O violonista e compositor carioca Alè começou a divulgar suas canções através das redes sociais em 2020, durante a pandemia de Covid-19.
O universo de suas composições está ligado à cultura afro-brasileira e suas manifestações, ritmos, cores, saberes e sabores, e são apresentadas na companhia de sua banda formada por JJ Aquino (bateria e produção musical), Alex Dub (contrabaixo/synth), Marcus Mickey (percussão) e Pedro Pinheiro (percussão).
No varal de emoções e referências, os acordes do violão e a pesquisa ancoraram o cantor e compositor Alè no single “Pretas & Pretos Novos”. A música é uma homenagem à história do Cais do Valongo, região conhecida como o lar histórico da comunidade afro-brasileira localizada na Pequena África (Gamboa), zona portuária do Rio de Janeiro.
Pretas e pretos novos era como os comerciantes de escravos tratavam os quase um milhão de africanos que aportaram na cidade. A música dialoga de forma direta sobre o martírio vivido por essa população, e exalta a resistência do povo negro.
As ideias ecoam assim como a de suas referências: Luiz Antônio Simas, Douglas Germano, Metá Metá, Bongar, Chico Science, Paulinho da Viola, Baden Powell (afro-sambas), Dorival Caymmi, Fatoumata Diawara, Lenine, entre outros.
A jornalista e escritora Eliana Alvez Cruz, autora do livro “O Crime do Cais do Valongo”, explica a questão: “O Brasil como conhecemos não existe sem o Valongo, esta grande encruzilhada do mundo negro em terras americanas que juntou idiomas, religiões, costumes, ciências, filosofias. Uma riqueza incomensurável e pouco conhecida por uma grande parcela de país ignorante de si e que anda em círculos porque, como efeito colateral do desconhecimento sobre o passado, caminha repetindo erros e eternizando morte e exclusões.” (Cais do Valongo, régua e compasso para o mundo – A história que ainda precisa ser contada – ICL Notícias – 21.03.2024).
“A história deste lugar precisa ser contada através da literatura, do cinema, das artes plásticas, do teatro e da música. O Cais do Valongo deu régua e compasso para o Rio e para o Brasil” – ressalta o músico. O single foi produzido por Alè e JJ Aquino (Djangos, Roda de Ska), mixada e masterizada por Raquel Lázaro, e conduzido pelo ritmo do Ijexá, num arranjo que dialoga entre instrumentos tradicionais das macumbas brasileiras como os atabaques, agogô, berimbau e tendo como base a bateria, o violão e o contrabaixo.
Nos últimos quatro anos, Alè vem apresentando suas composições nas redes sociais, e participou de alguns festivais de música no Rio de Janeiro, apresentando o repertório do seu futuro álbum e show “Macumbas & Afins”.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Alè para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 24.06.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Alè: Nasci no dia 26/12/1974 no Rio de Janeiro – RJ. Registrado como Alessandro Oliveira de Carvalho.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Alè: A rádio e a vitrola da casa dos meus pais foram as fontes primárias da minha relação com a música. Os sambas, boleros e o rock de Little Richard e Chubby Checker foram apresentados por meu pai e minha mãe, assim como a musicalidade dos sambas enredos das escolas de samba.
Meu avô paterno foi um seresteiro boêmio de voz grave (barítono) e imponente bem como seus dedilhados no violão inspirados nas baixarias do genial Dino 7 Cordas….meu tio, irmão mais velho de meu pai, que estudava violão depois do trabalho, treinando na beira da minha cama a execução de músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Alceu Valença e Paulo Diniz, entre outros. Esse universo me fez sentir a importância vital da música para minha existência…
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Alè: Sou autodidata na música. Minhas primeiras lições de violão foram com o Sr. Cícero, um senhor com deficiência visual que dava aulas na esquina da rua em que cresci no Rio de Janeiro. Aprendi o básico e interrompi as aulas pra aprender a tocar as músicas que tocavam na Rádio Fluminense.
Depois fui estudar guitarra, aprendi a escala pentatônica e saí das aulas pra montar minha primeira banda “Crítica Social”, época que compus minhas primeiras canções. Fora a música, eu sou formado em Fisioterapia, Mestre em Saúde Mental, pesquisador e professor universitário.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Alè: O rock brasileiro dos anos 80 foi fundamental. Minha banda predileta é o Rush, banda canadense de rock progressivo. Quem me introduziu na mpb foi Paulinho da Viola, Cartola, Candeia, Zeca Pagodinho, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Tom Jobim. Hendrix, Clapton, Cream, Led Zeppelin, John Coltrane, Paco de Lucia. Lenine, Douglas Germano, a turma toda do Metá Metá, Alessandra Leão, Luiz Carlos Simas, Mateus Aleluia. Nenhuma referência deixou de ser importante.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Alè: Em 2020, durante a pandemia de covid-19, comecei a divulgar minhas composições nas redes sociais, a fazer lives. Com o fim da pandemia comecei a tocar ao vivo em festivais de música.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Alè: Lancei meu primeiro single “Pretas & Pretos Novos” em 2024.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Alè: Minha música é afrobrasileira. Contém os ritmos que me “educaram” musicalmente (samba, rock, baião, coco, jazz), associados a musicalidade das macumbas cariocas tocadas nos terreiros.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Alè: Sim. Fiz um ano de aulas de técnicas vocais durante a pandemia do covid-19.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Alè: Fundamental o estudo de técnicas vocais. Quanto mais eu evoluo musicalmente, sinto necessidade de preservar e aperfeiçoar minha técnica vocal.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Alè: Elis regina, Joe Cocker, Anita Baker, Fabiana Cozza, Lucio Sanfilipo, Alessandra Leão, Mestre Anderson Miguel. E muitas outras vozes incríveis…
11) RM: Como é seu processo de compor?
Alè: Minhas principais fontes de inspiração são a literatura, e a audição de histórias do cotidiano. Ouço ou leio histórias que me emocionam e naturalmente isso vira material para as minhas composições.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Alè: Componho sozinho. Mas recentemente uma das minhas maiores referências, o historiador e escritor Luiz Antonio Simas, me convidou para uma futura parceria…
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Alè: Os prós estão diretamente ligados a liberdade criativa, a possibilidade de fazer a música como você quer que ela seja ouvida pelas pessoas, com zero interferência de representantes do mercado fonográfico. Os contras são a limitação financeira e a política de monetização das plataformas de streaming, bem como a imposição das redes sociais pela busca pelo tal de “engajamento”…
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Alè: A música na frente abrindo os caminhos. Por trás venho estudando e avaliando as estratégias de marketing digital disponíveis através de canais qualificados. Procuro filtrar e optar pelas ações que me deixem confortável e no controle das ações.
Eu enxergo uma tentativa de padronizar caminhos dentro desse cenário de divulgação da música e da carreira musical nas redes sociais, e procuro absorver e utilizar preferencialmente as ações que soem mais orgânicas possível, sem forçar a mão em busca de um reconhecimento baseado em qualquer coisa diferente da qualidade da música que eu faço.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Alè: No início a tática tem sido a de guerrilha cultural, mas depois de lançar meu single, estou preparando minha campanha de financiamento coletivo para viabilizar a gravação do meu EP, e quero receber algo além do fomento financeiro. Vou abrir espaço para que os financiadores conheçam e me ajudem a escolher quais composições eu devo gravar…
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Alè: A internet facilita pela rápida exposição e difusão do trabalho, bem como pela possibilidade de se comunicar com meus pares musicais. Minha crítica vai para a política de engajamento das redes socais, que obriga os artistas a forçar a mão na criação de conteúdo para a “manutenção” de seguidores…
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Alè: A liberdade criativa e o gerenciamento do tempo são as principais vantagens. As desvantagens são a limitação de acesso às experiências acústicas e tecnológicas que alguns grandes estúdios oferecem.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Alè: Não penso em me diferenciar. Melhor dizendo, não é uma preocupação. Penso que minha música, sendo fruto direto das minhas referências e seus efeitos dentro de mim, é capaz de expressar melhor o que potencialmente pode soar “diferente” do que palavras que eu possa tentar utilizar para explicar.
Minha musicalidade, os temas que abordo nas canções e os arranjos que crio junto de minha banda, tendem a não procurar os caminhos mais fáceis, as soluções utilizadas por outros artistas e músicas que ouvimos. Acho que isso pode ser um diferencial.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Alè: Vejo o cenário da MPB com pontos altos e baixos. É possível enxergar uma renovação com a consolidação das carreiras de gente que está no front a muito tempo buscando espaço na cena, e me refiro a artistas de diversos gêneros musicais. Ao mesmo tempo, enxergo um engessamento dessa renovação, levando em consideração que existe muitos artistas anônimos ainda, com trabalhos de muita qualidade e grande dificuldade de expor seus trabalhos. Revelações, a Luedji Luna, Larissa Luz, Don L, Baco, Djonga. Não consigo opinar sobre carreiras que regrediram.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Alè: Os baixos valores de cachê e as falhas técnicas no palco já aconteceram comigo. É difícil pra quem ama música e quer fazer bons shows.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Alè: Sem dúvidas o que mais me alegra é ser reconhecido como compositor. Ver e saber que a música que crio alegra pessoas tão diversas. A tristeza está relacionada aos desafios enormes impostos pelo mainstream.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Alè: Eu sou reticente quando se discute esse conceito. Acredito em aptidão para música, mas a mesma pode ser aprendida por quem se propor, e eu já fui testemunha ocular disso.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Alè: É um dos pontos altos da criatividade. Compor e executar em tempo real.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Alè: Existe a improvisação de fato. O músico que pratica seu instrumento, normalmente “descobre” novos caminhos melódicos e harmônicos para a execução das músicas e podem aplicá-los em momentos de improvisação, além claro, de criarem esses novos caminhos durante a execução da música…
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Alè: Só vejo vantagens quando o assunto é improvisação. Minha paixão pelo Jazz vem daí. Eu faço uma analogia com os esportes radicais. Improvisar não me parece diferente de pular de paraquedas, descer uma onda gigante ou pular de um penhasco, tudo isso com equipamento de segurança (é claro!).
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Alè: Só vejo vantagens no Estudo da Harmonia. Esse conhecimento dá ao músico um domínio pleno no uso das notas, escalas, tempos musicais, e tem relação diretamente proporcional com a qualidade da composição e da execução das músicas…
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Alè: Eu torço que sim. Acredito na força da minha composição, e acredito ser o caminho mais justo. Mas tenho consciências das dificuldades na difusão musical no nosso país.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Alè: Coragem para viver os dias bons e um pouco mais para viver os dias difíceis.
29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Alè: A dita grande imprensa segue muito efetiva na cobertura do “mais do mesmo” e pouco efetiva na abertura de espaço para a divulgação da uma enormidade de artistas em potencial Brasil a fora.
30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Alè: Eu acho fenomenal! São espaços acolhedores para as artes em geral e para a música em particular! Além de oferecerem espaço para shows, é fundamental o papel de cada uma dessas instituições no fomento a criação artística através dos diversos editais abertos regularmente por elas.
31) RM: Quais os seus projetos futuros?
Alè: Gravar um EP ou ainda um álbum e sair em turnê com meu show “Macumbas & Afins”.
32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Alè: https://linktr.ee/Ale.compositor
| https://www.facebook.com/ale.compositoroficial
| https://www.instagram.com/ale.compositor
Canal: https://www.youtube.com/watch?v=7dwI9dGIea8
Pretas e Pretos Novos – Alè: https://www.youtube.com/watch?v=7dwI9dGIea8
“Pretas & Pretos Novos” já está nas plataformas digitais: https://open.spotify.com/intl-pt/artist/6vg7AV2ZOA588c3zElMNRi?si=9NV_Q9aSS2aJu5mlZg-SoA&utm_medium=share&utm_source=linktree&nd=1&dlsi=bf5635f4af5b4276
Em seu single de estreia, Alè valoriza a cultura afro-brasileira – Cantor e compositor carioca apresenta, nos estúdios da Rádio Nacional do Rio, a música “Pretas & Pretos Novos”: https://radios.ebc.com.br/tarde-nacional-rio-de-janeiro/2024/04/em-seu-single-de-estreia-ale-valoriza-cultura-afro-brasileira
Rádio UFMG Educativa: https://soundcloud.com/radioufmgeducativa/cantor-e-compositor-ale-valoriza-a-cultura-afro-brasileira-no-single-pretas-e-pretos-novos
Assessoria de imprensa – Alexandre Aquino – [email protected] | (21) 98842 3199