A Unidade Eu e Eu iniciou suas atividades musicais em 2012 através do projeto “CEPAPA nos bairros”, em Itacaré – BA.
“CEPAPA nos bairros” teve o objetivo de levar mensagens de consciência social e histórica para os bairros da cidade, utilizando a música como principal veículo transmissor dessas mensagens e a partir desse primeiro passo se firma a Unidade Eu e Eu que ainda hoje segue o mesmo objetivo. A Fundação e base instrumental da Unidade Eu e Eu contam com Beatriz Ferreira na voz e guitarra base e Jah Ton Ton no contrabaixo.
Beatriz vem de uma família musical e desde nova teve contato com a força da música ancestral. Na juventude encontra no Reggae a junção perfeita entre música e ancestralidade. Com uma voz forte e marcante canta e encanta com sua vibração.
Ritmado e guiado pelo som dos tambores Jah Ton Ton dá a Unidade Eu e Eu uma identidade autêntica no contrabaixo e traduz a força da sua caminhada Rastafári em som, palavra e poder. Jah Ton Ton também conhece a música na infância onde o reggae e outros ritmos de matriz africana se fizeram presentes em sua formação musical.
A Unidade Eu e Eu em seu repertório traz como destaque suas composições autorais e inéditas que seguem a linha roots original, além de músicas internacionais de sucessos na voz de: Dezarie, Burning Spear, Bob Marley e outros, e os clássicos do reggae nacional como Edson Gomes, Gilberto Gil, Ponto de Equilíbrio e outros.
A Unidade Eu e Eu promove a música em movimento de conscientização social centrados nos diferentes contextos históricos para a compreensão das nossas raízes comuns compartilhando através da música a mensagem de Unidade para cada Eu e Eu.
Segue abaixo entrevista exclusiva com a banda Unidade Eu e Eu para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 20.05.2019:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal dos músicos da Unidade Eu e EU?
Unidade Eu e EU: Beatriz Ferreira Magalhães nasci no dia 14 de abril em Niterói – RJ e Ewerton Evangelista da Silva (Jah Ton Ton) nasci no dia 29 de abril em Ilhéus – BA.
02) RM: Como o primeiro contato com a música dos músicos da Unidade Eu e EU?
Unidade Eu e EU: Beatriz Ferreira vem de uma família de sambistas de Magé – RJ em que teve o seu primeiro contato com a música e a partir daí em 2007 inicia a sua carreira musical. Ewerton nasceu no bairro Alto do São Sebastião em Ilhéus – BA onde é formado o primeiro bloco afro do sul da Bahia e a influência da música africana é presente em sua personalidade musical, e o reggae sempre foi presente em sua infância.
03) RM: Qual a sua formação musical do músicos da Unidade Eu e EU?
Unidade Eu e EU: Tanto Beatriz Ferreira quanto Ewerton têm influências e educação baseadas em suas realidades musicais no qual estão inseridos. Vindos de uma realidade periférica que a escola oficial de música é de difícil acesso. Seus estudos musicais são como autodidatas.
04) RM: Quais suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?
Unidade Eu e EU: Beatriz cresceu em um ambiente de sambistas e tem a influência do samba na sua musicalidade presente na letra das músicas que se destacam assim como o ritmo. Atualmente o ritmo reggae ocupa o primeiro lugar das suas influências musicais. Ewerton como nasceu e foi criado uma parte da infância no bairro Alto do São Sebastião em Ilhéus – BA e teve influência da música africana como o samba-reggae do blocos Afros da cidade e outra parte da infância viveu no bairro Curuzu em Salvador (BA) onde o reggae era escutado entre os amigos de infância. E todos os ritmos escutados foram importantes na sua formação musical.
05) RM: Quando, como e onde começou a Unidade Eu e EU?
Unidade Eu e Eu: Em 2012 o grupo Unidade Eu e Eu nasceu através do projeto C.E.P.A.P.A – Centro de Estudos Pesquisa e Aplicação Pan-Africana. C.E.P.A.P.A tem o objetivo de levar música e informações sobre a vivência africana para os bairros da cidade de Itacaré – BA. Beatriz (voz e guitarra) e Ewerton Jah Ton ton (voz e contrabaixo) e tem músicos convidados que os acompanham nos shows.
06) RM: Quantos discos lançados?
Unidade Eu e Eu: Lançamos dois discos com coletâneas de shows ao vivo. Não fizemos ainda uma produção em estúdio.
07) RM: Como você define o estilo musical da Unidade Eu e EU dentro da cena reggae?
Unidade Eu e Eu: Reggae Roots Rastafari
08) RM: Quem são os compositores da Unidade Eu e EU?
Unidade Eu e Eu: Beatriz e Ewerton (Jah Ton ton).
09) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira?
Unidade Eu e Eu: A internet ajuda na divulgação do trabalho e no registro das informações e no contato com pessoas do ramo. E prejudica por tomar muito tempo do dia-a-dia.
10) RM: Como você analisa o cenário reggae brasileiro? Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Unidade Eu e Eu: Restrito e fechado para artista que está iniciando e independente, mercadologicamente falando. No Brasil tem muitas bandas, o que fortalece o cenário reggae. As revelações das últimas duas décadas foram: “Ponto de Equilíbrio” e “Mato Seco”. E quem permaneceu consistente sem duvida foi Edson Gomes. E quem regrediu aqueles que desistiram.
11) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (Home Studio)?
Unidade Eu e Eu: A vantagem é que fortalece o mercado musical e movimento independente, além de permitir que o músico tenha uma experiência quase profissional de gravação, capacitando mais ao estudo da música por vários âmbitos. E desvantagem é que os programas de gravação serem em outros idiomas.
12) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Unidade Eu e Eu: Edson Gomes, GroovI.
13) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Unidade Eu e Eu: Já aconteceu um pouco de cada coisa citada na pergunta (risos).
14) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Unidade Eu e Eu: Mais feliz é que o trabalho de Jah esta sendo feito e a palavra esta sendo transmitida e absorvidas pelas pessoas. Triste é ver que algumas pessoas não dão valor principalmente os que podem impulsionar essas mensagens.
15) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Unidade Eu e Eu: Siga em frente e Creia.
16) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o uso da maconha?
Unidade Eu e Eu: Pelo fato do reggae falar sobre a vivência Rastafári é comum abordar também o consumo da Ganja \ cannabis sativa, sendo comum relacionar o reggae ao uso da Ganjah. Sendo que outros fatores da vivência Rastafári também são abordados no reggae como a paz, o amor, o respeito, a verdade e justiça entre os povos e nações.
17) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a religião Rastafari?
Unidade Eu e Eu: Primeiro Rastafári não é uma religião é uma vivência diária de busca da evolução interior em contribuição positiva com o exterior como o homem/mulher original voltado a terra. O movimento Rastafári surge na Jamaica nas primeiras décadas do século XX em que faz referência e reverência Haile Selaisse último Imperador da Etiópia, que descende do Rei Davi e Salomão.
O Imperador vem para redimir o povo africano dos grilhões da escravidão e como Marcus Garvey (foi um comunicador, empresário e ativista jamaicano. É considerado um dos maiores ativistas da história do movimento nacionalista negro) já havia profetizado a respeito de Selassie na Jamaica onde os Rastas eram espancados pelo consumo da Ganjah (erva chamada de maconha), e trazia o Nyabingh como ritmo de suas canções e o reggae nasce nesse movimento. O termo “Rastafari” deriva do título de Haile Selassie antes de sua coroação. “Ras” significa um duque ou príncipe, enquanto “Tafari Makonnen” era seu nome.
18) RM: O que representa e qual a importância do imperador da Etiópia Haile Selassie para os adeptos do Rastafári?
Unidade Eu e Eu: Haile Selassie é o Imperador que veio pra trazer paz ao mundo e como o mundo nestes últimos tempos precisa de paz, Ras Tafari que significa príncipe da paz.
19) RM: Na sua opinião por que o reggae no Brasil não tem o mesmo prestigio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Unidade Eu e Eu: O movimento Rastafári ainda está sendo compreendido no Brasil e alguns ainda não entenderam o objetivo da música reggae.
E as mensagens ainda não têm tanto peso quanto as dos cantores e bandas internacionais que entendem e falam em inglês que é o idioma que se passa esse movimento, ilha da Jamaica ou Ilha de Patmos como esta na Bíblia, no primeiro capitulo do livro de apocalipse, que para nos Rasta chamamos de Revelação. Esse tipo de conhecimento faz com que o reggae tenha interesse no cenário exterior.
20) RM: Quando, como e quais os motivos levaram você saírem da cidade/Babilônia para irem morar em contato com a Natureza?
Unidade Eu e Eu: Em 2012 decidimos (o casal Beatriz e Ewerton) colocar em prática a vivência Rastafári. A busca pela vida em contato com a terra e a natureza.
21) RM: Quais os costumes e rituais dos adeptos ao Rastafári?
Unidade Eu e Eu: Os 10 mandamentos: Não terás outros deuses além de mim; Não farás para ti imagem de escultura; Não pronunciarás em vão o Nome de Javé, o SENHOR teu Deus; Lembra-te do dia do shabbãth, sábado, para santificá-lo; Honra teu pai e tua mãe; Não matarás; Não adulterarás; Não furtarás; Não darás falso testemunho contra o teu próximo; Não cobiçarás a mulher, a casa, os servos, os animais, nenhuma coisa do teu próximo.
22) RM: Vocês moram juntos com uma comunidade que é adepta ao Rastafári ou moram só o casal?
Unidade Eu e Eu: No momento só o casal Beatriz e Ewerton.
23) RM: Quais as dificuldades de adaptação de quem tem os costumes de viver na cidade que passa a viver em uma comunidade agrária/rural?
Unidade Eu e Eu: O acesso a determinados produtos e serviços que não são atendidos as áreas rurais.
24) RM: Quais as diferenças de um casal rastafári e um casal comum?
Unidade Eu e Eu: O casal Rastafári compartilha o amor a Jah. E o casal comum se ama e une-se mais se esquece de Jah.
25) RM: A relação de um casal rastafári é patriarcal no qual a esposa está sob as ordens do marido sem questionamento?
Unidade Eu e Eu: O Rei da Etiópia quando foi coroado tem a sua Imperatriz do lado. A vivência Rastafári ensina que o homem e a mulher devem estar lado a lado nem na frente nem atrás, mas do lado, lado a lado.
26) RM: O que o Rastafári usufrui materialmente da Babilônia?
Unidade Eu e Eu: Tudo que é produzido na babilônia vem e tem origem no campo ou matéria prima dos povos e regiões menos assistidas, então a babilônia segrega o que é produzido por todos, para um pequeno grupo. Mas tudo o que traz beneficio a humanidade deve ser usufruído por todos.
27) RM: Qual a diferença entre uma comunidade Rastafári e outras comunidades alternativas?
Unidade Eu e Eu: A comunidade Rastafári busca louvar a “Jah Rastafari” seguindo os passos de Cristo Jesus Emmanuel, sob suas ordens e aguardando e agradecendo as bênçãos.
28) RM: Os Rastafáris se baseiam em que para ter a Cannbis sativa com erva sagrada?
Unidade Eu e Eu: No livro de Gêneses da Bíblia. Sula Benet em “Cannabis e Cultura” argumenta que ela tem uma origem muito mais antiga nas linguagem Semiticas como o Hebreu, aparecendo várias vezes no Antigo Testamento. Ele estata que em Exôdo 30:23 Deus manda Moisés fazer um óleo sagrado para unção com Mirra, Cinamono, Cana Odorifera (Kaneh Bosm) e Cássia.
Ele continua dizendo que a palavra Kaneh Bosm é também usada no Hebreu tradicional como Kannabos ou Kannabus e que a raíz “Kan” nessa construção significa “reed”(cana) ou “hemp”(maconha), enquanto “bosm” significa “aromatico”.
Ele estata que nas antigas traduções Gregas do Velho Testamento, “kan” foi representada como “reed”(cana), levando a tal errônea tradução Inglesa como “sweet calamus” (cana odorífera) (Exôdo 30:23), “sweet cane” (doce cana) (Isaías 43:24; Jeremias 6:20) e “calamus” (cana) (Ezequiel 27:19; Canção das Canções 4:14).
Benet argumenta pela evidencia linguística de que a cannabis era conhecida no tempo do Velho Testamente pelo menos por suas propriedades aromáticas e que a palavra para isso passou da linguagem Semítica para os Citas, i.e o Ashkenas do Velho Testamento. Sara Benetowa do Instituto de Ciências Antropológicas em Warsaw é citada no Livro da Grama dizendo: “A surpreendente semelhança entre a Semitica ‘kanbos’ e a Cita ‘cannabis’ me leva a supor que a palavra Cita veio de origem Semitica. Essas discussões etimológicas acontecem paralelamente de argumentos tirados da história – fonte: https://www.growroom.net/board/topic/32788-marijuana-e-a-biblia/.
29) O que Jesus Cristo representa para o Rastafári?
Unidade Eu e Eu: Jesus Cristo é o filho de Deus Altíssimo. Descendente de Abraão que é o pai de Isaque e Isaque que é o pai de Jacó que também tinha o nome de Israel (pai de Rubén, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Asser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. A origem das 12 tribos de Israel está descrita em Gênesis: 29, 30 e 35. 16-22.
Mas esses 12 nomes não correspondem exatamente às 12 tribos de Israel. Mais tarde, depois da fuga do povo de Israel do Egito, Deus define que a tribo de Levi (3° filho de Jacó) seria uma tribo separada para servi-lo (principalmente como sacerdotes e em ministérios diversos no culto a Deus), e que não teria um território específico na terra prometida. No lugar de Levi e no lugar de José, assumem o posto de tribos de Israel Manassés e Efraim.
30) RM: O Rastafári segue o Velho ou novo Testamento da Bíblia?
Unidade Eu e Eu: Nós Rastas entendemos a Bíblia como um livro único sem separação que conta a história de Jesus Cristo.
31) RM: O Rastafári só fuma a Cannabis Sativa que plantam?
Unidade Eu e Eu: Nem sempre isso é possível, mas todos nos Rastas lutamos para isso.
32) RM: Qual a diferença da música Nyabinghi para o reggae roots?
Unidade Eu e Eu: Os instrumentos utilizados para tocar o ritmo Nyahinghi são tambores e no reggae roots é utilizado os instrumentos além da Bateria e os elétricos: Guitarra, Contrabaixo, Teclado, entre outros, mas o ritmo é tecnicamente o mesmo.
33) RM: Alguns regueiros rastafáris afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Vocês concordam com essa afirmação?
Unidade Eu e Eu: Em parte devemos afirmar, pois a música reggae tem um compromisso de militância. Quem alguns que fazem a música reggae negligenciam.
34) RM: Não contraditório morar no mato e ganhar dinheiro fazendo show na cidade/Babilônia?
Unidade Eu e Eu: Não. Temos a liberdade de trabalhar e usar o dinheiro como Jah permitir. E o dinheiro é fruto do serviço que muitas vezes está também no campo… Porque se formos pensar assim o tomate e alimentos plantados no mato só ficassem no mato a cidade comeria alimentos sintetizados que causam câncer e outros problemas para a saúde. E preferir morar em contato com a natureza é uma opção de vida do homem/mulher Rasta e a mensagem deve está em todo lugar.
35) RM: Morar no mato não é um ato egoísta de não lutar junto com os oprimidos por uma melhor qualidade de vida na cidade?
Unidade Eu e Eu: Morar no Mato é a redenção parar o Rastaman e Rastawoman que neste ambiente é mais inspirador nas mensagens que ajuda os movimentos de luta pela justiça e igualdade social.
36) RM: Quais os seus projetos futuros?
Unidade Eu e Eu: Jah permitindo continuar com as composições e tentar ampliar a mensagem com lançamento de discos e shows.
37) RM: Quais os seus contatos para show e para os fãs?
Unidade Eu e Eu: [email protected] | (71) 98124 – 4607 |
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