Advogado, poeta, compositor, produtor musical, palestrante paulistano AC de Paula iniciou sua carreira no Programa Gente Jovem da TV Cultura de São Paulo, declamando o poema, DESPERTA POETA, no mesmo ano, 1975, conseguiu a Quinta colocação no Festival da Canção Popular do Município de Mauá, SP, com a música QUERO CANTAR O AMOR!
Profissionalmente sua trajetória como letrista e compositor teve início em 1977 quando gravou com o cantor FRANCO, considerado o rei do samba-rock, a música BLACK SAMBA, que contestava a invasão da música negra norte-americana, (movimento black) nas escolas de samba do Rio de Janeiro. Um sucesso absoluto que alcançou marca superior a 200.000 cópias vendidas e foi regravada inúmeras vezes.
Franco posteriormente se tornou o Midas dos empresários artísticos tendo sido responsável pela carreira de sucesso de grandes nomes da música popular e sertaneja, (FÁBIO JR, LEANDRO e LEONARDO; ZEZÉ DI CAMARGO e LUCIANO, FRANK AGUIAR; e do grupo KLB badalada banda pop composta pelos seus filhos.
Ainda com FRANCO, gravou BLOCO MARAVILHA, música envolvente e contagiante que repetiu o sucesso de BLACK SAMBA, e foi inclusa na trilha sonora do filme MEUS HOMENS MEUS AMORES, estrelado pela cantora ROSEMARY, contando no elenco com atores como JOHN HERBERT; SILVIA SALGADO; RODOLFO MAIA; ARLETE MONTENEGRO, entre outros.
Em seguida, continuando na rota do sucesso gravou, também com o cantor Franco, NA CARA DO POVO, melodia alegre, polêmica, irônica e socialmente contestatória. Com JAIR RODRIGUES, consagrado artista da MPB, gravou FILHA DA FILHA DA CHIQUITA BACANA!, que foi fundo musical do programa XOU DA XUXA, e a música CANTO LIVRE, ambas interpretadas pelo cantor em todos os shows.
Com BETO SCALA, parceiro mais constante, gravou, entre outras, SAMBA FUTEBOL E PAZ, considerada pela equipe de esportes da RÁDIO GLOBO AM, o Hino das Torcidas, e ARREPIA MY BROTHER! música TEMA DA DECISÃO DA RÁDIO GLOBO no CAMPEONATO BRASILEIRO de 1995, além de CORAÇÃO SABE O QUE FAZ!, QUAL É A TUA?, e SEM CENSURA, regravada pelo GRUPO TÔ Q TÔ.
Com o GRUPO KOQLUXE gravou SE ROLAR ROLOU! Em 2006 produziu grupos de samba para o CD Vitrine do Samba, onde, como intérprete gravou a música, SE SEGURA MULEKE! No jornal TAL & QUAL RIOGRANDENSE, eleito pela International Writer and Artists Association, como um dos melhores jornais culturais do mundo, teve publicado os poemas CAMINHADA e APARÊNCIAS.
No primeiro concurso de poesias das Faculdades Franciscanas, foi classificado com o poema POLICROMIA, que foi publicado em edição antológica de premiação. Publicou ainda crônicas, poemas e artigos em veículos como A Gazeta Esportiva; Jornal das Faculdades Franciscanas; Jornal Cassino (RS), etc.
Em 1995 a Rádio Atual levou ao ar o seu texto SAMURÁIS DA ALEGRIA em homenagem ao grupo musical Mamonas Assassinas. Em 2002 foi o segundo classificado no Concurso de Poesias promovido pela Subsecção Jabaquara da OAB/SP, com o poema MISSIONÁRIO.
Em janeiro de 2006 venceu o concurso de frases quinzenais sobre o site de literatura Blocos Online. Em maio de 2007 foi o segundo colocado no XXII Concurso de Poesia Brasil dos Reis, promovido pelo ATENEU ANGRENSE DE LETRAS E ARTE (Angra dos Reis), modalidade verso livre, tema MEDO, com o poema, BEIJO QUEBRADO.
Em setembro de 2007 foi classificado no Terceiro Concurso Nacional de Poesia CNEC/FACECAP, (CAPIVARI – SP) categoria adulto, com o poema TUDO OUTRA VEZ! Em outubro de 2007 teve classificado o poema DISSE NÃO DISSE, no concurso de poesia da UNIFEOB, na cidade de São João da Boa Vista, SP.
EM 2008 e 2009 fez parte da comissão julgadora do Concurso de Poesias Brasil dos Reis em Angra dos Reis-RJ, publicou o seu primeiro livro de poemas, POLICROMIA e produziu o programa O GÊNIO DA BOLA, exibido pela REDEBRASIL de televisão.
Em 2010 lançou seu primeiro livro infantil, VÔ SEM PARAFUSO em SHEIK e OS CAÇADORES DO BAÚ VERMELHO. Em 2009 lançou o livro VENDER VENCER Crônicas e Anotações, que tem como fundo os bastidores do mercado imobiliário no qual atuou por duas décadas, além de prestar assessoria jurídica a imobiliárias e corretores autônomos.
Foi responsável pelo departamento jurídico da VITRINE DO FUTEBOL, empresa criadora do Projeto Gênios da Bola e promotora de torneios esportivos visando revelar novos craques, onde atuou com ex jogadores mundialmente conhecidos (DORVAL, MENGÁLVIO, COUTINHO, PEPE, FELIX (goleiro da Copa de 70), IVAIR (O Príncipe), DINO SANI e o técnico VANDERLEI LUXEMBURGO.
Em agosto de 2010 sua música QUANTO VALE UMA PAIXÃO (AC de Paula e São Beto) foi uma das 12 finalistas entre 541 músicas inscritas na 3ª EDIÇÃO do FAM Festival da Alta Mogiana- realizado na cidade de Ribeirão Preto – SP, com a mesma música foram classificados em 2011 no Festival de Formiga – MG.
Junto com o parceiro São Beto participou do Festival ExpoSamba 2012. Em julho de de 2014 lançou na Bienal Internacional do Livro OLHOS DE MENTA, no mesmo ano a música CIRANDA, (AC de Paula e Tavinho Limma) levou o prêmio de 2º lugar no Festival de Pirai RJ, no mesmo ano também participou do 2º Festival Canto por Ti Corinthians.
Em 2015 lançou livro/cd ESTRADAS E CANÇÕES que fala sobre a sua trajetória musical e participações em festivais de MPB. Teve participações ainda nos festivais de Atibaia – SP, Cruzilia – MG, Canta Limeira – SP, Andradas – MG entre outros.
Em 2017 sua música NÃO SEI FAZER BALADAS COMO AS QUE FAZ BELCHIOR, feita em outubro de 2016 em parceria com Zé Alexanddre cantor e compositor vencedor do The Voice Mais em 2021 e que se destacou no Festival da TV Tupi de 1979 interpretando junto com Oswaldo Montenegro a música BANDOLINS, conquistou o prêmio de 4º lugar no 8º Festival Marolo de Ouro em Paraguaçu MG, e o prêmio de Aclamação Popular no 19º Festival da Canção de Andradas MG.
Com a morte de Belchior em 30/04/2017 viu-se forçado a trocar o tempo do verbo e a música foi rebatizada como Não sei fazer baladas como as que fez Belchior., ainda em 2017 a música levou o prêmio de melhor letra no festival Canta Limeira (SP) e melhor intérprete e primeiro lugar no Festival de Itanhandu MG.
Em 2018 publicou ALFREDO GOMES, vida, vitórias, e conquistas onde resgata a trajetória de seu avô materno neto de escravizados e primeiro atleta negro brasileiro a participar dos Jogos Olímpicos em Paris 1924 e vencedor da primeira Corrida de São Silvestre em 1925. Adaptou o livro para cinema escrevendo também o roteiro ALFREDO GOMES O Resgate de uma lenda.
Em 2019 estreou seus textos teatrais escrevendo DIVINA PANACÉIA e A DAMA DE AZUL. Foi um dos 35 classificados entre mais de 800 escritores para participar do CLIPE POESIA 2020 prestigiadíssimo curso da Casa das Rosas, em São Paulo, que em virtude da pandemia passou a ter aulas online durante oito meses. No término do Curso Clipe Poesia 2020 foi um dos participantes da antologia LONGE DE MONTE CARLO, publicada por 28 dos alunos do curso.
Desde 2019 é articulista do jornal O Pergaminho da cidade de Formiga – MG. Em 2021 organizou a antologia SENTIMENTOS COLETIVOS (LIVRO+CD) com poetas do Recanto das Letras. Em agosto de 2022 estreou sua peça teatral A DAMA DE AZUL que ficou em cartaz em curta temporada agosto/setembro na Sala Laura Cardoso no Teatro Westplaza Shopping em São Paulo.
Em10 de março de 2023 apresentou a sua peça A DAMA DE AZUL no Teatro Municipal de São Caetano do Sul SP. Em 25 de Março de 2023 fez palestra no SESC ITAQUERA falando sobre RACISMO E PRECONCEITO NOS ESPORTES OLÍMPICOS.
Em 19 de Abril 2023 lançou seu livro BRASIL-100 ANOS DE NEGRITUDE OLÍMPICA que aborda o racismo e o preconceito nos esportes olímpicos, e a trajetória de Alfre Gomes, pioneiro atleta negro brasileiro a participar das Olimpíadas Paris 1924 e Vencedor da Primeira Corrida de São Silvestre. Sobre este livro em janeiro e fevereiro 2024 fez palestras nos SESC GUARULHOS, SESC IPIRANGA e SESC 14 BIS.
Segue abaixo entrevista exclusiva com AC de Paula para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 26.08.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?
AC de Paula: Nasci no dia 09/08/1947 em São Paulo – SP, leonino, o melhor signo do zodíaco (risos).
02) RM: Quais as suas preferências musicais? Quais deixaram de ter importância?
AC de Paula: Na qualidade de poeta me atento muito às letras, mas ouço quase todo tipo de música, e acho que todas, dentro do contexto a que se propõem têm a sua devida importância.
03) RM: Qual a sua formação acadêmica?
AC de Paula: Musicalmente nenhuma formação, poeticamente falando, além de formado na universidade da vida, fui um dos 35 classificados dentre 800 candidatos inscritos para uma vaga no conceituado e prestigiado Curso Livre de Preparação de Escritores CLIPE POESIA 2020, da Casa das Rosas em São Paulo.
Sou formado em Direito e pós graduado em Direito Imobiliário. Tenho algumas premiações em concursos literários em Angra dos Reis, Capivari, São João da Boa Vista, etc. Por dois anos fui jurado do Concurso de Poesia Brasil dos Reis de Angra dos Reis, tive diversas premiações em festivais de MPB, inclusive como melhor letra.
04) RM: Como e quando você começou a sua atividade de letrista em parceria com compositores? Quais são os seus parceiros musicais?
AC de Paula: Minha primeira parceria musical foi com Voltaire, a música Black Samba que abordava a invasão da música negra norte americana (Movimento Black) nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, gravada pelo cantor Franco, um dos integrantes do grupo Os Brasas na fase da Jovem Guarda, e que posteriormente se tornaria um midas como empresário de grandes artistas: Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Fabio Junior, Exalta Samba, Ronnie Von entre outros. Até o lançamento da banda KLB composta pelos três filhos do Franco (Kiko Scornavacca, Leandro Scornavacca, Bruno Scornavacca).
Black Samba foi um sucesso imediato nas rádios e nos bailes, foi regravada inúmeras vezes e frequentou todas as paradas de sucesso da época. Ainda hoje a música, que se tornou um clássico do samba-rock é executada vez ou outra.
Com Voltaire escrevi também, Bloco Maravilha, também gravada pelo Franco e que fez parte da trilha sonora de um filme estrelado pela cantora Rosemary e John Herbert.
Com o Beto Scala escrevi Canto Livre e Filha da filha da Chiquita Bacana gravadas por Jair Rodrigues, além de Samba Futebol e Paz, Arrepia my Brother, Sem Censura, Coração Sabe o que faz, e outras, gravadas pelo próprio Beto Scala.
Depois comecei também a fazer parcerias com diversos cantores e músicos dos festivais. A grande maioria desconhecidos da grande mídia e do grande público, dentre eles: Zé Alexanddre que viria a ser o vencedor do The Voice Mais, e estreamos a parceria bem sucedida com: Não sei fazer baladas como as que fez Belchior, premiada em diversos festivais, fizemos também Última Fantasia, e outras.
Tenho ainda como parceiros musicais: Tavinho Limma, Zebeto Corrêa, Diorgem Junior, Manoel Gandra, Eduardo Santhana, Luiz Bira, Sonekka, Lima Junior, Dimi Zumquê, Anderson Martins, Luca Bulgarini, Jhu Almeida, D’Carlos, Marcelo Barum, Tadeu Mello, Marcio Kada, Beto Ferreira, Marcia Cherubim, Monsyerra Baptista, Adalton Miguel, Nando Corrêa, Bruno Khol, Zelito Alves, entre outros.
05) RM: Você escolhe sistematicamente quem será o seu parceiro musical ou deixa acontecer espontaneamente?
AC de Paula: Geralmente acontece de forma espontânea minhas parcerias musicais.
06) RM: No processo da parceria na criação da canção, você envia a letra/poema para o compositor para ele colocar a melodia? Você coloca letra em melodia que o compositor envia para você?
AC de Paula: Às vezes eu envio a letra, mas também coloco letra em melodia já pronta que me é enviada, às vezes fazemos juntos, inclusive pela internet, tenho música que fiz trocando mensagens de WhatsApp eu aqui em São Paulo e ele no Rio de Janeiro, saudoso parceiro São Beto um dos melhores letristas de MPB que conheci, e que partiu antes do combinado.
07) RM: Você permite o compositor alterar a sua letra?
AC de Paula: Às vezes é preciso alterar alguma coisa para melhor sintonia e a sonoridade, assim como também dou minha opinião no que se refere a melodia. Não pode ser nada hermético, intocável, nem imexível, sempre respeitando a opinião do parceiro, para que se alcance o resultado desejado.
08) RM: Cite as principais canções que você é o autor da letra e quem já gravou?
AC de Paula: Filha da filha da Chiquita Bacana e canto livre gravada pelo Jair Rodrigues; Samba Futebol e Paz, Coração sabe o que faz, Arrepia my brother, Qual é a sua? gravadas pelo parceiro Beto Scala; Black samba, Bloco Maravilha, Na cara do povo, gravadas pelo Franco; Não sei fazer baladas como as que fez Belchior gravada pelo parceiro Zé Alexanddre.
Louca Paixão gravada pelo parceiro D’Carlos; Dê-me uma chance gravado pela Carmem Joia é coisa de Preto (Marcia Cherubim & AC de Paula) gravação de Selma Fernands; Ciranda gravada pelo parceiro Tavinho Limma; Quando gravada pelo parceiro Dimi Zumquê.
09) RM: Alguns compositores já declaram o fim da canção. Qual a sua opinião sobre essa afirmação?
AC de Paula: Não concordo com a afirmação do fim da canção, sempre haverá os românticos fazendo canções.
10) RM: Hoje ainda existe espaço e ouvinte para música com letra que se sustenta como um poema/poesia?
AC de Paula: Espaço existe sim, mas claro que aí não estamos falando da grande mídia e de grandes plateias. Festivais e eventos intimistas são ainda os mais adequados a este estilo musical, que tem sim, um público dedicado.
11) RM: Na Rádio e na TV o autor da música quase não é informado. Quem canta passa a ser “o autor” da canção. Esse fato te incomoda?
AC de Paula: Sim, incomoda todo compositor, e não é pelo fator econômico em si, é que todos querem desfrutar do prestígio do reconhecimento. Mas você já pensou, o tempo economizado omitindo o nome dos autores, no final de um dia é bastante, considerando-se que na mídia falada ou televisiva, time is money brother!
12) RM: Você tem músicas que tocaram e tocam em Rádio, TV e em casa de show? O direito autoral é pago corretamente?
AC de Paula: O direito autoral sempre foi complicado, tive sim alguns problemas de recebimento, sanados depois de reclamações, atualmente, como não tenho mais músicas sendo executadas, a não ser eventualmente, não tenho tido motivos para reclamar (risos).
13) RM: É possível sobreviver exclusivamente de direito autoral de suas músicas?
AC de Paula: No meu caso específico não, apesar de ter recebido razoavelmente bem quando as músicas estavam sendo executadas. Na verdade, a grande maioria dos compositores vivem vendo o almoço (quando tem) para comprar a janta.
14) RM: Depois que você teve letras de canções que se tornaram conhecidas, aumentou a procura de compositores em busca de parceria?
AC de Paula: Sim, é uma coisa quase que automática, inclusive no cenário dos festivais onde hoje sou reconhecido e considerado como poeta e letrista de MPB aconteceu bastante. E isso é gratificante. Eu costumo dizer que o poeta é o primo pobre do escritor, e o letrista de música popular, é o primo pobre do poeta.
15) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na função de letrista?
AC de Paula: Feliz é conseguir terminar uma canção. Triste seria não conseguir, mas graças a Deus isso nunca aconteceu.
16) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira profissional?
AC de Paula: Atualmente me dedico mais à literatura, desde sempre o meio da música foi assim, você tem que estar ativamente no cenário junto com autores, músicos, produtores, cantores. Quem não aparece não é visto, e dificilmente você vai conseguir gravar apenas enviando a música para o e-mail do cantor ou do produtor, mesmo que já tenha feito sucesso. A concorrência é grande, e hoje estourar uma música significa entrar numa grana preta, e por isso há muita coisa envolvida.
17) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
AC de Paula: Continuo sim escrevendo e compondo, publicando no meu site, no meu canal do YouTube, divulgando enfim. E fazendo palestras sobre os meus livros, sobre poesia, música e literatura.
18) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
AC de Paula: A internet é de grande importância, e hoje qualquer um pode levar seu trabalho ao conhecimento do público, mas daí a fazer sucesso, viralizar, são outros quinhentos (risos)!
19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
AC de Paula: Surgiram sim novos cantores, cantoras, compositores, compositoras e novas canções, mas de uma forma geral, uma boa parte disso tudo é, digamos, um tanto quanto volátil. Não permanecem, daqui a pouco tempo a onda é outra, o que é sucesso agora cai logo no esquecimento. Por isso fico contente, quando ouço no radio música minha feita há mais de quarenta anos (risos). Existem músicas de décadas passadas que tocam até hoje.
20) RM: Você acredita que as suas músicas tocarão nas rádios sem pagar o jabá?
AC de Paula: Esse tal de jabá é igual a disco voador, ninguém nunca viu, mas todo mundo diz que existe! Talvez seja por isso que só ouvimos nas rádios, aquilo que dizem ser o gosto dos ouvintes. Então se ele, o tal do jabá, existe mesmo, estou fadado ao esquecimento.
21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
AC de Paula: Nada é impossível, jamais desista do seu sonho, pensamento nas nuvens, mas mantenha os pés firmes na terra.
22) RM: Quais os prós e contras de Festival de Música?
AC de Paula: Não existem contras na medida em que qualquer evento que divulgue artistas de MPB são bem-vindos, na minha humilde opinião, eles são necessários, mas o que dificulta, no meu caso e no de muitos outros artistas, é que por ser uma competição o cachê está logicamente atrelado a premiação, ou seja meia dúzia talvez saia com algum resultado financeiro, os demais classificados têm que se contentar com a ajuda de custo, (quando tem), que não cobre as despesas de locomoção, estadia ,alimentação e músicos acompanhantes.
23) RM: Festivais de Música revelam talentos?
AC de Paula: Sim, mas há quem diga que festivais, principalmente se patrocinados pela grande mídia, revelam artistas que sim farão parte da grade musical da emissora. Quanto aos festivais de música dos quais participei bastante, que ocorrem pelo Brasil afora, dificilmente isso acontece, mas por eles passaram nomes como, Chico César, Zeca Baleiro, Jorge Vercillo, Zé Alexanddre, entre outros, mas neste cenário existem muito mais pedras pelo caminho até chegar a grande mídia.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?
AC de Paula: Infelizmente a mídia só existe para o tipo de música que ela, a mídia, diz que é do gosto popular.
25) RM: Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em outubro de 2016. Será que este fato anima outros letristas a “sonharem” com prêmios na área de Literatura ou é um fato isolado?
AC de Paula: Foi muito bom isso ter acontecido, no Brasil temos Chico Buarque que na minha opinião “é de outro planeta”, para mim existe o Chico e os outros, eu particularmente gosto muto da poesia ácida/ urbana /contestatória/contundente do Belchior sou fã de carteirinha. Tem também: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Peninha, Gonzaguinha, Aldir Blanc, Arnaldo Antunes, entre outros candidatos a uma premiação.
26) RM: Os músicos americanos são conhecidos como grandes cantores, melodistas e arranjadores. Qual a sua opinião sobre a qualidade deles como letrista?
AC de Paula: Pela diferença do idioma, o que pode ser poético para um, não o é, para o outro. Até pelo fato da nossa latinidade intrínseca, que implica em uma maior passionalidade, somos propensos a ser mais sensíveis. Assim uma letra feita por eles quando traduzidas literalmente, talvez não nos toques o suficiente. O mesmo pode ocorrer quando eles traduzem ao pé da letra as nossas canções.
27) RM: Nos apresente os livros que você já lançou?
AC de Paula: Segue em ordem alfabética: A DAMA DE AZUL, (2019) texto teatral. Uma comédia dramática da qual além de coprodutor, sou autor do texto e da música tema, Pleno Vazio, interpretada pela atriz e cantora Paula de Oliveira. Inclusive estrearemos a quarta temporada em setembro de 2024 no Teatro Mooca no Shopping Mooca SP.
A DIVINA PANACEIA – CURA DE TODOS OS MALES (2020) texto teatral comédia musical, ambientado no universo do samba, onde sou autor de letra e música das 12 músicas da trilha.
ALFREDO GOMES Vida Vitórias e Conquistas (2018) onde conto a história de meu avô, pioneiro atleta negro brasileiro a participar das Olimpíadas (Paris 1924) e vencedor da primeira corrida de São Silvestre (1925 SP).
BRASIL 100 ANOS DE NEGRITUDE OLÍMPICA (2024), uma homenagem ao meu avô Alfredo Gomes, e a todos os atletas afrodescendentes, abordando o preconceito e o racismo nos esportes.
ESTRADAS & CANÇÕES (2015) Uma homenagem a todos os artistas independentes, em que abordo a trajetória da minha carreira na música e as minhas andanças pelos festivais, acompanha o livro um CD com diversos festivaleiros.
OLHOS DE MENTA (2014) este livro apresenta crônicas, poemas, pensamentos e contos, tema diversificado.
POLICROMIA (2008) o livro apresenta poemas de temática variada, o nome do livro é o mesmo de um poema com o qual ganhei um concurso na faculdade em 1981.
VENDER VENCER Crônicas & Anotações (2009) livro calcado na minha experiência como vendedor de livros jurídicos e de imóveis.
VÔ SEM PARAFUSO (2010) livro infantil onde os protagonistas são os pets. Participei ainda de várias antologias poéticas e também organizei e produzi o livro.
SENTIMENTOS COLETIVOS (2021) com diversos poetas.
28) RM: Qual a sua opinião sobre a função positiva do crítico musical?
AC de Paula: Sempre é bom ouvir algo que nos faça saber que estamos no caminho certo.
29) RM: Qual sua opinião sobre os livros ou sobre a análise do Luiz Tatit sobre a função da letra na música?
AC de Paula: Concordo quando Tatit diz que na atualidade tem muita mais evidencia a canção do que a literatura. A letra por mais simples e singela que seja, acaba tendo uma conotação diferente e mais abrangente quando musicada. Todo mundo ouve música, mas nem todo mundo se dedica a ler um livro. Até mesmo os saraus literários se valem da sonoridade musical para emitir suas mensagens.
30) RM: Nietzsche comenta que a melodia(música) sem letra perturba a alma. O que você acha dessa afirmação?
AC de Paula: Aqui é preciso lembrar que Nietzsche também frequentemente contrasta a música com a palavra, e sugere que a música pode alcançar uma profundidade emocional que a linguagem falada muitas vezes não consegue. O mesmo pensamento de Tatit e o meu.
31) RM: No tempo da Ditadura Militar no Brasil as letras que tinham engajamento político fizeram sucesso. Qual a importância de letras que não tratem só do tema Amor?
AC de Paula: O letrista é um cronista que faz versos que às vezes se tornam canções, claro que por tratar de assuntos que afetam sobremaneira o indivíduo, o ouvinte tende a se identificar com o tema evidenciado, há uma sintonia direta, isso por si só, explica o sucesso de canções engajadas politicamente.
Em 1981 na música NA CARA DO POVO, antes portanto da abertura política eu dizia “quero um panorama novo, quero mais é alegria na cara do povo!” Não tinha como a música não cair no gosto popular, por motivos óbvios.
32) RM: Qual a sua opinião sobre “as letras pra acasalamento” que tocam no rádio (FUNK, Sertanejo, Pagode, Forró, etc)?
AC de Paula: Não tenho nada contra, apenas não se encaixam no tipo de som que eu curto e escuto, mas enfim, há quem goste, e muito pelo jeito. Mas a meu ver são todas de sucesso passageiro.
33) RM: Renato Russo comentou que as letras que falam de amor sempre estarão na moda. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação?
AC de Paula: Escrevo para o jornal diário O Pergaminho MG e acabei de enviar um texto para publicação, onde, parodiando o poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa, eu afirmo que se uma canção de amor é um poema musicado, por extensão, podemos dizer que sim, toda canção de amor é ridícula!
O poema de Fernando Pessoa que diz que todas as cartas de amor são ridículas, muitas vezes interpretado de forma literal, na verdade, esconde camadas mais profundas de significado. Pessoa, com seu olhar crítico e irônico, pode parecer desdenhar das cartas de amor, rotulando-as como ridículas. No entanto, essa “ridícula” não é uma depreciação, mas um reconhecimento da universalidade do amor.
O amor é tão comum e essencial à experiência humana que se torna um clichê, e é nessa banalidade que reside sua beleza. O poeta, ao criar, desnuda sua alma, e é nesse ato de coragem que a canção de amor se eleva acima do ridículo. Pessoa, através de seus heterônimos, demonstra que a sinceridade do sentimento é o que confere autenticidade à obra.
34) RM: Você acha que as pessoas no geral estão mais para aceitar as letras que buscam o entretenimento ou a divagação lírica do que proporcionar reflexões humanas e sociais profundas?
AC de Paula: Eu acho que a maioria das pessoas quando ouve uma música quer se distrair, se desconectar do cotidiano, esquecer os problemas, ao menos por momentos e não está muito ligada no que a letra tem a dizer, isso é, quando tem. Ela quer curtir, cantar junto e não está preocupada em assimilar ou decifrar códigos de mensagens nem fazer análises filosóficas. Claro que há os que ouvem querendo captar a mensagem, ainda que subliminar.
35) RM: Quais os seus projetos futuros?
AC de Paula: Escrever sempre, fazer música quando possível for, e continuar no corre para transformar a história de meu avô materno Alfredo Gomes em um filme cujo roteiro já escrevi.
36) RM: Quais os seus contatos com o público?
AC de Paula: (11) 99356 – 2710 | https://antoniocarlosdepaula.recantodasletras.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/antonio.c.depaula.9
| www.blocosonline.com.br | www.usinadeletras.com.br
| www.vendendoeaprendendo.blogspot.com
| www.acdepaulapoetaecompositor.blogspot.com.br
| www.baudopoeta.lojavirtualnuvem.com.br
Canal: https://www.youtube.com/@REIQUIXOTE
LOUCA PAIXÃO! D’CARLOS: https://www.youtube.com/watch?v=Kst8oP6llnU
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=DqXVWKinSKY&list=PL0THRMJ0eQl81ocl8LP3NzCegP-kRJJ03
AC DE PAULA no Programa D’Carlos Show 25 07 2020: https://www.youtube.com/watch?v=UR750yUr9SI
Que entrevista bacana! Que coisa boa ver que a música cabe em tantos lugares, em tantas pessoas e com tantas combinações (letrista, compositor, cantor e me agradou muito saber que também é poeta).