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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Edson Gomes

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O cantor e compositor baiano Edson Gomes, lançou em 2006 pela gravadora Atração seu primeiro CD e DVD ao vivo gravado em Salvador – BA. Esse CD e DVD contarão com os sucessos: Malandrinha, Samarina, Sistema do Vampiro, Perdido de Amor, Fala só de Amor e músicas inéditas, como Ana Maria.

São mais de 34 anos de carreira musical (desde 1972), em que 23 anos (desde 1983) levando a bandeira do reggae feito no Brasil. Teve seu primeiro disco lançado em 1987. Se não é o primeiro regueiro brasileiro, é o que nunca fugiu da cartilha do reggae raiz em duas décadas, em que lançou sete discos cantando e compondo reggae de protesto social e político e que falam de amor.

Eu (Antonio Carlos) ouvi pela primeira vez o som de Edson Gomes quando iniciei uma banda de reggae em 1997, em que eu tocava contrabaixo. Nesse período já escrevia minhas poesias e letras para músicas. Foi uma surpresa feliz ouvi aquela voz forte, afinada cantando letras conscientes sem metáforas nem eufemismo, indo direto ao ponto. Antes de Edson a minha referência de reggae era Paralamas do Sucesso, mas recente: Tribo de Jah, O Rappa, Cidade Negra, Skank. Mas as músicas de Edson Gomes gostei das letras, melodias, complexas linhas de baixos e bons arranjos de metais, um reggae mais rápido no andamento que o reggae raiz.

Em 1998, pude assistir no clube AABB em Campina Grande – PB o show de Edson Gomes e tirei a prova dos nove que ele era um dos melhores regueiro brasileiro. Ele entrou no palco imponente, vestido com uma calça e camiseta camuflada, estilo militar, isso me chocou por trazer a lembrança da ditadura militar brasileira. Mas depois conhecendo a filosofia do reggae, entendi a estética das roupas.

No mês de dezembro de 2005, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo em Santo André – SP. Ele me recebeu despojado, de folga da batalha. Ele tomava um licor ouvindo reggae jamaicano. Conversamos por mais de duas horas sobre a sua carreira, eu pude entender os motivos de suas críticas sociais, políticas e contra a cena do reggae comercial.

Em março de 2006, tive a oportunidade de assistir no Expresso Brasil seu show em São Paulo. Fiquei impressionado com seu desempenho e da sua banda Cão de Raça. Seu show parece um disco tocando, por conta do entrosamento entre os músicos. Ele com um timbre forte como um vulcão em erupção. Cantando seus grandes sucessos e músicas inéditas.

É lamentável que alguns eventos de reggae não inclua Edson Gomes na agenda. Um gênero musical conhecido por sua crítica contra toda forma de opressão, contra os políticos corruptos e as injustiças sociais, deixem de fora um ícone do reggae nacional que sofre retaliações do poder estabelecido por conta das mensagens de suas músicas.

É deprimente ver a cena reggae que leva milhares de pessoas aos shows ser dominada por produtores famintos por dinheiros que não se importam com a história do reggae raiz. Os eventos usam bandas iniciantes que fazem concessões lamentáveis para não perderem a oportunidade de se apresentarem.

É decepcionante as máfias existentes na cena Rock, do Samba, do Pagode, do Forró, Sertanejo, do Axé Music, da MPB, também existirem na cena do reggae raiz. Além da falta unidade entre os artistas do reggae brasileiro que ainda acreditam na cena do reggae raiz. Que os verdadeiros regueiros brasileiros se unam contra os magnatas dos eventos do reggae no Brasil.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Edson Gomes para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 02/05/2006:

01) Ritmo Melodia: Você nasceu em que cidade? E como foi o seu primeiro contato com a música? 

Edson Gomes: Eu nasci no dia 03 de julho de 1955 em Cachoeira – BA.

02) RM: Quais foram as suas primeiras influências musicais nesse período de indefinição de qual estilo musical escolher para lançar um disco? 

Edson Gomes: A minha primeira grande influência musical foi Tim Maia, por conta da minha maneira de cantar, eu era conhecido em Cachoeira – BA como Tim Maia de Cachoeira. Eu gostava de imitar Tim Maia e foi uma escola muito proveitosa no meu cantar. Em 1983, enveredo pelo caminho do reggae e começo a escutar os ícones jamaicanos: Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff.

03) RM: Quando começou sua carreira musical? 

Edson Gomes: Fiz minha primeira apresentação como músico participando em 1972 de um Festival de Música Estudantil no Colégio Estadual de Cachoeira – BA, sendo o vencedor. A partir desse Festival não parei mais as minhas atividades musicais. Nesse Festival, eu não tinha ainda uma definição de ritmo musical, era um letrista, melodista e intérprete. Depois aprendi alguns acordes no violão para fazer as minhas composições.

Depois de participar de outros Festivais de Música Estudantil de Cachoeira – BA.  Em 1977, participei do Festival de Inverno de Cachoeira que já tinha um prestígio e profissionalismo maior que os Festivais Estudantis e teve a participação de artistas conhecidos de outras cidades baianas. E fui premiado com o primeiro lugar. Após esse Festival fiz algumas tentativas profissionais que não tiveram sucesso no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Em 1985, retornei para Cachoeira e participei de um Festival de Música em Feira de Santana – BA, que era a segunda maior cidade do interior do nordeste. Fui premiado com o segundo lugar e melhor intérprete. Em 1985, tive a primeira experiência gravando em estúdio. Em 1987, participei em Salvador – BA do Festival de Música – Troféu Caymmi e fui premiado como melhor intérprete e tive a segunda experiência de gravar em estúdio.

04) RM: Quais os motivos que fez você escolher o reggae como música de trabalho?

Edson Gomes: No período de indefinição de um estilo a seguir, eu já tinha a vocação para compor e cantar música de protesto. Minhas letras já traziam críticas sociais e políticas. Em 1983, eu percebi que o reggae era o veículo certo para levar minhas ideais e convicções. Como uma pessoa negra, eu tinha a opção do Samba, mas não achava esse ritmo com tradição de luta pelos direitos dos oprimidos. Então busquei um gênero musical que se casasse com meu propósito de protestar contra todas as discriminações.

05) RM: Quando álbuns lançados? 

Edson Gomes: Por conta dos Festivais de Música que participei, tive os primeiros registros fonográficos nas coletâneas lançadas pelos Festivais.

Em 1988, gravei meu primeiro álbum Reggae Resistência, que saiu em LP, CD e fita cassete. As minhas canções compostas outros ritmos passaram para o ritmo reggae: Malandrinha, Na Sombra da Noite, Samarina, Hereditário, que eram no ritmo de soul music. A única música criada em ritmo reggae foi Rastafay, o próprio título da canção denuncia o estilo.

O álbum Reggae Resistência foi um breve resumo da minha iniciação musical e profissional. Músicas que fizeram sucessos: Sistema Do Vampiro, Malandrinha, Rastafary, Viu, Cão De Raça, Na Sombra Da Noite, Samarina, Hereditário, História Do Brasil, Leve Sensação (versão de I Shot The Sheriff). As que fizeram sucessos: Malandrinha, Samarina, Hereditário, Sistema Do Vampiro.

Em 1990, lancei o álbum Recôncavo: Adultério, Lili, Louvor a Jah, Recôncavo, Fala Só De Amor, Estrangeiro, Guerreiro do Terceiro Mundo, Filho Da Terra, Guerra, Capturados. Músicas que fizeram sucessos: Fala Só de Amor, Lili, Guerreiro do Terceiro Mundo, Adultério.

Em 1992, lancei o álbum Campo de Batalha: Criminalidade, Árvore, Campo de Batalha, Somos Nós, Ovelha, Dance Reggae, Traumas, Perigo, Reviravolta, Revelação. Músicas que fizeram sucessos: Campo de Batalha, Criminalidade, Dance Reggae. 

Em 1995, lancei álbum Regaste Fatal: Meus Direitos, Resgate Fatal, Luz Do Senhor, Bela Cidade, Olinda, Isaac, Calamidade Pública, Zumbi Dos Palmares, Devolução, Fato Consumado, Sociedade Falida, Meretriz, Lembranças. Músicas que fizeram sucesso: Resgate Fatal, Calamidade Pública, Isaac, Ovelha Negra, Meretriz.

Em 1997, lancei o álbum Apocalipse: Perdido de Amor, O País e O Culpado, Camelô, Amor Sem Compromisso, Babylon Vampire, Apocalipse, Me Abrace, Fogo Na Babilônia, Alma, Etiópia, Tarde, Querida, Ira. Músicas que fizeram sucesso: O País é o culpado, Camelô, Amor sem compromisso, Apocalipse, Fogo na Babilônia, Etiópia. Passei alguns anos sem gravar.

Em 2000, lancei o álbum Acorde, Levante e Lute: Acorde, Levante, Lute, Sangue Azul, Linda, Serpente, Sandra, Malandrinha, Inquilinos das Prisões, Homens Lixo, Arca da Fuga, Vibração Positiva, Inversão, 500 Anos, Tema da Karoba. Músicas que fizeram sucesso: Acorde. Levante e Lute, Sangue Azul, Linda, Inquilino das prisões, Arca da Fuga e regravei Malandrinha com novos arranjos.

Em 2006, lancei o CD e DVD gravado ao Vivo com meus grandes sucessos e músicas inéditas. Inclusive uma música que ganhei em 1987 um Festival, que se chama Ana Maria.

06) RM: Quais foram as músicas que atingiram sucesso na mídia nacional?

Edson Gomes: Na mídia em Salvador – BA, quem fez muito sucesso foi Samarina. O sucesso nacional: Malandrinha.

07) RM: Fale mais da opção por abordar temas sociais e políticos em suas letras.

Edson Gomes: Uma pessoa que tenha um mínimo de consciência, sendo descendente dos escravos, eu nasci no Brasil, mas me considero africano. Meus antepassados que viveram um sistema cruel de escravidão e sofro ao longo dos anos essas consequências históricas. Então, eu senti que tinha que fazer algo contra as injustiças sofridas.

Como enveredei pelo caminho da música, comecei a escrever pensando na discriminação que sofreram meus antepassados e que sofri, sofro e sofrem meus contemporâneos. Comecei a escrever sobre o social, a política e o que estar ao alcance da minha visão e que me desagrada.

Em primeiro plano foi a luta exclusiva a favor da cor da pele, hoje não é mais, pois a consciência não se limita a cor da pele. E comecei a defender, através de minhas letras, as causas do povo oprimido em qualquer parte da terra, independente da cor da pele.

08) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o consumo da maconha?

Edson Gomes: Penso que devido à situação que vivemos no sistema de muita pobreza, necessidade e muita opressão. As drogas entram na vida de algumas pessoas como uma válvula de escape que oferecem um possível alívio, busca pela paz e relaxamento das tensões da realidade. Mas trazem no seu bojo muitas consequências negativas.

Não acho positivo nada que nos torne cativo, já passamos por uma escravidão física e passamos por uma escravidão mental. E as drogas nos escravizam. Eu não gosto de nada que me cause dependência. Se eu canto uma música livre, eu tenho que ser livre. Não posso ser escravo e cantar a liberdade. Tenho que ser livre para cantar a liberdade.

As drogas trazem um relaxamento, mas causa dependência. E as pessoas começam a fazer de tudo para tê-la. Eu canto e faço reggae divorciado da maconha e de qualquer droga, mesmo a que uso: que é bebida alcoólica. O que eu tenho que passar para as pessoas através de minha música não é meu lazer, mas a conscientização.

09) RM: Fale do seu primeiro contato com a obra dos ícones do reggae como: Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff.

Edson Gomes: Primeiro ouvi a obra de Jimmy Cliff, gostei muito, mas seu estilo não me influenciou. Em 1980, comecei a ouvir Peter Tosh e meu irmão Tintim Gomes (Morreu em 2021 no Hospital Santa Casa de São Félix, na Bahia, devido a um problema de saúde), que gostava de reggae e morava em Salvador – BA me trouxe um disco de Bob Marley. Comecei a gostar do trabalho dele.

Eu nunca falei em entrevista, mas no início de minha carreira musical, minhas canções: Malandrinha, Samarina, Hereditário, Viu, Campo de Batalha, Árvore faziam um sucesso enorme em Cachoeira – BA. Mas não eram cantadas no ritmo de reggae, depois conheci o reggae houve um casamento perfeito do ritmo jamaicano com minhas músicas. Eu procurava um gênero musical que pudesse viajar com minhas ideias. Ouvindo Bob Marley e percebi que o reggae seria meu veículo ideal para levar minha mensagem.

Em 1988 com o meu primeiro álbum Reggae Resistência iniciou a minha carreira na cena reggae. Em 1983, o cantor, compositor, guitarrista e baixista baiano Nengo Vieira me convidou nesse período para fazer um show em Salvador – BA já como um cantor e compositor de reggae. Meu trabalho não era reggae, mas ele viu em mim um protótipo do reggae na imagem, no som, nas letras. Passei a ficar na sua casa e escutava o tempo todo a obra de Bob Marley.

Passei minhas canções para o gênero reggae e a cada lançamento de um álbum coloco canções que foram criadas em outros ritmo gêneros para o estilo reggae. Principalmente as canções com temas românticos.

10) RM: Em sua opinião você é o primeiro regueiro brasileiro.

Edson Gomes: Não tenho influência de reggae no Brasil. Porque se não fui o iniciador da cena reggae no país, passei a ser o cara que começou a persistir no gênero e outros vieram no rastro. E tiveram pessoas que participaram comigo no início para esse fortalecimento, como o Nengo Vieira, que era um bom músico. O baterista Jair, eles foram que me colocaram na cena reggae.

11) RM: Em sua opinião quais as bandas e cantores que mantém o conceito reggae.

Edson Gomes: Eu vejo algumas bandas no reggae no Brasil com potencial, mas mantém certa timidez. Não sei se pelo fato de ser uma trilha perigosa por sofremos retaliações por colocarmos as cartas na mesa e estarmos metendo “o bico” contra o sistema organizado e dizendo não ao poder estabelecido. Isso causa consequência que às vezes são drásticas. É preciso que tenhamos um potencial e uma retaguarda para nos sustentar em pé.

Eu gosto muito da banda Dissidência de Santo Amaro – BA. Essa banda chega com força na cena real do reggae, mas vejo a maioria das bandas cantando o reggae como modismo, querendo agradar, usando o reggae para paquerar, se entreter e depois ir para o pop. As bandas que se propõem em fazer um reggae verdadeiro continuam no gueto sem aparecer.

O pessoal que está em evidência está fazendo o jogo do sistema. Falam coisas sérias, mas timidamente. Não como eu, que coloquei a minha cara para bater. Eu sou o “pato feio” da cena reggae. Esse é meu caminho, meu legado, não tenho como voltar.

A cena reggae que existe em São Paulo no século XXI, não é diferente da cena do Forró, do Sertanejo, do Axé music. Então muitas das bandas que necessitam aparecer estão atreladas a um produtor vampiro, esse produtor é quem domina a cena e colocar em evidência quem está com ele. Ele faz produção com 14 a 20 bandas que não tem um nível profissional de uma boa banda. Esses músicos estão começando e com ansiedade de aparecer. Toda cena musical tem esses vampiros.

Os músicos da cena reggae nos primeiros anos século XXI, ainda são imaturos e desprovidos de experiências e consciência. Mas as coisas estão mudando aos poucos, eles estão vendo que são explorados por esses produtos que só se preocupam com o lado comercial do reggae.

A banda Tribo de Jah está na estrada há muito tempo e tem consciência, ainda que por uma questão de sobrevivência participe dessa cena reggae comercial. Mas eles sabem o que está rolando nos bastidores e por uma questão de necessidade participam. Mas sou um guerreiro e estou passando por cima dessas coisas. E não vejo com bons olhos esses produtores que estão dominando de forma arbitrária a cena reggae em São Paulo e em outras cidades do Brasil.

12) RM: O que difere seu trabalho de outros regueiros no Brasil?

Edson Gomes: Minhas músicas têm um swing próprio, diferente das músicas de regueiros brasileiros, jamaicanos e de outros países. O que conduz o swing é a linha do contrabaixo. E a linha dos contrabaixos de minhas músicas é totalmente diferente dos outros regueiros. O meu reggae é diferente por isso.

É diferente a minha maneira de pensar, de me conduzir e de casar a teoria com a minha prática. Sou totalmente prático. Na teoria tudo é fácil, mas a prática é difícil. Sou meu aluno e meu professor. O que almejo experimento primeiro. É preciso ter alguém (Deus) por trás disso.

13) RM: Fale a importância das linhas de contrabaixos e dos arranjos dos metais nas suas músicas.

Edson Gomes: O contrabaixo é uma coisa interessante nas minhas músicas. Comecei no reggae com Nengo Vieira que era o baixista nos meus primeiros álbuns. Eu já compunha minhas músicas e harmonizava livremente, quando essas canções foram transformadas em reggae.

Então começou a dificuldade por quer minhas linhas melódicas não era retas. Tinha primeira, segunda e terceira parte. Para o contrabaixo ficava difícil de manter uma única linha em toda a música. E junto com Nego Vieira criamos um estilo de linha de contrabaixo para minhas músicas que as tornas diferentes de outras músicas de reggae.

Em relação aos arranjos de metais, sou de uma região riquíssima no uso do naipe de metais nos grupos de fanfarras e bandas filarmônicas que tocam seus dobrados nos coretos das praças nas cidades do interior nordestino. Eu cresci ouvindo essas bandas e me apaixonei. Diga-se de passagem, a maioria dos arranjos de metais das minhas músicas, eu que solfejo os arranjos para os instrumentistas.

14) RM: Fale como é o processo de composição de suas músicas.

Edson Gomes: Eu comecei como letrista e criava as melodias para letras. Um colega colocava os acordes (harmonia) nas minhas melodias. Mas eu não gostava das ideias dele, pois ele tinha influência das bandas da Jovem Guarda e Roberto Carlos, Erasmo Carlos.

Eu necessitava urgente de harmonizar minhas músicas corri para aprender tocar o violão e aprendi dois acordes e comecei harmoniza minhas músicas devido a minhas necessidades. E não evoluir como instrumentista por causa dessa pressa.

Então meu processo de composição começa com a escolha do tema, depois procuro os acordes, faço a divisão dos compassos, começo a criar a melodia ou solfejar para ver se a harmonia está legal, depois começo a escrever a letra em cima da melodia. O gênero reggae é música simples, como o Samba, Forró e gêneros populares, quem quiser sofisticar esses gêneros vai se complicar.

15) RM: Por sua música tratar de temas sociais você já teve problema com políticos e com a polícia que são os mantedores da ordem social estabelecida? 

Edson Gomes: Não escrevo só o que acontece comigo. Mas existiram situações pessoais. No álbum Apocalipse, abordei na letra de Fogo na Babilônia, uma situação que ocorreu comigo.

Em 1997, a polícia civil forjou um mandato de busca e apreensão contra minha pessoa. Invadiram minha casa em busca de droga e me mobilizaram e reviraram a casa em busca de drogas.

Outra situação que aconteceu foi quando eu e meu irmão Bráu fomos a uma imobiliária alugar um apartamento. Quando saímos com o corretor da imobiliária, no caminho fomos parados pela polícia armados de metralhadoras e mandaram descer do carro, eles alegaram estarem procurando um carro roubado que parecia com o que estávamos.

Eu não acredito nos políticos, mesmo em uma época eu tendo cometido o deslize em ser seduzido por alguém e convencido a se candidatar a vereador de Cachoeira – BA. Felizmente não fui eleito. Como os políticos são detentores do poder, dominam os meios de comunicações (Jornal, Rádio e TV), quem não está com eles, sofrem retaliações, eu me preparo para suportar tudo isso. É o preço que tenho que pagar por gostar da minha liberdade.

16) RM: Comente sobre a cena reggae na Bahia e no Brasil em geral. 

Edson Gomes: A cena reggae na Bahia e no Brasil em geral é a mesma vista em São Paulo. Os produtores que produzem essas cenas reggae trazem artistas que não tem nada a ver com o reggae raiz, comprometido com a conscientização.

Não só eu, como outras bandas e pessoas que fazem um reggae comprometido estão fora, da tal cena reggae, que é puramente comercial. Mas tem muita gente disposta a desenvolver a verdadeira cartilha do reggae. O reggae é contra o sistema de opressão e a favor da vida livre com responsabilidade.

A cena reggae que está em evidência no Brasil é moda dos surfistas, dos mauricinhos. Para eles, se dê certo legal, se não bola pra frente. Eu discuto essa questão com a banda Tribo de Jah, Adão Negro e Nengo Vieira. Falta uma unidade e um mentor que direcione qual a cena a seguir, se rastafári ou não.

Não me coloco como a ponta de lança de uma cena reggae raiz, pois quero estar vivo para cantar. Então cada um está seguindo o próprio caminho, no salves quem puder. Todo movimento tem que ter um mentor espiritual, se não houver é babilônia.

17) RM: Você cultua o rastarianismo como religião. 

Edson Gomes: Eu não sou rastafári. Tenho a estética rastafári, mas fujo da concepção rastafári, por eu ser de natureza cristã, antes de conhecer o reggae, eu já era cristão. Minha formação religiosa é Jesus Cristo, ele é meu mentor e me dirigi.

Não cultuo o rastafári por conta de o mentor religioso (Haile Selassie) ser um homem como eu, passivo de falhas. Não colocarei mais em minha música o termo rastafári, fiz isso no início da carreira, mas me conscientizei.

18) RM: Fale de sua formação escolar e trabalhos que fez antes de ser músico. 

Edson Gomes: Eu tenho consciência sobre os dramas sociais. Mas não sou um homem letrado. Sofrivelmente terminei o primeiro grau (Ensino fundamental). E fui à luta, trabalhar, por ser de uma família pobre, tive logo cedo que ajudar no sustento da família. Trabalhei como servente de pedreiro na construção civil.

Em 1983, voltei ao banco escolar para terminar o segundo grau (Ensino Médio). Depois aceitei o convite de Nengo Vieira para fazer o show em Salvador – BA e parei os estudos escolares de vez. Passei a viver a vida prática me tornei um cronista do cotidiano, falo nas minhas músicas o que vejo, sinto e percebo na minha vida cotidiana e na vida dos outros. Saí da construção civil, do serviço pesado. Meu último emprego foi como estivador carregando e descarregando caminhão no Porto de Salvador – BA.

19) RM: Existe semelhança da sua obra com a música jamaicana do passado e do presente?

Edson Gomes: Eu não sou pesquisador do reggae jamaicano, apenas ouvi no início de carreira os ícones como Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff, mas por não ter acesso ao material do reggae jamaicano na época, não me aprofundei no conhecimento do trabalho deles. O meu trabalho não tem influência direta da obra deles. Não sabia nada do que a letras deles diziam. Conheci depois de alguns anos Jimmy Cliff, Gregori Isaac, Alfa Brondy em shows em Salvador – BA.

20) RM: Quem são os músicos que lhe acompanharam e acompanham hoje em show e estúdio?

Edson Gomes: A primeira banda que me acompanhou foi a Estúdio 5, formada por Nengo Vieira. Ele me dava força e me introduziu no reggae, depois que ele foi fazer o seu trabalho autoral, não tive mais uma banda com formação fixa. Só vejo os membros da banda dois dias antes do show, não temos uma convivência e uma relação íntima. Algum músico se identificam mais com o meu trabalho e se doam mais, como: Nivaldo Siqueira (Sax tenor), Nascimento (Guitarra), Cunha (Sax alto).

Na gravação em estúdio e em show tem Osvaldo (Baixo), Toni (Guitarrista), Scooby (Tecladista), Cunha, Nivaldo.

No DVD – Ao Vivo gravado em Salvador – BA tocaram Ricardo (Bateria), Osvaldo (Baixo), Henrique (Órgão), Toni (Guitarra solo), Cinho (Trompete), Nascimento (Guitarra base), Neuma e Mônica (Vocais), Cunha (Sax alto), Marola (Trompete), Ney (Sax Tenor). Já gravou e tocou comigo o baixista Lazaro. Ele agora evangélico. O baterista Jair que hoje mora no Rio de Janeiro.

21) RM: Hoje além dos arranjos dos metais que instrumentos você ajuda na criação dos arranjos?

Edson Gomes: Eu criei junto com Nengo Vieira a concepção das linhas de contrabaixo para as minhas músicas. Então os baixistas que vão entrando eu vou orientando, deixo a liberdade de criação, depois eles mostram o que criaram e vou dizendo o que fica ou não fica.

22) RM: Fale de sua postura em relação à causa e a cultura negra e as injustiças sofridas.

Edson Gomes: Não faço parte de nenhuma cena reggae puramente comercial, de nenhum movimento negro, de nenhuma religião negra, minha religião é Deus através de Jesus Cristos. Sou contra ao branco incoerente, explorador, injusto e da mesma forma sou contra ao negro que agir da mesma forma.

Acredito que como homem, somos todos iguais. Não sou melhor que ninguém, seja branco ou negro. Não defendo um governo negro, pois se considero uma loucura o governo branco, com certeza o governo negro será uma loucura. Os homens são diferentes ou superiores pelos valores que agregaram, sejam intelectuais ou materiais. Mas tanto, os que agregaram, como os que não agregaram valores, comentem erros, sejam brancos ou negros.

Essa consciência você adquire em Deus não no rastafári. Sou um canceriano sensível e estou conectado com cérebro universal (Deus) percebo as minúcias e fico constrangido de está vivendo nesse lugar, na Terra. Eu saio de casa muito pouco, pois sou muito observador e minhas canções dizem isso. Vejo a discriminação a distância.

As pessoas com seus olhares preconceituosos e passam ao largo segurando suas bolsas. Tudo isso me constrange. Em lojas as moças do caixa ficam nervosas quando veem dois negrões na fila, elas chamam logo o segurança para se tranquilizar. Temos que provar a vida toda que não somos inimigos.

Gosto muito dos lugares que vou por conta dos shows, mas só fico tranquilo em Cachoeira – BA, pois as pessoas me conhecem, sabe que sou o cantor Edson Gomes. Até em Salvador – BA com maioria populacional negra existe preconceitos de branco e negro sobre os negros. A melhor coisa na vida é ser consciente, mesmo sofrendo por ter consciência dos nossos direitos e deveres.

22) RM: Quais são os projetos para 2006? Valeu ter escolhido o gênero reggae como música de carreira?

Edson Gomes: Em 2006 o projeto é divulgar o CD e DVD gravados ao vivo em Salvador – BA. E só valeu apenas escolher o reggae. Não por ter me achado espiritualmente, pois já havia me achado, pois o importante é o espiritual. No reggae me achei como um cidadão, que está tendo uma passagem positiva na vida.

Que rejeitou e rejeita muitas oportunidades que leva o homem a degradação. A cena reggae que a recompensa é o dinheiro. Que o dinheiro é tudo. O reggae me proporcionou resistir a essas coisas. Com o meu talento para cantar e compor poderia estar muito bem nas questões materiais.

Porque para cantar e compor besteirol não precisa de muito cérebro e como não tenho esse cérebro todo, eu seria uma maravilha compondo música banal. Eu seria um verdadeiro magnata (como me chama Fauzi Beydoun). Minha luta é muito difícil, pois tenho que rejeitar muitas coisas.

Contato: https://www.instagram.com/edsongomesreal 

Canal: https://www.youtube.com/channel/UCFfh9QHQuA3YV2x4qZtmWwQ 

Edson Gomes – República do Reggae 2023 (SHOW COMPLETO): https://www.youtube.com/watch?v=3XR5gmwKafM 

CÃO DE RAÇA – O Reggae Resistência de Edson Gomes por EDNA MATOS: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/32903/1/Cao%20de%20Raca%20-%20Memorial.pdf

 


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  1. Edson Gomes sem dúvida é o mestre do reggae brasileiro. Acompanho sua obra desde criança e nunca perco a oportunidade de ver (ou ler) uma entrevista sua, porque é um cara autêntico, não se rende a modismos e nem admite ser papagaio de pseudomilitantes. Esse cara é uma grande inspiração, um patrimônio da nossa Bahia e do Brasil.

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.