Assis Ângelo, é um comunicador em todos os sentidos. Jornalista por formação e atuação, trabalhou nos principais Jornais e TVs de São Paulo, Radialista, Pesquisador, Escritor, Compositor, Poeta e realizador de mil e um projetos na mídia e em: CD, LPs e K7.
Requisitado por artistas para fazer os prefácios e recomendações em CDs e Livros. Deixou há vinte cinco anos sua cidade natal, João Pessoa – PB para morar e trabalhar em São Paulo. Um formador de opinião contundente, ponderado e multimídia competente.
Assis Ângelo é um escritor voltado para a cultura nordestina e pesquisador cultural que transforma seus achados em obras raras. Ele apresenta na Rádio Capital desde 1998 o programa: São Paulo Capital Nordeste, todos os sábados das 21:00 às 23:00, dedicado à cultura nordestina e a arte em geral.
Os seus livros mais recentes são: Nordestindanados: “Causos e Coisas de uma Raça de Cabra da Peste”; “De Padre Cícero a Câmara Cascudo”; O Poeta do Povo: Vida e Obra de Patativa do Assaré, que totalizam doze publicações. Está desenvolvendo um projeto de pesquisa cultural pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – (CPTM) que tem como objetivo identificar as manifestações artísticas das vinte e uma cidades em que passa a malha ferroviária de São Paulo.
Espontânea e sociável como um bom libriano nascido no dia 27/09, a sua popularidade e os serviços prestados em São Paulo foram contemplados com o título de Cidadão Paulistano concedido pela Câmara Municipal de São Paulo em 1998 que foi recebido pelo mesmo com muita satisfação e alegria. Ele confessa ser paulistano de coração e ama essa cidade que lhe acolheu de braços e coração aberto.
Ele tem o seu trabalho respeitado e reconhecido por artistas nordestinos como: Zé Ramalho, Belchior, Elba Ramalho, Fagner, Tom Zé, Jarbas Mariz, Flávio José, Biliu de Campina, Costa Senna, Cacá Lopes, Anastácia, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeon e muitos outros.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Assis Ângelo para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.10.2001:
01) Ritmo Melodia: Fale da sua trajetória profissional e quando chegou em São Paulo?
Assis Ângelo: Eu nasci no dia 27.09.1952 (registrado no dia 07.09) em João Pessoa – PB, registrado como Francisco de Assis Ângelo, sou jornalista por formação e atuação. Estudei Artes Plásticas e Música na Universidade Federal da Paraíba, mas não terminei nenhum dos dois cursos, porque descobri a tempo que não tinha talento para os mesmos. Estou em São Paulo desde 1976. Escolhi jornalismo por ser um caminho mais fácil para analfabetos como eu. Em João Pessoa iniciei a carreira de radialista, como minha formação é jornalismo, o termo radialista não me cabe, mas de qualquer forma eu gosto de rádio e de Televisão, já trabalhei na TV Globo, Manchete, Abril Vídeo e em outras TVs em São Paulo. Fui chefe de política do Jornal Estado de São Paulo, trabalhei muitos anos na Folha de São Paulo, depois no Diário Popular e em outros jornais de São Paulo. Fui correspondente da Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro e do Jornal de Brasília. Escrevi para o Jornal Pasquim nos anos setenta e oitenta e em dezenas de semanários e publicações alternativas pelo Brasil. Trabalhei na Revista Visão e apresentei Programas na Rádio Mulher, na Rádio Atual e atualmente tenho um Programa na Rádio Capital chamado: São Paulo Capital Nordeste; quatro anos de sucesso (05.04.2002) e líder de audiência no horário, eu falo de música brasileira e de arte em geral, mostrando a cara do Brasil: Branca, Preta, Amarela, vermelha, em fim um país miscigenado e ainda em formação. Cheguei a São Paulo há vinte cinco anos não para ficar, mas terminei ficando. Fiquei doente, tuberculoso e tive que morar em Campos do Jordão em 1976. Resolvi ficar em São Paulo e no ano seguinte entrei na Folha de São Paulo como repórter Policial, de Variedades e geral, exceto: esporte e economia que não fiz até agora.
02) RM: Fale um pouco da sua produção literária.
Assis Ângelo: Eu tenho uma dúzia de livros publicados sobre a cultura popular, Folclore e Música brasileira. Alguns perfis como de: Luiz Gonzaga: “Eu Vou contar Pra Vocês”, lançado em 1990. Escrevi uma Biografia chamada: “O Brasileiro Carlos Gomes”. “A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo” (1995); “O Poeta do Povo: Vida e Obra de Patativa do Assaré” (1999), que é uma bonita edição com um CD com trechos significativos da primeira entrevista que fiz em 1978 com o Poeta de Assaré, quando trabalhava na Folha de São Paulo. “Nordestindanados: Causos e Coisas de uma Raça de Cabra da Peste – de Padre Cícero a Câmara Cascudo” (2000); “Presença Do Futebol Na Música Popular Brasileira” (2010); “A menina Inezita Barroso” (2011); “Lua estrela baião, a história de um rei” (2012). Tem oitenta livros falando do meu trabalho e em 1998 fui surpreendido alegremente com o convite e aprovação logo após, do título de Cidadão Paulistano. Recebi com muita honra dos representantes do povo de São Paulo, mesmo sendo Paraibano, São Paulo passou a ser o lugar mais importante no meu coração, mora no meu peito e vice-versa.
03) RM: Os artistas solicitam prefácios como aval aos seus trabalhos musicais?
Assis Ângelo: São algumas centenas de prefácios, desde repentistas populares pouco conhecidos da grande mídia a Zé Ramalho. São muitos discos, fiz uma coleção chamada: “Som da Terra” que é composta por vinte e sete LPs, CDs, Fitas K7 que conta a história da música Sertaneja Caipira, tem nomes como: Cornélio Pires, Raul Torres, Serrinha, Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho. Fiz muitos prefácios para Téo Azevedo, do CD de Jackson Antunes. Faço com muito prazer quando me procuram e fico muito feliz. Agora mesmo está saindo um novo disco de Téo Azevedo: Cinquenta anos de Cultura Popular, que tem um texto meu. Saiu há poucos dias um álbum duplo de Luiz Gonzaga pela BMG no qual eu fiz a seleção e produção. Eu reuni o mais significativo dentro da minha óptica da obra dele. Logo depois saiu um disco muito raro chamado: Capim Novo, que é relançamento da Rosinha de Valença; a mais importante violonista do Brasil que está em estado de coma há dez anos, infelizmente. Falo da importância da Viola, do Violão e naturalmente da violonista Rosinha. Está saindo um CD chamado: Um “Trem, Uma Saudade”, que eu produzi, conta um pouco da Ferrovia Brasileira e notadamente a de São Paulo através da música brasileira, reunidas a partir dos anos trinta, tem Emboladas, Baiões, Xotes, Arrasta-pés, Fox e muitos outros gêneros, são vinte e uma músicas.
04) RM: Assis Ângelo, quais foram suas outras produções?
Assis Ângelo: Na área de comunicação sou multifacetado. Escrevo em Jornais, Revistas e tenho meu programa de Rádio. Deixe recentemente um programa de TV que produzia e apresentava com o mesmo título que tenho na rádio (São Paulo Capital Nordeste), por questão de tempo. Em Disco/Cd eu reuni alguns poemas de brasileiros que eu respeito como: Castro Alves, Casemiro de Abreu, Cândido Canela, José Nêumanne, Lampião e alguns poemas meus, chamado: Assis Ângelo interpreta brasileiros, tive o prazer de dividir minha participação com: Zé Ramalho, Elba Ramalho, Jackson Antunes, Téo Azevedo, Gereba, Rodrigo Mattos, Osvaldinho da Cuíca e Oswaldinho do Acordeon, foi uma forma que encontrei para mostrar um pouco mais a poesia para as outras pessoas. Poucas pessoas sabem da importância da poesia de Machado de Assis, gravei um poema dele. Eu já estou fazendo nova seleção de poesia e vai ter novos convidados para me ajudar, até o final do ano devo lançar um disco com novas composições. Eu sou um poeta e compositor bissexto, vou reunir as composições, alguns em parcerias com o Téo Azevedo, Gereba, Dominguinhos, Jarbas Mariz, são modinhas, chorinhos, xotes que fiz também com Maria Dapaz, grande compositora pernambucana.
05) RM: Assis Ângelo, fale da repercussão do seu programa de Rádio e da valorização da cultura nordestina em São Paulo.
Assis Ângelo: Com relação à cultura nordestina eu posso falar, com relação ao meu programa prefiro que as outras pessoas falem. Mas a música feita pelos nordestinos e brasileiros em geral é riquíssima e muito bonita, mas ainda carece ser descoberta pelos próprios brasileiros. A música boa, nem sempre é aquela que faz sucesso, é preciso conhecer mais o Brasil através da sua música.
06) RM: Qual a sua análise sobre a afirmação de que os grupos de “Forró Universitário” fizeram renascer o Forró?
Assis Ângelo: Olha isso é uma contradição, uma confusão muito grande. O “Forró Universitário” não existe, porque se existisse, teríamos por tabela o “Forró Analfabeto”. Na verdade, existe o “Forró Doutor” que é o Forró bom. O “Forró Universitário” é o Forró do mauricinho, do filhinho de papai. Muitos fazem letras vagabundas, repetitivas, dor de “corno” o tempo todo. Essa definição de “Forró Universitário” é pelo fato desses moços, pobres moços, estarem ou saírem da Universidade. Mas há espaço para todo mundo e o sol nasce para todos. Eu só acho que eles deveriam ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Renato Leite, Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeon, Biliu de Campina, Flávio José. É por aí que a escola vai se formando. Não podem achar que do dia para noite vão virar forrozeiros. O bom Sanfoneiro tem que se dedicar e o bom compositor não acredita em inspiração, mas sim em transpiração. Contando histórias engraçadas ou tristes. O artista tem que exercitar sua arte. Eu quero ver esses grupos sobreviverem a mais de três CDs. Depois de muitos investimentos por parte das gravadoras, quando as mesmas perceberem que não estão tendo mais lucro, são descartados imediatamente. Assim as gravadoras vão inventando modas e os coitados vão sendo chupados e o bagaço é jogado fora. Mas a arte e os verdadeiros artistas sobrevivem como esses que citei e devem ser respeitados. Você liga o rádio é tudo a mesma coisa e segue o modismo.
07) RM: Assis Ângelo, além dessas atividades citadas, você trabalha como assessor de imprensa?
Assis Ângelo: Faz muitos anos que trabalhei como assessor de imprensa. Eu era chefe do departamento de imprensa da Companhia Metropolitana de São Paulo, deixei há três anos. Hoje sou assessor da presidência da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos para assuntos culturais. Estou fazendo no momento o mapeamento em vinte e duas cidades por onde passa a malha ferroviária, levantando que tipo de cultura há nessas regiões, desde música, teatro, folclore, artes plásticas para dar de presente as escolas da rede estadual. Sempre tentando descobrir um pouquinho do Brasil para os brasileiros.
08) RM: Assis Ângelo, fale um pouco do seu contato com Luiz Gonzaga.
Assis Ângelo: Cresci ouvindo cantador e repentista nas feiras livres do Nordeste, especialmente da Paraíba. Ficava maravilhado ouvindo os repentes. É uma raça que me surpreende até hoje. Em vários livros, eu conto um pouco dessa história dos artistas populares da minha infância e adolescência. Muitos deles, o tempo me fez amigo, como Otacílio Batista e Diniz Vitorino. Luiz Gonzaga vem nessa leva. Em 1970, por aí, conheci o velho “Lua” em São Paulo, quando era repórter da Folha de São Paulo. Eu o entrevistei várias vezes. Numa delas, ele chorou feito criança, pois há pouco havia se separado de dona Helena para ficar com Edelzuíta Rabelo, que ele carinhosamente chamava de “Zuíta meus amô” e morreu no colo dela. Edelzuíta é pernambucana, como pernambucana era dona Helena. Luiz Gonzaga foi um dos mais importantes melodista brasileiros. Aliás, falar isso é chove no molhado. Mas pouca gente sabe que a sua obra ultrapassou fronteira. Foi gravado em quase todos os países latinos, e até na ilha de Páscoa. Há gravações de suas músicas e do ritmo que criou, o baião, em inglês, italiano, francês, alemão. Em Portugal há uma música que diz que ele nasceu na Paraíba, veja só. Hoje há mais de 150 músicas cá no Brasil citando-o nominalmente. Aqui ele foi gravado por quase todo mundo, desde Geraldo Vandré, Gilberto Gil e Caetano Veloso. A música “Asa Branca” tem mais de 200 gravações. É uma das músicas mais gravadas, ao lado da música “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, e “Aquarela do Brasil”, de Ary barroso, “Eu Só quero Um Xodó” (Anastácia / Dominguinhos). Há 13 livros publicados sobre ele, um dos quais, o meu: “Eu vou contar pra vocês”. Lançado há 12 anos, pela editora ícone e ainda em catálogo.
09) RM: Assis Ângelo, E o seu contato pessoal com o poeta Patativa do Assaré?
Assis Ângelo: Ano passado à editora cpc/umes publicou um livro de minha autoria: “O Poeta do Povo, Vida e obra de Patativa do Assaré”, em que conto mais um pouco sobre o pernambucano de Exu Luiz Gonzaga. Num dos capítulos do livro, ele revela que tocou Violão para não ser “enrolado” pelos chorões de sua época. Patativa do Assaré, eu também conheci em São Paulo, em 1978, quando fui entrevistá-lo para o extinto suplemento Folhetim, da Folha de São Paulo.
Ele é o autor da toada: “A Triste Partida”, que Luiz Gonzaga gravou em 1964 tornando-a um clássico da chamada música nordestina. Patativa estreou em livro em 1956, com “Inspiração nordestina”, cuja primeira edição, publicada no Rio de Janeiro, foi paga por ele. Patativa é um dos mais importantes poetas populares do mundo e do Brasil, com certeza é o mais importante. A sua obra já foi estudada na Sorbonne -Paris-França. Aliás, foi o único poeta brasileiro até agora a ter a obra estudada na Sorbonne.
Há pelos menos três documentários para cinema sobre ele, um deles feito por Rosenberg Cariri. A Revista “Fale”, de Fortaleza, está lançando um número especial sobre Patativa neste mês de Março (2002). Mês que dia 5, ele completará 93 anos de idade. Mas hoje, neste momento (Janeiro-2002) está internado. É a segunda internação em pouco mais de um mês, de Patativa Assaré. Patativa diz que nunca mais sairá; a não ser morto. É cabeçudo, irrequieto, teimoso. Há muitas músicas revestindo seus poemas.
Patativa já teve as suas músicas gravadas por Rolando Boldrin, Sérgio Reis, José Fábio (música de:Téo Azevedo), Cacá Lopes, Chico Buarque, Fagner e vários outros artistas brasileiros.No meu programa, declamo sempre poemas de Patativa.
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