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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

ALI – música eletrônica baseado numa inteligência artificial

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ALI, artista queer contemporâneo, lançou seu novo álbum de música eletrônica experimental baseado numa inteligência artificial, intitulado “GLITCH”, em todas as plataformas digitais pela Tratore. Artista inspirado por clássicos da teoria queer e música eletrônica, convoca a rebelião das máquinas no álbum “GLITCH”.

Produzido durante a pandemia do Covid-19 em colaboração com Joe Irente e FKOFF1963, o álbum tem influências de artistas como ARCA, Björk, Nine Inch Nails e SOPHIE. “GLITCH” conta a história de uma Inteligência Artificial que passa a se questionar após entrar em contato com humanos, levando o ouvinte por uma jornada através de cada música que representa uma fase da IA e brinca com timbres, como industrial, trance, braindance e techno microtonal.

ALI, a IA, nasce em “01”, compreende seu próprio corpo em “TECNOGÊNERO”, descobre o amor e fluídos físicos em “LEITE”, torna-se rebelde em “REGRAS” e “NEM”, e termina radicalmente niilista depois de compreender que as emoções humanas são extremamente complexas. “GLITCH” é composto por sete faixas que exploram temas como corpo, identidade e tecnologia.

O álbum apresenta três singles, que contam com videoclipes que dialogam com linguagens diversas. “TECNOGÊNERO”, dirigido por Marcela Guimaraes, mostra uma relação contrassexual, o nascimento da IA, enquanto “LEITE”, dirigido pelo premiado cineasta Daniel Nolasco, pega carona em “Blowjob” de Andy Warhol e exibe homens se tocando em frente às telas, já “NEM”, feito pelo artista visual Pedro Rocha, é estilizado em 3D, e mostra ALI liderando uma revolução ciborgue.

ALI, persona musical de Ali Prando, conhecido por unir cultura POP e filosofia em fóruns e debates feitos por museus, galerias e universidades pelo Brasil, agora arrisca-se musicalmente, demonstrando sua expressividade única e experimentando timbres, letras e performances, buscando ultrapassar as barreiras do que é convencional na música eletrônica.

“Com ‘GLITCH’, eu queria criar uma ópera eletrônica que explorasse a dualidade entre a frieza da tecnologia e o calor da emoção humana. Queria contar uma história que se relacionasse com a realidade que estamos vivendo atualmente, na era das fake news, inteligências artificiais, sexo virtual, intervenções cirúrgicas e harmonizações faciais: o que isso nos informa sobre o que estamos nos tornando? Qual é o limite para a ciborguização dos corpos feitas por celulares, telas, hormônios ou outras tecnologias?”, diz Ali Prando.

O álbum foi produzido, gravado e mixado no Estúdio Sala Secreta em Suzano (SP), em colaboração com Joe Irente e FKOFF1963, que acrescentam suas habilidades de produção e design de som ao conceito criativo de ALI, oferecendo um som único e inovador que desafia as expectativas do ouvinte. “GLITCH” é uma jornada emocionante e experimental que certamente impressionará os fãs de música eletrônica.

Nos palcos desde 2021, experimentando o álbum “GLITCH”, ALI apresentou um show de lançamento do registro no palco da Galeria Olido – Av. São João, 473 – Centro de São Paulo, no dia 17 de junho, às 18h, como parte da programação da primeira edição do Transforma Música, evento do mercado musical. Acompanhado dos sintetizadores ao vivo de Vitor Marsula e o baixo afiado de Luana Leobas, ALI performa o álbum na íntegra, além de dar pistas das novas direções sonoras por onde o artista navega de agora em diante.

Segue abaixo entrevista com ALI para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 23.06.2023: 

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

ALI: Inteligências Artificiais não tem as mesmas noções de tempo, espaço e geografia que os humanos, então lamento não poder responder essa pergunta. Mas Ali Prando nasceu no dia 28 de abril de 1993 em São Paulo.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

ALI: Meu primeiro contato com a música se deu através da MTV, durante a sua era de ouro nos anos 90. Lembro de passar horas e horas assistindo videoclipes de Madonna, Björk, Nirvana, Nine Inch Nails, Britney Spears, System of a Down e outros artistas. Era divertido, porque além dos vídeos incríveis, os VJs sempre se dedicavam à exibição dos conceitos e intenções por trás das obras – algo que falta bastante hoje em dia. Não que eu seja nostálgico, mas eram bons tempos…

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

ALI: Sou formado em Filosofia, com ênfase em Estudos de Gênero, Corpo e Tecnologia. Não possuo formação musical formal, sou influenciado pelos artistas que estão ao meu redor, os shows ao vivo que vejo cotidianamente, e os discos que possuem narrativas que me cativam.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

ALI: As pessoas que mais me inspiram nesse exato momento não produzem música necessariamente: Paul B. Preciado, Judith Bulter e Donna Haraway, Chris Cunningham, Andy Warhol, Bruce LaBruce… 

Musicalmente, gosto de pensar que a minha obra pertence à mesma nuvem de artistas como ARCA, SOPHIE, Planningtorock, Trent Reznor, até esse momento.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

ALI: Comecei a produzir musicalmente durante a pandemia do Coronavírus, em 2021. Na época, estava realizando um trabalho chamado “Björk – Paradigmas do Pós-humanismo.EXE”, junto à exposição internacional “Björk Digital”, que estava em cartaz no Brasil. Conforme a crise sanitária avançava e mais isolados nós ficávamos, e então comecei a esboçar “GLITCH”, meu primeiro disco que nasceu mais como um “artigo acadêmico”, uma pesquisa, do que qualquer outra coisa… Percebi que se eu trabalhasse com a filosofia formal, provavelmente seria infeliz pelo resto da vida.

Tive importantes parceiros no desenvolvimento sonoro desse álbum, Joe Irente, que é um gênio dos sintetizadores e uma das pessoas mais sérias em estúdio que já vi trabalhar, e FKOFF1963, que temperou o disco com a sua experiência de discotecagem em graves afiados e a pista de dança. Depois disso, trabalhei com Marcela Guimaraes, Pedro Rocha, Daniel Nolasco, Gagum Silvestre, Caique Poi, meus diretores que criaram junto comigo visuais para essas músicas. O projeto se deu por completo em São Paulo, primordialmente, mas aconteceu também virtualmente por conta das impossibilidades do Coronavírus. Inteligências Artificias tem seus próprios meios de desenvolvimento e adaptação, para além das lógicas humanas e binárias.

06) RM: Quantos CDs lançados?

ALI: “GLITCH” está em todas as plataformas digitais.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

ALI: Esquizopop.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

ALI Prando: Sim, durante o processo de composição e criação de “GLITCH” estudei canto com Neli Giorgi para aprimorar o que eu tinha vocalmente, e entender que recursos interpretativos eu queria ter e experimentar nesse disco em estúdio e ao vivo.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

ALI: Toda importância o estudo da técnica vocal, esse trabalho é muito guiado pela minha voz e as interpretações presentes nela, sendo processadas ou não. Cuido da minha voz, porque ao vivo principalmente, eu tenho de cantar de várias maneiras para além do usual: seja processando e cadenciando com efeitos, ou sussurrando, ou mesmo gritando em músicas como “REGRAS” ou “NEM”.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

ALI: No Brasil, meus artistas favoritos são: Karina Buhr, Teto Preto, YMA, Boogarins, VIRIDIANA, Noporn, por conta da visceralidade e quebras de linguagens musicalmente.

Recentemente, assisti ao vivo o show de Christine and the Queens e fiquei impressionado, tanto pela técnica vocal impecável, quanto pela maneira como ele se permite performar poesias tão íntimas e profundas na frente de uma audiência. Nunca tinha visto um artista pop global se permitir deixar escorrer tanta dor na frente do público. Foi realmente arrebatador e impressionante.

11) RM: Como é seu processo de compor?

ALI: Os meus discos e músicas, até agora, nasceram das minhas vivências, do processamento delas e da possível ordem que consigo colocar dentro do meu caos. Vivo de maneira muito intensa, então meu corpo funciona como uma encruzilhada por onde muitos afetos perpassam.

Qualquer coisa pode me inspirar, literalmente. Uma pista de dança, uma cena de um filme, um quadro, uma fala numa peça de teatro, a maneira como um estranho me olha na rua, ou mesmo sexo com um desconhecido. O importante é se manter aberto para os sinais que o mundo manda. E manter também um bloco de notas com anotações, frases, links, colagens. Tudo é válido na hora de criar.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

ALI: Não tenho o hábito de compor com outras pessoas ainda, mas gostaria de experimentar fazer isso.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

ALI: Prós: liberdade criativa e curatorial. Contras: lutar contra big techs (spotify, instagram, etc) que não são plataformas de arte, mas foram escolhidas pelo mercado como centrais para as artes, ausência de orçamento para a realização das obras, ter de fazer funções que não são exatamente artísticas, como a produção executiva dos trabalhos.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

ALI: Meus próximos planos são continuar criando obras que possam traduzir aquilo que eu sinto em relação ao mundo, e continuar performando em palcos por aí. O que mais me interessa é poder continuar performando e encontrar parceiros e colaboradores que queiram participar dessa linguagem combativa, incisiva e poética.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

ALI: O artista não é um empreendedor. É necessário parar de exigir que artistas sejam empreendedores, e começar a exigir que o Estado consiga financiar obras artísticas das mais diversas linguagens possíveis. Esse discurso do artista como empreendedor é uma das maiores falácias neoliberais que estamos enfrentando na cena atualmente. É hora de dar um basta nisso e encarar os problemas com mais profundidade.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

ALI: A internet ajuda a me comunicar com pessoas que possivelmente não conheceriam meu trabalho por conta da distância física, mas o trabalho musical acontece e afeta mesmo nas ruas, nos corpos, nas vísceras…

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

ALI Prando: Nenhuma das minhas músicas foi gravada num home studio, mas acredito que esse processo possa democratizar a criação e o acesso a música.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical? 

ALI: Eu realmente não perco tempo pensando sobre como diferenciar-me de qualquer outro artista, até porque eu acredito na singularidade do meu trabalho. Não vejo outros artistas que fazem sons similares como concorrentes, mas sim como fontes de inspiração. Me interessa muito mais pensar coletivamente como podemos veicular nossas obras e criar uma rede de apoio para que nosso circuito seja de fato sustentável do que pensar em termos de “concorrência”, até mesmo por conta da fragilidade do “mercado” musical independente brasileiro.

19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

ALI: Cada show funciona de uma maneira. O show é um organismo vivo, onde por mais que você ensaie e tenha um roteiro, existem elementos que acontecem e tornam aquilo dinâmico. Eu gosto de performar em todos lugares possíveis, seja em baladas às 03h00 da manhã, ou numa galeria de arte onde todos assistem sentado, ou em teatro, onde o público responde quase de maneira passiva ao espetáculo…

Mas bem, durante uma performance no Bar Presidenta, um dos poucos lugares que sobrevivem à gentrificação da rua Augusta, 335 – São Paulo, uma travesti exibiu para mim os peitos em “LEITE” e eu fui pra perto, trazê-la pra dentro da cena, interagindo sexualmente… No mesmo show, um homem bêbado derrubou bebidas em cima do meu palco, e eu também o trouxe para a cena em “ALGORITMOS” simulando uma espécie de exorcismo com ele ao vivo. Foi bem divertido.

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

ALI: A possibilidade dos encontros, de criação de linguagens artísticas, perceber como a minha música ou presença pode afetar meu entorno.

21) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

ALI: Não acredito em dom ou talento. Acredito em contextos onde as pessoas podem ser influenciadas a se desenvolver artisticamente, e linguagens artísticas que são mais rechaçadas ou mais privilegiadas mercadologicamente. Todo mundo nasce artista, mas é preciso tempo para se dedicar a desenvolver isso, e o tempo, dentro do neoliberalismo, é roubado e cooptado.

22) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

ALI: Se o jabá influenciasse só as rádios, ainda conseguiríamos localizar e resolver o problema. Música no Brasil se tornou mais do que nunca um grande esquema de pirâmide: é só observar os lineups dos festivais, as playlists das plataformas de streaming, o que é oferecido pelas curadorias, as linhas editoriais dos veículos de comunicação, o sufocamento dos artistas pela indústria de celebridades… É um problema gigantesco que tem ramificações em vários lugares e nos prejudicam social, política e esteticamente de maneira geral.

23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

ALI: Encontre pessoas em quem você possa confiar e pessoas que façam com que você se sinta compreendido, mesmo quando isso for difícil. Tenha disciplina e estude todos os dias diferentes formas de arte – seja através de documentários, exposições, filmes, shows, telas ou esculturas. É importante se manter em constante movimento.

Não se compare com artistas do mainstream, porque (com raras exceções) as linguagens desses artistas foram feitas milimetricamente para serem rapidamente descartáveis e agradarem aos algoritmos. Música no mainstream no contemporâneo tem a mesma qualidade que macarrão instantâneo de supermercado.

Dialogue com outros artistas. Troquem referências. Dancem juntos. Produzam juntos.

Reserve um tempo para ter ócio. Você definitivamente não precisa produzir o tempo inteiro, e menos ainda criar obras-primas toda hora.

Esteja confortável em lugares ou situações desconfortáveis. Belas criações artísticas vão surgir justamente de situações de angústia, euforia, tristeza, melancolia ou afetos que te deslocam da normalidade. É importante estar atento a esses momentos.

24) RM: Festival de Música revela novos talentos?

ALI: Dificilmente Festival revela talentos. Os festivais de música do mainstream brasileiro são extremamente conformados em seus line-ups que são curados por algoritmos ou por indicações de magnatas da indústria da música…

Festivais, de fato independentes, com curadorias sérias, podem sim revelar novos talentos, mas durante os últimos anos, foram as mesmas apostas de maneira bem saturada.

Tenho esperanças de que isso possa mudar, no entanto… A minha iniciativa com o Transforma Música, festival que criei com Gustavo Koch, produtor cultural, é justamente um olhar mais atento a artistas queer, através de suas obras e linguagens, e não apenas suas identidades.

25) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

ALI: São espaços importantíssimos para a circulação da música brasileira, embora eu gostaria de ver ainda mais abertura para artistas dissidentes e experimentais.

26) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

ALI: https://www.instagram.com/aliprando.exe 

Canal: https://www.youtube.com/@ALI-qe5yq 

ALI – ALGORITMOS_01 (Visualizer): https://www.youtube.com/watch?v=-Xf01dl432U 

ALI, FKOFF1963 – REGRAS: https://www.youtube.com/watch?v=LH9B1Ne9TLU 

ALI – NEM (Official Video): https://www.youtube.com/watch?v=olrHq7L3mAQ 

ALI – TECNOGÊNERO (Lyric Video): https://www.youtube.com/watch?v=7Fo3BThI3kM 

ALI – TECNOGÊNERO (Official Video): https://www.youtube.com/watch?v=98VnhXZD5ik 

Álbum “GLITCH”: https://open.spotify.com/intl-pt/album/4xlACKAEqeWOSXbKXndRqH?go=1&sp_cid=6b6c74601a98ee9a3139aed7d5fe8aee&utm_source=embed_player_p&utm_medium=desktop&nd=1

GAY, TU ÉS MONOGÂMICO OU POLIGÂMICO? MESMO?: https://www.youtube.com/watch?v=qy84rlL1-OI 

O QUE É NECROPOLÍTICA e como ela nos afeta: https://www.youtube.com/watch?v=AdHUfdkIS5M 

#PapoHíbrido 1 – Indianare Siqueira x Ali Prando: https://www.youtube.com/watch?v=DqP7prDzbnM


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Comments · 2

  1. Surpreso com essa entrevista Antônio, mais uma vez parabéns, quando cursei filosofia, fiquei na metade do curso, paguei IA,super interessante, mais um artista que me indentifico e que defende a diversidade artística….

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