Nengo Vieira nasceu em Cachoeira – BA, uma cidade histórica do interior da Bahia, às margens do Rio Paraguaçu, onde desembarcaram por volta de 1600, dezenas de diferentes etnias africanas e no mesmo período, centenas de povos indígenas, nômades, todos obrigados a trabalhar na plantação de cana – de – açúcar.
E mais: o português colonizador, o espanhol, o francês e eventualmente o inglês, cada um com as suas influências, diversidade de preferências estéticas dando novas formas ao ambiente cultural.
Com essa influência cultural, histórica e diversidade musical passada de gerações a gerações, de pai pra filho, o menino Nengo cresceu ouvindo o bandolim arguto de seu pai Deraldo, que reunia a família e os vizinhos em inesquecíveis saraus.
E aos 11 anos de idade empunhando o violão acompanhado o seu pai. Talvez por tudo isso Nengo tenha se destacado com toda sua obra de uma musicalidade tão diversa, autêntica, ao mesmo tempo regional e do mundo. Influenciado, ainda, pelos elementos da música negra, desde o blues, soul, funk, ska, rock e MPB.
O mais marcante nas suas composições é a tranquilidade. O estado etéreo de suas canções que penetram a alma e nos conforta o espírito, nos fazendo refletir sobre a pureza que há em cada coisa do mundo, mesmo quando aborda questões sociais ou sobre o amor incondicional.
Como todo artista introspectivo, aos poucos reage contra sua timidez participando de várias apresentações memoráveis. Ele trabalhou com diversos artistas como arranjador e instrumentista. E compositor coleciona sucessos como: “Rasta Man”, “Somos Libertos”, “Chegada”. Com Edson Gomes (Fala Só de Amor), com Sine Calmon (Divino e Roda Pião). Participou do álbum “Reggae na Estrada” da Tribo de Jah (tocando guitarra, baixo e bateria em algumas faixas).
Na década de 80 Nengo Vieira e Edson Gomes, foram precursores da cena do reggae na Bahia. Juntos fizeram os melhores álbuns de Edson Gomes. Após a fim da parceria, Nengo tornou-se evangélico e seu trabalho autoral é voltada para o mercado gospel.
Sua banda Tribo D’Abraão, formada por Felipe Moreno (bateria); César Matos (baixo); Carlos Mendes (Guitarra); Augusto Junior (Teclados); Marco Jones (Percussão); Valéria Vieira e Ana Paula (backing vocal). Com eles gravou seus quatro primeiros álbuns: “Somos Libertos” (atração fonográfica), “Mata Atlântica”, “Vem pro Caminho Reggar” e “Chama” (independente, produzido e distribuído pelo Selo “Deus é Conosco”.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Nengo Vieira para a www.ritmomelodia.mus.br, por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01/11/2007:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua cidade de origem e a sua data de nascimento?
Nengo Viera: Nasci no dia 24/04/1959 em Cachoeira – BA. Registrado como Djalma Ramos Vieira.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Nengo Vieira: Comecei aos sete anos de idade tocando violão. Fui criado num ambiente onde a música era a atmosfera constante em nossa casa. Meu pai (Deraldo) tocava bandolim e muito bem. Tive a honra de acompanhá-lo quando eu tinha 11 anos de idade. E aos 12 anos comecei a tocar baixo e guitarra nos bailes.
03) RM: Quais as suas principais influências musicais e quais as que permaneceram?
Nengo Vieira: Todas as influências permanecem. Principalmente a música negra de uma forma geral, além do samba, bossa nova choro, baião e todas as influências da MPB.
04) RM: Qual a sua formação musical?
Nengo Vieira: Cheguei a fazer o curso de Violão na Faculdade, mas não terminei. E musicalmente sou autodidata em violão, guitarra, baixo, teclado, percussão, bateria e composição e arranjos.
05) RM: Quando, como, onde você começou a sua carreira musical?
Nengo Vieira: A música me escolheu e aos 12 anos de idade (1971) essa profissão já estava definida em minha vida.
06) RM: O que levou você a trazer o Edson Gomes para a cena reggae baiana. E foi em qual ano?
Nengo Vieira: Ocorreu nosso encontro por volta de 1983 e foi um processo natural em que nós dois estávamos buscando trabalha com o ritmo reggae.
07) RM: Quais os álbuns de Edson Gomes você participou diretamente. Quais instrumentos tocou nas gravações?
Nengo Vieira: Nos três primeiros álbuns: “Reggae Resistência” (em 1988); “Recôncavo” (em 1990); “Campo de Batalha” (em 1992). Eu toquei o Baixo, a Guitarra, Percussão e fiz os arranjos.
08) RM: Quando a separação artística com Edson Gomes?
Nengo Vieira: Eu trabalhava simultaneamente em dois projetos até que não deu mais para conciliar. E foi necessária a ruptura, mas sem desavenças. Em 1998, cada um buscou trilhar o próprio projeto pessoal.
09) RM: Fale como era a cena reggae na Bahia e no Brasil quando você e o Edson Gomes começaram.
Nengo Viera: Eram aparições isoladas, o ritmo reggae ainda não tinha uma cena definida, o que nos obrigou a resistir e superar muitos obstáculos. Tipo: Água mole em pedra dura…
10) RM: Quais os regueiros nacionais e internacionais que o influenciou?
Nengo Vieira: Bob Marley & The Wallers é minha maior influência no reggae, apesar de ouvir outros artistas. No reggae nacional não tenho influência de ninguém. Como fomos precursores no movimento regueiro baiano, passamos a exercer uma influência na cena reggae nacional de uma forma geral.
11) RM: Quando você escolheu a cena musical Gospel para desenvolver seu trabalho solo?
Nengo Vieira: A partir do momento em que a palavra de Deus passou a fazer parte da minha vida.
12) RM: Quantos álbuns lançados na cena Gospel?
Nengo Vieira: Em 1999, lancei meu primeiro álbum – “Somos Libertos” pela gravadora secular Atração Fonográfica. “Vem pro Caminho regar” (2001); “Mata Atlântica” (2002); “Chama” (2006), “Avivamente” (2007); “Força de Leão” (2013). Todos os álbuns produzidos juntamente com Rui Mascarenhas e distribuídos pelo selo Bolamusic. Em 2007, gravei meu primeiro DVD. Participei de várias coletâneas. Todos eles foram lançados no mercado musical de uma forma bem aberta sem restrições.
13) RM: Fale do reggae na cena Gospel.
Nengo Vieira: O Reggae é uma música de gueto, de resistência e de luta. Por mais que tenha sido rejeitado na cena Gospel, hoje Deus tem derramado um “avivamento”, um gás novo na sua igreja. E todos os seguimentos musicais, inclusive o reggae, tem sido muito utilizados em eventos evangélicos como ferramentas atrativas para alcançar as almas.
14) RM: Por que você escolheu a cidade de Santos para morar e São Paulo para desenvolver e divulgar seu trabalho?
Nengo Vieira: Na verdade fui enviado por Deus para trabalhar no processo de edificação das igrejas Bola de Neve de Santos e do Guarujá, resultando em uma amplitude maior em expor nosso trabalho no Sudeste.
15) RM: O que mais te chateia na cena reggae secular?
Nengo Vieira: A falta de unidade dos artistas do reggae. Acho que o pouco espaço que nos é dado, fomenta uma necessidade de sobrevivência e com isso cada um busca caminhar com as próprias pernas, dificultando o processo de união.
16) RM: Defina o seu trabalho autoral e quais as diferenças musicais em relação ao trabalho realizado junto com Edson Gomes?
Nengo Vieira: As diferenças são claras para aqueles que conhecem os dois trabalhos. No meu trabalho busco traduzir aquilo que tenho aprendido com Jesus Cristo. Procuro falar o que vivo e viver o que falo. Foco muito a salvação através do amor de Jesus, Jo 3:16.
17) RM: Quais os músicos que te acompanha? E seus parceiros musicais?
Nengo Vieira: Sou acompanhado pela Tribo d´Abraão: Felipe Moreno (Bateria); César Matos (Baixo); Augusto Jr (Teclados); Carlos Mendes (Guitarra); Marcos Jones (Percussão); Valéria Vieira; Ana Paula (Backvocal); João Teoria (Trompete); Ito Bispo (Sax Tenor).
Meus parceiros são das antigas: Rui de Brito, Edson Gomes, Carlito Profeta, Jair Soares. Hoje tenho feito algumas canções em inglês e meus parceiros são: Pra. Sheila Possi, Bárbara Falcon e Maurício Monteiro.
18) RM: Qual o instrumento que você assumiu hoje?
Nengo Vieira: Guitarra e Violão.
19) RM: Em estúdio, você continua gravando as linhas de contrabaixo?
Nengo Vieira: Além de fazer os arranjos e toco o baixo em algumas músicas nos meus álbuns.
20) RM: Você já foi adepto ao Rastafári? E qual a diferença religiosa com o evangélico?
Nengo Vieira: Essa filosofia rastafári nunca foi minha ideologia. Sempre busquei conhecer Deus através da Bíblia. Evangelho é o Poder, amor e toda a essência de Deus manifestado em nós através do amor do Senhor Jesus Cristo.
Rastafári é uma filosofia em que aponta um rei da Etiópia (Ras Tafari – Haile Selassie) como o Cristo dos negros. Todas as profecias da Bíblia apontam para Jesus Cristo e não em outra pessoa. Jesus veio para salvar a todos independente de raça, credo ou cor… Salvar o mundo.
21) RM: Como você vê a volta dos negros à África?
Nengo Vieira: Vejo como uma utopia. Os negros foram arrancados da sua terra natal de forma violenta e covarde. Hoje eles fazem parte do processo de formação e evolução cultura, artística, política e social nos lugares para onde foram enviados.
22) RM: Quais os projetos futuros?
Nengo Vieira: Em 2007 o lançamento do álbum “Avivamente”. A gravação do DVD e CD ao Vivo e um álbum – Acústico. Que Deus nos abençoe e nos traga melhores momentos em nossas vidas.
23) RM: Quais os seus contatos?
Nengo Vieira: (13) 98201 – 5628 | [email protected] | https://www.instagram.com/nengovieiraoficial
Canal: https://www.youtube.com/@NengoVieira
Playlist Nengo Vieira – DVD Bons Momentos (2018): https://www.youtube.com/watch?v=kVtnskvBT00&list=PLocl-Ml8VZ3oNO19m4tcY5eC6iTTwlm3B
Nengo Vieira – álbum Somos Libertos (1999): https://www.youtube.com/watch?v=QhSi7RzCqXk&list=PLocl-Ml8VZ3o_d59pCTK84D4SG5g1_lpD
Nengo Vieira – álbum Vem Pro Caminho Reggar (2001): https://www.youtube.com/watch?v=4mdb7pCcN6Q&list=PLocl-Ml8VZ3qnc8wx1G3NVk1LMvfg-27W
Nengo Vieira – álbum Mata Atlântica (2002): https://www.youtube.com/watch?v=vzXwPoIZIB0&list=PLocl-Ml8VZ3qK7hzTw_bNkqoqSROEG4rS
Nengo Vieira – álbum Chama (2006): https://www.youtube.com/watch?v=W4Xg8qDd-yw&list=PLocl-Ml8VZ3qQtWckU9Muhhnu1Yhnz2yk
Nengo Vieira – álbum Avivamente (2007): https://www.youtube.com/watch?v=DxZf1TT52jM&list=PLocl-Ml8VZ3oBLW3xz096nZNj2skVzNzu
Nengo Vieira – álbum Força do Leão (2013): https://www.youtube.com/watch?v=XYo-uFPQ7wc&list=PLocl-Ml8VZ3oCUK8OaKjqKy3oXUwtETgu
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