More Agata Christie »"/>More Agata Christie »" /> Agata Christie - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Agata Christie

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Agata Christie é doutoranda em musicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é nascida em São Bernardo Campo, mas foi criada em São Caetano do Sul, ABC Paulista. Possui uma formação diversificada, pois é violoncelista, professora, pesquisadora. 

Sua formação como violoncelista foi iniciada na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS), seguida pelo bacharelado em violoncelo na FMU/FIAMFAAM (Faculdades Metropolitanas Unidas Alcântara Machado).

Ao longo de sua carreira foi membro da OFBHI (Orquestra Filarmônica Brasileira do Humanismo Ikeda), da Orquestra Sinfônica da Fundação das Artes de São Caetano do Sul, da Orquestra Sinfônica Jovem de Atibaia, da antiga Orquestra Sinfônica Jovem Camargo Guarnieri filiada à Universidade Metodista; da Orquestra do Porto de Santos, da Orquestra Sinfônica Jovem de Taubaté, da Banda Sinfônica de Taubaté todas em São Paulo e da Orquestra Sinfônica de João Pessoa, Paraíba.

Como violoncelista atuou em diversas dimensões da música quando se trata de performance. Trabalhou com o violonista Paco Nabarro numa abordagem de música popular no Duo Café com Leite, voltado para o Choro, a MPB, a Bossa Nova, etc. Em parceria com a atriz e arte educadora Fernanda Ferreira trabalhou no espetáculo Palavras Negras Importam cuja temática abordava questões de raciais na literatura e arte em geral.

Em seu trabalho mais recente possui um duo com o multi-instrumentista Leo Rugero chamado Duo Baião de Dois que aborda diversos gêneros musicais incluindo música nordestina, MPB, Bossa Nova e o jazz.

Como professora trabalhou em diversas frentes: harmonia, teoria musical, iniciação musical e instrumento. Sua experiência com ensino coletivo de cordas e violoncelo começou em 2019 a 202, ao ser convidada para trabalhar no Programa de Inclusão Através da Música e Artes (PRIMA), iniciativa do governo da Paraíba, onde fez seu mestrado.

Já no Rio de Janeiro, esta experiência segue quando foi convidada em 2023 para trabalhar no programa social Agência do Bem – Escola de Música e Cidadania onde são promovidas aulas de música como ferramenta de inclusão social nas periferias da cidade do Rio de Janeiro e adjacências.

Como pesquisadora, entra no universo do compositor ítalo-brasileiro Guaco Velásquez em sua dissertação de mestrado “Aspectos estéticos e estilísticos das sonatas de Glauco Velásquez” (2018 – 2020).

Em seu doutorado em andamento, estuda o pensamento do musicólogo paraibano João Baptista Siqueira radicado no Rio de Janeiro, direcionado à história da música brasileira no século XIX.

Como mescla de pesquisa e ensino musical, é mantido um projeto chamado “Portal Caminhos do Som”, em que há música como centro através das redes sociais e do Youtube em são tratados variados assuntos sobre o universo da música.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Agata Christie para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa 24.01.2024:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal? 

Agata Christie: Nasci no dia 29 de outubro de 1984 em São Bernardo do Campo – SP, mas fui criada em São Caetano do Sul, ambas pertencentes a região do ABC Paulista, Grande São Paulo. Registrada como Agata Christie Rodrigues Lima da Silva.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música. 

Agata Christie: Inicialmente, os primeiros contatos com a música vêm das referências familiares. Descendente de nordestinos, minha avó (Maria José) é baiana de Juazeiro (BA) e meu avô (Moisés) era pernambucano de Petrolina (PE), minha mãe (Vanda) sempre ouviu música.

Meu avô era acordeonista amador e trouxe muito de sua relação com o Nordeste, onde viveu a maior parte da vida, depois de separar-se de minha avó. Minha avó manteve-se em São Paulo desde que chegara, na década de 1960, e cultivava a música ligada à TV.

Festivais de música, MPB mais especificamente, trilhas de novela, o que tocasse no rádio e alguns lampejos de nordestinidade. Isso, de certa forma, herdei.

De volta a minha mãe, apesar de ter se relacionado àquilo que recebeu de referência materna e paterna, manteve-se ligada a MPB, ouvia bastante música clássica e era um pouco ligada ao Rock, por causa dos meus tios, seus irmãos.

Também tinha fortes ligações com a disco music. Herdei isso dela, porque a música nos acompanhava nos mais variados momentos. Acaba que cresci ao redor da tv e do rádio muito ligada às referências musicais ligadas à minha mãe e avó que foram com quem mais convivi.

Nesse processo, e pelo incentivo dela, fomos juntas cantar em um coral que tinha sede na cidade vizinha, Santo André. Aí comecei a estudar teoria musical com o “ministro de louvor” da Igreja Assembleia de Deus, o maestro Celso Moreira, que minha avó frequentava e era amigo da família.

Meu primeiro contato com a música parte do canto e dos estudos basicamente teóricos. A ligação com o violoncelo e com a música de concerto veio depois, quando minha mãe se converte ao Budismo de Nichiren Daishonin e na organização a qual essa filosofia pertencia, havia uma orquestra.

Meu interesse foi despertado por ver de perto muitas pessoas da minha idade na época, eu devia ter uns 14 ou 15 anos, que estudavam instrumentos de arco. Nesse processo, me vi querendo aprender violoncelo também, me apaixonei pela beleza do som desse instrumento.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical? 

Agata Christie: Minha formação escolar, além da educação básica e do ensino médio tradicional, desembocou diretamente na música. Cursos complementares como de inglês foram essenciais para o processo que viria a seguir, quando se trata da minha formação musical fora sua continuidade.

Dessa forma, minha formação musical começa aos 16 anos de idade quando entro para o curso técnico de violoncelo da Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS). Com duração de 5 anos, o foco deste curso era obter uma formação forte e consolidada ao violoncelo.

Permaneci nesta instituição por 8 anos, obtendo aulas com vários professores, entre eles as de violoncelo como Ana Chamorro e Carmem Borba, ultrapassando o limite de duração. Saí de lá decidida a me tornar profissional da música e entrar para uma graduação.

A graduação em música, especificamente o bacharelado em Violoncelo, foi realizada na FMU/FIAMFAAM (Faculdades Metropolitanas Unidas/ Faculdades de Artes Alcântara Machado) em São Paulo. Entre os professores de violoncelo tive aulas com Gretchen Miller e Júlio Cerezo Ortiz. Dos quatro anos de graduação, foram dois anos distribuídos igualmente entre ambos.

Anos mais tarde, exatamente 4 anos depois de finalizada a graduação foi que segui na vida acadêmica. Iniciei meu mestrado em 2018 na Universidade Federal da Paraíba (UFRJ), com interesses voltados para a música de câmara de concerto no Brasil. Dois anos depois de finalizado este curso, já em 2022, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), início a continuidade acadêmica no doutorado que segue na mesma linha.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Agata Christie: Como eu mencionei inicialmente, minha influência musical vem da MPM, do samba, do choro, da música instrumental brasileira, jazz, bossa nova, forró tradicional, do rock, muito do que tocava no rádio e na tv.

Nesse misto de estilos musicais, trago alguns instrumentistas que admiro, ouço e observo mais atentamente a forma que tocam. Entre eles, o violoncelista Jacques Morelembaum, o contrabaixista Ron Carter, a cantora e contrabaixista Esperanza Spalding. Também existem cantoras e cantores que admiro.

Entre eles Seu Jorge, Jorge Bem, Djavan, Zé Ramalho, Elis Regina, Elza Soares, Luiz Gonzaga, Mônica Salmaso, Billy Holliday, ela Fitzgerald, entre outros. Quanto às referências que deixaram de ter importância, aquelas mais ligadas à grande mídia, atreladas à tv e ao rádio. Estas mantenho só na relação afetiva, dentro da memória atreladas à momentos do passado.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical? 

Agata Christie: Minha carreira musical começa já na graduação quando começam a surgir diversos trabalhos em evento, minha entrada em orquestras como a Orquestra Sinfônica Jovem Camargo Guarnieri em São Bernardo do Campo, ligada à Universidade Metodista de São Paulo. E Também quando surgem meus primeiros alunos, já nos últimos anos do curso de música na Fundação das Artes (FASCS).

06) RM: Quantos CDs lançados? Cite alguns CDs que já participou como violoncelista? 

Agata Christie: Gravações de performances são muitas, mas de álbuns especificamente, são poucos. Essa demanda apareceu mais na durante a minha estada no Rio de Janeiro. Em outras circunstâncias da minha carreira musical, em São Paulo e na Paraíba, por exemplo, apareceram mais eventos, shows e concertos do que gravações de álbuns propriamente.

No entanto, posso citar uma participação interessante no álbum “Entre o trem e a plataforma” de Araucellos (2019), cuja gravação foi realizada por acaso quando eu estava de férias no Rio de Janeiro em 2019.  Link: https://open.spotify.com/intl-pt/album/1pJOlFez1WUzTgN9Lu5VXC

Quanto a o lançamento de um álbum, que devo destacar especificamente na minha carreira, trago o EP – “Leo Rugero & Agata Christie – Duo Baião de Dois” que foi resultado de experiência realizadas durante a minha estada na Paraíba. 

Nessa circunstância, estive isolada durante a pandemia com meu atual companheiro, que é multi-instrumentista, onde realizamos uma série de experimentações de nossas influências e, nessa ocasião, nasce este belíssimo disco. Link: https://open.spotify.com/intl-pt/artist/5t7ZWLFeTICrcsRTRp7A9y

07) RM: Como você define o seu estilo musical? 

Agata Christie: Essa definição é complexa para mim. Toco um instrumento atrelado à música de concerto, mas que tem, ainda que bastante sutil, comparado a outros instrumentos de mesma origem como o violino ou a flauta.

Apesar disso, procuro leva-lo para outras possibilidades, tocar com formações não tão comuns. Então, por essa razão, eu diria que meu estilo está bastante ligado ao violoncelo popular e as várias possibilidades de experimentação quando se trata de formações instrumentais ou vocais.

08) RM: Como é o seu processo de compor? 

Agata Christie: Sinceramente, estou mais para arranjadora do que para compositora. Não nasci com essa pré-disposição, ainda que tenha estudado muito e muitos anos para poder adentrar essa vertente da música.

09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição? 

Agata Christie: De forma geral, me envolvo musicalmente com a música de outras pessoas. Não entro nesta ceara. Como disse anteriormente, sou mais arranjadora.

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente? 

Agata Christie: Interessante questão. Ser um artista independente não tem a mesma conotação que tinha à 30 ou 40 anos. A precarização do mercado em todas as instâncias faz com que o trabalho que antes era realizado por uma grande equipe, agora venha a ser realizado por uma única pessoa.

Ter uma equipe para delegar funções é privilégio de grande artista de alcance midiáticos. Hoje, um instrumentista, se podemos tomá-lo de exemplo, é responsável por todas as instâncias da sua carreira.

Gravação, produção, pós-produção, mixagem, equipamentos, estrutura, gerenciamento de redes sociais e divulgação, etc. Todas essas funções, e outras que posso ter deixado escapar, seriam realizadas por diversas pessoas além do músico.

Por outro lado, de temos um Home Studio e um celular, podemos ter uma vitrine de divulgação e fazer qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, conhecer nosso trabalho e nos comunicar com outros músicos através dele. Podemos encontrar pessoas e ser encontrados por outros músicos ou grupos, além de saber o que há de novo entre as tendências do mercado musical.

Mas, mesmo apesar de tudo isso, a quantidade de informação sobre música pode nos soterrar e nos manter na escuridão do mar de informação a que somos expostos. Acaba que, em muitos casos, o anonimato se torna uma sentença cada vez mais densa e profunda.

11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco? 

Agata Christie: Enquanto músicos devemos estar atentos às tendências tecnológicas, às relações de trabalho e às possibilidades que a música pode nos dar. Não há como, no mercado musical em que estamos, viver somente dos palcos.

É necessário que entremos em outros universos atrelados à música, como a docência e a pesquisa, além de outras possibilidades que podem vir a se apresentar e nós nem imaginamos. Além disso, é necessário criar uma existência nas redes sociais, mostrando os vários projetos que se envolve para que as pessoas possam acompanhar suas diversas facetas musicais.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical? 

Agata Christie: Gerenciamento de redes sociais é algo que pode realmente fazer a diferença na carreira de um artista. Deve-se entender profundamente seu funcionamento e sua utilidade enquanto ferramenta. A divulgação é a alma do negócio.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical? 

Agata Christie: Se o artista entende sua importância enquanto catálogo, acervo e divulgação de seu trabalho, pode ajudar e facilitar para futuros trabalhos. Mas, se este mesmo artista não sabe lidar com essa ferramenta, e não a vê dessa forma, pode simplesmente ser mais uma coisa para sobrecarregar sua vida cotidiana.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)? 

Agata Christie: A vantagem de possuir um Home Studio é que você não precisa esperar ter aquela estrutura perfeita e idealizada para colocar um trabalho em curso. Hoje, a tecnologia trouxe diversos recursos, antes restritos a grandes gravadoras e estúdios profissionais, para dentro das nossas casas.

Isso facilita quando temos muitas ideias que gostaríamos de colocar em prática sem grandes dificuldades. Por outro lado, temos que trazer para dentro de casa elementos muito complexos, em termos estruturais.

A busca pela qualidade pode ser um empecilho para a criação de um trabalho com mais qualidade. A depender da estrutura disponível, o trabalho pode ter falhas de qualidade.

15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical? 

Agata Christie: Voltando as questões citadas anteriormente, está no uso das redes sociais. No entanto, isso não garante sucesso midiático quando estamos vivendo perante um mar de informação. Há grande dificuldade em chegar ao público.

16) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram? 

Agata Christie: Sinto que a música instrumental brasileira parou no tempo. Quem surge, permanece tentando reproduzir diversas formas e formações que já existiram. A impressão que dá é que música instrumental brasileira se mantém com os mesmos nomes de 20 ou 15 anos atrás.

Por exemplo, Hermeto Paschoal e sua banda continua como grande referência no gênero. Para mim é, ou tem sido, difícil dizer quem são os novos nomes do gênero.

17) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística? 

Agata Christie: Esperanza Spalding, artista que citei anteriormente, é para mim, um exemplo daquilo que admiro num músico. Instrumentista impecável, cantora admirável, performance exemplar. É também professora da Berkley School e compositora com diversos discos gravados. Se mostrou admiradora da música de diversos países inclusive o Brasil.

Caetano Veloso e Djavan me admiram por sua permanência enquanto ícone da cultura brasileira. Se mantém com novos álbuns, suas belas figuras performáticas que sempre trazem, desde muito tempo, a transformação de seus trabalhos ao longo do tempo. Ambos, para mim, são exemplos de longevidade artística.

18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical? 

Agata Christie: Quando eu fui expulsa só metrô. Numa ocasião, quando eu tocava da Orquestra Sinfônica de Taubaté – SP, à tarde, e na Banda Sinfônica de Taubaté, à noite. Esses ensaios ocupavam dois dias da minha semana.

Nesse dia, lembro que era uma quinta-feira, saí 15 minutos mais tarde do ensaio da Banda Sinfônica. Eu ainda morava em São Caetano do Sul, mas pegava carona com uma amiga flautista que morava em São Paulo e me deixava no metrô para voltar para a casa. Lembro que o caminho até São Caetano era longo: pegava metrô, baldeação, trem, e depois ônibus da estação de trem de São Caetano até em casa.

Consegui pegar o metrô até o Brás, estação do metrô em que era realizada a baldeação. De lá, não consegui fazer a baldeação para a linha de trem sentido São Caetano, porque a baldeação fechava a meia noite. Eu havia chegado 00h05. Tentei permanecer dentro da estação até o horário de abrir, o que seria às 04h00 da manhã.

No entanto, funcionários da estação Brás, onde eu estava, não permitiram minha permanência e fui obrigada a me retirar. Me colocaram para fora numa saída que era entrada de funcionários e dava para um viaduto escuro. Não havia nada. Nem um banco, uma praça ou um local mais iluminado para me proteger.

O celular que eu tinha estava sem bateria. Peguei um celular emprestado com um funcionário que estava chegando para que eu pudesse ligar para minha mãe me buscar. Noite de terror que teve final feliz. Minha mãe me resgatou e cheguei em casa sã e salva com meu violoncelo intacto. Sensação de insegurança terrível.

19) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical? 

Agata Christie: A profundidade e variedade de possibilidades no universo musical é algo que me encanta. Além disso, a possibilidade de conhecer lugares no Brasil e do mundo também são algo que me deixa bastante feliz porque é como se a música conduzisse meu caminho.  O mais triste é que nem todos entendem como é viver na música, pela música e da música. A música é Arte pouquíssimo valorizada.

20) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios? 

Agata Christie: Não. Porque hoje, a música estar na rádio tem mais relação com alcance midiático do que quaisquer outras coisas. Nem sempre dinheiro abre espaço em rádio ou tv. A questão é que existe muita gente boa que não tem espaço nas rádios. Rádio se tornou algo cada vez mais reservado a artistas de grande alcance e de conexões musicais com a indústria da música.

21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical? 

Agata Christie: Estude. Ouça música. Veja shows. Pense por que você ouve algo. Conheça o que puder sobre música. Converse com profissionais da área. Uma conversa com um grande músico, professor ou artista, pode mudar a vida de um aspirante a músico.

22) RM: Quais os violoncelistas que você admira? 

Agata Christie: Jacques Morelenbaum, por ser o mais conhecido (e talvez o primeiro?), no Brasil, a ser visto inserindo o violoncelo na música popular.

Yo-Yo Má, por ser um virtuose na música de concerto, mas que é excelente violoncelista que se desafia em experiências músicas em culturas não ocidentais, gerando resultados maravilhosos.

Mstislav Rostropovich, por ser um grande violoncelista do século XX com grande competência concertos do século XIX.

Jacqueline Dupré, por sua emoção ao tocar, ainda que sua trajetória tenha sido trágica e ela tenha morrido jovem.

Mischa Maisky, pela sua sonoridade aveludada em sua admirável versão das suítes para violoncelo solo de J. Sebastian Bach, a qual tive a oportunidade assisti-lo ao vivo na Sala São Paulo

23) RM: Quais os compositores eruditos que você admira? 

Agata Christie: Para mim, esta é uma pergunta bastante complexa, pois é difícil enumerar os vários compositores aos quais admiro. Apesar disso, trago alguns a quem ouço mais que outros:

Heitor Villa-Lobos, pela sua vasta obra, seja sinfônica ou para pequenas formações, as quais incluiu maravilhosamente o violoncelo.

Ludwig Van Beethoven, pelas suas maravilhosas sinfonias e seus impressionantes quartetos de cordas.

Claude Debussy, por sua ligação com as artes plásticas que o influenciaram em seu impressionismo brilhante.

Piotr Ilitch Tchaikovski, por seus retratos sonoros em histórias contadas em suas sinfonias e balés.

Alban Berg, por sua ligação com a quebra dos moldes tradicionais, mas que traziam a beleza da música de câmara (quartetos ou quintetos de corda) no início do século XX.

24) RM: Quais os compositores populares que você admira? 

Agata Christie: O mesmo caso que o da pergunta anterior. Difícil enumerar o gosto por compositores admiráveis, pois são inúmeros. No entanto, penso em evocar compositores que possuem forte ligação com a escrita, ou que, pelo menos, podemos visualizar suas músicas como verdadeiras obras poéticas:

Gilberto Gil, com seu olhar para o futuro trazendo a manutenção de sua modernidade. Chico Buarque, pelo mesmo motivo e porque suas letras, em minha opinião, jamais serão superadas por outros. Nelson Cavaquinho e sua melancolia persistente que deixa os sambas claramente belos. Cartola, com a poesia do morro. Vinícius de Moraes, por colocar sua poesia a serviço da música e produzir tantas parcerias maravilhosas.

25) RM: Pode usar a técnica de pizzicato no Violoncelo? 

Agata Christie: O pizzicato é uma técnica muito importante pra o violoncelo. Apesar da prevalência do uso do arco na música sinfônica, o pizzicato é um elemento sonoro que pode trazer belos contornos na sonoridade do instrumento.

Na música popular, essa técnica é muito usada, porque, dessa maneira, o violoncelo pode obter dois papéis em suas funções, na condução melódica e na condução harmônica, assim como um contrabaixo. Essa é, inclusive, uma grande marca do meu estilo musical.

26) RM: Apresente sua metodologia de ensino do Violoncelo e seus métodos. 

Agata Christie: O violoncelo possui uma técnica bastante cristalizada. Ou, como podemos dizer, possui longevidade de técnicas, mesmo depois do surgimento das técnicas estendidas, relacionadas à execução de música contemporânea e experimental desenvolvidas no século XX.

O curioso é que, quando se trata das técnicas tradicionais, o violoncelo se mantém sendo tratado e executado quase da mesma maneira que desde o século XVIII. Em suas várias técnicas temos o que, no universo do instrumento, se chama usualmente de escolas.

Assim, encontramos a escola franco-belga, alemã, russa e a americana, para citar as mais conhecidas. Cada país, ao qual o instrumento obteve êxito, foi responsável pela adaptação da posição do arco e em aspectos de sonoridade e articulação.

No Brasil, nossos músicos desses instrumentos, tiveram contato com a escola franco-belga principalmente durante o século XIX.  As demais escolas, entraram por aqui mais a diante, no século XX.

Para tanto, a escola a qual um violoncelista iniciante terá contato, irá depender da escola de origem do professor ao qual escolher. No meu caso, tive contato com as escolas alemã através das minhas primeiras professoras, Ana Chamorro e Carmem Borba, depois americana através de Gretchen Miller e uma breve introdução à música popular e à performance de palco com o professor Júlio C. Ortiz. 

27) RM: Quais as diferenças técnicas entre os instrumentos que usam arco? 

Agata Christie: Primeiramente, a diferença mais notável, é o tamanho. Entre cada um deles, a postura corporal e a forma da mão são coisas que serão muito diferentes entre si. As distâncias das notas nos braços, se pensarmos do maior para o menor, tornam-se cada vez maiores.

Depois, temos a diferença que só se percebe chegando mais perto, a afinação. Violoncelo e Viola possuem a mesma afinação nas cordas (Do, Sol, ré e Lá), enquanto Violino não possui a corda Dó, mais grave, mas adquirem a Mi, mais aguda.

Entre esses três (Violoncelo, Viola, Violino) todos são afinados em intervalos de quinta em suas cordas. Quanto ao Contrabaixo, temos a afinação em quartas, que começa na corda Mi, mais grave, chegando nas outras, Lá, ré, sol.

O arco, é algo que possui diferenças sutis, de tamanho e de técnica, mas que são mais perceptíveis para quem tem familiaridade com estes instrumentos. Temos, portanto, as técnicas alemã e francesa.

Em violinos, violas e violoncelos, temos várias escolas, já mencionadas, e isso se transfere apara especificidades de técnicas de arco. O contrabaixo se mante com duas técnicas de arcos ativas, francesa ou alemã, sendo a mais usada a segunda.

28) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom violoncelista? 

Agata Christie: O segredo da sonoridade do violoncelo está no arco. Tenha uma técnica precisa e seu som será o melhor. Somado a isso, é preciso dominar também a afinação. Seu ouvido é o maior guia para afinar as notas num instrumento sem trastes.

29) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música? 

Agata Christie: A falta de conexão do ensino prático do instrumento com o mercado de trabalho e, além disso, a ignorância da bagagem musical e a organicidade que um aluno pode trazer. O ensino do instrumento, especificamente, é uma via de mão dupla, o diálogo é sempre importante no ensino.

30) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical? 

Agata Christie: Não acredito em dom musical. O que posso ver é a pré-disposição ou não da conexão com o aprendizado musical. É o interesse em vencer desafios. É a perseverança e o esforço de quem constrói os tijolos da parede de uma técnica consolidada.

31) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical? 

Agata Christie: A improvisação, para mim, é a transformação de uma ideia melódica e/ou rítmica pré-estabelecida que parte de um determinado ponto, transforma-se, mas retorna para este mesmo ponto.

32) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical? 

Agata Christie: A vantagem desse método é que eles explicam a forma como a gerações anteriores de instrumentistas pensam suas ideias improvisatórias. Métodos de improvisação podem ser uma interessante ferramenta de estudo. A desvantagem é que a própria ideia de imprevisão se transforma e segue se tornando, algo novo.

33) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois? 

Agata Christie: A improvisação, na realidade, é algo que só acontece na prática. Você pode estudar vários métodos, mas vai só conseguir tornar-se um improvisador somente se pré-dispondo a isso.

34) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical? 

Agata Christie: Quando e trata do estudo, vejo, na maior parte das vezes somente pontos a favor dos vários tipos de métodos. Todos eles são interessantes para enxergar as diversas metodologias desenvolvidas em várias épocas, instrumentos e estilos musicais.

Os contras, podem aparecer quando se prende somente a um método. Como a maioria de nós dá aula, ou deu aulas, é importante apresentar possibilidades de visão harmônica.

35) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Leo Rugero? 

Agata Christie: Leo Rugero, atualmente, é meu companheiro de vida. Dividimos tudo. Trabalhamos e vivemos juntos. Nossa ligação surgiu durante meu mestrado, quando na Paraíba ele estava realizando um trabalho para o IPHAN e nos cruzamos na universidade federal do estado.

Realizamos vários trabalhos juntos, dentre eles o disco chamado “Duo Baião de Dois”, que possui uma mescla interessante entre instrumentos inusitados. Links: https://open.spotify.com/intl-pt/artist/5t7ZWLFeTICrcsRTRp7A9y  e https://www.youtube.com/watch?v=gqe0CWAOwHA&list=PLD8lCKcZviDgezl5RfVvGPxGluT3NurFh

36) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista? 

Agata Christie: Acho que existem mais prós que contras. Ser multi-instrumentista é o que eu acho que todos nós deveríamos ser. Tenho admiração por esse tipo de músico. Em minha formação, que é falha, nesse sentido, me especializei somente em um instrumento.

Todos deveríamos tocar um instrumento harmônico, cantar bem e saber alguns de percussão. A maioria dos músicos de instrumentos melódicos sabem apenas tocar um instrumento. Os contras estão nos olhos dos preconceituosos que se apegam numa visão fechada do aprendizado e do ensino musical.

37) RM: Apresente seu trabalho de pesquisa de mestrado e doutorado. 

Agata Christie: Meu trabalho de mestrado, de certo modo, está ligado ao meu ofício de instrumentistas. Estudei um compositor ítalo-brasileiro da música de concerto, Sonatas de Glauco Velásquez.

Em minha dissertação fiz uso de áreas que considero afins à música: psicologia, antropologia, semiologia, análise, história, entre outras. Essas escolhas foram feitas para abordar o pensamento musical de um compositor que possuía um pensamento peculiar e a frente de seu tempo, não se encachando esteticamente com obras de seus contemporâneos ou de gerações anteriores.

Link: https://www.ccta.ufpb.br/ppgm/contents/documentos/dissertacoes/agata-christie-dissertacao_comprimido-1.pdf  e https://www.youtube.com/watch?v=amV_L6FTF88

No caso do meu doutorado, em andamento, trato de um musicólogo paraibano radicado no Rio de Janeiro, ex-diretor da Escola de Música da UFRJ, João Baptista Siqueira. Escolho este personagem da pesquisa em música no Brasil por sua vasta obra bibliográfica sobre os mais diversos assuntos.

Sua produção trata da formação da música brasileira durante o império; biografia de músicos atuantes no século XIX; a cultura, a língua e a música dos povos indígenas brasileiros; ensino de teoria musical, estética e harmonia.

Nesse momento tenho estudado seus escritos, entendendo suas abordagens e traçado conexões de suas escolhas temáticas com sua biografia através do exame de seu arquivo pessoal.

38) RM: Quais os seus projetos futuros? 

Agata Christie: Estamos, Leo Rugero e eu, organizando um trio de cordas e percussão com música de temática orientalista com alguns elementos experimentais.

Estamos fazendo arranjos, testando sonoridades e planejando, (quem sabe?), um novo show e um novo disco. Individualmente, planejo seguir com meu projeto, que vem sendo desenvolvido desde 2021, sobre música “Portal Caminhos do som”, uma combinação de canal do Youtube e redes sociais com conteúdo didáticos e curiosidades sobre música e instrumentos musicais.

Link: Site: https://portalcaminhosdosom.weebly.com/  Youtube : https://www.youtube.com/channel/UC_e-_tdbqGGSwsQA6DHQGXw  Instagram: https://www.instagram.com/portal_caminhosdosom/?hl=pt-br

39) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs? 

Agata Christie: (21) 99392 – 8970. Sou facilmente encontrada nas redes sociais. Facebook e instagram: https://www.instagram.com/agata_cello/  

https://www.facebook.com/agatta.christtie/  

Agata Christie Rodrigues – violoncelista/professora/pesquisadora/musicóloga: Lates: https://lattes.cnpq. br/4715097004193091

Trabalhos como violoncelista: Dissertação de mestrado: https://www.ccta.ufpb.br/ppgm/contents/documentos/dissertacoes/agata-christie-dissertacao_comprimido-1.pdf

Adelina Alambary Luz na vida de Glauco Velásquez – VI SINPOM 2020: https://www.youtube.com/watch?v=amV_L6FTF88

Repositório da pesquisa de mestrado: https://ciaartcriativa.wixsite.com/fatossobregvelasquez

Projeto Portal Caminhos do Som:  https://portalcaminhosdosom.weebly.com/

Youtube : https://www.youtube.com/channel/UC_e-_tdbqGGSwsQA6DHQGXw

Instagram: https://www.instagram.com/portal_caminhosdosom/?hl=pt-br 

Sobre o espetáculo “Palavras Negras Importam”: https://www.instagram.com/palavrasnegrasimportam/

Duo Baião de Dois: https://www.youtube.com/watch?v=PFs6VEXNo8s&list=PLD8lCKcZviDgfxEVtkAgqw1eAkt_qGoXr

https://www.instagram.com/duobaiaodedois/

Tributo a Zé Calixto: https://www.youtube.com/watch?v=6IJ35tQDrF4


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.