A pianista e compositora Paula Cardoso lança seu primeiro álbum, “A música que há em mim”, que reúne faixas instrumentais autorais inspiradas na natureza e no cotidiano. O material foi composto nos anos de 2021 e 2022, durante a pandemia de Covid-19, período em que a musicista morou no México.
Além do Piano de Paula, as faixas contam com o contrabaixo acústico de Alberto Luccas, que também assina a direção musical do trabalho, em que os músicos transitam por gêneros brasileiros como Bossa Nova, Samba, Ijexá, além de valsas e baladas, num clima que remete a standards da música internacional.
Paula tem, entre suas influências, compositores como Ivan Lins, Tom Jobim, Léa Freire e pianistas como Eliane Elias, Silvia Goes, Luiz Avelar e Keith Jarret.
Criatividade e originalidade A pianista e compositora ressalta a importância do trabalho com Alberto Luccas, conceituado baixista e seu colega de turma de Música Popular na Unicamp em 1998.
Com a experiência de ter gravado mais de 40 discos, Luccas é conhecido pelo trabalho com o Nenê Trio e Nelson Ayres Trio e também junto a nomes como João Donato, Victor Biglione, João Bosco, Dori Caymmi e Mônica Salmaso.
“Ao longo do processo, o Alberto Luccas teve sempre uma escuta atenta e, mais que acompanhar, entregou criatividade e originalidade, que são marcas registradas de seu trabalho, ao somar um baixo que conversa com as melodias e harmonias do piano em todas as faixas do álbum”, aponta Paula.
Compositora e pianista, Paula Cardoso se dedica a compor música instrumental brasileira e também canções, com parceiros letristas. É graduada em Música Popular pela Unicamp e também em Publicidade e Propaganda pela PUC, ambos os cursos concluídos em 2001.
Cursou MBA em Marketing e atuou em empresas nas áreas de marketing e comunicação institucional. Em 2017 fundou o Espaço Sete Criativo em Campinas, cujo propósito era promover o encontro entre o mundo corporativo e artístico, incentivando o diálogo entre a arte (em suas diferentes formas de expressão) e os treinamentos e eventos corporativos.
Com a mudança da família para o México em 2021 e com a pandemia, ela encerrou a empresa e passou a se dedicar integralmente à música. Retomou os estudos, redescobriu a música e a composição. Retornou ao Brasil em 2023 e atualmente toca no duo com o contrabaixista Alberto Luccas, com quem também tem desenvolvido trabalhos autorais.
Recentemente, Paula participou de um projeto de Clarice Assad, chamado Tapestry, em que Clarice fez uma chamada pública para compositoras mulheres do mundo todo para colaborarem com a criação de pequenos trechos, que seriam orquestrados e arranjados para um quinteto de cordas. Participaram desse mosaico mais de 40 compositoras e a peça foi executada no Mainly Mozart Festival de 2023.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Paula Cardoso para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 09.08.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Paula Cardoso: Nasci no dia 07/11/1979 no Rio de Janeiro – RJ, mas meus pais se mudaram para Campinas – SP quando eu tinha dois anos de idade. Registrada como Paula Cardoso Ferreira Franceschini.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Paula Cardoso: Meu primeiro contato com a música foi com um pianinho de brinquedo. Venho de uma família de não-músicos. Ninguém em casa toca ou canta. Mas me apaixonei pelo som do Piano uma vez que meus pais me levaram na loja de brinquedos no centro de Campinas – SP e disseram pra mim e para minha irmã que poderíamos escolher um brinquedo que quiséssemos, no dia das crianças. Eu tinha por volta dos meus cinco anos de idade. Escolhi o Piano e minha irmã uma minicozinha – ela é engenheira de alimentos e eu pianista!
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Paula Cardoso: Sou formada pelo Conservatório Musical Carlos Gomes de Campinas (1997) e também em Música Popular pela Unicamp (2001).
Também tenho graduação em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas (2001) e MBA em Marketing com ênfase em Serviços pela ESPM (2006).
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Paula Cardoso: Meus pais ouviam muito Ivan Lins, Tom Jobim, Marcos e Paulo Sérgio Valle, Elis Regina, Guilherme Arantes, Diana Ross, Donna Summer, Billy Paul, Marvin Gaye, Beatles, Freddy Cole, ABBA, The Carpenters, entre outros… e eu ouvia por tabela.
Acho que nenhum deixa de ter importância, mas a gente acaba escutando mais alguns sons que outros. Pra mim, Ivan Lins, Tom Jobim, Elis e depois Bobby McFerrin, Egberto Gismonti, Norah Jones, Keith Jarret e vários outros começaram a estar mais presentes na minha escuta.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Paula Cardoso: A carreira musical começou mesmo recentemente, na pandemia do Covid-19, quando morando no México, acabei me dedicando exclusivamente à música, ao piano, e me descobri compositora.
06) RM: Quantos CDs lançados? Cite os CDs que já participou como tecladista / pianista?
Paula Cardoso: Lancei o álbum “A música que há em mim”, de músicas autorais, em duo de Piano e Contrabaixo acústico com Alberto Luccas, gravado no início de dezembro/2023 e lançado em 18 março de 2024, uma produção independente. Músicas do álbum: Na mata, As ondas do mar, Mi corazón, Eu vou te levar, Vamos dançar, Minguante, Odoyá!, Suíte do Bosque, Dança das águas, Bonança, Balanço das árvores, Vem aí os tambores, Para além das estrelas.
Paula Cardoso – piano acústico. Alberto Luccas – contrabaixo acústico. Direção Musical: Alberto Luccas. Composições: Paula Cardoso (faixas 1 a 12) e Paula Cardoso e Alberto Luccas (faixa 7).
Gravação: BRC Studio São Paulo SP – 12/12/2023 por Bruno Cardozo. Mixagem e Masterização: Estúdio Síncopa Sound Specialist – Campinas-SP – 27/01/2024 e 09/02/2024 por Marcelo Cecchi. Projeto Gráfico, textos e imagens: Paula Cardoso. Texto-poema com só títulos das faixas e texto e texto 2 de Odoyá! De Alberto Luccas.
07) RM: Como é o seu processo de compor?
Paula Cardoso: O processo de criar é como andar de bicicleta. Precisa subir e começar a pedalar. Normalmente começo pela melodia. Ela é que guia a parte harmônica e rítmica.
Já compus direto no Piano, primeiro crio a melodia e depois harmonia. Já compus vindo tudo ao mesmo tempo. Mas na maioria das vezes eu componho cantando. Canto, gravo no celular e depois vou pro piano para tirar a melodia e trabalhar na harmonia.
08) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Paula Cardoso: Alberto Luccas, contrabaixista, é o principal parceiro de composição. Às vezes me envia melodias, inícios de composições para eu continuar. E também já aconteceu o contrário, (como em Odoyá! que está no disco e ele que terminou), ele compondo a segunda parte.
09) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Paula Cardoso: Prós: você tem total autonomia para direcionar sua produção artística. Você não corre o risco de ter alguém para sugerir ou direcionar o que seria “mais adequado” a um mercado / público e se sentir pressionado a fazer algo em que não gosta ou acredita.
Contras: você tem que ser empreendedor, estar disposto a exercer todos os papéis que uma empresa faria por você – ser seu produtor, correr atrás da negociação, da gravação, da prensagem, do projeto gráfico, da divulgação, enfim, de todo o processo.
10) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Paula Cardoso: Estou aprendendo, ou tentando! (risos). Muita coisa mudou no cenário artístico – musical com a pandemia do Covid-19 e com a relação com o digital. Pra mim também é um novo contexto, já que eu também mudei profissionalmente a minha área de atuação.
Antes da pandemia eu tinha uma empresa em que incentivava o diálogo entre a arte (nas variadas formas de expressão) e treinamentos corporativos através de vivências artísticas customizadas para diversas empresas. E antes disso, trabalhei em comunicação e marketing por alguns anos em empresas de grande e pequeno porte.
Hoje eu tento navegar com as ferramentas que estão disponíveis, mas com alguma cautela, para poder continuar a ser eu mesma e não sucumbir à ditadura dos algoritmos, numa imposição de comunicação em alta frequência e super exposição para gerar o dito “sucesso” nas redes.
E acho que a construção da carreira é passo a passo, aos poucos. Mas eu tento aprender o quanto posso com amigos músicos e com cursos. É importante exercitar esse planejamento – entender que nós músicos somos agentes e dirigentes de nosso próprio futuro – é como ter um novo negócio mesmo, com todos os seus desafios.
11) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Paula Cardoso: Estudar música, seu instrumento. Ouvir e pesquisar outros músicos, ouvir muita música. Nunca parar de aprender, fazer cursos, entender seu público, testar maneiras de se comunicar, medir e analisar sua comunicação, desenvolver seu material de comunicação (não só nas redes sociais). Buscar parceiros, pensar formas de atuação, desenvolver projetos, etc… São todas ações empreendedoras.
12) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Paula Cardoso: A internet ajuda muito no desenvolvimento da carreira porque dá acesso à muita informação que antes só tendo a experiência mesmo. Sobre os prejuízos, tem uma questão em específico que me incomoda muito que é a distribuição de música streaming sem a devida referência à ficha técnica – músicos que tocam, arranjadores, etc. que antes tínhamos acesso nos encartes e materiais gráficos que vinham com as mídias físicas e que hoje inexistem digitalmente.
13) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Paula Cardoso: O acesso à tecnologia em casa, no home estúdio, ajudou muito. Eu mesma pude tocar, testar arranjos com amigos, mesmo à distância, gravar de forma caseira em casa, fazendo pré-produções. Mas não abro mão da qualidade da gravação em estúdio e do conhecimento dos técnicos. É outro resultado.
14) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Paula Cardoso: Eu acho difícil pensar o fazer artístico como um produto porque não vejo assim. A arte vem antes. Quando faço música não faço para me diferenciar ou concorrer ou ser melhor que A ou B. Eu simplesmente faço música, a que eu sei fazer. Se vai ter público ou não, é uma consequência de divulgar e a minha arte ser ouvida por um público que possa se identificar com ela, que possa gostar.
Divulgar faz sim diferença porque você não deixa a sua arte engavetada. Você pelo menos tenta que ela chegue a mais pessoas. Talvez encontrar seu jeito genuíno de se comunicar e comunicar com frequência seja o que se deva fazer efetivamente para tentar se diferenciar. Eu ainda estou tentando!
15) RM: Como você analisa o cenário musical e instrumental brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Paula Cardoso: A riqueza musical brasileira é gigantesca. A gente não conhece o Brasil. É muito difícil responder a essa pergunta porque o conhecimento que eu tenho perto da diversidade de música das diferentes regiões do Brasil, é muito pouco, é de um eixo muito restrito, principalmente da região de São Paulo e de um recorte muito pequeno.
Dentro desse recorte tem músicos que admiro muito: Nelson Ayres, Silvia Goes, Teco Cardoso, Lea Freire, Benjamin Taubkin, Sizão Machado, Monica Salmaso, Hamilton de Holanda, Toninho Ferragutti, Renato Braz, Mestrinho, Lilian Carmona, Alberto Luccas, Hércules Gomes, André Mehmari, Guilherme Ribeiro, Felipe Silveira, Clarice Assad, João Paulo Amaral, Daniel Müller, Maurício Zotarelli, Rubinho Antunes, Ana Luiza, entre outros.
16) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Paula Cardoso: Uma vez prospectei um cliente para criação de um jingle. Comentei, feliz, com uma professora de publicidade. Compus o jingle, ia apresentar. E o cliente desmarcou inesperadamente. Depois soube que essa mesma professora tinha desenvolvido e realizado o trabalho.
17) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Paula Cardoso: O que me deixa mais feliz é me dedicar à música. Me realizo fazendo música. E o que me deixa mais triste é a dinâmica de mercado e consumo de música no Brasil, a falta de espaço nos grandes meios de comunicação para a música de qualidade que é feita aqui.
18) RM: Quais os estudos técnicos para independências das mãos?
Paula Cardoso: O estudo de obras clássicas, eruditas, é sempre muito bom.
19) RM: Quais os estudos técnicos para o desenvolvimento da técnica das “três mãos” mão esquerda fazendo a linha do Baixo, a mão direita fazendo acordes e melodia?
Paula Cardoso: Cada música que você resolve tocar acaba te requerendo um estudo de técnica. Essa distribuição que foi citada, você acaba fazendo em uma, duas e depois já vai aplicando nas demais músicas. Mas o estudo é entender como realizar a distribuição, os “voicings” e quais movimentos/ intenções, dedilhado, etc você consegue aplicar para que seja o mais natural possível e você chegue ao som que deseja. É isso que é o meu estudo de técnica.
20) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Paula Cardoso: Gostaria de acreditar que sim. Mas hoje, acho bem difícil porque infelizmente já se institucionalizou o jabá. Pelo que se sabe, fica muitas vezes mascarado em comissões de consultoria, taxas de promoção ou outros pagamentos que parecem legítimos, mas interfere no que seria uma curadoria isenta do programador da rádio ou escolha natural do público.
Além disso, no meu caso, em que estou lançando música instrumental, é ainda mais difícil – as canções (que possuem letra) são as que costumam ter preferência do público ouvinte das emissoras de rádio que têm maior abrangência.
21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Paula Cardoso: Faça o que você deseja, o que te preenche. Falo isso para meus filhos e falaria para eles, se quisessem ser músicos também, façam o que vocês amam!
Você fazer o que você ama já te alivia um tantão de ter que lidar com as dificuldades da sua área. E não se engane, todas as profissões têm suas dificuldades. Então, melhor estar naquela que você ama.
Você vai ter que lidar com muitas coisas na carreira musical, muitas além do saber tocar. Produção, comunicação, gestão, etc. É um verdadeiro empreendimento. Nós temos diversas habilidades e talentos. Eu mesma já estive em outras profissões. Mas sempre procurava o que me fazia falta, e era a música!
22) RM: Quais os Pianistas e Tecladistas que você admira?
Paula Cardoso: Admiro muitos! Silvia Goes, César Camargo Mariano, Amilton Godoy, Nelson Ayres, Wagner Tiso, Benjamim Taubkin, Eliane Elias, Tânia Maria, Keith Jarret, Chick Corea, Hércules Gomes, Gilson Peranzzetta, André Mehmari, Felipe Silveira, Guilherme Ribeiro…
23) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Paula Cardoso: J.S. Bach e Mozart são os meus preferidos.
24) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Paula Cardoso: Ivan Lins, Milton Nascimento, Cartola, Tom Jobim, Gilberto Gil, Dori Caymmi, Djavan, Caetano, Chico Buarque, João Bosco, Silvia Goes, Joyce Moreno, Lea Freire, Moacir Santos, Guilherme Arantes, Egberto Gismonti, João Nogueira, Lulu Santos, Rita Lee, Ed Motta, Jorge Aragão.
25) RM: Quais os compositores da Bossa Nova que você admira?
Paula Cardoso: Tom Jobim, Ivan Lins, Joyce Moreno, Carlos Lyra, Johnny Alf, Roberto Menescal, Toquinho, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, João Donato.
26) RM: Quais os compositores do Jazz que você admira?
Paula Cardoso: Bobby McFerrin, Keith Jarret, Bill Evans, Eddie Gomez, Carla Bley, Chick Corea, Pat Metheny, Norah Jones.
27) RM: Quais as principais diferenças entre as técnicas de Piano e Teclado?
Paula Cardoso: Eu iniciei meus estudos com teclado / órgão eletrônico. E depois fui para o piano. E posso dizer que são instrumentos diferentes. Até poderia dizer que quem toca Piano, toca Teclado. Mas o inverso não é verdadeiro, pois o peso das teclas do Piano é maior e requer treino, exercício, técnica.
Mas de verdade, aprofundando, acho que cada um instrumento precisa de sua dedicação. Um pianista pode até se aventurar no teclado, mas para ser um bom tecladista, tem que saber dos efeitos, sons, programas, etc que um Teclado dispõe.
Quem normalmente procura o Teclado, gosta de sons sintetizados, procura uma sonoridade diferente. E o tecladista dificilmente terá habilidade técnica para se virar bem num piano. Claro, há instrumentistas que tocam bem tanto o piano quanto o teclado, mas em algum momento se dedicaram às particularidades de cada instrumento.
28) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Pianista / Tecladista?
Paula Cardoso: Ter fluência na leitura, saber Harmonia, saber acompanhar e também ser solista, improvisar, ter a técnica para ser capaz de tocar o repertório que escolher. Coisas que qualquer instrumentista também faz. Muito mais do que ser um virtuose, pra mim um bom instrumentista é aquele que é capaz de se expressar ao tocar e através da sua música consegue emocionar, tocar o coração das pessoas.
29) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Piano / Teclado?
Paula Cardoso: Erro ou vício são conceitos complicados e são bem particulares para cada um. O que é “erro” para um, pode ser “estilo” para o outro. Se a pergunta for em relação à técnica, o que não se deve fazer mesmo é insistir em formas de tocar que possam trazer dor ou não sejam movimentos naturais. Um bom professor pode ajudar o aluno a entender como fazer isso.
30) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Paula Cardoso: Talvez o principal erro na metodologia de ensino de música seja não levar em consideração as diferenças entre os alunos. Colocar todo mundo numa mesma caixa não funciona em qualquer tipo de ensino, muito menos na música.
31) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Paula Cardoso: Acho que algumas pessoas tem uma facilidade e já acessaram habilidades mais facilmente que outras. O que eu acho é que qualquer um que queira pode tocar, cantar, compor e exige vontade e dedicação. Mas também sei que alguns demonstram mais facilidade e destreza que outros. Não sei se poderia chamar de dom.
32) RM: Qual a definição de Improvisação para você?
Paula Cardoso: Acho que a improvisação é uma composição em tempo real.
33) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Paula Cardoso: Sim, existe improvisação de fato. Mas ela será cada vez melhor, quanto mais você exercitar (entender harmonia, ter habilidade técnica para executar aquilo que lhe vem à mente, ter repertório que crie conexões e tragam novas ideias) e estar preparado para o improviso.
34) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Paula Cardoso: Eu entendo os métodos como guias… maneiras de você olhar para assuntos que pode vir a exercitar. Não acho que devam ser verdades absolutas. Entendo como ferramentas. E como qualquer ferramenta, vale mais o uso que você faz delas. Se você deixar que o método o prender de alguma forma, na sua expressão criativa, daí sim você não está fazendo bom uso.
35) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Paula Cardoso: Eu já estudei muita Harmonia. Desde os tempos do Conservatório e depois durante os 4 anos na Universidade. Tive excelentes professores de Harmonia como Gogô (Hilton Valente), Bebeto (Arno Von Buettner) e é algo muito importante para qualquer músico. Mas o estudo da harmonia que vi com a Silvia Goes foi o que me trouxe um sentido maior e um entendimento para a composição.
Só vejo prós no estudo de Harmonia – ao tocar (entender as aberturas, encadeamentos, tocar com outros instrumentistas, re-harmonizar etc), ao improvisar (você improvisa com base na harmonia) e ao compor (encontrar os acordes que traduzem as emoções que você deseja para uma melodia).
36) RM: Você toca outros instrumentos musicais?
Paula Cardoso: Estudei violão clássico durante uns 6 anos. Gosto dos instrumentos de percussão. Tive algumas aulas de pandeiro (que adoro) com um amigo baterista / percussionista na Faculdade. Participei de Escolas de Samba de Campinas – SP (Batuka Batucada Brasileira, A Ruidosa, Leões da Vila Padre Anchieta) tocando caixa / malacacheta. Mas meu instrumento mesmo é o Piano.
37) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentistas?
Paula Cardoso: Saber outros instrumentos te traz outros prontos de vista, pela ótica de cada instrumento e suas possibilidades, você entende outras sonoridades, amplia seu entendimento da música, se coloca em diferentes papéis. Mas você divide seu tempo de estudo e de dedicação entre os instrumentos. Cada escolha, uma renúncia.
38) RM: Cite as avaliações do seu álbum “A música que há em mim”.
Paula Cardoso: João Paulo Amaral (viola, violão e guitarra, compositor, arranjador, professor e produtor), comentou: “A música que há em mim’, é o primeiro álbum da pianista e compositora Paula Cardoso, e conta com a colaboração do experiente contrabaixista Alberto Luccas, ambos meus queridos amigos desde os tempos da Unicamp. O disco é muito gostoso de ouvir, como uma trilha sonora de uma
agradável caminhada, singela e natural, mas segura do caminho escolhido a cada passo, sem ansiedade de transbordar as rotas que as composições apontam. Vai respirando o ar fresco de bonitas melodias sobre paisagens coloridas, diferentes, mas, ao mesmo tempo, familiares, que caminham sobre harmonias sensíveis, formas e ritmos econômicos, adornados por belos improvisos e linhas do contrabaixo. Parabéns, Paula e Alberto, sucesso nessa bela caminhada!”.
Ana Luiza (cantora, compositora, poeta, mentora), comentou: “A música de Paula Cardoso é como ela: delicada e presente. Muito me orgulha ver este projeto florescer: do tempo de entender a importância das composições, passando por pensar formas e caminhos para os temas, até a hora de levá-los ao conhecimento do mundo, e nisso, ofertar-se em flor. A escolha de Alberto Luccas como parceiro é outro encanto do álbum. Um dos maiores músicos que eu já vi em ação, compreendeu e traduziu as delicadezas e presenças da música da Paula, e assim, piano e contrabaixo dançam bonito, entrelaçam seus movimentos, e com isso, encantam e perfumam a gente”.
Maurício Zotarelli (baterista, compositor e produtor), comentou: “Em ‘A Música Que Há em Mim’, Paula Cardoso nos brinda com uma coleção de belíssimas composições, que esbanjam bom gosto e lirismo, e executadas brilhantemente por Paula ao piano e Alberto Luccas no contrabaixo. A combinação funciona incrivelmente nas canções, e o ótimo entrosamento dos dois artistas engrandece ainda mais a nossa experiência e nossa viagem ouvindo este lindo trabalho. Parabéns amigos e obrigado pelo presente!”.
Daniel Müller (pianista, compositor e arranjador), comentou: “Na Mata’ abre o disco lindamente, ecoando a longa tradição de belas melodias brasileira. Ali, como em todo o álbum, a Paula Cardoso aceita o prolongamento dos sons, como acolheu também o longo processo de conquista de intimidade que o piano convoca de seus cultores, e a longa jornada que demanda a invenção de uma música que seja capaz de manifestar estados muito pessoais de emoção. Sem pressa, ela alcança, e divide conosco, seu lirismo contemplativo, leve e doce, num feliz encontro com a consistência, a liberdade e a elegância do contrabaixo de Alberto Luccas”.
39) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Paula Cardoso: (19) 99287 – 0337 | www.paulacardoso.art.br
Email: [email protected]
www.linktr.ee/paulacardoso.art
Instagram: https://www.instagram.com/paulacardoso.art
YouTube: https://www.youtube.com/@paulacardoso_art
As Ondas do Mar: https://www.youtube.com/watch?v=JyQmtnhbnMw
Minguante: https://www.youtube.com/watch?v=CLdJFrU8eNo
Playlist Música em Casa: https://www.youtube.com/watch?v=6y7ZpeBUpx0&list=PLFlZXxJsti7QQd1uoxdAaLpwKX6tJ1N6_
Playlist composições próprias / autoral: https://www.youtube.com/watch?v=JyQmtnhbnMw&list=PLFlZXxJsti7SCObIqFWqfOWjrvmBUlT_i
Entrevista muito boa! Vi o talento de uma artista que veio de uma família de não -músicos, influenciada (também) por Tom Jobim (uma excelente referência), que trilhou um belo caminho.