More DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco? »"/>More DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco? »" /> DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco? - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco?

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O livro DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco? é sobre o primeiro álbum de Chico Science & Nação Zumbi e o movimento Manguebeat lançado em 2019 pela Edições Sesc São Paulo na Coleção Discos da Música Brasileira (clique no link para adquirir https://portal.sescsp.org.br/loja/11301_DA+LAMA+AO+CAOS#/content=detalhes-do-produto)  é mais um gol de placa do jornalista e escritor paraibano José Teles  (que tive a honra de entrevistar https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/jose-teles-frevo-ao-manguebeat), radicado em Recife – PE desde 1960 e que desde 1980 atua no Jornal do Commércio.

O autor é um conhecedor profundo das ruas, costumes, culturas e músicas de Recife e Olinda.  Já lançou Do Frevo ao Manguebeat (2000), Lá Vêm Os Violados (2001), O Malungo Chico Science (2003), Cuma E O Nome Dele – Manezinho Araújo (2013), Os Sons dos Bichos (2018), Choro & Frevo – Duas viagens Épicas (2023), entre outros livros fora da área musical.

O DA LAMA AO CAOS: Que som é esse que vem de Pernambuco? reconstrói a trajetória do álbum Da lama ao caos (1994) que transformou a música brasileira ao fincar sua “parabólica” de guitarras pesadas nos ritmos populares de Pernambuco.”, comenta o autor, que foi testemunha privilegiada do nascimento do álbum e da cena manguebeat, encabeçada por Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. Teles entrevistou músicos, produtores, empresários, diretores de gravadoras, designers, fotógrafos e jornalistas para recontar a história e os bastidores do álbum produzido pelo conceituado Liminha (Arnolpho Lima Filho) que colocou Recife no centro da cena cultural regional, nacional e internacional nos anos 1990.

São 136 páginas em cinco capítulos que o leitor devora entre o café da manhã e o jantar com pausas no almoço e no café da tarde. Eu que não conheço Recife nem Olinda após a leitura já me sinto apto a falar sobre as cidades. Teles não alisa nem amacia sua visão crítica ao tratar de todos os personagens do manguebeat, da cena musical, cultural e local. O autor conheceu os vários lados da mesma história e fez correções de fatos que registrou há 23 anos no livro Do Frevo ao Manguebeat.

O autor constata que Chico tinha os pés no chão e sabia bem o que queria e como mobilizar músicos e jornalistas trazendo as luzes da grande mídia local e nacional iluminando os caranguejos (Chico Science, Lúcio Maia, Alexandre Dengue, Toca Ogan, Gira, Gilmar Bola 8, Jorge Du Peixe, Fred Zero Quatro) que botaram “o cérebro pensante” para fora do mangue. Science jogou o jogo da gravadora sem perder o cheiro da lama de sua aldeia e soube surfar na crista da própria onda que criou com os mangueboys / manguegirls e outras bandas pegaram carona sem o mesmo êxito. Os leitores mais cascudos procurem saber sobre o livro Homens e Caranguejos do pesquisador, político pernambucano Josué de Castro (1908 a 1973) que Chico Science conheceu na casa de José Teles e passou a citar em entrevistas.

A linguagem do livro é acessível e os interessados sobre os sons regionais e urbanos que rolam em Pernambuco terão uma saborosa e nutritiva leitura igual a comer carne de caranguejo sem ter o trabalho de quebrar os ossos do crustáceo.

Minha sensação ao escutar o som dos pernambucanos

Eu aproveito o ensejo para registrar minhas impressões sobre a sonoridade dos dois álbuns (Da Lama ao caos e Afrociberdelia) de Chico Science & Nação Zumbi que fiz a minha primeira audição em 1997; e de álbuns de algumas bandas do BRrock dos anos 80, por insistência de alguns colegas do curso de Comunicação Social e Artes da UEPB de Campina Grande – PB.

Em 1990 (ano que completei 18 anos de idade) voltei a morar em Campina Grande, após morar por dois em São Paulo (de 1987 a 1989) e que em 1988 desfilei na Escola de Samba Vai-Vai. A partir de 1990, os ritmos de Forró, Samba, Lambada, Axé Music foram perdendo espaço para a MPB e a música de Protesto”, aprendi os primeiros acordes no Violão e iniciei os estudos do Teclado, de Contrabaixo, teoria musical na MusiDom com o mestre Jorge Ribbas.

Em 1990, comecei a “comer com farinha” os livros de Paulo Coelho, Marcelo Rubens Paiva a subversivos Karl Marx/Engels, Adorno e a Escola de Frankfurt, Sartre, Lenin, Machado de Assis, Kafka, Jorge Amado, Nietzche, Voltaire, Maquiavel e todos livros de Che Guevara. O sistema capitalista é bruto.

Em 1997 encerrei minha militância na FCD – Fraternidade Cristã de Doentes e Deficiente (de 1991 a 1997) e já tinha vencido o primeiro ano de jornalismo e trabalhava como cobrador de ônibus. Nas oito horas dentro do ônibus, tempo suficiente para ler e escutar músicas no walkman gravadas em fita K7, além de passar os trocos para os passageiros.

Na década de 90 fui me tornando um caranguejo (canceriano) com cérebro e faca nos dentes, ao escutar em 1997 os álbuns do Chico Science & Nação Zumbi achei as letras divertidas, mas a incoerência de misturar banditismo com heroísmo e luta de classe me incomodou. Nos anos 90 muitos colegas descolados cometiam o mesmo equívoco e alguns escutavam com entusiasmo o som do manguebeat. Da mesma forma que aconteceu ao escutar o som do BRrock, eu continuo me conectando com a profundida poética e crítica das MPB e da música de protesto.

Já a parte instrumental com energia solar e melodias simples me agradaram mais que o conteúdo das letras, Chico Science e Nação Zumbi era um power trio de punk rock com batuques de tambores. A guitarra base com distorção e os solos são clichês do rock ou punk rock. As linhas do Contrabaixo; mais na função de groove do que de condução do ritmo, flertando mais com a soul, black music e funk americano do que com o rock ou reggae. Linhas de Contrabaixo flutuante que não identificava o ritmo. A interpretação vocal do Chico era mais para o falado caminhando para o melódico e a sua presença de palco era circense e cheia de estilo próprio através de suas mungangas de caranguejo.

Após 26 anos (de 1997 a 2023) e já com 50 anos de idade escutei de novo os dois álbuns e para o meu gosto musical continua sendo “nem peixe nem caranguejo”, mas com muita atitude rock antenada com sua época e juventude do que genialidade ou vanguarda musical. E reconheço o grande valor histórico e afirmativo para meus contemporâneos.

Mas tenho parcimônia de chamar Chico Science (Francisco de Assis França) de genial, considero um artista criativo, descolado e antenado com seu tempo. Ser reconhecido em vida e por seus contemporâneos é algo almejado por todo artista. A sua morte trágica em 02 de fevereiro de 1997 em um acidente automobilístico interrompeu uma bela trajetória.

Links: Chico Science, Nação Zumbi: Um Caranguejo Elétrico [Documentário]: https://www.youtube.com/watch?v=6aOVDIGIwag

FILME | Josué de Castro – Cidadão do Mundo, 1994: https://www.youtube.com/watch?v=LFzNVo8KIKg

https://acervochicoscience.com.br | https://www.instagram.com/chicoscienceoficial


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Comments · 8

  1. Parabéns Antônio, sempre nos enriquecendo de conhecimento, chico foi um furacão na sua trajetória, nos deixou pérolas…

  2. Parabéns, Antonio Carlos. Curti muito o artigo e aguçou meu interesse em conhecer mais sobre a obra deste movimento!

  3. Adorei! Lembro dos clips da banda, da figura do Chico Science… de sua performance única cantando e se divertindo, pelo menos à minha visão adolescente na época. Quero ler mais sobre, fiquei curiosa. Parabéns amigo Antônio pelo artigo

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.