino Folia de 3, e é diretora musical do grupo vocal Flor do Canto.
Sua discografia contabiliza onze álbuns (dois são solos), um EP autoral, vários singles lançados e um DVD, entre trabalhos solo e em grupo. Em seus projetos já contou com as participações especiais de Ivan Lins, Martinho da Vila, Nelson Sargento, Zé Rodrix, Gutemberg Guarabyra, Claudio Lins, Danilo Caymmi, Beth Carvalho, Moinho, Casuarina, Marcos Sacramento, Mu Chebabi, Arthur Maia, Nilze Carvalho, Lan Lanh e Emanuelle Araújo, entre outros.
Atualmente Cacala vem trabalhando seu último álbum Cada tempo em seu lugar, uma homenagem ao grande compositor Gilberto Gil gravada em duo com o pianista João Braga, lançado no Brasil em 2012 pela Mills Records.
Segue abaixo entrevista exclusive com Cacala Carvalho para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 14.08.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Cacala Carvalho: Eu nasci no Rio de Janeiro, no final dos anos 60 num 18 de abril. Embora eu tenha nascido na Tijuca, passei os melhores momentos da minha infância na casa do meu avô paterno, em Niterói. Por isso hoje eu me considero niteroiense e optei por viver em Niterói desde 2003. Registrada como Maria Clara Borba de Carvalho.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Cacala Carvalho: Eu sempre cantei, dancei, curti o som dos anos 70 que minhas irmãs mais velhas ouviam na sala da nossa casa. Aos 10 anos pedi um violão de presente pro meu pai e nunca mais parei de tocar, cantar e estudar música.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Cacala Carvalho: Me formei na Rio Música, escola dirigida pelo sensacional Sérgio Benevenuto, onde estudei teoria, harmonia, violão e percepção.
Os corais dos quais participei, especialmente o Cara Coro, nos idos de 1983 e as aulas de voz na escola do saudoso Marcos Leite, com ele e a Regina Lucatto, e as aulas de canto com Felipe Abreu também foram decisivos na minha profissionalização em música. O Marcos Leite foi, inclusive, quem me indicou pro meu primeiro trabalho profissional, o quinteto vocal Maite-tchu.
Ao lado de tudo isso eu cursei Psicologia na UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, fiz mestrado em Psicologia na PUC/RJ. Trabalhei em paralelo com as duas profissões durante anos, optando por viver somente de música em 1994, quando nasceu meu segundo filho com o grande músico Fernando Caneca.
Durante a pandemia do Covid-19 fiz uma pós-graduação em Pedagogia Vocal na FASM/SP. Acabei por me especializar em dar aulas de Canto Popular e em trabalhar como preparadora vocal, e a pós veio trazer uma chancela acadêmica para essa vasta experiência que acumulei nesta área, para onde converge também a minha formação em psicologia.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Cacala Carvalho: Nenhuma influência deixou de ter importância, muito pelo contrário. Cada vez mais valorizo e me aproximo das influências que me formaram e reciclo tudo pra dizer o que quero dizer, do meu jeito. Posso citar Som Imaginário, Zé Rodrix, Secos e Molhados, Mutantes, Rita Lee, Elis Regina, Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento. Preciso citar também o grande Tom Jobim e o Dorival Caymmi. Do samba, Elza Soares, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Clara Nunes. De fora, preciso citar Genesis, Queen, Led Zeppelin, Stevie Wonder, Elton John.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Cacala Carvalho: Em 1987 comecei no Rio de Janeiro com o quinteto vocal Maite-tchu. O grupo durou até 1998 e fez muito sucesso no Rio de Janeiro. A gente tinha seis músicas tocando na Globo FM na época, mesmo sem termos um disco gravado. Estivemos na mídia e tínhamos os shows sempre lotados!
06) RM: Quantos CDs lançados?
Cacala Carvalho: Hoje na minha discografia tenho onze álbuns, entre eles dois solos e outros sete de projetos com grupos, um EP lançado no site do meu Selo Zênitha Música, além de sete singles. Com o Arranco de Varsóvia, grupo vocal de samba do qual faço parte desde 2001, gravei três destes nove álbuns, sendo que um deles, o Na Cadência do Samba, nos deu o Prêmio Tim de Melhor Grupo de Samba em 2006.
Discografia:
1-“Ela e ele e eu” – Seu primeiro CD como solista, independente (2001);
2-“Histórias, músicas e acalantos” – CD independente de composições infantis de Maria Helena Alvarenga ao lado de Maria Teresa Madeira (2003);
3-“I Can Tell The world” – CD Gospel de Negro Spirituals, com os cantores da Companhia Sansoni e Double Sound (2004);
4-“Na Cadência do Samba”– Com o grupo Arranco de Varsóvia (Dubas – 2005), que deu ao Arranco o Prêmio TIM 2006 de Melhor Grupo de Samba;
5-“Pessoa Rara” – Com o trio vocal Folia de 3 em homenagem ao compositor Ivan Lins (Mills Records e Mosaico Digital – 2005);
6-“Samba e Progresso” – Coletânea com o grupo Arranco de Varsóvia (Dubas – 2007);
7-CD/DVD “Pãozinho de Açúcar – Arranco canta Martinho” (2010) uma parceria entre o Selo Mills Records, o Canal Brasil e a Cineviola;
8-“Cada tempo em seu lugar” (2012) – Seu segundo álbum como solista. Trata-se de uma homenagem aos 70 anos de Gilberto Gil, gravado em duo com o pianista João Braga, lançado pelo Selo Mills;
9-“Na panela pra dançar (2014) – Com o Arranco de Varsóvia, pelo Selo Mills;
10-”Folia de 3 Canta Márcio Borges” (2018/2019) – Álbum que veio sendo lançado digitalmente, de forma independente, faixa a faixa, desde dezembro de 2018;
11-Samba de Cartola – Ao Vivo (2021) – Com o Arranco de Varsóvia. Álbum produzido por Cabanas Produções e distribuído por Mills Records;
12-EP Nós – lançado no site da Zênitha Música. Nas plataformas as músicas figuram como singles.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Cacala Carvalho: Eu chamo meu estilo de “bossa psicodélica”. Bossa é um termo que remete imediatamente a BRASILidades e psicodelia é a minha paixão pelos sons setentistas das guitarras, uma abertura que muito me representa no mundo, fazendo também convergir pro meu som o meu lado rockeira. Essa é a minha bossa!
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Cacala Carvalho: Sim. Como os professores: Marcos Leite, Regina Lucatto, Felipe Abreu. Só com o Felipe Abreu estudei por 11 anos. Mais recentemente fui aluna das maravilhosas Angela Herz e Joana Mariz, sendo que esta última foi minha orientadora de TCC na pós em Pedagogia Vocal, concluída em 2022/2023.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Cacala Carvalho: A importância é gigante pra mim. Me conheço e me reconheço através da minha voz, meu canal primordial de expressão artística. Então cuido mesmo, estudo, leio, pratico, experimento, me atualizo e me dedico mesmo pra ser a versão mais intensa e cuidadosa de mim mesma. E é isso que proponho aos meus estudantes. Minha voz é meu caso de amor incondicional com a música!
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Cacala Carvalho: Como já citei alguns e algumas incríveis que são minhas referências. Vou então destacar alguns e alguns colegas contemporâneos (as) que amo: Cássia Eller, Marianna Leporace, Andréa Dutra, Carminho, Luanda Cozetti, Bárbara Rodrix, Áurea Martins, Liniker, Agnes Nunes, Lucio Sanfilipo e Alcides Sodré.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Cacala Carvalho: Varia a forma…às vezes me vem a melodia e a letra de uma vez só e depois crio a harmonia. Outras vezes, crio sequências harmônicas e vou cantarolando melodias e só depois crio e encaixo letras. Quase sempre algo ou alguém me inspira, algum fato ou pensamento me impacta e pronto.
Fico ruminando aquilo e surge algo musical. Observo muito o cotidiano e isso me leva a reflexões existenciais bem profundas que também me alimentam de inspirações. Já musiquei letras de parceiros. Adoro letrar músicas que me enviam também. Ou seja…sem regras, simplesmente flui de mil maneiras.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Cacala Carvalho: Fernando Caneca, Emerson Mardhine, Canequinha, Marianna Leporace, Rômulo Gomes, Felipe Radicetti, Felipe Caneca.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Cacala Carvalho: Ser artista independente e autoprodutora é muito trabalhoso. É preciso cultivar e usar múltiplas competências, com muita determinação e disposição. Mas não vejo isso como um “contra” exatamente. Eu aprendi a ser muito safa sendo mãe e tendo a minha vida pessoal ao mesmo tempo, sou muito ativa e altamente comprometida com meu desejo. Além disso, eu sou “a louca da eficiência” (risos) e curto ser assim. Meu lema é: “não deixe pra depois de amanhã o que pode fazer ontem”.
Reconheço que há um elo de realimentação muito profundo entre o artista independente, seu ofício, seu público e sua obra, e esse elo desenha a função do artista na coletividade. É algo ao mesmo tempo íntimo e social, aspectos atrelados e inegociáveis. A arte precisa fluir na independência, porque mesmo que tangencie questões relativas à economia de mercado, resiste e jamais pode ser determinada por qualquer interesse ou demanda do capital.
Concluindo, eu, Cacala Carvalho, não seria artista se não me sentisse independente para ser quem eu quero ser, no seio do tecido social onde vivo. Ser independente pra mim é o maior “pró” de todos, posto que é condição fundante do meu papel e dos meus compromissos como artista.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Cacala Carvalho: Atualmente aplico o método ID MUSIQUE da super consultora Dani Ribas e também me movo coletivamente com meus parceiros do selo Zênitha Música. Unimos forças pra organizar lançamentos, shows, participação em editais, fomentar reflexões sobre direitos autorais e assuntos importantes pra organizarmos nossa obra e ações.
Já fiz muitos shows em condições ruins, sem um cachê decente, com equipamento ruim. Hoje eu escolho. Não que eu não precise, preciso e amo fazer shows, mas não me submeto mais a condições aviltantes. Prefiro, nestes casos, dedicar o tempo que eu usaria neste tipo de show para me divulgar na internet, ou em ações de engajamento do meu público, ou mesmo estudar, compor ou dar aulas.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Cacala Carvalho: Basicamente componho, organizo a minha produção entre singles e álbuns e suas estratégias de lançamento, e faço uma agenda de shows. A realização de shows foi bastante afetada pela pandemia, então agora estou retomando os shows ao vivo, com alguma parcimônia já que, por exemplo, estou trabalhando num novo álbum que justificará uma agenda mais intensa de shows para o ano que vem.
Neste momento de poucos shows procuro envolver meu público nos processos do meu trabalho de outras formas através da internet, com transmissão de programas, vídeos interessantes, dicas de voz etc. Invisto pesado na visibilidade do trabalho coletivo do meu selo que tem hoje 10 artistas. Tenho assessoria de imprensa através do selo. Meu foco no momento é investir em abrir circulação de shows em Portugal, onde já cantei e tive um excelente retorno de público.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Cacala Carvalho: Uso a tecnologia a meu favor. Facilita muitas coisas, ampliou a exposição, democratizou o acesso à tecnologia de gravação etc. Mas não estou atrás de números, plays, streamings que não sejam orgânicos. Quero investir na relevância. No reconhecimento do meu nicho. O alcance aumentará em função da relevância do meu trabalho. Então administro as ações para que eu não me perca da minha vocação original que é fazer arte através da música.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Cacala Carvalho: Acho que foi fantástico poder me gravar em casa, estudar um pouco mais sobre áudio e ser capaz de captar minha própria voz sozinha, tirando um ótimo som dela. Esse foi definitivamente um ganho significativo que conquistei na pandemia do covid-19. Lancei alguns singles gravados em casa em 2020 e 2021. Gravei para outros trabalhos e consegui me manter trabalhando via internet.
Não me sinto capaz de chegar a finalizar totalmente uma faixa sozinha, mas as parcerias acontecem pra resolver isso, e muitas delas são à distância também. As desvantagens são a falta que faz a energia e o trabalho simultâneo em equipe no estúdio. O processo de criação pode ganhar muito quando trabalhamos presencialmente, podendo haver interlocução e interferências criativas no momento da gravação.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Cacala Carvalho: Penso que quanto mais eu souber dizer a que vim, tiver consciência do conceito do meu som, das minhas referências, dos meus propósitos com a minha música, das características do público que me curte e me apoia, da função social que exerço como artista, conseguindo dizer artisticamente o que outras pessoas gostariam de dizer ou ouvir, ou fazendo-as parar pra ouvir novamente e se relacionar com as sensações que minha música desperta nelas, tanto mais eu farei diferença e ganharei relevância no meu nicho.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Cacala Carvalho: Realmente acho muito difícil analisar muito bem o cenário da Música Popular Brasileira. Penso que ele é bastante complexo e talvez até caótico (risos). Estamos no olho do furacão da revolução da internet…e até a legislação está correndo atrás pra organizar o mercado fonográfico. Tem muitas zonas cinza…
Mas tentando responder, acho difícil dizer que um artista regrediu. Tudo depende do projeto de vida dele e dos caminhos que ele escolhe pra fazer seu ofício. Como mensurar o que seria um “retrocesso” ou mesmo um “avanço”? Os números de plays, streamings, muitas vezes são dados que não correspondem à realidade de seguidores e apoiadores que o artista tem, já que podem ser comprados.
A entrada em playlists por vezes depende mais dos contatos que das audições do público que de fato curte e segue a carreira do artista.
É importante ampliar o alcance em números nas plataformas? Sim, mas o trabalho relevante, feito incansavelmente por anos, e que por isso acaba se tornando cada vez mais relevante para o nicho que fala aquela língua, este sim determina o sucesso e o reconhecimento de um artista, apesar de nem sempre impactar com números tão surpreendentes o mundo digital.
Por vezes algo que me parece extremamente relevante não figura nem no médio “stream”. Dito isso, eu vou citar, Cássia Eller, Zélia Duncan, Lenine, Desengaiola, Caio Prado, Vanessa Moreno, Fred Martins (amo), Fabiana Cozza, Renato Braz, Zeca Baleiro, Crioulo e MC Marechal, entre muitos outros que seguem fazendo um belo trabalho nos dias de hoje.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Cacala Carvalho: Uma interessante e engraçada foi quando peguei um ônibus comum, depois de um show na Praça Tiradentes, acho que no Teatro João Caetano, com Arranco de Varsóvia e Danilo Caymmi, pra voltar pra casa em Niterói-RJ: De repente reparei uma mulher em pé olhando demais pra mim (eu estava sentada, por sorte, num ônibus cheio). Muito cansada eu pensei: – ó Deus, a moça está me dando mole, vai querer meu telefone, eu vou ter que despachá-la, que preguiça…
Eu só quero chegar em casa e vou ter que administrar essa situação. Até que ela tomou coragem, se aproximou e disse: – Era você que estava no palco ainda agora naquele show maravilhoso de Samba e MPB, com o Danilo Caymmi, né? E eu, que faço isso há tanto tempo, nem pensei que poderia estar sendo reconhecida naquele momento.
Somos pessoas comuns, só que a magia da música e do espetáculo nos envolve numa aura também mágica de afeto que vem do público e por uma fração de tempo eu esqueci disso… Estava ali mergulhada no meu cansaço e no desejo pela minha cama.
Daí abri um sorriso, disse que era eu sim, agradeci os elogios e numa gargalhada rimos as duas por que eu falei: agora estou aqui na versão “zero glamour” (risos), mas que bom que estamos compartilhando momentos tão diferentes juntas.
Uma vez, também com Arranco de Varsóvia e Danilo Caymmi, fiz show de réveillon no Farol da Barra em Salvador – BA, e na hora de sairmos do camarim, entramos numa van no meio da multidão. Quase que esta van foi virada (risos).
Eu estava com meus filhos, ainda crianças, e ficamos apavorados, todos achamos que íamos morrer esmagados pela volúpia da multidão que se agitou. Parecia uma mistura de fascínio por descobrir os artistas que estavam ali dentro do carro e também uma reação meio agressiva a terem que abrir espaço para o carro passar. Hoje dá pra rir, mas foi aterrorizante!
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Cacala Carvalho: Nada me deixa triste na carreira. Eu faria tudo de novo. Mesmo o fato de o retorno financeiro não me permitir viver apenas dos shows, não me abate. O que me sustenta no dia a dia são meus cursos e meus grupos de estudantes de voz e corais. Mas faço tudo o que faço para viver de música na maior felicidade. Este é o sentido da minha vida. Tudo é para, por e pela música.
O que me deixa triste é me despedir da incrível geração de artistas referência que está fazendo sua passagem. É a realidade da vida. Não tem a ver com a carreira exatamente.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Cacala Carvalho: Quando vejo uma criança de 4 anos de idade tocando piano absurdamente bem, tenho certeza de que o dom existe. Uma capacidade especial, um virtuosismo sem explicação. Isso é Dom. Algo que pode nos ser dado e que podemos desenvolver ágil e brilhantemente. Mas com certeza eu vejo que todos nós podemos aprimorar o talento para a música. Mesmo sem termos um dom especial.
A partir do gosto pela coisa e do desejo grande de viver a música, podemos nos mover a experimentá-la, a praticar a expressão através da música. Quando a gente aprende a falar e se comunicar na nossa língua mãe, estamos aprendendo a música da nossa língua, imersos na coletividade que nos forma. Então tudo pode ser vivido como música de coração, saibamos disso ou não…
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Cacala Carvalho: É fundamentalmente ter coragem de correr riscos. Sem medo do erro, buscar criar sons, melodias, fraseados que mais precisam estar conectados à espontaneidade que à aplicação de habilidades treinadas mecanicamente. Claro que o estudo de harmonia, teoria, escalas, favorece. Te ajuda a criar novas ideias, abre horizontes pra você ter mais “vocabulário”. Mas improviso pra mim, essencialmente, é risco e espontaneidade.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Cacala Carvalho: Não acredito na separação entre teoria, técnica e prática. A expressão musical é um fenômeno único e integrado. Um bebê improvisa em suas experiências vocais. Improvisando, estuda. Estudando, treina e desenvolve técnicas. Tudo ao mesmo tempo agora.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Cacala Carvalho: O maior contra em qualquer projeto de educação musical, inclusive nos cursos de improvisação, é quando eles nos afastam da capacidade natural de nos organizarmos e nos expressarmos através dos sons, enquanto brincamos espontaneamente.
O verbo em inglês é to play. Brincar. Os prós acontecem quando os métodos alimentam a função de expressão através da música o tempo todo, entendendo a fundação do sujeito como um processo lúdico de organização musical e individual, no campo do social.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Cacala Carvalho: O maior contra em qualquer projeto de educação musical é quando eles nos afastam da capacidade natural de nos organizarmos e nos expressarmos através dos sons, enquanto brincamos espontaneamente.
O verbo em inglês é to play. Brincar. Os prós acontecem quando os métodos alimentam a função de expressão através da música o tempo todo, entendendo a fundação do sujeito como um processo lúdico de organização musical e individual, no campo do social.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Cacala Carvalho: Nas rádios tradicionais sim, em função de contatos pessoais com rádios interessadas em não serem meras reprodutoras dos resultados de algoritmos, que reproduzem sempre um pouco mais do mesmo, semelhante ao que é buscado na web. Em playlists com muitos ouvintes, é quase impossível pois custa dinheiro. Ou então depende daquela sorte inglória.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Cacala Carvalho: Se você ama a música, a música te acolhe e te abraça, é possível e é bonito. Vá em frente, sempre procurando aprender, ouvir quem é mais experiente, observar o mundo com atenção e olhar curioso. Não será fácil e demandará dedicação diária, resiliência, formação, estudo e trabalho. Mas toda escolha vocacionada é assim! Se jogue e se expanda!
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Cacala Carvalho: Acredito que sim, mas tenho horror a festivais de música competitivos.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Cacala Carvalho: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é fraca e péssima.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Cacala Carvalho: Acho fundamental, mandatório e necessário.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Cacala Carvalho: Seguir sendo eu. Vou lançar um novo álbum autoral em breve. Como diz o Paulo Leminski, “isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Cacala Carvalho: (21) 98872 – 3675 (Sandra De Paoli) | www.cacalacarvalho.com.br | www.zenithamusica.com.br | https://www.instagram.com/cacalacacala | https://www.facebook.com/cacalacacala
Canal: https://www.youtube.com/channel/UCuXtgO81_rs57ZLcZArlqQg
Castelo-Itaipu – Cacala Carvalho, Felipe Tauil (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=B-Yh0LlFeTU
Cacala Carvalho ft. Flenks – Mestres Meus (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=bNpYI-lC0Js
Cacala Carvalho – Itacoá (Lyric Video): https://www.youtube.com/watch?v=XO6yogaGVY4
Playlist Cacala canta Gil: https://www.youtube.com/watch?v=4kvLou6J294&list=PLjplXTr-G9iiiuoRoutW1UhJRCHcKwl9X
Cada tempo em seu lugar – Gilberto Gil – João Braga e Cacala Carvalho:
https://www.youtube.com/watch?v=3NIrVrWymk0
Cacala Carvalho & João Braga Banda Um/Ladeira da Preguiça:
https://www.youtube.com/watch?v=eG6Bu7ZoZxw
Playlist Ela e Ele e Eu: https://www.youtube.com/watch?v=oHOEuqtDkDk&list=PLjplXTr-G9iggGf_5BfX3oYfT6zLaLT-1
arranco de varsovia – forca da imaginaco: https://www.youtube.com/watch?v=QezaRQ1fwsA
MUDANÇA DOS VENTOS – Folia de 3: https://www.youtube.com/watch?v=JV_laYL19Qk
Três Dias de Ventania – Arranco de Varsóvia: https://www.youtube.com/watch?v=jJ1W3loYwSk
Uma força de nossa Música!
Obrigada Márcia. Um elogio seu é um grande presente.
Maravilha, inspiradora, vou destacar, todos podemos aprimorar, mesmo sem ter um dom especial, a despedida da geração de artistas referência, tudo pode ser vivido como música de coração…Parabéns, são essas declarações que nos dão força, o Antônio sempre trazendo pérolas…