O cantor, compositor, violonista paulistano Alê Moreno, aos 12 anos deu início aos estudos de Violão através de seus irmãos mais velhos e seguiu de forma autodidata. Posteriormente se formou no curso de Licenciatura em Música pela Unisant’Anna após um longo período trabalhando como músico prático na noite paulistana.
Integrante do grupo Tarumã desde 1993, participou do lançamento do primeiro disco neste mesmo ano – “Histórias de cada canto” – contou com participações especiais de Saulo Laranjeira, Nilson Chaves, Flávio Venturini. Em 2012 o grupo lançou o segundo CD – “Palavriá” que teve Webster Santos como produtor musical e um time de músicos da pesada: Swami Jr., Sizão Machado, Samuel Pompeu, Guilherme Kastrup, Ricardo Mosca, Tiago Costa, Vitor Lopes, Orlando Bolão Costa, Luis Cláudio e o próprio Wsbster Santos. O grupo foi premiado em mais de uma centena de festivais por todo o Brasil, entre eles o Viola de todos os cantos, Fampop, e-festival-IBM. Nos seus 30 anos de carreira dividiu o palco com MPB4, Boca Lvre, Skank, Luiz Melodia, Jorge Benjor, Zé Geraldo, entre tantos outros em shows por vários cantos do Brasil. Estiveram em programas emblemáticos da TV brasileira como “Viola minha Viola” – TV Cultura, “Jô Soares onze e meia” – SBT e o ainda vivíssimo “Sr. Brasil” – TV Cultura com Rolando Boldrim. O grupo está finalizando seu novo álbum “3X4”.
Alê Moreno vem fortalecendo cada vez mais seu repertório autoral e pretende gravar o primeiro disco solo muito em breve. Tem como parceiros Joshen Rique, Juca Filho, Adolar Marin, Guerreiro Parmezan, Alexandre Leal, Marcelo Barum, Carlos Moreno, Daniel Sanches, Paulo Borges, Zé Renato Fressato. Teve suas músicas gravadas por Joshen Rique, Grupo Tarumã, Marisa Ricco, Zé Renato Fressato. Participou como convidado nos discos de Daniela Lasálvia, Rique Saulo, Sérgio K. Augusto, Sabah Moraes, Sebah de Assis, entre outros.
É um dos fundadores do “Palco Madalena”, tendo atuado como curador, design gráfico, operador de som e luz nesse projeto, que em formato pocket, intercalava apresentações de teatro e música em dois palcos fixos, onde passaram mais de 100 artistas em seu curto e precioso tempo de existência. Pretende retomar essa iniciativa num momento oportuno ao lado de seus parceiros Carlos Moreno (idealizador e fundador) e João Aranha.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Alê Moreno para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 10.07.2021:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Alê Moreno: Nasci no dia 09.01.1972 em São Paulo – SP. Registrado como Alexandre Krambeck Moreno.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Alê Moreno – Acho que para iniciar devo dizer que tenho uma gravação em fita cassete (digitalizada) de uma reunião familiar de natal em que, eu, em meio a tanto falatório, canto a frase “Eh! Meu amigo Charlie Brown” do Benito Di Paula, eu devia ter 4 anos de idade, ao fundo rolando “I can sing A rainbow (Love is blue)” – The Dells – quinteto vocal americano; curiosamente meu irmão Sérgio Moreno descobriu há alguns meses qual era a canção que tocava ao fundo da referida relíquia, daí para frente eu sigo com o que tenho de lembrança. Tínhamos uma vitrola Empire e uma pequena coleção de discos de vinil, entre eles: uma coletânea com instrumentais da Bossa Nova, Originais do Samba – “É preciso cantar” – RCA; tinha “Saudosa Maloca” e um pout pourri de sucessos de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, o próprio disco do Roberto Carlos; me lembro de ouvirmos muito “O portão” e “Eu quero Apenas”, Ray Connif ‘S Music – Sua orquestra e coro, Coletânea – “Os grandes momentos dos festivais da música popular brasileira” – 1977 pelo selo SETA. Nesse disco conhecemos: Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, MPB4, Jair Rodrigues, Elis Regina, Nara Leão, Gal, entre outros.
Outro destaque vai para o compacto do Doobie Brother’s com nada mais nada menos que “Listen to the music”; que me lembro, ainda criança, ouvir dezenas de vezes seguidas, mas tinha que ser deitado (risos) – eu voltava a faixa e corria para cama na tentativa de ouvir a antológica introdução já em repouso. Na parte de baixo da casa moravam dois tios, irmãos do nosso pai, um deles, o tio Zé, que fora aspirante a radialista, quando jovem, o tio, além de treinar sua dicção, normalmente pelas manhãs, ouvia frequentemente o programa Moraes Sarmento na rádio Bandeirantes; e na carcaça de uma rádio/vitrola anos 50 (herdada e semi-reformada pelo Carlos Moreno) se acomodava uma Vitrola Sharp Optomini anos 70 onde ele ouvia (em bom volume e equalização) a coleção mais antiga da velha guarda da família Moreno (alguns estão comigo até hoje) os famosos 78 Rpm da Continental, RCA Victor, Odeon, Philips que iam de Luiz Gonzaga a Waldir Azevedo, Noite Ilustrada a Chico Alves.
Tinha também instrumental de Dilermando Reis, História da Música Popular brasileira – Abril Cultural com Dorival Caymmi, Lamartine Babo, Pixinguinha, Donga, Ângela Maria entre outros. Resumo da ópera – Ouvíamos tudo isso, acredito que dificilmente não nos tornaríamos, no mínimo, amantes da boa música. Paralelamente a esse ambiente musical através dos discos e rádio, um primo mais velho, o Rubens, que em meados dos anos 70 fora presenteado com um violão por nosso pai, já tocava e era fã dos Beatles e da MPB, tocava em reuniões familiares de Natal, Reveillon e aniversários, foi nossa primeira influência e inspiração como músico, mais tarde outro primo, o Zé Luiz Braga (in memoriam) também contribuiu com essa função inspiradora e até didática, também amante da MPB, rock e Folk dos 70.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Alê Moreno:– Na década de 1990 iniciei um curso na ULM – Universidade Livre de Música “Tom Jobim”, na qual tive aulas práticas de Violão com o professor Tavico e teóricas com a professora Zei, porém não conclui o curso, fiquei pouco tempo. Em 2011 eu e o Marcelo Barum estudamos um período de Violão com o “Arnaldinho do Cavaco” na loja Contemporânea, daí incentivado pelo parceiro e guitarrista Leandro Delpech, iniciamos o curso de Licenciatura em Música pela UniSant’Anna, nos formando em 2015.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Alê Moreno: Minha audição é bem variada, como sempre gostei de televisão, grande parte do que fez a minha cabeça musical foi através da TV, a trilha do Sítio do Pica-pau-amarelo de 1977 é uma delas, tanta coisa linda e lúdica, conheci canções de Sérgio Ricardo, Gilberto Gil, Ivan Lins, Dorival, João Bosco. Outra fonte também foram as novelas, sou noveleiro, mas com um certo pedigree (risos); pelo menos naquela época. Eu lembro de ter conhecido tanta música bonita por causa das novelas. A partir dos 12 anos de idade, quando, de fato, comecei a aprender Violão, também ouvia muito Beatles e a turma do Clube da Esquina, que já foi dando liga com outros artistas e grupos que foram fundamentais para a nossa formação, entre eles: 14 Bis, Boca Livre, MPB4. Aos 16 anos ganhei o disco “Live in Rio” do James Taylor, que foi responsável por uma boa fase de desenvolvimento da percepção musical, o “tirar de ouvido”, a onda do capotraste como sonoridade e não como facilitador de harmonia, como muitas pessoas usam.
Teve uma época que também ouvi bastante Oswaldo Montenegro, aquela coisa do “Incompatibilidade” de cantar rápido, aprendi isso e gostava de dar uma impressionada na turma. Um pouco mais à frente conheci um amigo, o Val Ramos, ele tinha um gosto musical muito parecido com o meu, fiquei admirado o vendo tocar músicas do João Bosco, daí vi que era possível tocar João Bosco (risos), aprendi muito com o Val. Depois pintou o Lenine no cenário musical com aquele violão percussivo na mão direita, além de utilizar uns acordes mais tensos, acho que influenciou muita gente nesse aspecto.
Tem aquelas influências e inspirações de sempre, fora as que eu citei, o Caetano Veloso e o lance da Tropicália definir em grande parte o que chamamos de mistura, do qual somos resultado. O Zé Renato do Boca Livre é uma fonte muito grande de inspiração, pelos caminhos harmônicos encontrados na intuição e as lindas melodias. Quando me aventuro a construir um arranjo vocal para o grupo é impossível não buscar referências no trabalho do Maurício Maestro, tenho a impressão que ele encontra, a cada música, o tesouro escondido. Entre setembro e outubro de 2020 terminei uma nova composição em parceria e senti que tinha um clima das canções do Dori Caymmi, tenho ouvido sua obra depois disso e acho que beberei dessa fonte.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Alê Moreno: Em meados da década de 80 eu participei de um Festival de música no colégio Martin Luther King, no bairro do Tatuapé em São Paulo, nessa ocasião estive acompanhando meu irmão Sérgio Moreno com uma canção dele. Aconteceu no anfiteatro do colégio, tinha um público grande e apesar de o evento não ter um grande desdobramento foi um primeiro momento de responsa. Ainda no mesmo período participamos também da audição de uma escola de música em nosso bairro, a Penha, dessa vez no teatro Martins Pena, outro momento interessante. Lembro-me do contato com outros artistas apresentando trabalhos autorais e alguns covers com uma qualidade bem legal, o bate-papo no camarim lotado, a passagem de som e tal, já era um início de estrada. Já no início da década de 90 comecei a trabalhar na noite, tocando nos Bares e eventos. Em 1993 fui convidado a entrar no grupo Tarumã, meu primeiro show com o grupo foi neste mesmo ano, no “Teatro Hall” na Bela Vista, daí não parei mais.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Alê Moreno: Ainda não gravei um registro solo, mas tenho trabalhado novas composições nesse período de pandemia do Covid-19, não apenas só, mas com novos parceiros e pretendo fazer um álbum em breve, assim que o grupo Tarumã finalizar seu terceiro álbum, que foi iniciado antes da pandemia e que infelizmente teve que ser interrompido, o “3×4”.
O grupo Tarumã tem dois discos lançados: O primeiro em 1993 – “Histórias de Cada Canto” – com a formação composta por Daniel Sanches, Carlos Moreno, Beatriz Gandra, Lourdes Gandra, Paulinho Rodrigues, Eduardo Simplício. Em 2012 o segundo – “Palavriá” – com a formação composta por Alê Moreno, Daniel Sanches, Carlos Moreno, Marcelo Barum.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Alê Moreno: Difícil uma definição, me entendo como, além de cantautor, um intérprete que gosta muito de cantar canções de outros compositores, buscando um novo colorido para essas canções a partir de uma inspiração que, na maior parte do tempo se desperta através do Violão, da harmonia, de um tipo de afinação alterada. Acredito nesse diferencial e me sinto fortalecido a partir dele. Procuro assimilar as percepções das outras pessoas sobre meu trabalho, principalmente quando estas são diferentes das minhas, a partir da reflexão procuro agregar positivamente.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Alê Moreno: Muito pouco, fiz um pequeno período de aula com a cantora Ivete Souza, nos anos 90, depois na Faculdade também foi uma pincelada. Mas no decorrer da trajetória pintaram muitas e muitas dicas de amigos e profissionais que sempre ajudaram imensamente no desenvolvimento do canto, fora, é claro, a observação em nossos ídolos, uma vídeo aula aqui, um workshop acolá e assim seguimos.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Alê Moreno: Acredito que toda forma de estudo só poderá enriquecer e aprimorar o desempenho artístico e musical, até porque determinados gêneros exigem um trabalho árduo e muita dedicação. De uma forma geral cuidados com a voz que vão desde o aquecimento antes do canto a uma boa hidratação, noites bem dormidas e jamais conversar em ambientes com competição sonora, acho fundamentais para que a saúde vocal seja plena, e o canto, o mais satisfatório possível.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Alê Moreno – Realmente são muitos, dos grupos, 14 Bis, Boca Livre (infelizmente chegou ao fim), MP4, A Cor do Som. Gosto muito do Paulinho Moska, Roberta Sá, Claudio Nucci, Djavan, Zé Renato, Marcos Sacramento, entre tantos.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Alê Moreno: São vários, mas a forma predominante no meu trabalho é quando recebo uma letra de um parceiro, daí pego o Violão e começo traçar algum caminho harmônico, geralmente já pinta junto uma primeira ideia melódica, daí pra frente vou decifrando o que me parece já estar se desenhando naturalmente. Parceiros que além de letristas são melodistas e instrumentistas costumam já escrever com a métrica e forma estabelecidas, isso facilita bastante o processo. Quando componho sozinho acontece de eu escrever a letra junto com o desenho melódico, junto com harmonia e tudo. Acontece bastante também a criação só da harmonia, ou um riff, as vezes esse material fica ali quietinho, esperando ideias complementares, tanto de melodia como letra; minha ou de parceiros. Acho que a forma mais incomum, mas que já aconteceu; pouco, porque não sou efetivamente letrista, é entregar alguma letra para algum parceiro. Eu tenho alguns escritos iniciados que penso seriamente em pedir que parceiros terminem, só não os fiz porque sou teimoso e sempre acho que vou finalizá-las (risos).
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Alê Moreno: Tenho uma ligação especial com cada um deles, cada qual com sua importância que a obra traz de significados em vários aspectos. O Joshen Rique, meu parceiro mineiro e o primeiro a gravar canções minhas/nossas além de ser a parceria que rendeu mais resultados; inclusive de estilos. É um cara que me ensinou muito com seu jeito de compor; ele é daqueles que entregam a letra com forma e métrica resolvidas. Juca Filho, meu parceiro/ídolo, letrista de dezenas de canções que ouço desde criança, entre elas: “Toada”, “Quem tem a viola”, “Acontecência”, “Todos nós”, “As moças”, dentre tantas outras, ou seja, um orgulho ter me tornado seu parceiro em uma canção ainda inédita. Carlos Moreno, Marcelo Barum, Zé Renato Fressato, Guerreiro Parmezan, Adolar Marim, Alexandre Leal, Paulo Borges, Daniel Sanches, enfim, todos são especiais e importantes.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Alê Moreno: Grupo Tarumã, Joshen Rique, Marisa Ricco, Zé Renato Fressato,
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Alê Moreno: Acho que o lado positivo é, acima de tudo, produzir o trabalho com total autonomia, desde a escolha do repertório, seguindo os critérios que entendo ser os mais favoráveis às características do meu trabalho. A instabilidade sempre é um ponto que preocupa, de repente você está numa onda boa e tem o retorno, mas na música vivemos altos e baixos. E um leque maior de atividades ligadas à profissão se faz necessário para que consigamos nos manter, é comum ter de parar um projeto para se agarrar a outro como prioridade na questão financeira, por exemplo.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Alê Moreno: Sempre achei prazeroso organizar todo material relativo a um projeto do qual estou me dedicando. E dentro do palco essas ações vão desde a preparação de setlist com as devidas notações para banda, a preocupação com a disponibilidade de som; sempre estou atento e conectado todo o tempo em relação a esses quesitos, mesmo que isso esteja sobre coordenação de um produtor. Tenho trauma de surpresas indesejáveis (risos). Nos bastidores também procuro ficar atento aos editais, prazos de projetos, enfim, procuro, na medida do possível, acompanhar e colaborar com as pessoas que estão participando do processo.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Alê Moreno: Num outro momento estive mais conectado no estudo sobre engajamento nas redes, acompanhando vários tutoriais a respeito, mas confesso que fiquei um pouco saturado. E acabo fazendo da forma menos complexa, apesar de, na maioria das vezes, eu mesmo desenvolver a parte gráfica, flyer’s, arte de fotos de capa das redes, edição e uploud de vídeos para o youtube. Tenho trabalhado na organização do acervo do grupo Tarumã há uns 3 anos; trabalhoso viu! Fazer o levantamento de material de 30 anos pelas muitas cidades na qual estivemos fazendo shows e festivais, emissoras de TV, teatros e espaços culturais. De uma forma geral eu gosto de trabalhar com ações ligadas à parte artística.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Alê Moreno: A internet é fundamental na vida de qualquer pessoa que queira trabalhar com música. É praticamente impossível desenvolver uma carreira sem a rede, principalmente nesses tempos em que estamos vivendo, essa pandemia do Covid-19, a impossibilidade de estarmos presencialmente apresentando um show, um workshop, como professor, enfim, é fundamental. Existe uma dificuldade de concentrarmos o foco de público em nosso trabalho, no sentido dessa coisa de engajamento (que exige muito estudo, tempo e dinheiro) a quantidade de artistas engajando ao mesmo tempo chega a ser desesperador muitas vezes, mas é um universo com muitas possibilidades, que já existem e que irão surgir ou se transformar, sempre atento é a regra.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Alê Moreno: Muitas vantagens, poder experimentar e registrar rapidamente ideias, timbres, arranjos, narrações, locuções, são apenas algumas delas. Hoje encontramos softwares gratuitos com uma quantidade absurda de recursos que permitem produções bastante satisfatórias. Por outro lado, o mercado de áudio também elevou o padrão e se tornou mais exigente, determinados sons e resultados ainda são e sempre serão necessários serem produzidos em salas com estruturas acústicas e técnicas de alto nível. Acaba que, para determinados trabalhos, não conseguimos escapar desse custo do estúdio profissional.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Alê Moreno: Em plena pandemia do Covid-19, além de compor tenho feito muitas lives, é o que a maioria dos músicos, entre outras poucas opções, tem feito no momento para nos mantermos ativos e na medida do possível gerarmos algum tipo de renda. Desde o início desse período, em abril de 2020, tenho procurado melhorar a qualidade, não só técnica na questão de áudio e imagem das lives, como melhorar o espaço em que eu as apresento. É um pequeno home estúdio que fica numa sala de 3X3 aqui em casa, mas independente dela. Já otimizei esse espaço em vários aspectos e venho dando um trato no visual, no cenário, com frequência. Estou sempre criando novas possibilidades temáticas para as lives e investindo de forma disciplinada nos ensaios. Mesmo sabendo que existem lives mais descompromissadas, mais à vontade; isso não é uma crítica, acho esse clima também interessante, procuro oferecer, as minhas, com um tom mais de show mesmo, a diferença é que estou em casa. Como diz um amigo, Mauro Cézar Mesaque: – Alê, eu passo até perfume para entrar na minha live. Também sou dessa vibe (risos).
20) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Alê Moreno: Recentemente o Milton Nascimento deu uma declaração sobre o momento musical brasileiro não andar bem, que causou uma certa polêmica e tal. Ele se referiu ao mainstrean, principalmente ao que rola na TV aberta, e eu concordo, a gente vê meia dúzia de “mais do mesmo”, com trabalhos voltados apenas ao entretenimento, com raras exceções. Essa coisa de revelação vem acontecendo de forma gradativa, muitas vezes o artista consegue botar música em Novela, migra para alguns programas, rádios e tal. Mas não fica tão em evidência, acaba demorando um pouco mais pra ser considerado uma revelação, exemplo disso o Dani Black, o pessoal do “5 a Seco”, o próprio Jorge Vercillo nos anos 90. Quando o boom é maior, o artista sofre com isso e muitas vezes não dá conta e tem que puxar o freio, caso do Thiago Iorc. Chico César, Zeca Baleiro, Lenine são grandes exemplos de que vieram com tudo e permanecerão.
21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Alê Moreno: Pra citar dois vou de Lenine e Zélia Duncan, transitam legal na grande mídia sem que a imagem caia no desgaste ou que a qualidade fique prejudicada. Engatam um trabalho atrás do outro mantendo o padrão. A Zélia quando fez o “Totatiando”, achei genial, ousado também por ter trazido o Luiz Tatit para um público maior, um artista vivo, com uma obra tão particular e rica.
22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Alê Moreno: Lembro-me de mandar uma inscrição para um Festival de música em São Paulo, em parceria com o Marcelo Barum, meu companheiro de Tarumã, acho que estávamos com duas canções, detalhe, pagamos uma taxa de inscrição por música. Chegamos eu e ele, os intérpretes, ao local do evento, um ginásio grande, diga-se de passagem, mas vazio, meia dúzia de gato pingado bem espalhado naquele espação todo, sem apresentador, sem jurados, sem plateia e nem concorrentes a gente encontrava. Perguntamos para um grupo de policiais militares que estavam fazendo a segurança da “festança”. Os quais também não tinham muitas informações, perguntamos pelo organizador e nos disseram quem era, chegamos até ele e o questionamos sobre a falta de tudo, daí ele nos comunica: “Então, fiquem tranquilos, podem se dirigir ao palco e se prepararem para cantar, pois os jurados estão circulando pelo ginásio e assim vão apreciar a apresentação”. Algo inédito, no mínimo duvidoso e estranho. Olhamos um para o outro e imediatamente sacamos que aquilo era um golpe, dissemos a ele que queríamos o dinheiro da inscrição de volta porque a situação era pra lá de esquisita. Ele prontamente tirou do bolso um tijolo de dinheiro vivo e nos pagou no mesmo momento e dizendo: “Não seja por isso, mas é uma pena, pois as canções de vocês são muito fortes, grandes candidatas a levar o prêmio”. Lembrando que o festival tinha umas quatro eliminatórias com uma 20 música cada. Pegamos a grana e fomos tomar cerveja no primeiro boteco que encontramos ali na área, conhecemos um caboclo super divertido e depois de algumas garrafas seguimos a jornada pra casa (risos).
23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Alê Moreno: Mais feliz é quando conseguimos um resultado artístico da forma que idealizamos e quando o público também reconhece e devolve essa energia. Mais triste é conhecer tanto artista de qualidade no cenário alternativo trabalhando tanto e não conseguindo atingir o necessário para subsidiar sua caminhada através da arte.
24) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Alê Moreno: Acho que nada acontece sem trabalho, sem o esforço, a observação. Mas, partindo do ponto da existência da reencarnação, muita coisa poderia ser explicada, já vimos vários casos de instrumentistas tocarem de forma extraordinária ainda criança. Existem pessoas que trazem uma habilidade diferenciada e trabalhada, de outra vida, mas não saberia explicar como isso se dá no que diz respeito aos critérios do plano espiritual, talvez o dom seja essa situação. Por outro lado, acredito também na vocação que as pessoas tem, não só para a música, mas para outras habilidades, vocação e dom são coisas que podem ser relacionadas ou confundidas, mas ambos têm que ser desenvolvidos com trabalho.
25) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Alê Moreno: Acredito que qualquer elemento musical que você utiliza numa apresentação, seja gravação ou performance, deve estar sob seu domínio. E para se ter esse domínio somente através da repetição, ensaio do repertório em maior quantidade e/ou o próprio exercício das técnicas, a internalização de cada item utilizado. No caso do violão e voz; formato ao qual me apresento na maioria das vezes, a harmonia tem que estar segura, internalizada. E dessa forma possibilita a ousadia em brincar um pouco com a rítmica ou mesmo uma variação de acordes. E com a voz é a mesma coisa, a segurança na base da melodia possibilita o acréscimo de um vocalize ou uma variação também melódica.
26) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Alê Moreno: O improviso parte da segurança, e a segurança só se adquire com um acúmulo de experiência; seja por meio dos anos de estrada, dos ensaios com qualidade e dos estudos das técnicas que se deseja desenvolver em seu trabalho. A base estudada, vivenciada, portanto, repetida, é que dar a segurança para se aplicar algum elemento “improvisado” numa apresentação. Às vezes você não pensa exatamente o que vai aplicar, a ideia/frase/elemento pode pintar na hora, mas é a bagagem acumulada que permite a colocação dessas surpresas.
27) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Alê Moreno: Não sou profundo conhecedor dos métodos e técnicas de improvisação que são utilizados com conceitos mais teóricos, mas acredito que qualquer proposta que tem por finalidade acrescentar conhecimento para o artista só pode ser positivo e enriquecedor. O que pode ser perigoso, principalmente quando se trata de banda, em que vários músicos se reúnem para tocar. E muitas vezes, pela primeira vez e não saberem qual o nível de conhecimento de cada integrante e não ter um plano minimamente combinado, algum músico menos experiente pode se perder e a coisa desandar. Quando a reunião é por descontração ou “brincadeira”, acaba sendo um estudo, mas se for uma apresentação “séria”, e o encontro de última hora, cabe um combinado antes (risos).
28) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Alê Moreno: Eu, como adoro harmonia, apesar de gostar bastante de achar caminhos intuitivos, só vejo enriquecimento em estudar métodos de harmonização. E de preferência direcionando bem para o que de fato você julga ser a “sua praia”, que podem ser várias.
29) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Alê Moreno: É possível, existem muitas rádios espalhadas pelo Brasil, nunca fizemos uma varredura completa, sem dúvida acharemos. A prova disso é que duas rádios de São Paulo abraçaram o trabalho do Tarumã, a USP AM e a Rádio Brasil Atual (que toca menos do que gostaríamos, mas toca), outra surpresa foi uma rádio do Sul, que também nos achou!
30) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Alê Moreno: Ache o seu diferencial e foque em sempre o melhorar, pesquise muito, estude e absorva tudo o que puder musicalmente. Mas escute a voz da intuição. Respeite e se atente ao tempo de cada fase da trajetória, tocar em Bar, por exemplo, é uma boa escola, mas tem que ser trampolim. Se tiver a veia compositora pratique ao máximo, o exercício de compor só traz evolução; mesmo que ache que suas músicas não tem tanto potencial. Abrace as vertentes que gosta, sempre imprimindo a sua personalidade.
31) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Alê Moreno: Festival de música é uma alternativa muito enriquecedora para o artista, normalmente tem um público grande, um palco, na maioria das vezes profissional, com estrutura de som e luz que todo artista merece. O artista divulga seu trabalho, troca parcerias, enriquece seu portfólio com gravações em áudio, vídeos e registro fotográfico, e normalmente, quando vencem, além da vantagem financeira, retornam ao festival no ano seguinte para apresentar um show completo. Nem todos oferecem isso, mas uma boa parte sim. Por outro lado, o formato de muitos festivais ainda comete bárbaras injustiças em relação a ajudas de custo, premiação. Eles botam 10 finalistas e premiam financeiramente só 8, os 2 restantes além de ficarem sem nada de grana, se sentem os piores excluídos. Por esses motivos sou a favor do festival com o formato de mostra, de preferência que, quando uma banda for selecionada, o valor do cachê para cada integrante seja o mesmo dos artistas solo, normalmente o que acontece é oferecerem o mesmo valor, só que para banda inteira. Acho que o festival também deve servir de trampolim, profissão festivaleira, eu não aconselho, o artista fica estigmatizado, mas não deixa de ser o ganho pão de muita gente por aí. O problema é que para isso ele tem que partir do princípio que sempre deverá ganhar um prêmio, e isso já pode ser pretensão. Lembrando que agora no período da pandemia do Covid-19, várias cidades tem realizado seus festivais de forma online através da lei Aldir Blanc, e premiando todos os selecionados com uma ajuda de custo bem interessante, considerando que os artistas não precisam se deslocar de suas casas, uma iniciativa louvável que tem ajudado muito.
32) RM: Hoje os Festivais de Música revelam novos talentos?
Alê Moreno: Infelizmente, os festivais de música que eram transmitidos pela TV nos anos 60, 70, 80, não existem mais e nem caberiam mais no formato tradicional. E mesmo nos últimos que foram realizados há algum tempo, não resultou numa grande visibilidade aos participantes, muito menos através dos não transmitidos. Existem exceções, algumas cidades fazem a cobertura televisiva local e isso contribui para que o artista se torne mais visível por um certo público, acho ótimo, mas revelar a nível nacional acho mais difícil.
33) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Alê Moreno: Quase não existe uma cobertura da grande mídia, o espaço dado para uma agenda cultural, por exemplo, já é bem pequeno. E normalmente a música está inserida nessa agenda, não tem uma abordagem exclusiva. Isso vem de encontro ao que dissemos sobre a TV aberta, as notícias correm em demasia sobre os mesmos artistas de sempre. E a temática abordada raramente se refere ao aspecto cultural/artístico e sim nas questões pessoais, muitas vezes sem relevância.
34) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Alê Moreno: Importantíssimos e fundamentais para os artistas que se encontram no circuito independente. Apesar de serem cada vez mais, espaços super concorridos, são eles que de fato oferecem, não só, cachês mais justos, como estrutura técnica de alto nível, bem como uma melhor visibilidade nos meios culturais.
35) RM: O circuito de Bar na cidade que você mora ainda é uma boa opção de trabalho para os músicos?
Alê Moreno: Para os músicos que tem um repertório muito vasto e focado numa linha mais de entretenimento, principalmente com músicas que estão em evidência na TV aberta, aliado a algumas vertentes que me parecem unanimidade pela rapaziada entre 25 a 40 anos que é o pop rock, classic rock, acho que dá pé, apesar de a concorrência estar muito acirrada. Já para um trabalho autoral ou uma linha de repertório mais alternativa, uma MPB mais clássica, principalmente o ”lado B”, com raríssimas exceções acho que está quase impossível de ser aceito, infelizmente.
36) RM: Quais os seus projetos futuros?
Alê Moreno: Pretendo gravar meu primeiro álbum solo, sobretudo como cantautor, assim que o grupo Tarumã finalizar seu terceiro álbum “3×4”, que infelizmente foi interrompido pela pandemia do Covid-19. Pretendo seguir produzindo vídeos, entre canções do meu repertório autoral e releituras de canções de compositores conhecidos ou não do grande público. E lançar também uma série de vídeo-aulas propondo arranjos minimalistas, mas com uma estética atraente baseada nas gravações originais de clássicos na música não só brasileira, mas do mundo. Quero também aproveitar as temáticas das lives que apresentei e propor algumas delas presencialmente em espaços culturais, SESC’S e afins nos pós pandemia.
37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Alê Moreno: (11) 97302 – 1589 (WhatsApp) | 98604 – 6937 | [email protected]
| https://web.facebook.com/ale.moreno.3150
| https://www.instagram.com/alemorenooficial
| https://www.youtube.com/channel/UCiFui3izWmInvBE8CSAZG8Q/videos
| “Santo gole” (Guerreiro Parmezan/Alê Moreno): https://www.youtube.com/watch?v=51F3DS-a8vs
Playlist apresentação em TV: https://www.youtube.com/watch?v=kePcvVHU0qo&list=PLbmL7e5_QKyosUbXC0WeZWlzi_An4Ewwe