More Zândhio Huku da banda Arandu Arakuaa »"/>More Zândhio Huku da banda Arandu Arakuaa »" /> Zândhio Huku da banda Arandu Arakuaa - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Zândhio Huku da banda Arandu Arakuaa

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Arandu Arakuaa (saber dos ciclos dos céus ou sabedoria do cosmos, em Tupi-Guarani), teve início em abril de 2008 por Zândhio Huku.

A banda atualmente é composta por Zândhio Huku (Guitarra/Vocais/Viola Caipira/Instrumentos Indígenas), Andressa Barbosa (Baixo/Vocais), Guilherme Cezario (Guitarra/Vocais), João Paulo Mancha (Bateria/Percussão).

A musicalidade da banda mescla heavy metal à música indígena e regional brasileira, com letras nos idiomas indígenas Tupi, Xerente e Xavante, inspiradas nas cosmologias, sabedorias e lutas dos Povos Indígenas do Brasil. Desta maneira, buscando contribuir para a divulgação e valorização de suas manifestações culturais, subestimadas durante os séculos.

O uso da viola caipira realça ainda mais a brasilidade na sonoridade do Arandu Arakuaa. Zândhio usa uma Guitarra Viola, instrumento idealizado pelo próprio músico.

Em agosto de 2011, a banda fez o seu primeiro show e, desde então, divulga o seu trabalho com um repertório 100% autoral.

Conta com dois EPs “Arandu Arakuaa – 2012” e “Aînãka -2021”; e três álbuns “Kó Yby Oré – 2013, “Wdê Nnãkrda – 2015” e “Mrã Waze – 2018” e os singles “Waptokwa Zawré”,“Karubéûasu”,“Ybytu”,“Am’mrã”e“Kûarasy” em 2020. Conta também com dez vídeos clips e dois lyrics vídeo.

Já tendo se apresentado em festivais como River Rock (SC), BMU (SP), Agosto de Rock (TO), Femme Festival (GO), Ferrock (DF), Porão do Rock (DF), THORHAMMERFEST(SP), no Fórum Mundial de Direitos Humanos, Segunda Marcha das Mulheres Indígenas, Quadrilátero Cruls e Samamba Rock.

Foi citada como exemplo de resistência em ecologia, em tese de doutorado em educação da UNICAMP, participou de uma cena para uma série sobre o lendário Zé do Caixão, interpretado pelo ator Matheus Nachtergaele e transmitida pelo canal de Tv Space, e também da séria Caça Joia transmitida pela TV Cultura e Globoplay.

Além de matérias em mídias de grande circulação como BBC Brasil, Uol, G1, Terra, O Globo, Correio do Povo, TV Senado, no jornal britânico The Guardian, o site norte-americano www.remezcla.com, dentre outros; também representou o Brasil em vídeo onde o aclamado youtuber canadense Steve Terreberry fez uma viagem ao redor do mundo para descobrir qual país tem a melhor banda de metal.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Zândhio Huku da Arandu Arakuaa para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 05.12.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal? 

Zândhio Huku: Nasci no dia 16/02/1979 na zona rural de Rio Sono, Tocantins. Registrado como Elizandio de Aquino Marinho.

Arandu Arakuaa formação atual: Zândhio Huku (Guitarra/Vocais/Viola Caipira/Instrumentos Indígenas), Andressa Barbosa (Baixo/Vocais nascida no dia 07/12/1992 em Brasília – DF), Guilherme Cezario (Guitarra/Vocais nascido no dia 22/08/1990 em Brasília – DF), João Paulo Mancha (Bateria/Percussão nascido no dia 26/02/1982 em Belém – PA).

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Zândhio Huku: Onde nasci e morei até os 13 anos de idade (1992), nas proximidades da Terra Indígena Xerente, o contato com a música se dava de forma ritual: música indígena, quilombola, folia de reis, folia do divino… e em algumas situações pelas ondas do rádio AM, onde eram executadas basicamente músicas do Norte/Nordeste.

A música acontecia somente em momentos muitos especiais, e de alguma forma ainda carrego essa referência, pois se tem música no ambiente não consigo pensar em mais nada, ela toma todo o meu cérebro e o meu corpo.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Zândhio Huku: Nunca tive educação formal em música. Sou graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Tocantins-UFT, tenho uma pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva, e atualmente curso Mestrado em Educação pela Universidade de Brasília – UNB. Atuo na educação há bastante tempo, atualmente como professor da rede pública aqui do Distrito Federal.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Zândhio Huku: Em se tratando de música sempre fui muito seletivo, na verdade acho que sempre consumi música com os ouvidos e olhos de músico, mesmo quando ainda não era músico. Feito essa peneira inicial o natural é ir acumulando.

Até hoje amo música de rezo (indígena, de terreiro), música regional do Norte/Nordeste e o que veio posteriormente na minha adolescência (Rock/Heavy Metal, MPB, Música Clássica…).

Hoje em dia com a internet gosto de pesquisar diferentes estilos musicais de diferentes lugares do mundo, mas no fim da playlist sempre volto ao ponto de onde partir na minha infância.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Zândhio Huku: Entre 2002 e 2004 em Miracema do Tocantins – TO, tocando guitarra em projetos autorais que não vingaram.

Em 2005 vim para Brasília e aí sim me inseri na cena independente autoral local, passando a tocar também viola caipira, teclado e cantar.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Zândhio Huku: Cinco CDS, todos pela banda Arandu Arakuaa. No momento estamos gravando o sexto trabalho e também em breve irei lançar um EP solo que já está gravado há um tempo.

EPs: “Arandu Arakuaa – 2012” e “Aînãka -2021”; e três álbuns: “Kó Yby Oré – 2013, “Wdê Nnãkrda – 2015” e “Mrã Waze – 2018” e os singles: “Waptokwa Zawré”, “Karubéûasu”, “Ybytu”, “Am’mrã”e“Kûarasy” em 2020. Conta também com dez vídeos clips e dois lyrics vídeo.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Zândhio Huku: Com a banda Arandu Arakuaa somos rotulados de Heavy Metal Indígena, Folk Metal Indígena. Todo esse lance do capitalismo de reduzir tudo e colocar em caixinhas (risos).

Eu já diria que nossa música é uma mistura de música indígena, música brasileira de forma geral e Heavy Metal, com as letras nos idiomas indígenas Xerente, Tupi e Xavante, todas compostas por mim.

Claro, tem músicas mais puxadas para o Metal, outras mais pro regional, outras mais para a música indígena, outras que são uma mistura de tudo isso.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Zândhio Huku: Não. Como não sobrevivo da música e também sou compositor e multi-instrumentista, não resta tempo para me dedicar a algo tão específico. Uso apenas técnicas básicas de aquecimento vocal antes de cantar.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Zândhio Huku: Creio que o mais importante para o músico, em especial o cantor é cuidar da saúde: alimentação balanceada, beber bastante água, não fumar, não ingerir bebidas alcóolicas, fazer atividades físicas regularmente… E claro, se tiver a possibilidade de fazer aulas de canto é o ideal.

Cantar nos dá a possibilidade de conhecer melhor nosso corpo. No meu caso tenho bronquite asmática, gagueira e ansiedade desde criança, cantar tem me ajudado a lidar melhor com essas limitações.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Zândhio Huku: Sempre me chamou atenção cantores/cantoras que têm identidade e timbre diferenciados, que em sua maioria são também compositores. Vou me ater apenas a alguns nomes da música brasileira: Luiz Gonzaga, Djuena Tikuna, Zé Ramalho, Elza Soares, Lenine, Karine Aguiar, Gilberto Gil, Clara Nunes, Arnaldo Antunes, Alceu Valença, Milton Nascimento. 

11) RM: Como é seu processo de compor?

Zândhio Huku: Como disponho de pouquíssimo tempo para me dedicar a música, quando paro para compor é porque a música já está ressoando na minha cabeça há algum tempo. Então normalmente já letra e melodias prontas.

Em um primeiro momento costumo apenas gravar voz/viola caipira ou voz/guitarra para não perder a ideia, e posteriormente monto a estrutura da música com ideias de arranjos para os instrumentos que toco (viola caipira, guitarra, teclado, flauta, percussão).

Há alguns casos em que começo a composição pelo instrumental, aliás temos algumas músicas instrumentais com foco na Viola Caipira. Às vezes curto tentar materializar uma ideia em um instrumento que não tenho domínio e assim forçar a me repetir mesmo.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Zândhio Huku: Como sempre tive muitas ideias e pouco tempo para executá-las, acabou sendo natural eu já chegar com a composição pronta. Sempre tive esse respaldo dos meus parceiros de banda e também de produtores.

Até em casos onde sou convidado para fazer participar especial em outros projetos, geralmente me pedem para compor a parte que vou executar. Me chamam justamente por quererem incluir algo de música indígena. Acredito que a música é sempre sobre colaboração, assim sendo o processo criativo só termina quando fecha a master da música. De modo que esta carrega a assinatura de toda a equipe (músicos, produtores…) e não somente do compositor.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Zândhio Huku: As principais vantagens são ter algum poder de decisão sobre sua própria obra e carreira. Especialmente para os compositores é muito importante ter esse controle sobre sua obra. A principal desvantagem é a falta de investimento e suporte na carreira, tornando muito difícil alcançar o público de forma mais efetiva.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Zândhio Huku: O principal é manter o foco em evoluir como músico e compositor, entregando o melhor possível para seu público e ter uma boa ética no trabalho e nas relações.

15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Zândhio Huku: No meu caso de artista independente creio que a internet só ajuda, pois acaba nos dando essa possibilidade de contato direto com nosso público, algo que seria impossível sem uma grande gravadora.

16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Zândhio Huku:  Creio que só há vantagens. Porém, para o nosso tipo de música ainda precisamos de uma boa sala de estúdio e bons equipamentos. Gravar tudo em casa não é uma opção, mudaria toda a dinâmica da nossa música.

17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Zândhio Huku: Creio que nossa maior vantagem é ter uma identidade única, que é compor em três idiomas indígenas com bastante influência da música ritual praticada nas aldeias, trazendo instrumentos típicos como flautas indígenas, maracás, tambores e também a viola caipira.

Mesclando isso com uma roupagem moderna (Heavy Metal, Música Brasileira). Claro, que ter toda essa mistura torna nossa música pouco acessível a qualquer nicho também. Infelizmente os ouvidos da nossa gente ainda é bastante colonizado, de modo que nosso público acaba sendo pulverizado em diferentes nichos.

18) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Zândhio Huku: Não tenho uma opinião formado sobre isso, na verdade foco mais em ouvir as coisas que gosto, não prestando atenção em algo que eu considere que não vai me trazer crescimento enquanto compositor e músico.

19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?

Zândhio Huku: Essas situações para uma banda independente no Brasil são corriqueiras, inusitado é quando dá tudo certo (risos).

No nosso caso as situações mais comuns são as relacionadas ao preconceito e desinformação em relação aos povos indígenas, e não é apenas no meio do Rock, é algo generalizado.

Infelizmente a grande maioria dos brasileiros desconhecem as contribuições dos verdadeiros donos dessa terra.

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Zândhio Huku: Ter orgulho de tudo que compus e gravei, ter tido reconhecimento de público, crítica e mídia em várias oportunidades, ter nossa obra estudada em importantes pesquisas acadêmicas.

Se eu morrer hoje já teria deixado um legado importante. Por outro lado, infelizmente esse reconhecimento nunca foi revestido em investimento para que pudéssemos expandir nossos horizontes e viver da nossa arte.

21) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Zândhio Huku: Creio o dom musical é intrínseco a qualquer ser humano, cabe a cada um descobri onde tem mais facilidade para desenvolver. No meu caso acredito que tenho dom pra compor.

Desenvolver a composição, tocar instrumentos, cantar é apenas consequência do foco e disciplina que vêm dessa necessidade de me expressar através da música.

22) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Zândhio Huku: Até onde sei, é algo criado no ato da execução, por exemplo, no caso do repentista onde lhe é dado apenas o tema e ele cria os versos em segundos, ou um guitarrista que pega seu instrumento e apenas sai tocando.

23) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Zândhio Huku: Sim. Claro que no momento do improviso sempre partimos de alguma referência que já temos. Nesse caso não seria muito diferente do processo de composição, onde a pessoa tem ideias, mas ao materializá-las estará condicionado às informações que já carrega, incluindo suas limitações.

24) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Zândhio Huku: Infelizmente nunca tive tempo para estudar sobre métodos de improvisação, porém cresci vivenciando um tipo de música que é puro improviso. Na verdade, a música surgiu como improviso e só depois foram se criando padrões.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Zândhio Huku: Também não tenho estudo formal sobre harmonia, tudo que aprendi sobre harmonia foi no processo de composição e vendo o produtor Caio Cortonesi construindo os arranjos das músicas as quais compus e gravei.

26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Zândhio Huku: Em todos os casos que nossa música tocou em rádios não houve pagamento de jabá; nem se quiséssemos teríamos essa grana (risos), mas em sua maioria eram rádios independentes.

Imagino que no meio mainstream seja necessário pagar para tocar, ou mesmo que toque uma vez outra sem jabá é apenas uma situação pontual que não resultará em um grande impacto na carreira do artista a médio e longo prazo.

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Zândhio Huku: Tem que amar muito a música e está disposto a abri mão de muitas coisas. No meu caso que tenho obrigações normais de qualquer cidadão proletariado, enquanto todos descansam, continuo trabalhando. Logo nunca descanso, e geralmente não tenho tempo para familiares e amigos.

28) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Zândhio Huku: Depende da forma que o festival divulga esses novos talentos. No nosso caso já tocamos em diversos festivais e nenhum deles agiram de forma que eu acreditasse que iriam revelar novos talentos. Era apenas mais uma oportunidade de mostrar nosso trabalho, sem impacto a médio e longo prazo.

29) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Zândhio Huku: Péssima! Sempre divulgam um tipo de música empacota que pouco diz sobre o que está acontecendo de fato na música brasileira.

30) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Zândhio Huku: Acho ótimo, apesar de ainda serem inciativas tímidas. Já tivemos oportunidade te tocar pelo SESC e foi maravilhoso, esperamos ter mais oportunidades.

31) RM: Quais os seus projetos futuros?

Zândhio Huku: Ainda esse ano irei lançar meu primeiro trabalho solo, e já estamos no início das gravações do próximo trabalho do Arandu Arakuaa.

32) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Zândhio Huku: (61) 99636 – 1043 | [email protected]

Facebook: https://www.facebook.com/aranduarakuaa

Instagram: https://instragram.com/aranduarakuaa 

Youtube: https://www.youtube.com/aranduarakuaa 

Arandu Arakuaa – Kûarasy (Sol/Sun – 528 HZ & 741Hz) HD: https://www.youtube.com/watch?v=PWNIhCiXSQY

Arandu Arakuaa – Hêwaka Waktû (Official Music Video) HD: https://www.youtube.com/watch?v=aT6eLthDwUE 

Spotify: https://open.spotify.com/artist/7pROvcUEXH7vldjQJ2z8PH 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.