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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Luiz Millan

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Luiz Millan: “Brazilian Match” – Texto principal para Tratore e release para o Brasil: “Sem dúvida alguma, Luiz Millan é um dos nossos grandes artistas”! – Paulo Sergio Valle

Em seu novo disco, o compositor e cantor Luiz Millan reúne músicos das bandas de Miles Davis, Sting, Paul McCartney, John Lennon, Quincy Jones e Frank Sinatra! Produzido por Arnaldo DeSouteiro, com arranjos de Michel Freidenson, “Brazilian Match” conta com as presenças de alguns dos maiores músicos do mundo: David Sanborn (ganhador de seis prêmios Grammy), Randy Brecker (sete Grammys e mais vinte indicações), Mark Egan (Pat Metheny Group), Barry Finnerty (guitarrista de Miles Davis), John Tropea (guitarrista de Paul Simon e John Lennon), Mike Mainieri (Paul McCartney, Dire Straits), Danny Gottlieb (Al DiMeola), Eddie Daniels. Ada Rovatti e muitos outros.

Além deles, participam o lendário grupo vocal New York Voices e cantoras consagradas internacionalmente, como Lisa Ono, Clémentine, Alice Soyer, Ellen Johnson e Giana Viscardi.

O álbum, que marca a estréia de Millan no selo americano JSR (Jazz Station Records), de Los Angeles, que foi lançado mundialmente no dia 21 de abril de 2023.

“Brazilian Match” é o quinto disco-solo de Luiz Millan, que também já lançou um DVD, fez trilha para cinema, e compôs para vários artistas.

Seu trabalho renova a tradição da MPB através da inspiração de mestres como Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Ivan Lins e João Gilberto, mas com linguagem própria e uma beleza estética peculiar.

Seus parceiros mais frequentes são Jorge Pinheiro, Plinio Coutait e Moacyr Zwarg. Entre os músicos brasileiros convidados estão Edu Ribeiro (vencedor do Grammy como integrante do Trio Corrente), Chico Batera (que gravou com Ella Fitzgerald, Rita Lee, Cat Stevens, The Doors, e atualmente integra a banda de Chico Buarque), Sylvinho Mazzucca, Camilo Carrara, Teco Cardoso, Toninho Ferragutti, Chico Oliveira, François, Igor Willcox e Mauricio Zottarelli.

“Luiz Millan é um artista multi-dimensional, dono de uma expressiva obra rica em cores e nuances”, afirma o produtor do álbum, Arnaldo DeSouteiro, que trabalhou com João Gilberto, Tom Jobim, Luiz Bonfá, João Donato, Ithamara Koorax, Dom Um Romão, Marcos Valle, Pingarilho, Eumir Deodato e Mario Castro-Neves. “Fui mostrando as músicas de Millan para meus amigos em todo o planeta, e todos se encantaram com a beleza do trabalho, ficaram fascinados com as composições. Por isso, tudo soa tão orgânico e espontâneo. Eles quiseram participar pela admiração à obra de Millan”!

O projeto demorou um ano para ser concluído, de acordo com as agendas internacionais dos convidados, incluindo gravações nos EUA, Japão, França e Itália. Tudo com o objetivo de globalizar a música de Millan, mas sem perder a essência genuinamente brasileira, inclusive mantendo a maioria das faixas com letras em português.

Afinal, a fonte inspiradora de Luiz Millan vem sempre do Brasil, de suas terras, florestas e praias, como mostram os títulos e os motes das canções. A faixa de abertura, “Pacuíba”, onde o guitarrista John Tropea evoca Wes Montgomery, homenageia uma praia paradisíaca do litoral paulista.

Outro samba genial, “Morungaba”, nasceu em uma estância climática do interior de São Paulo. Aliás, a música aparece no disco em duas gravações, com arranjos diferentes: Lisa Ono, a mais famosa cantora japonesa, interpreta a cinematográfica letra em português, enquanto Clémentine, que tem mais de quatro milhões de discos vendidos, apresenta uma versão em francês feita por Marilia Millan.

“Andar Descalço”, primeira faixa do disco a tocar nas rádios americanas antes mesmo do lançamento oficial, é um sambão de alta voltagem calibrado por Millan em duo com a cantora paulista Giana Viscardi.

A música conta com incendiário solo de trompete a cargo de Randy Brecker, que gravou com Frank Sinatra, Quincy Jones e os brasileiros João Donato e Eumir Deodato no histórico disco “Donato/Deodato”.

Ellen Johnson, cantora que fez letras para Charles Mingus e Sonny Rollins, se encarregou de escrever os versos em inglês para “No Bosque de Jacarandás” (In the Grove of the Jacarandas”), onde brilham também David Sanborn (um dos mais icônicos e influentes saxofonistas da história da música) e o baixista Mark Egan.

Outro renomado letrista, Peter Eldridge, que trabalha há duas décadas com Ivan Lins, tornou-se parceiro de Luiz Millan e Jorge Pinheiro na comovente toada “Lua Cheia” (Full Moon).

A beleza da música se revela em duas gravações: uma com a letra original em português cantada por Millan e Pinheiro, com solo de Barry Finnerty (guitarrista de Miles Davis no lendário álbum “The Man With The Horn”), e outra com a versão em inglês, interpretada pelo grupo New York Voices.

Millan também nos proporciona grandes momentos nas faixas instrumentais. Na pungente balada “Madrugada”, o produtor Arnaldo DeSouteiro uniu o vibrafone de Mike Maineiri (famoso por seus trabalhos com Paul McCartney, George Benson, Dire Straits e à frente de sua própria banda Steps Ahead) ao clarinete infalível de Eddie Daniels e o contrabaixo com arco de Josh Marcum.

Por sua vez, “Quem Sabe”, um tema na onda do latin-jazz, conta com solos de Michel Freidenson e da saxofonista italiana Ada Rovatti. Impulsionada pela percussão caliente de Chico Batera, Rovatti parte para um ousado improviso que atualiza o estilo de fraseado de John Coltrane.

“Farrapos de Lua” surge em português (cantada por Millan e Giana Viscardi) e inglês, na voz de Alice Soyer, sob o nome de “Still Looking At The Moon”, com uma pegada pop e um groove hipnótico. Mas a história contada é a mesma: a triste realidade das crianças de rua no Brasil, que levou Millan a escrever uma de suas letras mais engajadas e impactantes.

Outros destaques são “Que Os Ventos Limpem Os Tempos” (com uma bela orquestração de Michel Freidenson), “Ecos da Juventude”, “Montparnasse”, “Sopro de Esperança” e “Século XXI”, esta última com participação de Humberto Clayber, integrante dos famosos trios Sambalanço e Sambrasa.

Disponível em todas as plataformas digitais de streaming, “Brazilian Match” está sendo lançado simultaneamente em formato físico de CD, com uma embalagem luxuosa e encarte de 40 páginas, contendo texto de apresentação escrito por Amilton Godoy (Zimbo Trio), fotos, ficha técnica detalhada e todas as letras.

O artista plástico Sergio Pinheiro Lima assina a pintura da capa. A MPB segue, com muita bossa e diversidade de ritmos, seu passeio pelo mundo. Afinal, como afirma o mestre Paulo Sergio Valle, “Luiz Millan é um dos nossos grandes artistas”! Deu match.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Luiz Millan para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 04.09.2024:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Luiz Millan: Nasci no dia 29/08/1955 em São Paulo, SP. Registrado como Luiz Roberto Millan.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Luiz Millan: Desde minhas primeiras lembranças, me recordo que eu adorava música. Eu tinha uma vitrolinha que era muito comum na época, uma malinha azul, onde eu ouvia música sem parar.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Luiz Millan: Estudei piano clássico dos quatro aos oito anos. No final da adolescência, estudei violão popular durante um curto espaço de tempo com Jorge Pinheiro que, em pouco tempo, se tornou meu parceiro.

Mas antes de estudar violão, aos treze, catorze anos, comecei a compor como autodidata, nunca estudei composição. Sempre compus de forma totalmente intuitiva. Pouco tempo depois, comecei também a escrever letras de música. Faço as duas coisas, até hoje.

Fora da área musical, estudei Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e me especializei em Psiquiatria, além de ter formação em Psicanálise pela Sociedade Brasileira de Psicanálise. Sou Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Luiz Millan: Não é difícil de enumerar: Tom Jobim, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Marcos e Paulo Sérgio Valle, João Donato, Chico Buarque, Ivan Lins, Milton Nascimento, Francis Hime, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo César Pinheiro… Nunca deixaram de ter importância, pelo contrário!

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Luiz Millan: Foi na USP, durante a faculdade. Gravamos um LP em 1980, chamado “Ponta de Rama”, que reunia vários compositores da universidade. Esse disco foi produzido por mim e por Jorge Pinheiro. Participamos com algumas músicas de nossa autoria.

Antes disso, participei de várias apresentações também na Faculdade de Medicina da USP e de um Show apresentado com o grupo “Retalhos”, em 1977, na Universidade Mackenzie. Ali estavam os meus parceiros Jorge Pinheiro e Plínio Cutait, além da cantora Consiglia Latorre, que viria a participar do meu primeiro álbum quase quatro décadas depois!

06) RM: Quantos CDs lançados?

Luiz Millan: Cinco CDs e um DVD.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Luiz Millan: Música brasileira com um toque de jazz e de música clássica.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Luiz Millan: Nunca, sempre cantei intuitivamente.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Luiz Millan: Não tenho nada contra, muito pelo contrário, mas acabei seguindo outro caminho e optei por cantar de forma totalmente espontânea. Tenho plena consciência que não sou um cantor, mas um compositor que canta, o que é algo muito diferente.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Luiz Millan: Elis Regina, Giana Viscardi, Lisa Ono, Anna Setton, Clémentine, Ellen Johnson, Alice Soyer, Diana Krall, Milton Nascimento, João Gilberto, Frank Sinatra, Tony Bennett, Chet Baker, Paul McCartney, entre outros.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Luiz Millan: Não tenho um método específico. Muitas vezes vem naturalmente uma melodia em minha mente. Gravo para não esquecer e depois vou encontrar a harmonia no piano ou violão. Outras vezes, faço o inverso, começo pela harmonia. Ocasionalmente, escrevo letras para melodias e melodias para letras. É uma forma de compor totalmente eclética…

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Luiz Millan: Sempre gostei de compor em parceria. Adoro trocar ideias e ir construindo uma música a quatro mãos. Outras vezes, componho sozinho. Meus principais parceiros são Jorge Pinheiro, Moacyr Zwarg, Plínio Cutait, Michel Freidenson e Ivan Miziara. Também tenho parcerias com Márcia Salomão, Iso Fischer, Mozart Terra, Maurício Detoni, Marília Millan, entre outros.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Luiz Millan: Sempre prezei por minha liberdade e autonomia para produzir a minha arte. A meu ver, não há benefício maior do que esse. Como consequência, tenho que assumir tarefas que extrapolam a criação como a produção e questões burocráticas. Tenho grande prazer na produção e um grande desprazer em relação a qualquer burocracia!

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Luiz Millan: Antes de tudo, me considero um compositor e, por isso, meus discos são autorais. A composição é algo visceral em mim, que faz parte da minha existência. Diante disso, nunca planejei minha carreira até o meu quinto álbum, quando conheci o produtor Arnaldo DeSouteiro. Até então, quando tinha o desejo de registrar minhas composições, conversava com o genial pianista e arranjador Michel Freidenson e, juntos, produzimos quatro CDs e um DVD.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Luiz Millan: Como eu disse acima, trabalhar com o produtor Arnaldo DeSouteiro foi um divisor de águas nesse aspecto. Graças ao jornalista e músico Moisés Santana, meu quarto CD chegou às mãos do Arnaldo DeSouteiro, produtor conhecido no mundo todo, que já trabalhou com Tom Jobim, João Gilberto, Eumir Deodato, João Donato, Luiz Bonfá, Diana Krall, entre dezenas de outros grandes artistas, além de ser o proprietário do selo norte-americano Jazz Station Records (JSR), com cerca de quinhentos álbuns lançados.

Arnaldo DeSouteiro adorou o disco e passamos a nos falar com frequência. Aí surgiu a ideia de ele produzir meu novo álbum. Arnaldo gostaria que fosse um trabalho que pudesse atingir o público brasileiro e estrangeiro e, para isso, sugeriu que tivesse a participação de músicos e intérpretes do Brasil e do exterior.

Eu nunca teria acesso aos músicos e intérpretes estrangeiros se não fosse pelo Arnaldo, que é muito querido e respeitado em todo meio musical e convidou nomes como David Sanborn (sax), Randy Brecker (trompete), Mark Egan (baixo), John Tropea (guitarra), Eddie Daniels (Clarinete), Mike Mainieri (vibrafone) e o grupo New York Voices, que somaram seus talentos aos dos maiores músicos do Brasil.

Michel Freidenson, mais uma vez, foi o responsável pelos arranjos e, nós três, nos reunimos grande número de vezes, por mais de seis meses, para elaborar o projeto do CD: as músicas, os músicos, onde seria gravado…

Com trinta e dois músicos participantes, o que há de melhor no Brasil e no exterior (ver release), essa foi a maior ação empreendedora que fiz em minha carreira. Nunca havia sonhado com nada parecido! Michel batizou o álbum de “Brazilian Match”, título que reflete com precisão o espírito desse trabalho.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Luiz Millan: Graças à internet, foi possível gravar as bases do “Brazilian Match” no Brasil e enviá-las para os EUA, para a França, Itália e o Japão, com as partituras e algumas orientações.

Os músicos e intérpretes enviaram esse material de volta para que o Michel pudesse fazer a mixagem. Diante disso, seria uma grande injustiça dizer que a internet prejudicou a minha carreira musical! Sem ela, esse álbum não existiria!

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Luiz Millan: Devido ao perfil acústico das minhas músicas, sempre gravamos em estúdio com pianos que tivessem uma boa sonoridade. Infelizmente, a maioria dos estúdios não tem mais pianos acústicos entre seus instrumentos!

Mas, apesar disso, o home estúdio do Michel Freidenson sempre foi muito útil! Ele costuma gravar todos os instrumentos de seus arranjos no teclado para que seja possível termos uma ideia do resultado antes de irmos para o estúdio. Dessa forma, chegamos ao estúdio mais preparados para as gravações.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Luiz Millan: Sim, é verdade. Em 1980, quando gravamos o “Ponta de Rama” foi um sufoco. Aquelas fitas caras, que não podiam ser utilizadas muitas vezes, poucos canais para muitos instrumentos, nada de corretor. E o pior: a censura para atrapalhar. Tivemos que apagar uma palavra de uma música que foi censurada! Hoje está tudo muito democratizado, o que acho ótimo.

O grande desafio é a divulgação. A música que faço não é pop, não é de ter milhões de ouvintes. Mas há um nicho muito especial que cultiva o jazz e a música brasileira. E é um público muito exigente. Não estou falando das plataformas de música, mas de rádios e sites especializados em jazz e de críticos dessa área.

Levando isso em conta, não é exagero afirmar que “Brazilian Match” foi e está sendo um estrondoso sucesso. Recebeu as melhores críticas das principais revistas e websites nos Estados Unidos (inclusive no All Music Guide), Europa e Japão. Várias de suas músicas são executadas nas principais rádios de jazz dos EUA, Canadá, Suíça e Austrália, entre outros países.

É muito gratificante ver minhas composições sendo tocadas ao lado de gravações de mestres como Miles Davis, Bill Evans, John Coltrane e Dave Brubeck. Uma das músicas, “In The Grove of The Jacarandas”, permaneceu em primeiro lugar no principal site especializado dos EUA, o All About Jazz.

Um importante programa espanhol dedicou, por duas vezes, 30 min de sua programação ao CD e outro, da Califórnia, entrevistou por uma hora o Arnaldo e apresentou diversas músicas do álbum. Esses são apenas alguns exemplos!

Outra boa notícia é que não é apenas uma música que está se destacando, mas praticamente todo o disco. Além disso também tem sido executado em rádios de músicas pop nos EUA, Japão, Holanda, Espanha, Austrália e muitos outros países. É uma emoção ouvir o disco tocando junto com gravações de artistas como Beatles, Jimi Hendrix, Bob Dylan e Coldplay.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Luiz Millan: A música brasileira abriga várias tendências e essa diversificação tem sido cada vez maior. Atualmente, poucos artistas têm trabalhado na vertente de música em que transito.

Não costumo ter um olhar crítico em relação ao trabalho de outros artistas. A arte é o espaço da liberdade, da liberdade de criação. Cabe ao público e aos críticos darem a sua opinião.

19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Luiz Millan: O mais inusitado, no bom sentido, foi o show de lançamento do meu terceiro álbum, o “Dois por Dois”. Era um teatro grande, a Sala São Luiz, no Espaço Promon, com um piano Steinway maravilhoso. A montagem do som e da luz atrasou e não foi possível passar o som nem tampouco testar a iluminação, pois o público já estava chegando.

Eu havia pedido para um jovem de 18 anos, o Thales Menezes, filho do engenheiro de som Adonias Jr., fazer uma filmagem para eu guardar de lembrança. Ele me perguntou quantas câmaras eu gostaria e, sem pensar muito, respondi: três. Ele convidou um amigo e sua namorada para auxiliá-lo. Foi uma noite mágica! A apresentação foi impecável, com Michel Freidenson ao piano, Teco Cardoso no sax e na flauta e a Anna Setton nas vozes. A filmagem ficou tão maravilhosa que se transformou em meu primeiro DVD, “Dois por Dois ao Vivo”!

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Luiz Millan: Não há momento mais gratificante do que compor, do que ouvir uma música de minha autoria interpretada por músicos e cantores maravilhosos, com os arranjos geniais do Michel Freidenson. O que mais posso querer?

Me entristece quando surgem críticas destrutivas, sem embasamento musical algum. Felizmente, isso é muito raro de acontecer comigo e eu, como psicanalista que sou, sei que faz parte da natureza humana. Não conheço nenhum artista que não tenha passado por isso…

21) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Luiz Millan: A meu ver não existe o dom musical, existem diferentes dons musicais: os instrumentistas, arranjadores, compositores, intérpretes, produtores, letristas, engenheiros de som, cada um com o seu talento e com a sua vocação.

Dificilmente é possível reunir todos esses dons em uma só pessoa. Se tivermos essa consciência, essa humildade, saberemos encontrar a própria vocação e pediremos ajuda para aqueles que tem o dom que não possuímos. Isso, sem dúvida, trará melhores resultados.

22) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Luiz Millan: É poder brincar, livremente, com a harmonia. É o encontro inusitado e amoroso de uma harmonia e de uma melodia. Um encontro único, mágico, que nunca mais irá se repetir.

23) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Luiz Millan: Caso seja algo estudado antes e aplicado depois, a meu ver, não é improvisação musical.

24) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Luiz Millan: Acho que respondi acima. Caso seja um método para esclarecer como se dá uma improvisação, o método será bem-vindo.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Luiz Millan: É possível estudar e evoluir no campo da harmonia, assim como no campo da orquestração. O que não é possível é ensinar alguém a fazer boas melodias, é algo muito pessoal e aí entra a vocação. Há instrumentistas e intérpretes que possuem um swing maravilhoso e outros não. Isso, também, não se aprende na escola.

26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Luiz Millan: Nunca paguei nenhum jabá e minhas músicas sempre foram executadas em rádios aqui no Brasil, mas de forma restrita, em rádios mais ligadas à cultura. Ainda em 1982, eu e o Jorge Pinheiro gravamos um programa de uma hora, com nossas músicas, que se chamava FM Inéditos, na Rádio Eldorado.

As Rádios Cultura e Universitária, daqui de São Paulo, tocam as minhas músicas, assim como algumas de outras regiões do país. Até onde eu sei, essa cultura do jabá é algo que não existe nos EUA e na Europa.

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Luiz Millan: Faça por amor e com amor. Não é uma carreira fácil. No meu caso, sempre exerci a Medicina e por isso, nunca dependi da música para minha subsistência. Mas acompanho de perto o dia a dia de meus amigos músicos e as dificuldades que enfrentam.

É muito difícil receber rendimentos satisfatórios das plataformas digitais. O músico, nos dias de hoje, precisa dar muitos shows, dar aulas e participar de muitas gravações para viver de música. É algo para poucos.

28) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Luiz Millan: Os festivais tiveram um papel muito importante na história da música brasileira. Neles foram revelados Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Edu Lobo e muitos outros. Hoje, quando acontecem, já não têm a mesma força.

29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Luiz Millan: Penso que poderia ser mais abrangente. A música brasileira que se aproxima da Bossa Nova, por exemplo, é às vezes considerada ultrapassada e tem pouco espaço na mídia. Não consigo entender como uma música que possui imensa riqueza melódica, rítmica e harmônica pode ser considerada ultrapassada. Não será nunca! Ouvimos Bossa Nova em qualquer lugar do mundo, menos aqui no Brasil.

Certa vez, viajei para o Rio de Janeiro, o berço da Bossa Nova, e perguntei ao concierge de um famoso hotel onde eu poderia assistir a uma apresentação desse gênero musical. Ele me olhou espantado e disse: “isso que você está pedindo é muito difícil!”

30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Luiz Millan: Acho ótimo! Lancei meu primeiro álbum com duas apresentações no SESC Pinheiros e fui muito bem recebido e assessorado.

31) RM: Quais os seus projetos futuros?

Luiz Millan: Um disco minimalista, instrumental, com arranjos de Michel Freidenson. Devemos gravar ainda este ano.

32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Luiz Millan: É sempre muito gratificante receber mensagens dos fãs. Quem quiser entrar em contato comigo, pode visitar meu website oficial www.luizmillan.com ou me contactar pelo Facebook e Instagram: https://www.instagram.com/luiz.millan

Canal: https://www.youtube.com/@mie191919

Luiz Millan “Brazilian Match” TEASER ABOUT THE ALBUM: https://www.youtube.com/watch?v=OY8mgB7lUD8

Luiz Millan – Entrevista concedida à Tania Morales, rádio CBN: https://www.youtube.com/watch?v=mo0sLaINAcM

Luiz Millan – DVD DOC ACHADOS E PERDIDOS LUIZ MILLAN: https://www.youtube.com/watch?v=T6YzVPqnI4A


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.