O baixista e compositor Arthur Vigne iniciou de forma autodidata aos 11 anos de idade no contrabaixo elétrico, a decisão de levar a música a sério como profissão só veio aos 17 anos, quando começou a trabalhar como recepcionista em uma escola de música em Araruama – RJ.
Mais tarde é convidado a se tornar professor de baixo na mesma escola onde conheceu alguns artistas locais e começou a acompanhá-los na noite na Região dos Lagos.
Desde 2018 até os dias atuais integra a banda Violive Jukebox, tocando contrabaixo acústico, banda com a qual já viajou por alguns estados do Brasil se apresentando em festas de formatura, eventos corporativos e casamentos, sendo um deles na cidade do Rock no Rock in Rio 2019 e 2022. Em 2022 também participou da gravação do Luau Amazon Music tocando com Pericles, Vitor Kley, Pricilla e Mc Dricka.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Arthur Vigne para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 29.07.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Arthur Vigne: Nasci no dia 08/03/1996 em Araruama, RJ, onde moro até hoje. Registrado como Arthur Vigne Miranda.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Arthur Vigne: Eu sou ligado em música desde que me conheço por gente, não sei bem o porque. Acredito que pelo fato de todo mundo lá em casa ouvir muita música sempre, mas não venho de família de músicos.
Lembro-me de ouvir toda a galera da MPB já com 6 anos e saber cantar várias músicas, mas a vontade de tocar um instrumento veio com meus 10, 11 anos quando, em um passeio de carro com meu pai, ele colocou uma fita de uma banda de rock chamada Creed para tocar no rádio. Não consigo descrever a sensação que tive, foi um choque! Naquele momento decidi que queria aprender a tocar um instrumento.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Arthur Vigne: Fora da música fiz apenas um curso técnico de meio ambiente, concomitante ao ensino médio. Na música me considero um autodidata a principio, mas depois estudei harmonia funcional, com alguns professores e fui fazendo aulas avulsas até encontrar dois caras que mudaram muito minha abordagem na música, que são, o pianista Eduardo Farias e o saxofonista Bob Mesquita.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Arthur Vigne: Logo assim que me identifiquei com o baixo, o baixista Flea do Red Hot Chilli Peppers foi minha primeira inspiração, ele me fez amar esse instrumento, outro cara dessa época que me pirou muito foi o Tim Commeford, das bandas Rage Against The Machine e Audioslave.
Quando comecei a explorar outros estilos, foi-me apresentado o trabalho do Marcus Miller, que foi minha porta de entrada para a música instrumental, a partir daí veio o Jaco Pastorius que considero até hoje minha maior referência, Gary Willis, Matt Garrison, Hadrien Feraud, Janek Gwizdala, entre outros.
Todos têm importância pra mim até hoje, pensando bem, todos têm essa relação cheia de ímpeto com o instrumento e todos têm uma abordagem voltada para improvisação, estão sempre se arriscando, nunca tocam na zona de conforto, a próxima escolha é sempre a mais perigosa e inserta, do tipo “vamos ver no que vai dar” eu amo esse espírito meio “inconsequente”. Tem muito brasileiro nessa lista hoje, mas confesso que cheguei neles um pouco mais tarde.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Arthur Vigne: Acredito que por volta de 2012, 2013 comecei de fato a me tornar um profissional, tocando em bares aqui na minha região. Antes disso já tocava por aí com bandas de Rock que tive, mas ganhar meu primeiro cachê foi tocando em bares mesmo.
06) RM: Quantos discos lançados? Cite alguns discos que você já participou como contrabaixista?
Arthur Vigne: Tenho pouca coisa lançada, por enquanto (risos)… Tive uma banda de música instrumental a MoonShihtzu que chegou a lançar o EP – Amoreira, onde quatro músicas são de minha composição.
Apesar da gravação caseira, gosto desse álbum! Foram bons momentos fazendo um som com essa galera e amo os arranjos e toda identidade que construímos nesse trabalho. Minha composição favorita desse álbum é a música Oster.
07) RM: Você publicou método para contrabaixo?
Arthur Vigne: Sim! Tenho meu curso “Pentatônica Moderna” onde mostro toda minha abordagem sobre a escala pentatônica desde o início até a forma mais avançada. Também tenho o curso de “Padrões Modernos para escala Maior” onde demonstro minha abordagem sobre a escala maior.
08) RM: Como é seu processo de composição musical?
Arthur Vigne: Normalmente componho a melodia primeiro e depois vem acordes e arranjos! Eu tenho uma relação muito forte com melodias, é sempre o que me pega numa música, mas em raras ocasiões, já compus a harmonia ou o groove antes.
09) RM: Você compõe melodia para letra? Quais são seus principais parceiros de composição?
Arthur Vigne: Já compus sim, já compus letras também em algumas bandas que tive. No momento não tenho um parceiro de composição.
10) RM: Como você define seu estilo como contrabaixista?
Arthur Vigne: Meu estilo como baixista é o meu estilo de vida, vivo um grande improviso (risos) gosto desse estilo “Jazzístico” de viver, sempre arriscando e buscando o novo. Eu gosto de tocar livre, solto e contribuindo ativamente e criativamente para música em tempo real.
11) RM: Quais as principais técnicas que o baixista deve se dedicar?
Arthur Vigne: Eu acho que antes de tudo o baixista tem que ter um conhecimento técnico do instrumento. Eu falo muito sobre isso nas aulas, quando se fala de técnica, logo pensamos em slap ou velocidade, mas o conhecimento técnico do instrumento tem mais a ver com, conhecer a fundo toda a matemática e geometria que envolvem o instrumento. Onde estão as notas, os intervalos, as tríades, tétrades, pentas e escalas. Você consegue tocar todas essas coisas, nos 12 tons em um único local do braço? E no braço todo? E em uma corda só?
12) RM: Qual a importância de o baixista equilibrar a função de condução e de solista?
Arthur Vigne: Acho que essa é a palavra chave “Equilíbrio”, o baixista não pode ser apenas um solista e acho que isso, todo mundo já sabe, mas eu defendo muito a tese de que a melhor forma de um baixista estudar harmonia sem precisar de um instrumento genuinamente harmônico é através do estudo da improvisação. Você não precisa nem ser um ótimo improvisador, se isso não estiver nos seus planos, mas ter a mínima noção vai te ajudar muito nas suas conduções.
13) RM: Quais os principais vícios técnicos ou falta de técnica tem os baixistas alunos e alguns profissionais?
Arthur Vigne: Fazendo um link com o que falei a cima, pra mim a maior deficiência dos baixistas é não conhecer a fundo o braço do instrumento, estão sempre fazendo saltos de regiões para buscar os shapes que só sabem fazer partindo de um único determinado ponto.
14) RM: Quais as principais características de um bom baixista?
Arthur Vigne: Acho que o baixista tem que ser muito bom de time, nos dois sentidos da palavra, tanto em inglês quanto em português. Tem que se posicionar firme no tempo e no pulso da música e jogar pro time, ouvir e interagir. O baixista bom é o cara que faz os outros músicos da banda tocarem melhor quando estão tocando com ele.
15) RM: Quais são os contrabaixistas que você admira?
Arthur Vigne: Fora os já citados, hoje gosto muito do Thiago Espírito Santo, André Vasconcelos, Alberto Continentino, Frederico Heliodoro, Michael Pipoquinha, entre outros.
16) RM: Existe uma indicação correta para escolher um contrabaixo de mais de 4 cordas? Quais os gêneros musicais correspondentes a quantidade de cordas do instrumento?
Arthur Vigne: Não acredito muito nisso! Acho que o número de cordas pode até facilitar ou dificultar o play em determinados estilos, mas não acho que tenha uma indicação correta para isso, quem faz a música é o musico, o instrumento é só uma ferramenta.
17) RM: Qual a marca de encordoamento da sua preferência? Existe marca ideal para cada gênero musical ou é preferência pessoal?
Arthur Vigne: Em relação a marca, eu gosto mais da D’Addario, apesar de não ganhar nada para falar isso (risos), mas acho que são as cordas mais equilibradas em termos de som e no toque também, mas também não acho que exista marca certa e sim tipos de corda que favoreçam determinados timbres.
18) RM: Quais os prós e contras de ser professor?
Arthur Vigne: Acho que o grande pró para quem ama ensinar é que você aprende mais do que ensina, apesar de clichê essa frase, é um fato! E o contra para quem ama ensinar é se deparar com alunos que não querem passar pelo processo e só almejam os resultados, isso é um pouco frustrante, mas se resolve com boas conversas.
19) RM: Quais os prós e contras de ser músico freelancer acompanhando outros artistas?
Arthur Vigne: Acho que o pró é que você ta sempre conhecendo gente nova, mais experiente, com muita coisa para te ensinar, lugares novos e tudo mais. O contra é que em um determinado momento você se da conta de que investiu grande parte da sua energia e tempo em um trabalho que não é seu e que muitas das vezes você não terá nenhum reconhecimento por isso, salve alguns artistas que dão sim credito a seus músicos.
20) RM: Quais os prós e contras de ser músico de estúdio de gravação. Gravando as linhas de contrabaixo em discos de artistas?
Arthur Vigne: Apesar de ter feito alguns trabalhos do tipo, não considero quem eu tenha experiência o suficiente com essa área para responder essa pergunta.
21) RM: Quais bandas que já participou?
Arthur Vigne: A única banda que sou membro hoje é o Violive Jukebox, com eles já toquei no Rock in Rio algumas vezes em palcos menores, alguns festivais de Jazz e muitos casamentos, inclusive de alguns artistas. Fora isso fiz algumas pontas como o Luau Amazon Music, como sub para meu irmão e mentor Adalberto Miranda. Meu trabalho hoje é quase que totalmente voltado para as redes sociais, onde consigo alcançar com mais facilidade um publico que entenda minha proposta.
22) RM: Quais os prós e contras de tocar em uma única banda?
Arthur Vigne: O pró acredito que seja a interação que se torna algo muito fácil depois de muito tempo, você reage e entende seu companheiro de banda sem nem sequer olhar para ele, isso te leva para outros níveis na música.
O contra talvez seja a falta de diversidade e escassez de trabalhos que isso pó te gerar, as pessoas sempre vão pensar “Não vou chamar fulano porque ele já deve estar ocupado com a banda tal”. Você também pode ser taxado como “o cara do jazz” por exemplo, ou “o cara do pagode” essas taxações rolam muito no mundo da música e também limitam muito as oportunidades de trabalho.
23) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou em bandas?
Arthur Vigne: O ego dos músicos em geral, é algo muito frágil. Muitos têm dificuldade de assumir que erraram ou que precisam melhorar em determinada parte da música ou algo do tipo e isso piora quando os músicos são mais velhos, pelo menos de acordo com a minha experiência.
24) RM: Quais os artistas já conhecidos você já acompanhou como músico freelancer?
Arthur Vigne: O único contato profissional que tive com artistas já conhecidos, isso desconsiderando canjas e encontros aleatórios, foi na gravação do Luau Amazon Music, onde gravei com Péricles, Vitor Kley, Priscilla, MC Dricka.
25) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou acompanhando artistas já conhecidos?
Arthur Vigne: Como tenho pouca experiência com famosos, não tive dificuldades, é só ser um cara fácil de lhe dar, não arrumar problemas com ninguém e não falar mal do amiguinho (risos). Os artistas foram todos muito respeitosos, alguns mais atenciosos que outros, mas no geral todos foram agradáveis.
26) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Arthur Vigne: Hoje tenho investido nos cursos, acredito que eu tenho uma visão e preciso passar isso pra frente e a resposta do publico tem sido muito positiva quanto a isso. Esse ano também penso em começar meu trabalho solo, nesse caso ainda estou me planejando, mas esse ano eu começo.
27) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Arthur Vigne: Investir nas redes sociais tem sido maravilhoso para mim, isso vem me trazendo um certo reconhecimento e financeiramente também tem sido ótimo.
28) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Arthur Vigne: A internet é uma ótima ferramenta para encontrar o público certo. Eu acredito que trabalho com um público muito nichado hoje e a internet me ajudou e vem ajudando a me conectar com esse publico. O prejuízo que tenho é na perda de tempo que sofro as vezes rolando feed (risos).
29) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Arthur Vigne: Acho que nesse ponto, como em vários outros a internet tanto democratizou quanto banalizou a informação. É preciso ter muito cuidado, tem muita gente se dizendo produtor, engenheiro de áudio, profissional da área sem ter o mínimo de formação.
Mas a vantagem de ter um home Studio é poder se gravar, fazer uma boa pré, guias e tudo mais, acho importante ter uma boa noção de como se gravar, mas isso não substitui um bom profissional.
30) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje grande não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para ser diferencia dentro do seu nicho musical?
Arthur Vigne: Acho que gravar um disco ainda é difícil e caro pra grande maioria dos músicos, pode ate estar mais fácil, mas ainda sai caro gravar com qualidade.
Em relação a se diferenciar, eu sempre foquei no meu som, na minha linguagem e abordagem, sempre foi uma meta pra mim, acho que com os anos venho me encontrando, não digo que já cheguei lá, mas acredito estar no caminho.
O grande problema é que no mercado de hoje, principalmente no de Freelancer, ser original não é um requisito, as vezes até atrapalha, não falo isso pra criticar ou diminuir quem faça esse trabalho, muito pelo contrario.
Mas é uma questão de escolha de carreira, você tem q escolher e lhe dar com as consequências. Eu sempre procuro olhar e aprender com as obras dos grandes mestres que me influenciam, mas chega um ponto em que paro e penso, “beleza, foi legal até aqui, agora como eu faria isso?”
Converso com alguns amigos à alguns anos também que eu tenho um som na minha cabeça e ainda não achei esse som em lugar nenhum pra ouvir, talvez eu tenha que fazê-lo, não sei.
31) RM: Como você analisa o cenário da Música Instrumental Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Arthur Vigne: Eu amo a música instrumental brasileira, temos grandes artistas, verdadeiros gênios e únicos, acho que a cena só melhora em termos de musicalidade. A grande revelação das ultimas décadas no baixo foi Michael Pipoquinha, tanto nacional como internacionalmente, não há ninguém como ele no mundo. Na guitarra temos também Pedro Martins, que também é o maior de sua geração, um gênio!
Acho que todos os nossos medalhões vêm mantendo seu posto nos lugares mais altos da música, temos Hermeto Pascoal, Toninho Horta, temos caras como Nelson Farias que além do legado musical, vem nos deixando um grande acervo de histórias e conhecimentos.
As únicas coisas que lamento na cena da musica instrumental brasileira é a falta de incentivo e lugares para tocar e as grandes perdas que sofremos nos últimos anos, com grandes nomes nos deixando.
32) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram? No cenário da música popular já enxergo um pouco diferente.
Arthur Vigne: Acho que para fazermos uma análise justa precisamos começar a diferenciar a música como arte de se expressar, da música como ferramenta para o entretenimento. Acredito que para a música popular existir e manter a maquina da indústria que emprega tantos amigos, funcionando, seja necessário um equilíbrio na dose dessas duas abordagens.
Ao meu ver esse equilíbrio vem se perdendo nos últimos anos, gerando músicas cada vez mais descartáveis e com conteúdos rasos. Deixando claro que essa é a minha opinião, não digo isso para julgar ninguém, mas isso vem me afastando do cenário de musica popular, hoje. Com isso não consigo dizer, qual artista popular se destaca pra mim, hoje. Ainda escuto os que escutava quando criança.
33) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Arthur Vigne: Por alguns anos venho atuando muito com o baixo acústico em shows e no começo não tinha capa para o baixo, nem muito menos carro, então levava meu baixo acústico sem capa no ônibus para shows e ensaios.
Com certeza as reações das pessoas ao me verem de baixo de sol, esperando ônibus com aquele trambolho gigante, ou dentro do ônibus ou até pegando chuva com o baixo, são as histórias mais legais que tenho para contar… e são muitas (risos).
Uma coisa interessante é que ninguém sabe o nome desse instrumento, já foi chamado de violino gigante, violão gigante, harpa, os que chegaram mais perto chamaram de violoncelo.
Uma vez, voltando para casa, de madrugada, após um show, andando com o baixo na rua vazia, veio um homem claramente embriagado, todo torto (risos), ele me parou na rua, eu já pensei logo – “Pronto, vai me alugar aqui”. Mas ele só falou assim, – “Maneiro seu baixo acústico” e saiu andando. Ninguém nunca acertou só ele… Aquilo me causou uma crise de risos até chegar em casa (risos)…
34) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Arthur Vigne: Sem romantismo, mas eu sou muito grato por ser músico, viver de música é um sonho que sempre tive, passei por muitos perrengues, muitas brigas na família desaprovações, mas hoje vivo exclusivamente da música e não me falta nada, nem para minha família, então não tenho do que reclamar. É difícil e sei que muitas dificuldades virão ainda, mas é um privilegio.
Mas para não deixar passar sem resposta, talvez o que me deixe mais triste na música é o ambiente competitivo e exclusivo que em muitos lugares é formado, fico triste quando vejo um músico mais experiente fazendo pouco de alguém que está iniciando a carreira. Acho que o papel do músico mais experiente é passar a informação correta, ajudar a trilhar o caminho, sem humilhar.
Acho que não chego nem perto de ser um músico muito experiente, mas sempre que me deparo com alguém menos experiente que eu, procuro me colocar a disposição para ajudar, principalmente quando detecto um interesse genuíno na pessoa.
35) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Arthur Vigne: Se você ama mesmo isso, manda vê! Mas você vai ter que estudar muito, trabalhar muito e por muito tempo, só assim as coisas vão acontecer.
Foque nos estudos, toque a favor da música e não contra e principalmente, chegue nos lugares para resolver os problemas e não para ser um problema.
36) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Arthur Vigne: Se existe eu não tenho (risos)… Toda minha vivencia com a música foi à base de muito suar e uma vontade inabalável, nunca senti nenhum tipo de facilidade ou predisposição.
Vejo isso em alguns amigos, mas na real não conheço nenhum músico excepcional que não tenha estudado muito, que não tenha perdido horas com o instrumento na mão.
Então se existe ou não, não sei, se eu tenho ou não, não me importa muito (risos)… Eu não consigo fazer outra coisa mesmo, então vai ser com o que tenho.
37) RM: Qual seu conceito de Improvisação?
Arthur Vigne: Improvisar pra mim é compor em tempo real e composição é o auge da expressão musical, é como se conectar a algo maior, como fazer um download de um lugar a cima, sei que parece meio esotérico, mas é o que sinto. Compor em tempo real então, é mostrar que essa conexão se mantém firme e livre de interferências, pra mim é o auge, é o objetivo. É um estilo de vida, uma busca, não é só um momento da música que eu posso tocar os macetes que aprendi.
38) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Arthur Vigne: Com certeza é algo que se estuda sim, mas um estudo focado na criação! É claro que existem ideias preconcebidas, mas que são sempre expostas de uma forma diferente, num lugar diferente, acompanhadas de momentos de pura inspiração. Tudo na vida é prática, inclusive criar.
39) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Arthur Vigne: Os pros são, nos mostrar como grandes mestres pensavam e abordavam o assunto.
O contra é, não deixar claro que aquilo é só uma visão pessoal do autor e não uma verdade absoluta e isso serve para todos as outras áreas da música.
40) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Arthur Vigne: Para mim os mesmos da pergunta a cima. A música é ilimitada e o ser humano não, para compreendermos o ilimitado precisamos separá-lo e limitá-lo em uma caixinha e dependendo do ponto de vista do observador, o conteúdo da caixa muda, essa é a beleza da música.
41) RM: Você toca outros instrumentos?
Arthur Vigne: Rapaz não sei se posso dizer que toco (risos), mas eu me viro no baixo acústico, que por sinal é um instrumento completamente diferente do baixo elétrico. Me viro também no violão, já até toquei na noite por algum tempo.
42) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista?
Arthur Vigne: Acho que não vou saber responder essa, não me considero um multi-instrumentista.
43) RM: No passado existia a “dependência” do Baixo tocar “colado” com a célula do ritmo do bumbo da bateria. Quando o Baixo se tornou independente desse conceito?
Arthur Vigne: Acho que isso vem da cultura da música pop, não sei bem se isso se aplica a outras culturas, mas de qualquer forma tudo tem que partir de algum principio e esse é um bom principio.
Acho que no jazz as coisas já não eram bem assim o tempo todo e com a evolução do jazz e com a chegada do fusion e de várias misturas musicais isso foi se diluindo.
44) RM: Quais os compositores da Bossa Nova você admira?
Arthur Vigne: Tom Jobim e Vinícius de Moraes, certamente.
45) RM: Quais os compositores do Samba e do Choro você admira?
Arthur Vigne: De samba é muito difícil escolher um, mas hoje vou escolher Djavan por sua genuinidade e no choro Jacob do Bandolim.
46) RM: Quais os compositores da MBP você admira?
Arthur Vigne: Milton Nascimento e todo o pessoal do Clube da Esquina.
47) RM: Quais os seus projetos futuros?
Arthur Vigne: Pretendo lançar mais cursos e contribuir cada vez mais na formação de baixistas improvisadores e também pretendo lançar um álbum com músicas autorais o quanto antes.
48) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Arthur Vigne: https://www.youtube.com/@arthurvigne5591
Canal: https://www.youtube.com/@arthurvigne5591
Encontros e Despedidas (Milton Nascimento) – Arthur Vigne Quartet: https://www.youtube.com/watch?v=pQwlmnA_aqU
Vlog 1 – Rotina de estudos | Grooves | Padrões e Pé na estrada: https://www.youtube.com/watch?v=xzFuSPp7Grw
Vlog 2 – Repertório | Enclosures, Aproximações Cromáticas | Dia de Cerimônia, Noite de Jazz:
https://www.youtube.com/watch?v=tAYBFMKz_5c
Que legal ver que aos 6 anos já era influenciado pela MPB. Bela entrevista!