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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

O Reggae no Brasil é uma caricatura do reggae internacional?

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Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa

Celso Moretti, Edson Gomes, Dionorina, Tribo de Jah, Cidade Negra, Os Karetas, Luís Vagner, Célia Sampaio, Geda (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/geda), Paulo Dionísio (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/paulo-dionisio), Mariettei Fialho (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/marietti-fialho), Gerson da Conceição (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/gerson-da-conceicao), Santacruz Silva (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/santacruz-silva), Jorge de Angélica (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/jorge-de-angelica), entre outros foram os primeiros a assumirem a música reggae no Brasil.

Em 11 de maio de 2025 fez 44 anos de morte de Bob Marley. Nos anos 80 alguns músicos, principalmente afrodescendentes, conscientemente ou inconscientemente, buscaram preencher a “lacuna” deixada pelo rei do reggae mundial e primeiro pop star do terceiro mundo. Músicos brasileiros começaram tocar clássico do reggae ou mesmo criar música autoral no ritmo reggae.

Edson Gomes (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/edson-gomes) era o “Tim Maia” de Cachoeira – BA, cantava Samba, Black music e foi convencido por Nengo Vieira (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/nengo-vieira) a passar suas músicas para o ritmo de reggae. Tornando-se “o Bob Marley Brasileiro”. Seus primeiros álbuns Reggae Resistência (1988), Recôncavo (1990), Campo de Batalha (1992), Resgate Fatal (1995). A partir de 2015, com polarização política no Brasil, ele se alinhou aos setores reacionários.

A Cidade Negra, primeira banda de sucesso nacional e internacional lançou belos álbuns: Lute para Viver (1990), Negro no Poder (1992), Sobre Todas as Forças (1994), O Erê (1996), Quanto Mais Curtido Melhor (1998), Enquanto o Mundo Gira (2000), Perto de Deus (2004), Que Assim Seja (2010), Hei, Afro! (2012). Ras Bernardo (vocal e compositor de 1986 – 1994 – https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/ras-bernardo), Paulo Da Ghama (guitarra, vocal e compositor de 1986 – 2008 – https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/paulo-da-ghama), Alexandre Massau (voz 2008 – 2010), Lazão (bateria, vocal e compositor de 1986 – 2022), Bino Farias (baixista de 1986 – 2022), Toni Garrido (vocal e guitarra de 1994 – 2022), Alex Meirelles (tecladista de 1994 – 2022 –https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/alex-meirelles). A banda Inspirou a criação de outras bandas de reggae.

O Celso Moretti (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/celso-moretti) era dançarino, artista plástico e enveredou pelo reggae. Nasceu em São Luís – MA a banda Tribo de Jah (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/tribo-de-jah) , liderada pelo cantor e compositor Fauzi Beydoun, radialista e roqueiro, um branco, mas, a banda composta por deficientes visuais afrodescendente. Seus álbuns clássicos: Raízes Reggae (1995), Ruínas da Babilônia (1996), Reggae na Estrada (1998). A primeira banda brasileira com sotaque do reggae jamaicano. Dionorina (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/dionorina), o regueiro mais velho da turma nordestina, fazia outros estilos musicais e tem formação em música clássica, mas também adotou o reggae. Bandas de rock nacional dos anos 80 gravaram músicas no ritmo de SKA nos seus álbuns, sendo a mais conhecida a Paralamas do Sucesso e banda SKANK começou como reggae e se tornou Pop Rock.

A cena reggae no Brasil chegou à maturidade, mas não tem a mesma importância e o respeito que o reggae já conquistou pelo mundo. No exterior é uma cena de “gente grande”, com produções de shows de alto nível e gravações de álbuns com alta qualidade técnica, profissional e criativa. Além das canções serem cantadas no idioma inglês.

No Brasil, a música reggae em geral parou no tempo, mais precisamente anos 80 e 90. Estagnou-se, mantendo-se à margem do mercado musical. Os músicos regueiros sobrevivem pegando carona, como subproduto musical, da cena rock, pop rock e RAP. No terceiro milênio, surgiram muitas bandas e artistas, mas que não mantêm uma unidade fazendo crescer a cena do reggae nacional. Não existe, em geral, uma união entre os músicos regueiros em prol de um fortalecimento do cenário reggae no Brasil.

No Brasil todos os estereótipos do reggae são reforçados como sendo: “a música feita por e para maconheiros”, “música feita por e para religiosos fanáticos, poucos afeitos à higiene pessoal”. Como se, em shows de outros ritmos musicais, não houvesse o consumo de drogas. Todos esses preconceitos levam o reggae nacional para o fundo do poço. O reggae nacional só é valorizado quando interpretado por artistas da MPB e do pop rock. Enfim, o reggae não teve a mesma pujança que o rock nacional dos anos 80.

O reggae como um movimento musical no Brasil ficou preso aos clichês do reggae jamaicano e da personificação do Bob Marley. O Bob se tornou maior que o reggae. E surgiram “as viúvas do Bob e/ou os Rastas Falsos/Fraudes” que imitam seu som, sua postura em palco, o uso da cannabis sativa, sua religiosidade e sua imagem.

O reggae foi criado por Lee “Scratch” Perry, mas Bob Marley levou o gênero ao máximo de visibilidade no mundo. Vejam este vídeo para entender mais sobre: http://g1.globo.com/videos/globo-news/arquivo-n/v/morte-de-bob-marley-completa-30-anos/1519004/ .

As bandas e músicos brasileiros optaram pelo reggae por ser uma música em que as letras têm como ênfases à crítica e justiça social, à conscientização política, o protesto, à denúncia, a religiosidade (rastafári), o amor e à paz. Mas a maioria, deixa os conceitos defendidos presos aos discursos das letras tendo uma postura incoerente com o que canta.

A fogueira da vaidade queima a cena reggae, têm os que se sentem “iluminados e escolhidos por Jah”, os que têm o Ego maior que o talento e o egoísmo, individualismo tão combatidos nas letras são práticas comuns entre a maioria dos regueiros. Em outras cenas musicais também existem a guerra de egos. Mas no reggae, uma cena musical que opta em conscientizar o público, a postura individualista dos músicos é incoerente com o discurso coletivo das letras.

Esta postura egocêntrica fortalece o “cada um por si” da “Babilônia – CAPETAlista”, tão combatida nas letras dos regueiros. E meia dúzia de regueiros são os escolhidos por produtores magnatas para manter um cenário em que a música reggae só serve de pano de fundo para alguns “fumarem unzinhos” e balançarem as tranças. A música reggae como meio de conscientização, paz, harmonia não faz parte de uma prática diária combativa da maioria dos artistas regueiros.

Os ícones do reggae feito no Brasil isolam-se para manter uma “imagem combativa” e fazendo show baseado em seus clássicos sem lançamentos de novos álbuns. Na prática, não confrontam os magnatas que só visam os lucros e acabam negligenciando a cena reggae e seus artistas. Os ícones não se falam entre si, não mobilizam nem lideram uma cena reggae independente e consciente.

Os músicos e bandas desconhecidas seguem com baixa autoestima, na areia movediça da mediocridade, da alienação e da falta de espaço para show. A cena reggae nacional continua sendo uma caricatura do reggae feito fora do Brasil. Até quando?


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Comments · 10

  1. Concordo plenamente!!
    Os artistas de Reggae que estão no mercado deveriam se espelhar nos outros estilos , garantindo a sua própria sobrevivência!!!! Lamentável, mas eh a pura verdade!!! Que ta o alge não quer dividir … REGGAE eh UNIÃO!

  2. Muito bem ponderado, trouxe com assertividade as camadas encontradas quando o assunto é reggae. Realmente trouxe a reflexão comum a todos nós sobre o que é e quem gosta de reggae e como merece mais reconhecimento e identidade própria brasileira. Parabéns, Antônio Carlos!

  3. Muito bom ler suas matérias, materializa o universo que passamos e as vezes ne temos com quem conversar sobre. Eu como mulher artista, sinto mto esses impactos tanto fos magnatas quanto dos grandes produtores do reggae como uma mulher lesbica e multi-artista.
    Traduziu muito bem. Concordo com o ponto de vista. E tb acredito que através de editais que o reggae se mantém, pois as portas dos contratantes de shows são fechada para nós do reggae. E falo, tem lugar que só consegui entrar com meu trabalho vendendo como música urbana, pois se falar reggae a tendência do sistema CAPETAlista é marginalizar e bloquear acesso.

  4. Matéria necessária e corajosa, o reggae no Brasil precisa sair da zona de conforto. Os que vieram na frente se isolam e
    vivem de nostalgia não representam mais resistência real é sempre o mais do mesmo não abrem espaço para os novos pois estão cheios de egos ja passou da hora de união, renovação e atitude o reggae é luta ou vira só pose sem propósito.

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