Compositor, poeta, professor, violonista e guitarrista paraibano Bertrand Morais é licenciando em Música pela Universidade Federal de Campina Grande e fez parte do grupo Baú de Chorinho, tocando Violão de 6 e de 7 cordas.
Em 2021 lançou em todas as plataformas digitais o álbum “Simplicidade”. Já lançou dois livros de poesias: “Resto de Saudade – ou exéquias para o meu amor” e “O Decifrador”.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Bertrand Morais para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 26.09.2021:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Bertrand Morais: Eu cheguei ao mundo e abri os meus olhos pela primeira vez no dia 26 de setembro de 1994 em Campina Grande, na Paraíba. Registrado como Bertrand Barbosa Morais.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Bertrand Morais: O meu primeiro contato foi por influência dos meus pais Alcindo Morais de Oliveira Júnior e Adriana da Silva Barbosa e nem foi música brasileira. Escutei na infância muita música estrangeira, especificamente o rock n’ roll. Então, Metallica, Iron Maiden, Exodus era o que entrava nos meus ouvidos. Mas lembro a primeira vez que eu vi uma banda tocar que eu parei definitivamente para escutar e ficar anestesiado foi o Led Zeppelin. O guitarrista Jimmy Page, muito virtuoso, me fez pela primeira vez dizer: “quero tocar igual a esse cara”. Outra banda que me fez a mesma coisa foi o Pink Floyd. Embora o que tenha me puxado tivesse sido a sonoridade diferente, progressiva. Logo, afirmo que na música eu comecei querendo ser guitarrista. E aí, por desafio do meu pai, junto com a minha mãe me deram meu primeiro violão; um Giannini. Depois disso, nos tempos do ensino médio, um amigo, imitando o seu avô com a maneira dita por ele “idosa” de se tocar, tocava as músicas que o avô dele gostava e que ensinava para ele. Eu fiquei abismado com aquilo porque era virtuoso e melódico ao mesmo tempo. Foi aí que eu descobri que era Dilermando Reis, Ernesto Nazareth e aí eu comecei a minha busca pela música brasileira mais profunda que eu pudesse. Conheci o Raphael Rabello, Yamandu Costa e obviamente minha mente explodiu. Não queria mais guitarra, e virei pesquisador do Brasil e cada descoberta é um novo encanto.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Bertrand Morais: Fora o curso de música que estou pela Universidade Federal de Campina Grande, eu tenho formação não concluída em Letras (Língua Portuguesa) e na música mesmo, comecei me mudando para Natal – RN com interesse no curso de música popular que sempre foi o meu interesse maior. Mas eu não me acostumei com a distância e voltei junto com o curso de música para Campina Grande, minha cidade natal. Minha formação musical, fora da academia que acho que seria essa a primeira pergunta, foi autodidata. Até mesmo o pré-vestibular em música, pois para entrar no curso de música em muitas instituições de ensino superior no Brasil, é necessário se mostrar apto para estudar música, saber ler partitura e ter alguns conhecimentos básicos. Eu estudei sozinho, aprendi a ler sozinho e claro que na academia, isso melhorou.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Bertrand Morais: Falar de influências para mim é difícil pelo simples fato de que não só a música me influencia até hoje no meu fazer musical. Então eu preciso citar que tive forte influência sim do rock n’ roll, embora ele não faça parte mais da maioria das coisas que escuto nos dias de hoje, mas a influência que permanece é a da subversão, do questionamento e do sarcasmo; também tenho influências fortes no Jazz. Toda espontaneidade e transcendentalismo do John Coltrane me encantam até hoje. Faz parte da minha influência também, a música regional que tem uma ligação muito forte e afetiva com o meu passado, meu avô, tios-avôs e meus conterrâneos que viviam essa música.
Também faz parte do meu som a música mineira pelo motivo do transcendentalismo que falei do Jazz com o diferencial de ser nosso, com cheiro de terra molhada. A Bossa Nova também me pegou muito quando, no que considero o segundo momento usou lindas melodias e principalmente as harmonias. Influencia-me também Chico Science. E das coisas que não são estritamente musicais que me influenciam na música, eu sempre destaco a poesia, as notícias, a história o que vejo, o mistério, o que entendo e como entendo.
Também faz parte do meu som à pintura, os movimentos artísticos, as Vanitas, surrealismo de René Magritte, a fotografia de Sebastião Salgado, Henri Cartier-Bresson, os animais, pássaros, os astros e tanta coisa mais que é movida pela essência. Se eu tenho alguma influência que deixou de ter importância? Acredito que não porque o que vi, ouvi e vivi deve ter ficado em algum lugar do meu cérebro e não tenho como me desfazer disso.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Bertrand Morais: Carreira musical não só minha, mas acho que a de muita gente começou em barzinhos. Não tenho vergonha e acho um ambiente muito bom de aprendizado sobre mercado e de convivência entre músicos. Depois disso, participei de grupos de Choro, covers de banda como participei de uma cover do Pink Floyd, banda de Jazz, projetos solos, projetos de samba como o Beba do Samba e por aí vai. Quem me colocou para compor, foi meu parceiro e hoje amigo, Hugo César. Assim que encontrei ele pela primeira vez, compomos uma música e daí não parei mais.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Bertrand Morais: Em 2021 lancei meu primeiro álbum – “Simplicidade” com músicas de minha autoria e de outros artistas como João Pernambuco. Já participei de gravação para outros projetos como o show Gênesis pelo canal local como músico convidado e para gravação do disco de Welly Pontes que ainda será lançado. Todos esses projetos, inclusive o meu álbum, atuei como violonista.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Bertrand Morais: Meu estilo é muito popular e brasileiro. Estudei e estudo música clássica na academia, mas ela mais me ajuda a tocar melhor e me expressar melhor no meu instrumento do que fazer parte da minha vida.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Bertrand Morais: Eu não tenho constância em compor, porque geralmente o começo vem de algo que me incomodou, surpreendeu ou mudou minha vida em qualquer momento. Alguma coisa que eu vejo, escuto, sinto e também, quando somente estou dedilhando meu violão sem pretensão. Eu geralmente componho mais melodias com harmonia e entrego para meus colegas colocarem letra, ou coloco melodia nas coisas que eles escrevem. Depois de compor é que eu decido e analiso se aquela música pode ser uma canção ou não. Primeiro vem o filho e olhando seu rosto decido qual o seu nome.
09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Bertrand Morais: Meus parceiros são meus amigos e as outras pessoas que fazem parte de minha vida, como sempre digo. Para mim, a parceria tem que nascer de uma amizade. E mesmo que não façamos música, me ajudam sendo meus companheiros de vida com a presença, risadas e carinho. Mas na música, preciso destacar meus amigos Hugo César que me colocou praticamente para compor, Caio César, Bruno Ferreira, Bosco Rangel, Joab Marinner, Alessandro carinhosamente apelidado de Sandrovisks, Savanna Aires, Lucas Barreto.
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Bertrand Morais: Independente eu entendo como livre, mas pode soar como solitária. Embora seja mesmo em alguns momentos, mas a solidão que a liberdade tem é importante para que eu possa fazer minhas escolhas e não mantenha pressionada minha espontaneidade e musicalidade. O que acontece é que eu sigo uma vida dupla ou até tripla para que eu consiga viver de música. Eu tenho uma vida de instrumentista, professor de música que é o que me mantém financeiramente e a de compositor é a que me inspira a continuar inspirado e apaixonado pela música. Viver só de uma carreira de compositor hoje seria impossível. Acredito que um dia eu possa só viver da minha composição, mas tenho maturidade para entender que não é agora.
11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Bertrand Morais: Acho que a maior estratégia é ter metas. Tenho algumas metas fortes, bem estabelecidas e quero cumprir dentro de um prazo. Algumas realizações precisam de público e outras, não. Das que não precisam necessariamente de um público, venho desenvolvendo dentro do ambiente acadêmico. Das que precisam de público, sempre ajo em consentimento com os meus colegas nas que precisam ser em grupo e sozinho, tenho os meus projetos e metas a serem estabelecidas. Então, coloco tudo num papel e vou seguindo os passos conforme o tempo avança sem muita pretensão de sucesso midiático porque não tenho esse interesse.
12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Bertrand Morais: Acho que a ação empreendedora mais forte que eu posso ter são amigos. Estou querendo ampliar minha rede de contatos não com interesse neles, mas porque através deles, muito trabalho surge. Além de que, o networking não é só importante para mim e sim para todos. Geralmente os trabalhos aparecem por indicação e ao conhecê-las convivo bem com elas, possivelmente serei chamado para trabalhos. Mas eu preciso também ser um bom profissional e um bom professor com didática efetiva. Estar com os estudos em dia é importante também para que estejamos preparados para os trabalhos. Eu poderia ter uma melhor gestão de redes sociais por saber que o mundo hoje está na internet, mas estou desenvolvendo ainda essa parte por não gostar tanto de estar exposto todo o tempo. Além disso, eu aprendi a fazer vídeos oferecendo meus serviços, folders para chamar público, que são coisas que eu acho que toda pessoa que trabalha com serviços deveria aprender a fazer.
13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Bertrand Morais: A internet ajuda no estreitamento das fronteiras musicais e poder ter público para acompanhar nosso trabalho de qualquer lugar do mundo. Ela prejudica quando eu não a uso como ferramenta de desenvolvimento da minha carreira. Acredito que ela não seja a única, embora hoje seja a mais importante. E como dito anteriormente, preciso aprender a usar melhor e encarar de frente para usar sempre.
14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Bertrand Morais: Uma das vantagens mais forte do home estúdio é em qualquer momento poder gravar uma ideia ou o que quiser, com instrumentos virtuais ou não. Isso cria um espaço de ideias muito promissor que seria uma outra vantagem. Outra vantagem é poder fazer isso sozinho sem a necessidade da ajuda de ninguém. Desvantagens, é ao fazer sozinho ter mais demandas de trabalho. Ao usar instrumentos virtuais, tiro o trabalho e possível contribuição de alguém para o enriquecimento da música. Mesmo com o forte avanço da tecnologia, eu não vejo que o instrumento virtual possa substituir o humano como também plug-ins não substituam o físico que seria outra desvantagem. Mas temos a vantagem de poder lançar um trabalho, com as desvantagens, mas com maior facilidade. Além de que a ideia, de home estúdio abriu outra porta de emprego e de acesso a informação.
15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Bertrand Morais: Trabalho bastante minhas preferências sonoras através da minha rotina de estudos. Busco fazer com que quando alguém escute meu violão consiga me identificar sem precisar me ver. Que, basicamente, foi o que sempre foi feito por todos os grandes. Espero um dia conseguir isso, igual quando eu mostro algo a minha mãe ou amigos e ele de cara digam “isso é você” sem ter me visto ou que os agrade. Não estou falando de virtuosismo, pois já passei dessa fase de querer tocar milhões de notas. Falo de me expressar através dos sons. Acredito que essa receita antiga não falha.
16) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Bertrand Morais: No Brasil hoje, a música instrumental vai muito bem, obrigado. Mas digo isso pelo simples fato de que a internet abriu as portas de acesso. Acho que a maior dificuldade que estamos enfrentando na verdade é ainda assimilar essa transição do físico para o digital na internet. Antes, precisávamos comprar um disco e ter um aparelho para escutar aquela música ou escutar na televisão ou rádio. Mas se preciso destacar pessoas que foram revelações são pessoas como o Cainã Cavalcante, Mestrinho, Pipoquinha, Pedro Martins, Felipe Moreno, Jean Charnaux, Daniel Santiago, Daniel Marques e a lista é imensa. Podemos citar que o Nelson Faria está passando muito bem por essa fase, Yamandu Costa, Rogério Caetano que vieram desse outro universo pré internet e acompanharam muito bem essa transição. Não consigo identificar alguém que tenha regredido; até porque acho essa palavra pesada. Acho que algumas pessoas dão passos para trás e para frente o tempo inteiro, na vida mesmo e acho que pode sim ter alguém que tenha dado alguns passos atrás como eu mesmo dei e dou tentando, mas regredir, não.
17) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Bertrand Morais: Como exemplo de profissionalismo eu tenho vários, mas dos mais próximos a mim, eu tenho o meu hoje professor de violão, o Jorge Ribbas que é muito certeiro na questão do seu profissionalismo e tem uma história incrível. Alguns amigos do ramo que no termo profissionalismo, são excelentes. Eles não são conhecidos do público, mas precisam sim ser reconhecidos por mim. Já de pessoas que eu não conheço pessoalmente: Nelson Faria e Kiko Loureiro que foram pessoas que mostraram carreiras muito promissoras até hoje. Eu poderia citar muito mais, porém, tenho nesses dois minha forte admiração artística e de profissional.
18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Bertrand Morais: Tocar sem receber não tive nenhuma situação e espero não ter. Mas já recebi menos do que o combinado. Já toquei em casamento a cerimônia, entrada nos noivos, a festa e até o fundo musical para o condutor da cerimônia me pagar menos da metade do que foi combinado. Eu já errei muito no palco principalmente em situações que tive que trabalhar sem ensaio; já toquei e teve briga no meio do salão; de condição técnica acho que foi o que mais passei principalmente da minha parte de não ter instrumento para determinadas situações; de dizerem que tinha som no local e chegando lá o som não ter condições de uso; tocar no escuro porque a iluminação falhou; ter que parar no meio porque teve queda de energia no evento e por aí vai…
19) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Bertrand Morais: O que me deixa mais feliz é a música pela música mesmo. Eu, desde a minha primeira música aprendida, senti uma satisfação tão grande que busco isso até hoje. Acho que essa sensação nunca vai passar e é isso que me encanta. Encanta-me também conseguir ser remunerado para fazer parte de um momento importante de alguém como um casamento ou de só fazer o povo dançar, cantar junto, fora todas as amizades que eu criei até hoje que sempre foram muito parceiras e compartilham comigo das mesmas dores e prazeres. O que me deixa triste é a falta não só de reconhecimento, mas a campanha para deixar as artes sem fôlego, sem fomento e sem vida. Isso acaba deixando a vida mais pobre em relação a cultura de diversidade que desemborca na desvalorização de uma classe que além de ter sido tirada da lista de ocupações dos microempreendedores individuais, está literalmente passando fome nessa pandemia do covid-19. Deixa-me triste quando existe desunião entre os pares que nem tudo são flores. O preço é alto para se fazer arte no Brasil. Instrumento é caro, corda é caro, tudo é muito caro.
20) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Bertrand Morais: Acredito que sim, mas depende da rádio. Existem muitas rádios culturais que não cobram nem pagam pela execução de músicas novas e mantém o fomento através da arrecadação do ECAD. Mas em veículos mais fortes e com mais audiência, acredito que não toque, a menos que eu tenha networking dentro da rádio.
21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Bertrand Morais: Se essa pessoa nunca pegou num instrumento, eu diria que paciência. O caminho para se aprender minimamente um instrumento ao ponto de falar a mesma língua do mercado, requer tempo e esse tempo é necessário para você ver se é isso que você quer. Para quem já toca eu perguntaria se trabalha em um emprego formal com carteira assinada, porque se você trabalha dessa maneira é preciso entender que você vai, em algum momento, deixar de ser remunerado todo mês para ser seu próprio chefe, vendedor, gerente e tudo mais. Então, se a paixão é tão forte e você quer mesmo, eu diria para não largar o emprego agora e ficar com a jornada dividida para você criar uma rede de contatos para sempre ter trabalho e isso só se consegue com o tempo. Além de que, tempo também é necessário para você mostrar o valor do que você faz. Chegando num ponto onde você consegue identificar que dá para viver de música e que pode largar o emprego. Aí é o momento pra cair de cabeça. Muita gente leva a vida com jornada dupla até hoje e vive muito bem porque num momento como esse de pandemia do Covid-19, por exemplo, quem tem família em casa, o que salvou foi o emprego formal, acredito. Tudo isso que falei não tem nada a ver com musicalidade, note. Saber tocar, musicalidade e estudar é o mínimo.
22) RM: Quais os violonistas que você admira?
Bertrand Morais: São muitos até porque não admiro só violonistas e sim, guitarristas que incluiria nessa lista, então eu coloco: Garoto, Dilermando Reis, Raphael Rabello, Yamandu Costa, Toninho Horta, Lula Galvão, Nelson Faria, Cainã Cavalcante, Daniel Santiago, Pedro Martins, Ted Greene, Wes Montgomery, Baden Powell, Joe Pass, Guinga, Rogério Caetano, Dino Sete Cordas, Valdir e Valter Sete Cordas, Vitor Vasconcelos, Hélio Delmiro e por aí vai, não me lembro de todos, mas tem muita gente que não deixo de ouvir.
23) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Bertrand Morais: Não sou exímio ouvinte de música clássica, mas gosto muito de Mendelssohn, Rachmaninoff, Stravinsky, Villa-Lobos, George Gershwin principalmente suas composições mais populares. Acho que por aí.
24) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Bertrand Morais: Agora aqui é pesado pra mim porque a lista é sem tamanho, mas eu gosto de Luiz Gonzaga, Dominguinhos que foi espetacular, João do Pife que nem é muito conhecido, Mestre Capiba, Hermeto Paschoal, Raphael Rabello, Yamandu, Garoto, João Donato, Chico Sciente, Chico César, Chico Buarque, Sueli Costa, Fátima Guedes, Dolores Duran, Caetano Veloso, Baden Powell, Lupicínio Rodrigues, Sá e Guarabyra, Lo Borges, Edu Lobo, meus amigos que estão por perto. Estou num momento que vem vários nomes na cabeça e eu não consigo pegar um.
25) RM: Quais os compositores da Bossa Nova você admira?
Bertrand Morais: Tom Jobim sem pestanejar para mim foi o que eu mais escutei e admiro até hoje. Também cito o Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Danilo Caymmi, Ivan Lins, João Bosco, João Donato, Vinicius de Moraes, Gilberto Gil e daí em diante.
26) RM: Quais as diferenças técnicas entre o Violão Erudito e Popular?
Bertrand Morais: No primeiro momento, eu diria que tudo é música e que uma não é melhor que a outra; nem está certa ou errada. Existe uma diferença em como se pensar o tocar do instrumento no Erudito. Temos uma tradição de tipos de estudo do uso das mãos, no qual, todo movimento é pensado para se tirar um melhor som daquela música. No popular, a tradição muitas vezes é oral, passado de geração em geração e por consequência, temos o foco maior em fazer música do que como tocar. O Violão Erudito por sua história, tem mais evidência como instrumento solista e o popular, como acompanhador. Mas o Violão como instrumento, pode desempenhar ambos os papeis. Tudo depende de quem o tem na mão.
27) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Violonista?
Bertrand Morais: A alma do Violão é a mão direita (quando se é destro) que é a mão responsável por tirar o som da madeira. Diferentemente do piano que cada tecla pressionada sai som, no violão cada corda tensionada (apertada) por uma das mãos, precisa da outra para fazer soar o som. Então, na mão direita estudamos ritmos, dedilhados, arpejos, timbre, dinâmica, como tirar um som mais límpido. Aliado a isso, precisamos estudar a mão esquerda para melhor trabalhar o som com a direita. Podemos estudar escalas, arpejos e estudos teóricos que é harmonia. Esse é o básico para se dar bem na música.
28) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Violão?
Bertrand Morais: Para os iniciantes, o principal erro é a ansiedade. Aprender um instrumento requer reconhecimento teórico e prático. A teoria muitas vezes é fácil de entender, mas para que aquilo se torne parte de você na música é preciso paciência e repetir muitas vezes até que aquilo seja natural; desde o primeiro acorde até as mais complicadas frases. Para os que já sabem tocar alguma coisa, além de ansiedade, é preciso ter consciência de ter o trabalho dobrado em aceitar que por muitas vezes aprendemos errado a posição da mão. A força como fazemos os acordes e o principal vício que deve ser extinto da sua vida é misturar estudo com prazer. Na hora de estudar muitas vezes nem é prazeroso, mas necessário para evoluir. Acho que em qualquer área da vida. Então a hora de tocar o que você gosta deve ser diferente do estudo. Até estudar uma música que você gosta deve ser levado como estudo, como uma coisa séria e não lúdica para que você consiga tirar proveito desse aprendizado e que o resultado seja tocar a música sem escorregos.
29) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Bertrand Morais: Primeiro, acho que não considerar um objetivo. Seja ele só aprender uma música para si ou outro motivo. Sei que muitas vezes o aluno iniciante nem sabe o que quer, mas uma primeira conversa é bastante importante para direcionar as praticas de ensino para uma finalidade. Isso faz com que eu ensine o que é necessário e não o que eu quero que o aluno aprenda. Isso seria o segundo ponto a se pensar: as vontades e necessidades do aluno. Num ambiente acadêmico, essa finalidade já é estabelecida e por isso tem uma prática de ensino diferente do ensino particular.
30) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Bertrand Morais: Se Dom musical é entendido como um presente dado para poucos, eu digo que não acredito. Eu acredito que existe uma força que nos move que é o que Nietzsche definiu como tesão de viver ou potência de viver que desemboca na vontade. Acho que eu não ganhei presente e sim alimentei um desejo que se tornou minha missão de vida. Isso me fez estudar muito e por muito tempo. Sem pensar em outra finalidade específica ou retorno. Significa que meu dom fui eu mesmo quem dei, que foi e é ter muita vontade de aprender e me desenvolver. O que acontece é que as pessoas podem têm desejos e tesão de vida diferente e em níveis diferentes. Às vezes eu posso querer ser como um bom chef de cozinha, mas o meu tesão de vida aponta para outro lado e isso está tudo bem.
31) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Bertrand Morais: A Improvisação é, na sua essência, uma composição em tempo real. A diferença da composição pura é que eu posso criar uma melodia e fazer acordes que vão ser resultado daquela melodia. Na improvisação, nós geralmente já temos uma harmonia (sequencias de acordes) e espaço pré-definidos. Existe umas diferenças mais específicas, mas essa acredito que é a mais fácil de entender o termo.
32) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Bertrand Morais: Os prós tem relação com a possibilidade de criação de repertório sonoro para se usar na hora da improvisação. Ter também a explicação dos caminhos que tomaram os grandes improvisadores descritos no método. Acho que o contra é a expectativa que o método pode gerar uma falsa ilusão de que vai me ensinar a improvisar. Além de que o método geralmente não incentiva o processo criativo que é muito subjetivo e pessoal e este é o que mais demora; e é o mais importante na improvisação. Que pode muito bem ser trabalhado em conjunto e nas práticas, na hora de tocar, de fato.
33) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Bertrand Morais: Isso é uma polêmica que nos levam a perguntar: se a improvisação é criada na hora, espontaneamente, porque precisamos estudar? Embora estudemos o ritmo das notas, escalas, arpejos, padrões e frases, não significa que iremos tocar todas essas coisas no improviso. Significa que no estudo nós iremos criar um repertório de sons, ritmos para que na hora do improviso nós estejamos preparados para expressar nossas ideias dentro da cabeça através do instrumento. Semelhante a um lutador que treina até chegar nas olimpíadas. No tatame tudo é improviso porque o lutador não tem domínio do que acontece lá dentro. Ele só sabe que ele precisa ganhar e quem é seu adversário. Mas o que acontece se ele não está preparado, não conhece os possíveis golpes que ele pode receber, os movimentos do outro lutador? Provavelmente ele cairá. Na improvisação nós estamos inseridos em uma situação específica, com pessoas diferentes e se nós não estivermos preparados é certo o nocaute. Então, respondendo à pergunta. É improviso sim, mas pode e deve ser estudado.
34) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Bertrand Morais: Os prós são os resultados desse estudo que na maioria das vezes vai ensinar as estruturas dos movimentos verticais e horizontais das notas. Dominar isso é dominar a música. Fazer a música do jeito que você quer. O contra é que a maioria dos métodos foi feita pensando no piano e por muitas vezes não ensina como desenvolve a teoria através de exercícios no instrumento. O violão, por exemplo, tem uma limitação espacial entre as notas que me força a adaptar aquele método a minha realidade e isso pode dificultar o meu aprendizado. Por isso a importância do professor.
35) RM: Quais os métodos que você indica para o estudo de leitura à primeira vista?
Bertrand Morais: Eu indico fortemente o “Leitura para guitarristas e violonistas” do Nelson Faria por ele trabalhar de forma gradativa a leitura na pauta e os livros de ritmo do Pozzoli que foram por onde eu aprendi.
36) RM: Como chegar ao nível de leitura à primeira vista?
Bertrand Morais: Eu não tenho uma boa leitura à primeira vista de partituras mais complexas. Mas para chegar num bom nível de leitura rápida é começar com pouco, com uma linha melódica, depois aumenta o nível e o principal, ler todos os dias que vai levar você a começar a ler a frente do tempo tocado e isso leva a fluência.
37) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista?
Bertrand Morais: Eu digo que nada com a atenção dividida pode ser perfeito. Então acho muito difícil existir uma pessoa que seja muito bom em muitos instrumentos no mesmo grau de qualidade e levar todos a um alto nível. Mas existem sim, casos como o do Jacob Collier que toca muito bem tudo e o Hermeto Pascoal que são a exceção. Mas para nós reles mortais, os prós são poder entender de uma maneira mais geral o que todos estão fazendo, saber melhor se comunicar com outros músicos e o contra é atenção dividida que eu falei.
38) RM: Apresente seus livros de poesias.
Bertrand Morais: Eu realmente me expus a publicar as coisas que eu escrevo por intermédio do amigo e poeta Everton Avelino. Eu não me considero poeta. Eu sou músico. E desse trabalho e amizade eu publiquei dois livros até hoje. Tenho poemas para publicar acredito que mais uns três livros pelo menos. Mas além de não ser barato, tenho outros projetos para o meu futuro. E sobre os livros, meu primeiro é “Resto de Saudade – ou exéquias para o meu amor” publicado pela editora Ixtlan. “Resto de Saudade” que é o nome de uma música do mestre Capiba. Ele não fala de música, mas é impossível falar de poesia sem ter música. E o segundo livro “O Decifrador” que sou eu, decifrador de mim mesmo, do mundo. Vale salientar que os dois livros, eu publiquei antes dos 20 anos e que muita coisa eu já consegui decifrar. Todos foram feitos em colaboração com amigos poetas, pintores, desenhistas e/ou de outras áreas como historiadores e estou sempre assim, cercado de gente boa.
39) RM: Quais os seus projetos futuros?
Bertrand Morais: Tenho dois projetos. Um imediato e outro em longo prazo que queria ter feito e terminados há tempos. O primeiro é um livro de composições didáticas para violão com pequenas peças com o sabor e ritmos nordestinos que estão compostas, na fase de editoração das partituras e que espero publicar depois que passar a pandemia do covid-19. O segundo é a gravação de um disco em homenagem a Noel Rosa. Eu como arranjador e violonista acompanhando o cantor Marco Jr. Outro mais futuro é o projeto que quero homenagear o meu avô materno, com minhas composições e com leituras das músicas que faziam parte do universo dele; a música nordestina e amor a Luiz Gonzaga e sua devoção sacra.
40) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Bertrand Morais: [email protected]
| https://web.facebook.com/bertrand.morais.7
| https://www.instagram.com/moraisbertrand
Álbum Simplicidade: https://ditto.fm/simplicidade-bertrand-morais
Canal: https://www.youtube.com/user/bertranzitocms
Álbum Simplicidade: https://www.youtube.com/playlist?app=desktop&list=PLtH7MIFQKddk6cy25uQFvJjtFTO-9uyRI
Travessia – Milton Nascimento e Fernando Brant: https://www.youtube.com/watch?v=wW1qS29RZ7s
Lígia – Tom Jobim: https://www.youtube.com/watch?v=XSRZLGStpJM
Nós dois e um lençol – Bertrand Morais: https://www.youtube.com/watch?v=cBo6azJY6hU
Nunca – Lipcínio Rodrigues: https://www.youtube.com/watch?v=Kv4SIcQX2_4
Olha Maria – Chico Buarque e Tom Jobim: https://www.youtube.com/watch?v=tgWZu-mspO4
Sinhá – Chico Buarque e João Bosco: https://www.youtube.com/watch?v=83XM515vzI8