More Marcos Bassul »"/>More Marcos Bassul »" /> Marcos Bassul - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Marcos Bassul

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O compositor, violonista e intérprete carioca Marcos Bassul, começou a fazer shows por Minas Gerais durante a década de noventa, apresentando-se em casas noturnas com um repertório de Música Popular Brasileira, no qual inseria suas músicas, enquanto compunha jingles e peças institucionais.

A partir de 1992, em Brasília – DF, compôs e produziu trilhas para teatro enquanto continuava no circuito de casas noturnas e estudava Licenciatura em Música na Universidade de Brasília.

Licenciou-se em Música no ano de 2000, pela Universidade de Brasília e durante 18 anos foi professor da Escola de Música de Brasília, onde lecionou teoria musical e desenvolveu projetos pedagógicos na área do ensino musical e apresentou vários recitais didáticos na área da Música Popular. Durante 3 anos cantou com a Big Band “Superband” da Escola de Música de Brasília, onde se aposentou em 2019.

Lançou em 2005 seu primeiro álbum – Portfólio – com composições de sua autoria e com parceiros diversos que conheceu pelos caminhos onde andou, como Renato Matos, Nivaldo Ramos, Heraldo Palmeira, Cláudio Faria e Marcos Santana.

Portfólio é, segundo o jornalista e parceiro Heraldo Palmeira, um álbum “pau-de-sebo”, ou seja, um álbum com músicas gravadas em épocas diferentes. E é assim que é.

Há músicas gravadas em 1990, em Belo Horizonte – MG, 1996, 2000, 2004, em Brasília, todas remasterizadas para se juntarem, com mesma qualidade técnica, num repertório de estilos variados como blues, funk, rock, reggae, samba e balada.

Gravou em 2012 o álbum – Acústico ma non troppo – também autoral, recheado com os melhores músicos de Brasília, como Oswaldo Amorim (que também fez a Direção Musical), José Cabrera, Paulo André, Leander Motta, Moisés Alves e muitos outras feras. Um álbum que dá destaque à capacidade técnica e criatividade do músico instrumentista.

Em 2013 produziu e dirigiu seu primeiro clipe – Blues Band – todo filmado em Brasília, lançado em fevereiro de 2014, e que pode ser assistido em http://www.youtube.com/watch?v=VZu5JEYApoM .

Tem canções gravadas por Juliana de Aquino e Sônia Andrade, também parceira em algumas canções.

Lançou em 2023 o single Sambinha bom à Bessa, em homenagem à Praia do Bessa, em João Pessoa, cidade onde, desde 2019, passa boa parte do ano, dividindo com Brasília, onde mantém profundas e fortes raízes, o ambiente de inspiração para novas canções e estudos musicais.

O trabalho musical de Marcos Bassul pode ser acessado em todas as plataformas digitais ou através da página oficial do autor: www.marcosbassul.com.br  ou pelo link www.linktr.ee/marcosbassul .

Segue abaixo entrevista exclusiva com Marcos Bassul para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 22.11.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Marcos Bassul: Nasci no dia 28 de janeiro de 1959, em Niterói (RJ). Registrado como Marcos de Oliveira Bassul.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Marcos Bassul: Não cresci em um ambiente musical. Meus pais (Wilson Bassul e Maria Apparecida de Oliveira Bassul) não eram ouvintes de música, o que me deixava como alternativa de audição musical aquelas poucas canções que rolavam no rádio de pilha de minha mãe, canções que ouvia enquanto fazia nosso almoço. Aparelho de som, nem pensar.

Aos nove anos de idade, morando em Juiz de Fora – MG, ganhei um pequeno “cavaquinho” de brinquedo, daqueles de plástico, preto, com cordas de pescador. Para mim foi um deslumbre.

A inspiração vinha de uma vizinha, bem mais velha, pela qual eu nutria um certo fascínio, e que era fã de Roberto Carlos. Daí, eu “solava” as melodias do “Rei” na varanda, especialmente pra ela, na vã esperança de chamar sua atenção.

Esse idílio platônico se desenrolou até o dia em que um amigo meu, de proporções físicas avantajadas, veio à minha casa e descuidadamente sentou-se em cima do instrumento, que se encontrava no sofá. A visão do companheiro partido em dois foi a última que tive de um instrumento tão próximo de minhas mãos por muitos anos.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Marcos Bassul: Em 1979 morando em Brasília – DF, tive um vizinho que tocava bastante amadoristicamente um violão verde, com um mosaico de estrela preto de várias pontas.

Eu achava lindo e um dia, depois de trabalhar uns meses em uma banca de jornais, consegui juntar uns trocados e comprei o violão verde. Foi a glória. Arranjei alguns professores medíocres, dos quais me livrava rapidamente, até que resolvi tocar sozinho. E fazia isso comprando revistinhas de violão que achava nas bancas.

Algum tempo depois, com um emprego melhor, mais experiência e um bom violão na mão, tive contato com professores qualificados, quando comecei a aprender alguns rudimentos de música e a compor algumas ingênuas, mas engajadas canções.

Com a descoberta do violão, descobri a MPB, a Bossa Nova, e a Tropicália. Então se iniciou um porre de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e uma infinidade de “novidades”, que surgiam para meu delírio. Mas ainda não era Músico, era bancário e estudante de Psicologia.

Em 1981 mudei-me para Natal (RN), em busca de outros ares, e lá comecei, bem amadoristicamente, a fazer algumas apresentações em bares.

O contato com a música nordestina foi dos mais agradáveis e didáticos e a inauguração da Escola de Música do Milton Nascimento, em Belo Horizonte, foi o “gancho” que faltava para uma decisão: ser Músico.

Em 1983 de malas feitas, rumo a Belo Horizonte – MG, fui estudar Música. Abandonei o curso de Psicologia que havia começado há uns anos na UnB – Universidade de Brasília. Fiquei pouco tempo na escola e continuei meus estudos de forma autodidata.

Em 1984, no Teatro Municipal de Ouro Preto – MG, estreando, apresentei o show “Coisas da Vida”, somente com músicas de minha autoria. De lá para cá, muita água rolou e muitas apresentações aconteceram em Minas e posteriormente em Brasília – DF.

Fiz aulas de técnica vocal e violão com alguns professores particulares, estudei um tempo em Belo Horizonte – MG na Fundação Clóvis Salgado, violão e teoria musical.

Em 1992 voltei para Brasília e, alguns anos depois voltei para a UnB – Universidade de Brasília, dessa vez para me licenciar em Música. Diminuí o trabalho em bares, naquela vibe de “toca aquela” e passei a me concentrar na música que faço e na música que gosto.

Em 2000 me tornei professor concursado do GDF e lecionei Teoria Musical em várias áreas, durante dezoito anos, na Escola de Música de Brasília, por onde passaram e ainda passam grandes cabeças musicais.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Marcos Bassul: Aos dez anos ganhei de minha madrinha um tocas discos de plástico, daqueles que o auto falante ficava na tampa, e dois discos de vinil: Roberto Carlos e The Fevers e essa foi minha praia durante bom tempo, afinal, eu não tinha muito acesso à música em geral.

Com o violão eu comecei a tomar contato com a chamada MPB, numa época em que a Bossa Nova era o desafio dos violonistas, com seus acordes dissonantes e cheios de inversões. Assim, me envolvi com a música de Tom Jobim, Johnny Alf, João Gilberto, Elis Regina (Uau!) e toda uma geração de músicos brasileiros que vinham ao meu encontro.

Fora do instrumento, gostava muito de Rock. Escutava muito o pop dos Beatles e o sinfônico do Zeppelin. Dancei muito Bee Gees, me apaixonei pela música do Yes, curti muito Supertramp, Queen e várias bandas que traziam muita energia na Música.

Descobri os brasileiros fora da Bossa Nova, como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Toninho Horta, convivi muito com a música do Clube da Esquina durante oito anos em que morei em Belo Horizonte – MG.

Encontrei no meio desse caminho a música de Noel Rosa, o samba de Paulinho da Viola e como ápice cheguei a Chico Buarque de Holanda, que considere o maior compositor do cancioneiro brasileiro e, confesso, depois de Chico não encontro muita coisa mais na chamada MPB que me chame tanto a atenção.

São muitas as influências e o tempo, a pluralidade e a memória enfraquecida não me permitem listar todas, mas o certo é que todas tiveram sua importância e, de uma forma ou de outra, largaram pistas subconscientes em minhas criações musicais.

Em geral, quanto mais criamos, menos escutamos, pois, queremos sempre criar mais e as influências, creio eu, vão diminuindo conforme aumenta a produção, pelo menos comigo é assim. Hoje escuto muito menos do que toco.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Marcos Bassul: Penso que esse foi um momento que levou tempo pra acontecer porque desde que você experimente a primeira composição e segue compondo já está no caminho.

Mas a opção de trabalhar com Música se deu quando morava em Belo Horizonte – MG (1983 a 1992) e ainda trabalhava em um banco. O tempo em que estudei na Fundação Clóvis Salgado foi marcante para minha decisão pois lá, através de um projeto da Professora, Maestrina e hoje grande amiga Claudia Cimbleris, o Antes Arte do Que Tarde, projeto que unia em apresentações periódicas na sala Ceschiatti do Palácio das Artes estudantes de instrumentos de orquestra com alunos de música popular, muitas canções minhas foram arranjadas e apresentadas nesses shows.

Isso propiciava aos alunos um “upgrade” em seus processos de autoestima e criação musical. E comigo não foi diferente. Pedi demissão do banco onde trabalhava e fui “viver” de Música. Mas, não era tão fácil assim.

Alguns anos depois descobri que precisava sobreviver e como compositor no Brasil não é uma tarefa fácil. Então tomei a decisão de voltar para a UnB – Universidade de Brasília, me formar e trabalhar com Música com a cabeça mais tranquila e o aluguel pago.

Foi quando fui dar aulas na Escola de Música de Brasília e por lá fiquei até me aposentar, e foi lá que minha música cresceu, foi lá que conheci muitos músicos e foi lá que aprendi mais do que ensinei.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Marcos Bassul: Em 2004 gravei e lancei em 2005 meu primeiro álbum – Portfóliocom músicas de minha autoria e com parceiros que também são meus amigos como Renato Matos, Nivaldo Ramos, Heraldo Palmeira, Cláudio Faria e Marcos Santana, e procuro divulgá-lo da maneira que posso.

Portfólio é, segundo o jornalista e parceiro Heraldo Palmeira, um álbum “Pau-de-sebo”, ou seja, um álbum com músicas gravadas em épocas diferentes. E é assim que é.

Há músicas gravadas em 1990, em Belo Horizonte – MG, 1996, 2000, 2004, em Brasília – DF, todas remasterizadas para se juntarem, com mesma qualidade técnica, num repertório de estilos variados como blues, funk, rock, reggae, samba e balada.

Gravei em 2012 o álbum – Acústico ma non troppo – também autoral, recheado com os melhores músicos de Brasília – DF, como Oswaldo Amorim (que também fez a Direção Musical), José Cabrera, Paulo André, Leander Motta, Moisés Alves e muitos outros “feras”. Um álbum que dá destaque à capacidade técnica e criatividade do músico instrumentista.

como Renato Matos, Nivaldo Ramos, Heraldo Palmeira, Cláudio Faria e Marcos Santana.

Em 2013 produzi e dirigi meu primeiro clipe – Blues Band – todo filmado em Brasília, lançado em fevereiro de 2014, e que pode ser assistido em http://www.youtube.com/watch?v=VZu5JEYApoM.

Tenho canções gravadas por Juliana de Aquino e Sônia Andrade, também parceira em algumas.

Lancei em 2023 o single Sambinha bom à Bessa, em homenagem à Praia do Bessa, em João Pessoa – PB, cidade que desde 2019, passo boa parte do ano, dividindo com Brasília – DF, onde mantenho profundas e fortes raízes, o ambiente de inspiração para novas canções e estudos musicais.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Marcos Bassul: Eclético. Componho em vários estilos populares.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Marcos Bassul: Sim, com vários professores, em Belo Horizonte – MG e Brasília – DF.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Marcos Bassul: Penso que a voz é a marca do cantor, ornamentada pela sua interpretação. Há pessoas que cantam muito e nunca estudaram técnica vocal; um bom exemplo é a Nina Ximenes, que nos deu aqui uma belíssima entrevista há alguns dias. Outros, como eu, vão estudar muito tempo e não vão nunca cantar como a Nina Ximenes.

Já os cuidados são sempre importantes não só para cantores, mas professores, oradores e quem quer que use sua voz por muito tempo, afinal a máquina corporal tem desgastes e sofre em certos contextos. Sempre útil cuidar do que é nosso. Então, acho o estudo da técnica vocal importante, mas não essencial.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Marcos Bassul: Admiro as vozes e as interpretações de Chet Baker, Sarah Vaughan, Elis Regina (uau!), Esperanza Spalding, João Gilberto, Fred Mercury, Zizi Possi, Joss Stone e muitos que, com certeza, não vou lembrar agora.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Marcos Bassul: Normalmente componho sozinho, a partir de alguma ideia que pode vir em qualquer lugar, em qualquer momento e, se tiver como registrar, eu volto a ela e dou sequência.

Algumas canções levam tempo para chegar ao ponto que me agradam e ficam guardadas até que, de repente, a ideia vem e a música se completa. Também faço letras para melodias de outros compositores e faço melodias para letras de outros letristas.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Marcos Bassul: Minha maior produção em parceria foi com Claudio Faria que, há poucos anos nos deixou precocemente, e com quem tenho canções nos dois álbuns e muitas ainda inéditas que venho trabalhando para “pôr na roda”.

Também tenho uma produção razoável com Marcos Santana com músicas nos dois álbuns e algumas também inéditas e que também nos deixou precocemente há uns anos.

Tenho canções com Heraldo Palmeira, Renato Matos, Sônia Andrade, Oswaldo Amorim, Sérgio Vianna.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Marcos Bassul: Sou um eterno defensor da “independência pessoal” na vida toda. Aprendi desde cedo a cuidar de mim e tentar sempre ter o máximo controle sobre minha vida e, é claro, sobre a minha Música também.

É muito bom poder escolher o que compor, o que cantar e o que gravar e esse é o ponto mais positivo. Por outro lado, não ser independente geralmente não é uma escolha do músico, mas de quem o contrata e que, geralmente, detém o controle sobre carreira, repertório, performance etc.

Em relação a gravações, não é fácil chegar a uma gravadora que se interesse em investir na divulgação do trabalho. É preciso mais do que uma boa música para isso.

Hoje, com a explosão da música digital e dos processos cada vez mais rápidos de tráfego de músicas, como temos visto no trabalho do Uma Terra Só, por exemplo, a divulgação da música independente ganha fôlego e pode fazer a diferença.

Observamos a quantidade de boas músicas e bons músicos, que poucos sabem quem são e que não ocupam as mídias pagas, não tocam nas rádios privadas, não tocam nas novelas, mas estão aí, em profusão, escondidos em pequenos estúdios caseiros, produzindo sua música para se espalhar nas webs rádios e plataformas de streaming.

O acesso cada vez mais fácil às tecnologias de produção musical, que a cada dia se desenvolve trazendo novas possibilidades, é um fator de facilitação na produção independente.

O músico não necessita mais de uma gravadora para gravar sua música, mas divulgá-la se torna o grande trabalho e acho que hoje o músico independente precisa aprender a fazer isso. Há muitos meios a disposição.

No caso, por exemplo, do chamado “músico de bar”, essa independência é fraca pois se não tocar o que o público quer, não tem emprego.

Mas, e pelo menos comigo foi assim, o bar foi uma das melhores escolas que tive em termos de performance e relação com o público. É uma troca, no final das contas. O músico passa uns perrengues, mas aprende muito também.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Marcos Bassul: Como compositor enxergo um público muito seletivo já que, apesar de compor em vários estilos, tenho muito cuidado com o que escolho como tema para escrever minhas letras. Não faço músicas “populares”, no sentido de grandes públicos.

Então, não corro atrás de me tornar um “astro” e nem tenho tempo hábil para isso. Como sempre tive outro trabalho em paralelo com a música, trabalho que me sustentava e me permitia tocar o que e quando queria, ficava muito restrito à cidade onde morava e da qual não podia me ausentar muito.

Também, pelos motivos que relatei acima, o mercado musical para o compositor não me atraía muito, a visão da mercantilização da música, do jabá, da banalização temática – não importa o que se cante desde que dê pra dançar e seja fácil de cantar junto – não me atraía muito e achava que valia mais a pena criar um nicho que desse sentido a minha música do que tentar vencer tantas barreiras que, se vencidas, poderiam acorrentar minha música.

Mas, tudo na vida tem suas inflexões e o momento atual com suas tecnologias de produção e tráfegos velozes de mídias, como comentei acima, também me abriu outras perspectivas que, associadas ao boom das webs rádios e plataformas de streaming, permitiram ao músico criar estratégias de divulgação de forma “independente”.

Associe-se o fato de que, um ano antes da pandemia, me aposentei e passei a ter todo o tempo e espaço livres para a minha música, tudo ganhou outra dimensão.

Hoje eu posso dizer que tenho como estratégia aproveitar o que aprendi em relação à produção, em home studio, principalmente durante a pandemia, quando fiquei isolado, e o que encontrei no caminho da web para divulgar ao máximo as canções que já gravei e as muitas e muitas ainda inéditas sobre as quais tenho trabalhado para divulgar, aproveitar cada vez mais as possibilidades digitais que hoje estão à disposição.

Depois de tanto tempo isolado, volto a fazer shows em setembro e espero poder ocupar com efetividade esse espaço tão importante para o músico: o palco. Mas, cantando e tocando a minha música ou a que escolho para cantar.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Marcos Bassul: Estudo. Pesquiso meios. Analiso onde eu posso me colocar. Não faço planos mirabolantes e nem tenho a pretensão de fama ou coisa do tipo. A web me permite disponibilizar trabalhos que ficarão “eternamente” à disposição do público. O músico vai e a Música fica.

Meu maior empreendimento em relação a minha carreira é cada vez mais disponibilizar meu trabalho na web. Estou em processo de criação de uma playlist para divulgar músicas inéditas, para intérpretes que se interessem em gravá-las.

E, depois de três anos fora, tenho feito contatos na tentativa de voltar aos palcos, aos bons palcos, para públicos que deem sentido ao que faço e vou iniciar uma pesquisa de editais que patrocinam produções musicais.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Marcos Bassul: Ajuda muito, se bem trabalhada, principalmente porque é tão simples e fácil se manifestar nas redes sociais que pode ser um tiro pela culatra.

Não adianta ocupar ao mesmo todos os espaços que você tem com seu material, tipo mandar uma divulgação pelo Instagram, pelo Facebook, Twiter e outras, mandar para você via mensagem do Insta, mensagem do Face, mandar pelo whatsapp, vai acabar virando uma artilharia que informa menos do que importuna.

É apenas um exemplo para ressaltar que a internet pode ser um balaio de gato ou um instrumento efetivo para o músico. Também facilita na produção musical. Hoje você pode gravar com vários músicos em lugares diferentes.

Pode mandar sua música para mixar ou masterizar fora, pode enviar músicas profusa e rapidamente para quem e onde quiser.

O “prejuízo” – qualquer um manda o que quer para as redes e para você – que já vem da facilidade de produção – qualquer um com um mínimo de orçamento tem condições de gravar qualquer coisa – é de difícil conceituação pois ao mesmo tempo que facilita a explosão da banalidade dá a muitas pessoas a oportunidade de exercitarem sua capacidade criativa, sem preconceito e sem imposições, o que, socialmente, é positivo.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Marcos Bassul: Conforme respondi acima as vantagens podem se reverter em desvantagens, dependendo do ponto de vista. Hoje é muito fácil produzir música em casa.

Isso é bom para quem produz pois o exercício da criatividade é um dos mais saudáveis mecanismos mentais, por isso defendo que a Música não seja imediatamente “ensinada” nas escolas, mas que a escola forneça em primeiro lugar um espaço para a expressão musical e, em se descobrindo possíveis talentos ou interesses, promover o encaminhamento do aluno para o ensino.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Marcos Bassul: Procuro produzir, sempre que posso, cada vez melhor. Prefiro não enxergar como concorrência. Há músicas para todos. As estratégias e meios utilizados pelas grandes gravadoras ou pelas grandes rádios é que trazem estratégias elaboradas, com base no e visando o dinheiro, que favorecem alguns estilos em detrimento de outros.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Marcos Bassul: O verdadeiro cenário da MPB está oculto, em grupos como o coletivo Uma Terra Só, em pequenos bares pelo Brasil afora, em home estúdios de todos os tamanhos. O que se escuta hoje nos meios midiáticos “formais” está muito distante do que se escuta nos meios “alternativos”, como o universo web.

No que concerne ao cenário “visível” não vejo muita coisa nova depois de Chico Buarque, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Tom Jobim, só para citar alguns estilos.

Não tenho capacidade para julgar se artistas regrediram em seus trabalhos pois cada artista sabe o que cada obra sua significa. Sei que cada época é uma. Sei que quando um artista produz seus primeiros álbuns traz na bagagem muitas músicas que produziu e suas escolhas têm muitas opções.

O tempo e os compromissos que trazem os contratos e os shows subsequentes acabam diminuindo essas opções e muitas vezes o artista tem que compor pra cumprir contrato. Acho que isso não ajuda muito na manutenção da qualidade do trabalho.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Marcos Bassul: Cantar e não receber é a campeã. Em bares, do tipo, “de segunda a quarta toca pelo couvert, de quinta a domingo toca por cachê”. Segunda vazio, sexta lotado.

Mas vou deixar duas historinhas, uma de palco e outra de público: certa vez tocando em um bar, no intervalo, resolvi “beliscar” uns amendoins na mesa de uns amigos e ao voltar para cantar, no meio da música, uma casca grudou na minha garganta e deu início a uma tosse infernal que me fez largar o violão e descer do palco para tirar a danadinha. Desde então, não como mais em intervalos.

Outra foi, ainda em um bar, ao terminar a noite me foi pedida uma saideira. Fiz a saideira, deixei o violão, fui para porta do bar fumar um cigarro (hábito que larguei há mais de vinte anos, a melhor coisa que fiz) e havia uma mesa grande com umas dez pessoas jovens e uma menina me pediu para tocar mais, e eu disse que havia um acordo do bar com a vizinhança em termos de horário e eu não podia quebrar esse acordo, mesmo porque o dono do bar não deixaria.

Então ela disse: pega o violão e vem tocar aqui na mesa pra nós, e respondi que tinha tocado a noite inteira e estava cansado. Então, com toda sua simpatia e delicadeza, a menina, que não devia ter mais do que uns dezessete anos, virou pra mim e disse, sem constrangimento: “músico é assim mesmo, é escravo”. Nesse dia eu comecei a estratégia de parar de tocar “repertórios de barzinho”.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Marcos Bassul: O que me deixa mais feliz é que faço Música por escolha própria. Faço com prazer e procuro sempre melhorar. E só me dedico ao que me faz feliz. A Música é um fator de cura e crescimento para quem escuta e para quem faz.

Os benefícios da Música na saúde física e mental das pessoas são muitos. Não tenho tristeza “musical” em relação a minha carreira, mas me sinto triste quando vejo grandes figuras da música terminarem suas vidas em dificuldade. Acho que mereciam mais.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Marcos Bassul: Não acredito em dom seja lá de que espécie for, no sentido em que tal palavra é usada, como algo deslocado de qualquer fator, uma habilidade adquirida não se sabe como. Nesse sentido todos têm um “dom”.

Qualquer um pode pegar um pincel e pintar, emitir umas notas vocais, contar uma estória, se vão “agradar” já é outra coisa. Até porque o que agrada uns desagrada outros.

Então, para definir “dom” é preciso vincular a algum fator, do tipo “ele tem o dom da pintura “, para quem gosta desse tipo de pintura. Para uns um quadro de Picasso é uma afronta à arte, para outros é uma obra de arte.

Acredito que fatores fisiológicos favorecem em alguns aspectos, mas acredito que sem um incentivo, sem uma vontade própria, sem um pouco de contato, seja pelo estudo ou simplesmente pelo envolvimento, ninguém atinge um grau de performance que o qualifique como “artista”.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Marcos Bassul: A improvisação deveria ser a base do estudo e do ensino musical. Como falei acima, fazer ou tocar deveria vir antes de estudar ou aprender. Dessa forma acrescenta-se ao processo a motivação, a curiosidade, a interação entre partes, a exploração do material, a ludicidade, a cooperação e o respeito.

Assim vemos muitos músicos que nunca estudaram e têm trabalhos magníficos, criados a partir de sua inspiração e sentimento, não de bases formais intelectuais e normativas.

Na música erudita temos um bom exemplo: até o período do Romantismo se compunha com base em normas técnicas rígidas, sonatas, fugas, concertos, sinfonias. Então, se o indivíduo não tivesse bom domínio sobre as técnicas de composição caía no esquecimento, não lhe era dado valor.

A partir do Romantismo as normas foram deixadas de lado e as composições eram livres, sem as tradicionais “receitas”. Não é à toa que o Romantismo foi a época da história da Música que promoveu maior número de compositores.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Marcos Bassul: Existe das duas formas. Uma criança pequena que ganha um teclado, por exemplo, vai começar a brincar e acaba “produzindo” coisas sem nem mesmo ter essa noção.

A improvisação do músico, por outro lado, não é tão largada assim. Há técnicas sobre as quais os músicos se apoiam para improvisar e essas técnicas são estudadas, o que não inviabiliza a improvisação, apenas dá substância para a inventividade.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Marcos Bassul: Não tenho base para essa resposta pois a improvisação nunca foi minha praia pois não sou um instrumentista. Toco violão de forma harmônica. O que aprendi durante meu período como professor é muito pouco para elaborar prós e contras, mas acredito que, se o músico trabalha dentro de um sistema, o Tonal, ou o Modal, a improvisação não pode fugir desses contextos, o que limita a liberdade criativa, mas permite maior segurança e integração entre os outros músicos que tocam juntos.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Marcos Bassul: Definitivamente não sou contra nada que se refira a estudos ou métodos de desenvolvimento musical. Nenhum método de harmonia ou teoria é essencial para fazer música, ou grandes músicos que conhecemos não fariam Música, mas métodos de estudo têm o poder de fazer o trabalho crescer, abrir possibilidades, dar ao músico meios cada vez mais diversos de ambientar harmonicamente sua música.

Até um tempo a Harmonia Tradicional, fixada durante o período Barroco, era a diretiva que tínhamos para o estudo. A chamada Música Popular trouxe outros contextos e outras formas de se enxergar as complexidades harmônicas e hoje vejo no caminho da Harmonia Funcional uma trilha mais efetiva para o estudo da harmonia, principalmente no universo da Música Popular.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Marcos Bassul: Nas rádios “formais” acho difícil minhas músicas tocar sem pagar o jabá.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Marcos Bassul: Depende do objetivo. Se quer ser compositor, se quer ser instrumentista, cantor, maestro, arranjador.

Se quer ganhar dinheiro ou compor pra namorada. É muito diferente para o Músico se o objetivo ou necessidade é financeira, o que agregará a sua trilha aspectos que aqueles que fazem sem esse compromisso não terão.

Então, acho que se por “carreira” quer dizer viver financeiramente de Música creio que não estamos no melhor momento. Nesse caso acho que a melhor estratégia é começar pela pesquisa de público e meios. Se vai compor pra vender e precisa vender, tem que ser mais vendedor do que Músico. A necessidade cria formas.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Marcos Bassul: Intérpretes, sim. Compositores, não. Já foi a época dos Festivais da Tupi e da Record. Além do mais não vejo sentido em julgar se uma música é “melhor” que outra. Melhor pra quem? Para os jurados? Mas a música não foi feita para eles. Não gosto de festivais.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Marcos Bassul: Pra mim, irrelevante. A maioria dos eventos ou artistas cobertos pela grande mídia não me despertam interesses, com exceções, é claro. A grande mídia não vai nos “buracos”, não escuta e nem divulga as webs rádios, não frequenta eventos de Faculdades, projetos localizados, regionalizados. A grande mídia vai atrás do que dá notícia.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Marcos Bassul: Acho de grande importância, mas algumas vezes percebi que os “medalhões” são sempre contemplados. Para os “fora da mídia” ainda é complicado. Mas, são projetos que o músico precisa conhecer e tentar ocupar.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Marcos Bassul: Como falado acima, estou dedicado a produzir em casa minhas canções inéditas, as quais tenho muitas, e disponibilizar na web e em busca de contatos para, depois do “temporal”, voltar ao circuito de shows, que inicio com o show “Antes arte do que tarde” no Bar do Museu Clube da Esquina, em Belo Horizonte – MG, no dia 21/09/2023 e no projeto “Estação Blues” em Brasília – DF, no dia 28/09/2023. 

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs? 

Marcos Bassul: (61) 98429 – 9953 | [email protected]

| www.marcosbassul.com.br | https://linktr.ee/marcosbassul

| https://www.instagram.com/marcosbassul

| https://www.facebook.com/marcosbassulface

Canal Marcos Bassul: https://www.youtube.com/user/marcosbassul 

Playlist do álbum Portfólio: https://www.youtube.com/watch?v=OPoV3yAPAp8&list=PL21jnF50_-3ufN9v6r-W1ilExVVJDTrEI 

Playlist do álbum Man non troppo: https://www.youtube.com/watch?v=eWUSleiDJ1k&list=PL21jnF50_-3ta3OT7G8ukP00i9s-1wKbH 

Playlist com a Superband da EMB: https://www.youtube.com/watch?v=bQSOawQuRU0&list=PL21jnF50_-3u0Y2fqYU5JsgP4sLkU-8Oe 

Playlist geral: https://www.youtube.com/watch?v=tgJfU3Fy3O8&list=PL21jnF50_-3u3RAkJRliPsjFj58QkqUfu 

Música na escola: anseios, expectativas e alternativas: https://baudobassul.blogspot.com/2009/04/musica-na-escola-anseios-expectativas-e.html


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.