O violonista, cantor e compositor paulistano Silvio Santisteban iniciou seus estudos de violão aos 7 anos de idade em 1956, com o prof. Milton D’Agostino, depois estudou com o prof. José Fonseca e formou-se com Isaias Savio no curso Superior de Violão da Faculdade de Música Santa Marcelina, onde também se formou em Educação Musical e Artística.
Desde cedo, apresentou-se em diversos programas infantis até ser contratado pela TV Record canal 7, para participar de programas como “O Fino da Bossa”. Nesta ocasião conheceu Mário Albanese e Ciro Pereira, quando teve a oportunidade de conhecer o Jequibau, ritmo que gravou e divulgou nos Estados Unidos, apresentou-se em Los Angeles e Las Vegas, aos 16 anos de idade. Na época, formou dupla com o violonista Macumbinha e é até hoje um divulgador juntamente com o violonista Bonfim.
Gravou três álbuns, que inclui, além de Jequibau, outras composições da dupla Mário Albanese e Ciro Pereira. Desenvolveu também um trabalho didático, criando a própria Escola de Violão e também através da gravação de vídeos. Foi professor do Curso Superior de Violão, da Faculdade de Música Santa Marcelina.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Silvio Santisteban para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 05.07.2024:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Silvio Santisteban: Nasci dia 05 de julho de 1949 em São Paulo – SP.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Silvio Santisteban: Foi através de meu pai, que tocava violão e também cantava.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Silvio Santisteban: Fiz o curso Superior de Educação Musical, Curso Superior de Violão e Filosofia, na PUC.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Silvio Santisteban: No passado, ouvia vários estilos musicais, vários solistas de violão, orquestras, cantores, corais, com músicas antigas, que muito me influenciaram. Todas têm a sua importância, embora penso que deve haver beleza na linha melódica. Harmonia bem.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Silvio Santisteban: Minha primeira apresentação musical, foi fazer um solo de Violão, aos 7 anos de idade (1956) no programa infantil “Tarde Infantil Pin-Pong”, apresentado por Randal Juliano. Profissionalmente comecei aos 16 anos de idade, contratado pela TV Record, no programa com Elis Regina “O Fino da Bossa”, “Bossaudade”, com Elizeth Cardoso “Show do dia 7”, Programa com Wilson Simonal, Agnaldo Rayol, entre outros.
06) RM: Quantos CDs lançados? Cite os álbuns que atuou como guitarrista/violonista?
Silvio Santisteban: Entre LPs e CDs foram uns 5 ou 6. Participei do CD sobre a vida do violonista Garoto (que acompanhava o livro escrito por Mário Albanese).
Musiquei as letras do “Pequeno Concerto Para Gente Grande” (escrita por Reinaldo de Morais). Participei juntamente com o violonista Macumbinha do LP “Violão em Preto e Branco”. Participei também do LP lançado pela Bandeirantes, com diversos violonistas. Fiz apresentações com a minha sobrinha (a cantora Paula Santisteban). Gravei com a cantora Mônica Belli acompanhando as músicas: Nunca de Lupicínio Rodrigues e Anjo Azul de Nilson Evangelista.
Cantando gravei Fim de Semana em Guarujá de Mário Albanese e Ciro Pereira e Ensinando o Jequibau de minha autoria em dueto com a cantora Mônica Belli. Produzi junto com Nilson Evangelista, o documentário “Violões do Bexiga”.
07) RM: Como você define o seu estilo musical?
Silvio Santisteban: Procuro elaborar os meus próprios arranjos musicais para o violão, embora, também tenha gravado e tocado peças de grandes compositores. Mas o meu forte é realizar arranjos de músicas que não foram escritas para o violão.
08) RM: Como é o seu processo de compor?
Silvio Santisteban: Compus algumas melodias para solo e outras para cantar também. O momento da composição surge quase que automaticamente, motivado por uma ideia melódica e eventualmente associada a um conteúdo poético.
09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Silvio Santisteban: Sempre fiz música sozinho.
10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Silvio Santisteban: Há várias dificuldades, como em diversas profissões, mas penso que nós, músicos, somos guiados pela força interior que a música proporciona na gente. É um impulso forte, motivador que nos guia.
11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Silvio Santisteban: Direcionei também a minha carreira como professor, abrindo a “Escola Santisteban de Violão”. Também, há anos atrás abri juntamente com Nilson Evangelista, uma produtora de vídeo, quando produzimos o vídeo “Violões do Bixiga”, com participação de diversos violonistas e professores de violão. A Escola de Violão começou em São Caetano do Sul, depois Santo André, São Bernardo do Campo e bairros de São Paulo.
12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Silvio Santisteban: Tenho gravado pela Nilson Evangelista Cinematográfica vídeos solando os meus arranjos, embora já fechei as Escolas de Música, mantenho interesse em mostrar os meus arranjos, para alunos e violonistas que estão interessados, pois alguns desses arranjos foram editados pela Editora “Legato”, que foi uma criação de Ivan Paschoito, direcionada para partituras exclusivas de solos de violão.
13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?
Silvio Santisteban: Como professor, considero a Internet extremamente útil, pois quando tinha que tirar músicas de acompanhamento para alunos, precisava gravar música por música, procura-las e hoje estão todas na Internet. Em relação a violonistas, quando eu comecei a estudar difícil era de se OUVIR um violonista… hoje você OUVE e VÊ!
14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)? No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Silvio Santisteban: Não posso me preocupar com isso. Claro que fazer uma gravação hoje ficou bem mais cômodo, mas o importante é continuar buscando os arranjos, gravando e sabemos que existe público que aprecia.
15) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Silvio Santisteban: Considero nomes como: Garoto, Tom Jobim, Ciro Pereira, Mário Albanese, Roberto Menescal, Edu Lobo, Carlos Lyra e outros nomes (são tantos). Esses artistas não regrediram, pois o caminho deles sempre foi manter uma linha de composição autêntica, própria. Revelações foram: Paulinho Nogueira, Yamandu Costa, Mário Albanese, entre outros.
16) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Silvio Santisteban: Foi aos 17 anos de idade (em 1966), que em uma apresentação violinística, em homenagem a Isaias Savio, entrei no palco, sem “aquecer a mão”. Como cheguei atrasado, tirei o violão do estojo e fui tocar. A outra foi quando apresentei a Dança Ritual do Fogo (M. de Falla).
17) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Silvio Santisteban: Mais feliz é estar participando da carreira musical. O que me entristece é ver pessoas destituídas de condições artísticas serem “fabricadas” para fazer sucesso.
18) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Silvio Santisteban: Pelo que se sabe, pagando esse “jabá” as músicas são tocadas…
19) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Silvio Santisteban: Digo para quem quer seguir a carreira musical que procure se dedicar bastante à sua carreira, pois assim, as coisas vão acontecendo mais naturalmente.
20) RM: Quais os violonistas que você admira?
Silvio Santisteban: Paulinho Nogueira, Dilermando Reis, Bonfim, Paulo Barreiros, entre outros.
21) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?
Silvio Santisteban: Bach, Beethoven, Joaquim Rodrigo, Heitor Villa-Lobos.
22) RM: Quais os compositores populares que você admira?
Silvio Santisteban: Mário Albanese, Ciro Pereira, Jobim, Guilherme Arantes, Adoniran Barboza, entre outros.
23) RM: Quais os compositores da Bossa Nova que você admira?
Silvio Santisteban: Tom Jobim, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Toquinho, entre outros.
24) RM: Apresente sua metodologia de ensino do Violão e seus métodos.
Silvio Santisteban: Procuro focalizar a técnica correta, a leitura de partituras, o conhecimento dos acordes, o desenvolvimento do ouvido harmônico, o repertório clássico e popular.
25) RM: Quais as diferenças técnicas entre o Violão Erudito e Popular?
Silvio Santisteban: Há detalhes sobre a técnica, que diferenciam o Violão Erudito do Popular. O Violão Erudito tem som claro, limpo, a interpretação segura e com consciência do conteúdo que está sendo executado.
26) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Violonista?
Silvio Santisteban: Há diferenças sutis, entre as técnicas de execução, mas seja qual for a escolhida, é necessário estudar, estudar muito!
27) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Silvio Santisteban: Penso que o principal erro na metodologia do ensino da música é ensinar a teoria musical antes da prática no instrumento.
28) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Silvio Santisteban: Sim. Há pessoas que nascem com mais facilidade para determinados elementos da música. É o dom musical.
29) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Silvio Santisteban: Você toca uma música e depois, sobre a harmonia dessa música vai improvisando frases melódicas que vão sendo criadas de acordo com a sequência harmônica.
30) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Silvio Santisteban: Na minha maneira de sentir, o improviso não pode ser exagerado, embora demonstre a criatividade do músico, porém, sou do estilo de Tom Jobim, ou seja, improvisos que não se distanciam da melodia, a ponto do ouvinte não fazer a pergunta: “que música ele está tocando, mesmo?”
31) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Silvio Santisteban: Isso depende muito da intuição musical do músico. Mas a maioria estuda os acordes, as frases musicais coerentes com aqueles acordes.
32) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Silvio Santisteban: Estudar harmonia musical é muito útil e dá ao músico a consciência do que significa cada acorde, quando pode ser substituído, mantido em combinação com outros. Abre-se uma maior percepção daquilo que se está ouvindo.
33) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentista?
Silvio Santisteban: Admiro músicos multi-instrumentistas. Eles passam a ter uma noção maior de cada instrumento e aquilo que pode ser combinado entre esses instrumentos. Garoto tocava violão, cavaquinho, bandolim e de acordo com Mário Albanese, dedilhava o piano também.
34) RM: Quais os seus projetos futuros?
Silvio Santisteban: Buscar novos arranjos e gravá-los para a Internet.
35) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Silvio Santisteban: Tudo sobre mim procure através do Nilson Evangelista: [email protected]
Canal: https://www.youtube.com/@silviosantisteban4987
Paulinho Nogueira, Silvio Santisteban e Yamandu Costa na TV Cultura, no ano 2000: https://www.youtube.com/watch?v=_qsS6qJdWNE
VENERAÇÃO – SILVIO SANTISTEBAN: https://www.youtube.com/watch?v=uLb1UuTA6bQ
Bourreé II em Samba da Suite Inglesa 2 – BACH – SILVIO SANTISTEBAN: https://www.youtube.com/watch?v=JSqgdGnu2hE
ENSINANDO O JEQUIBAU: https://www.youtube.com/watch?v=MA4Sd3de7GY
VIOLÕES DO BIXIGA – Documentário Sobre o Violão Brasileiro: https://www.youtube.com/watch?v=_tBX-DrX_no
Para a Revista Rítmo Melodia.
Caro Antonio Carlos.
Agradeço-lhe pela divulgação de minha entrevista para sua revista.
Fiquei lisongeado pela escolha e lembrança de meu nome como violonista concertista e professor da pequena orquestra de seis cordas, como carinhosamente defino o instrumento que toco desde os sete anos de idade.
Agradeço também pela força e divulgação da música instrumental brasileira, tão esquecida pela mídia atualmente.
Aceite meu abraço cordial.
SILVIO SANTISTEBAN
Violonista
Que beleza de entrevista!