A cantora e compositora mineira Regiane Cordeiro, radicada em São Paulo, faz parte do cenário musical de reggae e brasilidades dentro e fora do Brasil.
A música está em sua família há muitas gerações. Ainda criança, ao lado de seus irmãos (Kau Cordeiro, Odair Cordeiro e Silvio Marcos), emitiu as primeiras notas e demonstrou os primeiros sinais desse dom ancestral, que segue acompanhando-a. Foi vocalista da banda Nyah Live, onde deu seus primeiros passos no reggae e, em 2017, lançou o álbum Vivos na História.
No mesmo ano, ganhou maior notoriedade na cena reggae e sound system paulista, vibrando suas melodias no melhor estilo African voice. Desde 2016, atua também como vocalista da banda Ambulantes. Em 2022, lançou o álbum Ambulantes, em parceria com o Estúdio Traquitana e Victor Rice, responsável pelas mixagens e masterizações, no formato digital e também em vinil.
Em 2018, integrou a crew feminina Dawtas of Aya (Regiane Cordeiro, Sistah Mari e Carol Afreekana), com quem gravou a mixtape Energia, que resultou em uma turnê pela Europa, com apresentações ao lado de Kibir La Amlak (UK) em mais de dez países e no renomado Rototom Sunsplash, o maior festival de reggae do planeta. Em 2019, o trio lançou o álbum Perseverança e Resistência, no qual Regiane atuou como produtora musical e preparadora vocal, ao lado de Steve Vibronics (UK) e Rodrigo Loli (BR).
Regiane também realiza trabalhos solo, com singles e parcerias muito especiais com renomados músicos como Marina Peralta, Layla Arruda, Pamelloza, Dubalizer, Bamboo BR, entre outros. Atua como backing vocal para bandas como Anelis Assumpção, Marina Peralta e Zé Orlando – Pedra Rara, circulando por diversos festivais como AfroPunk São Paulo, Festival Queremos, Lollapalooza e Coala Festival.
Atualmente, Regiane Cordeiro se prepara para a gravação de seu primeiro álbum solo, Raiz do Mundo, que será lançado em 2026. Amante da arte e da música em todas as suas expressões, acredita na voz e na história da mulher preta como superpotência e fazedora de seus próprios caminhos.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Regiane Cordeiro para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 20/08/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Regiane Cordeiro: Nasci no dia 07/11/1988 em Taiobeiras – MG. Registrada como Regiane Silva Cordeiro.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Regiane Cordeiro: Eu nasci em um berço musical, meu pai (José Goncalves, músico regional boa parte da vida. Ele completou 100 anos de vida) e meus irmãos: Kau Cordeiro (professor de musicalização e instrumentos diversos e cantor), Odair Cordeiro (baixista), Silvio Marcos (guitarrista, baixista e voz baixo em coral), são músicos ativos.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Regiane Cordeiro: Iniciei o curso de Serviço Social, mas não finalizei. Aventurei-me no curso de Teatro e pretendo ingressar em uma formação na música.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Regiane Cordeiro: A música gospel foi muito importante pra eu entender meu campo harmônico e desenvolver técnicas. A Música Sertaneja Caipira também não poderia faltar.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Regiane Cordeiro: Meu início foi no coral de Taiobeiras – MG, cantando hino nacional na escola ainda criança, no coral da igreja com a música gospel e afins. Em 1999, iniciei aos 11 anos de idade como backing vocal na minha primeira banda de reggae, aprendi muito. Hoje atuo como vocalista no meu trabalho solo e como backvocal nas bandas de: Marina Peralta, Anelis Assumpção, Zé Orlando – Pedra Rara, entre outros. Amo harmonizar vocais.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Regiane Cordeiro: Em 2017, com a banda Nyah Live, lançou o álbum – Vivos na História. Em 2019, com Dawtas Of Aya (Regiane Cordeiro, Sistah Mari, Carol Afreekana) lançou o álbum Perseverança e Resistência. Em 2022, com a banda Ambulantes, lançou o álbum Ambulantes, em parceria com Estúdios Traquitana e Victor Rice, nas mixagens, masterizações, no formato digital e também em vinil.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Regiane Cordeiro: Eu sou uma cantora brasileira, com influências da música jamaicana. Amo a diversidade e brasilidade que me habita.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Regiane Cordeiro: Estudei técnica vocal nos corais que participei durante alguns anos, mas pretendo me aprofundar ainda mais no estudo.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Regiane Cordeiro: A voz é nosso instrumento. Assim como os músicos precisam afinar seus instrumentos para usar nas apresentações, precisamos sempre apresentar nossa melhor versão, desenvolver uma rotina que pode ser simples mas diária com uma voz, para uma boa emissão e efeito. Disciplina é um segredo importante. E água. Muita água.
10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?
Regiane Cordeiro: No reggae admiro muito as cantoras: Dezarie, Jah9, Judy Mowatt, Rita Marley, Liniker, Whitney Houston Celine Dion, Maryah Carey, Beyoncé, Marisa Monte, Ana Carolina, Vanessa da Mata, Elis Regina, Gal Costa, Marília Mendonça.. enfim, são muitas…
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Regiane Cordeiro: Eu componho o que eu sinto. Geralmente vem uma melodia, depois a letra, às vezes melodia e letra ao mesmo tempo. Não tem uma regra!
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Regiane Cordeiro: Não tenho o costume de compor em conjunto. Mas já senti a música com meu companheiro de vida (o baterista Guilherme Tamer) e com os músicos da minha banda.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Regiane Cordeiro: O fato é que tudo depender de você para funcionar, de modo geral, nunca é fácil. Precisa trabalhar duas vezes mais. Mas, é muito satisfatório encontrar alguém emocionado dizendo que sua música faz parte da vida dela. Na real, não tem preço.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Regiane Cordeiro: Sinto que sou uma aprendiz, minha carreira ainda está em processo… Mas procuro agir com verdade, dentro e fora dos palcos.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Regiane Cordeiro: Na era digital, a gente se promove pelas redes sociais. Importante minimamente ter boas fotos, responder as perguntas das pessoas e ter bons vídeos para serem visualizados.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Regiane Cordeiro: A exposição excessiva pode ser uma faca de dois gumes, varia muito em qual é o seu propósito. As pessoas podem te interpretar como querem. Mas não ser refém da rede social é importante para manter a saúde mental.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Regiane Cordeiro: Para gravar algo, jogar sua música para o mundo, pra mim, prevalece a qualidade. Procure entender minimamente sobre o assunto, procure bons profissionais. Assim é só ganho o uso do home estúdio.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Regiane Cordeiro: Não gosto de pensar na minha música como esse produto de prateleira que precisa ser consumido a todo custo. Tem espaço para todos os estilos. Encontre o seu público e faça música.
20) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Regiane Cordeiro: Tenho como exemplo, Anelis Assumpção: está no meio musical há muitos anos, uma artista sólida e lúcida na música que faz. Sempre com muito respeito com todos ao seu redor. A tenho como exemplo de profissionalismo.
21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Regiane Cordeiro: Nossa, aconteceu tudo citado na pergunta! Sem comentários (risos)! Mas já cantei, fiz showzão e o apresentador me apresentou como “a mana ali que canta muito”. Já cantei e no final me deram 50 reais para ir embora e a casa faturou a noite toda com o Bar… Enfim, velhos tempos! Ô saudades, só que não!
22) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Regiane Cordeiro: Mais triste é o fato de que muitas pessoas te julgam na obrigatoriedade de servir, sorrir sempre, não pode errar. Mas fico feliz quando a adrenalina toma conta do corpo quando estou com microfone na mão e as pessoas cantam junto. É uma sensação incrível!
23) RM : Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Regiane Cordeiro: Não sei bem! Acredito muito na força periférica, que já colocou muitos artistas em lugares de destaque. Mas com o pagamento do jabá facilita… Espero que um dia um som meu viralize sozinha a ponto de me manter sozinha.
24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Regiane Cordeiro: De forma independente não será fácil. Mas acredita, faça por você…
25) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Regiane Cordeiro: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira prevalece quem tem dinheiro. Simples assim.
26) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Regiane Cordeiro: Tive a oportunidade de me apresentar algumas vezes no Sesc. A estrutura é muito boa. Todo artista de base merece ter essa experiência.
27) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Regiane Cordeiro: O reggae é um movimento preto, iniciado na Jamaica dos anos 60 com o propósito puramente social. Acho que é sempre importante lembrar do início e dar o devido respeito. Com o passar do tempo e com a expansão do ritmo pelos continentes, foi naturalmente mudando de forma e intenção.
Dito isso, a cena do Brasil é majoritariamente masculina, com a ascensão de algumas bandas, que permanecem até hoje, eu acho. Um exemplo importante e relevante é a banda Tribo de Jah, ainda com o Zé Orlando nos vocais, fizeram história. Acho que não é ético falar sobre regressão de bandas. Talvez entender que o tempo muda os rumos, seja mais coerente.
28) RM: Você é Rastafári?
Regiane Cordeiro: Conheci a Cultura Rastafari no Brasil em 2014, já tive muitas vivências, mas não me considero Rastafári.
29) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
Regiane Cordeiro: Acho que, primeiro é pensar que o Rastafári nem é uma cultura brasileira, assim como a música reggae. Então, sim, pode ser verdade.
30) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Regiane Cordeiro: Acho que os jamaicanos tem uma propriedade única, de quem criou mesmo a vertente. Nós não pagamos pra ver um artista brasileiro se apresentando, mas pagamos para um jamaicano por conta da sua legitimidade no ritmo. Além de que, o Brasil é um país preconceituoso e ainda se deixa levar por estereótipos…
31) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Regiane Cordeiro: Acredito que não exista essa sensação, pois são duas experiências sentidas de formas diferentes. O Palco e o pé no chão do sound são libertadores.
32) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
Regiane Cordeiro: A banda tem a experiência instrumental ao vivo, é mágico. O sound system deixa uma sensação que só o grave das caixas sabe emanar. Todos transmitindo música reggae.
33) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
Regiane Cordeiro: Para o Brasil é muito difícil fazer essa dissociação. Se você ouve reggae deve fumar maconha, e vice versa. É uma falta de conhecimento comum, eu diria, mas que precisa ser explicada e expurgada das casas das famílias brasileiras.
34) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?
Regiane Cordeiro: A relação entre o reggae e a cultura Rastafári é profunda e inseparável. O reggae surgiu na Jamaica em um contexto de resistência, espiritualidade e afirmação da identidade negra, e a cultura Rastafári foi uma das grandes influências nesse movimento. Muitos dos pioneiros do reggae, como: Bob Marley, Peter Tosh e Burning Spear, eram rastafáris e utilizavam a música como forma de expressar suas crenças, denúncias sociais e mensagens de paz, igualdade e retorno às raízes africanas.
A espiritualidade rastafári, com sua conexão com a Etiópia, o Imperador Haile Selassie, e a valorização do natural, da justiça e da ancestralidade, ecoa nas letras, nos ritmos e até mesmo na estética do reggae. Ao mesmo tempo, o reggae foi fundamental para dar visibilidade internacional à cultura Rastafári, criando uma ponte entre a música e um modo de vida que inspira libertação e consciência. É importante reconhecer, no entanto, que o reggae vai além do Rastafári. Ele também dialoga com outras realidades, religiões e vivências, especialmente fora da Jamaica. Mas não há como negar que o reggae nasceu impregnado dessa filosofia e que essa relação moldou sua identidade desde as origens.
35) RM: Quais os seus projetos futuros?
Regiane Cordeiro: Estou me preparando para em 2026 lançar meu álbum solo e todas as minhas forças e energias estão direcionadas para essa realização.
36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Regiane Cordeiro: [email protected] | https://www.instagram.com/regianecordeirooficial
Canal: https://www.youtube.com/@regianecordeirooficial
Regiane Cordeiro feat. Afreekadu | InI sounds | Reggae para Junventude 2017: https://www.youtube.com/watch?v=BYKX-xXWcdI
Regiane Cordeiro – ‘Correria’ (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=kMKAHRGETvI
Regiane Cordeiro ft. Kibir La Amlak – ‘Não Pare a Música’ (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=reZbjs6A-2s
Regiane Cordeiro – Kaya 40 anos no Sesc Pompéia: QG Imperial e convidados: https://www.youtube.com/watch?v=I77cIb5sfX4
Regiane Cordeiro – Circuito SP Dub Club (Dubversão encontra United MCs): https://www.youtube.com/watch?v=b8IXu6MrgLc