More Wander Lourenço »"/>More Wander Lourenço »" /> Wander Lourenço - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Wander Lourenço

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Pesquisador de Pós-doutorado em Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa (2013-2016), em Estudos Literários da PUC-GO (2022/23) & da Universidade Federal de Minas Gerais (2023/24).

Diretor dos documentários “Carlos Nejar – Dom Quixote dos Pampas” (2017); “Nélida Piñon, a dama de pétalas” (2019) e “O Cravo e a lapela – Cinebiografia de Ricardo Cravo Albin”; Cronista do Jornal do Brasil (2011-15), Doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (2006). Mestre em Literatura Brasileira – UFF (2001); Especialização em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense (1996); e Graduação em Letras (1994) e Cinema (2007 – Incompleta).

Autor dos livros: A lenda do Sabiá-pererê (Editora Chiado – 2019), Escrevinhaturas (Editora Elefante – 2021), Terrae Brasilis (Editora Chiado – 2022) e A República do Cruzeiro do Sul (Editora Almed ina – 2023).

Segue abaixo entrevista exclusiva com Wander Lourenço para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 19.12.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal.

Wander Lourenço: Nasci no dia 17/10/1969 em Niterói – RJ. Registrado como Wander Lourenço de Oliveira.

Residente na Cidade Maravilhosa desde 1999, mais precisamente na Barra da Tijuca, com breve estada em Copacabana; entretanto, no período de pandemia da Covid-19, fixei-me no distrito de Lumiar; e, posteriormente, no bairro das Braunes, situado na Região Central do município de Nova Friburgo.

Em março de 2022, retornei ao Rio de Janeiro, para dar continuidade ao projeto “Grande Sertão Geraes – 115 anos de Guimarães Rosa”, com o cantor e compositor Amarildo Silva, membro-fundador do conjunto musical Cambada Mineira; e também para impulsionar a divulgação do meu romance histórico, intitulado A República do Cruzeiro do Sul, Editora Almedina, Lisboa-Portugal.

Ao optar pela assinatura do nome artístico, que vem a ser uma espécie de segundo batismo de sua identificação nominal, a do Autor, que pode optar pela abreviatura ou supressão do sobrenome; ou mesmo pela criação de um pseudônimo ou heterônimo, conforme se dá com o bardo Fernando Pessoa, que se reinventou em Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares etc.

No meu caso especificamente, eu quis ficar com apenas o primeiro sobrenome; portanto, sou tido (lido ou ouvido) como Wander Lourenço, porque, quando publiquei o meu primeiro livro, o editor indagou-me como eu gostaria de ficar conhecido; e, assim, suprimiu-se o de Oliveira.

02) Fale do seu primeiro contato com a música.

Wander Lourenço: Até onde as minhas reminiscências me permitem alcançar o passado já um tanto quanto longínquo aos 53 anos de idade – quiçá caiba o registro de que, em outubro de 2023, eu completei 54 primaveras e a comemoração foi no dia 21/10, sábado, às 11:00h, no evento “Filosofia na Praia”, idealizado pelo Embaixador Jerônimo Moscardo, no Leme, Zona Sul carioca.

Eu posso afirmar que o primeiro contato com a música popular se dera, salvo engano, por intermédio das cantilenas ciganas, entoadas pela progenitora da mi madre Nilda Lourenço, a Dona Presentita, que, para mim, era Vovó Pitita, afamada rezadeira de origem castelhana, provinda da Andaluzia, Espanha.

Aos sete anos de vida, os salmos das aulas de Catecismo ministradas por Dona Ruth; e, após a Primeira Comunhão, a minha iniciação musical se completou com as cantorias de louvor das procissões, novenas e ladainhas, em torno da Capela de São Lourenço dos Índios, marco da fundação do município de Niterói – RJ, minha querida terra natal.

Neste ínterim, recordo-me dos ritmos das batucadas de candomblé oriundos do centro espírita da mãe de santo, Dona Íris, aonde nós íamos aos festejos de terreiro de São Cosme e São Damião, atraídos pelos apetitosos pratos de doces: pudim, manjares, bolos de fubá de milho, laranja e aipim, pé de moleque, cocada etc. No espaço da negritude, os cânticos e tambores d’Áfricas se congregavam, profanamente, aos louvores ciganos e católicos da infância.

Deste período antropofágico, eu me lembro de um moleque mulato, o Ilson, que era neto do imigrante africano de nomeada Antônio Cabo Verde, que nos ofertava fumo em pó, conhecido por rapé; e, à proporção que cheirávamos, nós espirrávamos intermitentemente.

À época, o descendente de Seu Antônio Cabo Verde, Ilsinho Andorinha, nos ensinou a confeccionar zabumbas artesanais, feitas com lata de tinta, bolsa de papel do supermercado Disco e cola de farinha de trigo, a fim de que organizássemos o nosso próprio rancho de Carnaval; e saíssemos batucando em procissão momesca pelo Largo de São Lourenço.

Assim, eu, Tinoco, Malhado, Passarinho, Charles, Burunga, Berreca, Serginho e o caçula Sandrinho, hoje MC Meia-Noite, desfilávamos sob a regência do mestre de bateria, Ilsinho Andorinha, até que numa ocasião fomos contestados pelo folclórico Ary Barriquinha, que externou a sua predileção pela sonoridade do couro de gato, na confecção dos tambores carnavalescos.

Há, também, desta época, três personagens históricos que, assazmente, me inspiraram musicalmente: o negro cantador Seu João do Violão; o pandeirista Ivan Verruga, que nos introduziu Noel Rosa e Geraldo Pereira; e o compositor Edinho Careca, pertencente à Ala de Compositores da Escola de Samba Unidos da Viradouro, que escreveu samba-enredo antológico com belíssimo refrão, inspirado no clássico “Lapa em três tempos”, composto por Ary do Cavaco e Rubens, para o desfile da Portela, em 1971.

“Estela, ô Estela,

Abre a janela pra ver

A Unidos passar…”

03) RM: Qual sua formação acadêmica fora da área musical? Quantos CDs lançados? Nos apresente os livros que você já lançou?

Wander Lourenço: Eu tenho formação em Letras (1990-94), Cinema (2007- ), História (2009- ), Psicologia (2010- ); Especialização e Mestrado em Literatura Brasileira e Doutorado em Literatura Comparada, pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Não obstante, até os vinte e dois anos, eu fui jogador de futebol profissional do Canto do Rio, do América-RJ e do Serrano-Petrópolis. Imagina a dificuldade que era para eu conciliar a vida de estudante de Letras, atleta, boêmio, poeta e escritor… Como boemia universitária não combina com trajetória atlética, eu literalmente pendurei as chuteiras e me entreguei de corpo e alma à Literatura, musa promíscua e caprichosa.

Entretanto, para além do percurso acadêmico e futebolístico, eu sou diretor e produtor executivo dos documentários “Carlos Nejar, o Dom Quixote dos Pampas” (2015); “Nélida Piñon, a dama de pétalas” (2018); e “O Cravo e a lapela” (2021), este último sobre o musicólogo Ricardo Cravo Albin, tendo como publicações recentes os livros Escrevinhaturas – Editora Elefante – SP (2021); a obra infantojuvenil A lenda do Sabiá-Pererê (2019) e a obra de ficção Terrae Brasilis (2022), ambos publicados pela Editora Chiado – Lisboa.

A respeito da indagação ao trabalho musical já lançado, eu sou autor de todas as letras dos álbuns Mariana, de Amarildo Silva (2017); Evangelhos dos mitos, de Valber Meireles (2018); e Sagração, de Chico Lobo – Gravadora Kuarup – SP (2019).

Após este preâmbulo, posso apresentar-me como poeta; romancista; crítico literário; PhD em Estudos Comparatistas da Universidade Clássica de Lisboa-Portugal (2013-2018); pesquisador de Pós-Doutorado da Pontifícia Universidade Católica – GO (2022-2023) e da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2023-24); professor universitário e coordenador do curso de Pós-Graduação EAD em Formação do Autor, da Universidade Católica de Petrópolis (UCP); roteirista; teatrólogo; produtor cultural; cronista do Jornal do Brasil e das revistas virtuais Athena – Portugal e Bula – Brasil.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente.

Wander Lourenço: Aos dezesseis anos de idade aproximadamente, guardadas as devidas proporções, tornei-me Poeta; e, neste compasso lírico, as minhas influências se inscrevem por intermédio da construção da linguagem, elaborada pelo ficcionista de Cordisburgo, João Guimarães Rosa; e do letrista carioca, Chico Buarque de Hollanda, que são os meus ídolos absolutos acima de todas as outras referências em minha formação artística de cunho lítero-musical.

Desta idolatria por Guimarães Rosa, sobretudo, abrolharam os três CDs mencionados, em parceria com os compositores e intérpretes Amarildo Silva (Mariana), Valber Meireles (Evangelho dos Mitos) e Chico Lobo (Sagração).

A partir do diálogo entre a alquimia rosiana e a pesquisa sobre os ritmos originários do cancioneiro popular das Minas Gerais: congadas, modas de viola, cirandas, toadas, cantigas, folias de reis etc., se forjou a minha poesia musicada, da qual eu tenho até mais predileção do que quando sou lido ou recitado.

05) RM: Como é seu processo de compor? Quais são seus principais parceiros de composição?

Wander Lourenço: No que tange ao meu processo de criação musical, basicamente as parcerias se constroem através do esquema Letra / Melodia, uma vez que, em 95% dos casos, eu costumo enviar os poemas para o melodista encobri-los com o abrigo rítmico das composições.

Neste processo de composição, o meu principal e mais importante parceiro vem a ser Amarildo Silva, que me iniciou, profissionalmente, com a produção do álbum Mariana.

A partir deste trabalho, os outros parceiros foram se achegando naturalmente, tais como Murilo Antunes, Byafra, Nilson Chaves, Kiko Continentino, Simone Guimarães, Agenor de Oliveira, Mário Lago Filho, Gabi Buarque, Socorro Lira, Chico Lobo, Irene Preta, Lysia Condé, Nádia Campos, Iaiá Drummond, Valber Meireles, Sarah Abreu, Renato Novaes, Carlos Chaves, Iaiá Drummond, Francis Hime, Claudio Nucci, Consuelo de Paula, Kátya Teixeira, Déa Trancoso, Cátia de França, Cristina Saraiva, Cristóvão Bastos, Juraíldes da Cruz, Pereira da Viola, Rubinho do Vale, estes últimos em processo de construção.

06) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira e como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira? E quais as suas preferências musicais?

Wander Lourenço: Para analisar o cenário da Música Popular Brasileira contemporânea, nós compositores não podemos nos olvidar de que o nosso país produziu o que há de mais significativo musicalmente em se tratando do século XX, apesar do jazz e do rock and roll norte-americanos.

Certa feita, eu fui provocado pelo editor da revista literária a escrever uma crônica com a escalação do excrete da MPB de todos os tempos. Eis a minha convocação do selecionado masculino pátrio: 1. Milton Nascimento, 2. Luiz Gonzaga, 3. Ary Barroso, 4. Pixinguinha e 6. Dorival Caymmi; 5. Noel Rosa, 8. Caetano Veloso e 10. Chico Buarque; 7. João Gilberto, 9. Vinícius de Moraes e 11.Tom Jobim.

Neste contexto, sugiro que os amantes da música Made in USA convoquem o seu Selecionado Yank, para a finalíssima da Copa do Mundo da Música, entre Brasil X Estados Unidos da América. Brincadeiras à parte, curiosamente, a Música Popular Brasileira (MPB) alcançou tal nível de sofisticação estética, para além do desenvolvimento intelectual das camadas menos favorecidas culturalmente da população do país, que não conseguem mais acompanhar a “erudição” dos compositores nacionais, consoante acontecia na Era do Rádio, por exemplo.

No bojo desta contradição ou paradoxo, cabe a informação sobre o processo de massificação midiático, que, nitidamente, se propõe a “aculturar” o povo brasileiro, para instauração da indústria da imbecilidade, por intermédio do binômio Capitalismo / Alienação, com o objetivo de consolidação do predomínio geopolítico contra as nações periféricas e subdesenvolvidas.

Nada obstante, há de se convir que esta metodologia do esmagamento cultural aplicada pelos Estados Unidos da América não vem a desfrutar de qualquer espécie de título de autenticidade, uma vez que tal pedagogia do aniquilamento das tradições originárias, autóctones e folclóricas, das nações subdesenvolvidas já fora utilizada por outros impérios, como o Romano e a Coroa Portuguesa, em cumplicidade com a Madre Igreja.

No que tange à minha preferência musical, eu devo ressaltar que vem a ser vastíssima do erudito ao popular, por se iniciar com o cancioneiro barroco de Vivaldi e Bach, além de Pixinguinha e do Heitor Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro de todos os tempos imemoriais… Eu sempre digo que, quando o Brasil compreender Heitor Villa-Lobos, Guimarães Rosa e Glauber Rocha, nós, de fato, teríamos assimilado o conceito de brasilidade cunhado por Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antropófago.

No âmbito da música popular, além do supracitado Chico Buarque, não posso me olvidar de Caetano Veloso, mentor intelectual da Tropicália, conjuntamente com Gilberto Gil, Torquato Neto, José Carlos Capinam, Tom Zé, Mutantes e afins.

Não posso deixar de dizer sobre o deus (gre) negro Milton Nascimento, introdutor do movimento intitulado Clube da Esquina, em parceria com os poetas Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Murilo Antunes e os instrumentistas Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Tavinho Moura etc., que, a meu ver, antropofagicamente, em nada fica a dever ao gênero musical Bossa Nova, do ideólogo baiano João Gilberto.

No terreno da poesia musicada, há um sujeito formidável e magistral chamado Noel Rosa, que, em muito irá se aproximar de João Gilberto, porque ambos são criadores de um gênero musical, no caso de Noel, o samba urbano, juntamente com Sinhô, Ismael Silva, Geraldo Pereira, Wilson Batista, Cartola e Nelson Cavaquinho, que nos deixou um legado para o surgimento da Bossa Nova.

À parte a estes monstros sagrados da MPB, é preciso destacar a força da letra de música; e, por isto, tornar-se-á necessário aludir ao espólio poético de Paulo César Pinheiro e de Aldir Blanc, conterrâneos e contemporâneos que, paralelamente ao discurso político-estético de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, a trinca de ouro da MPB, forjou a sua assinatura com originalidade e maestria.

Em retorno ao samba, cabe a menção ao emblemático Adoniran Barbosa, híbrido de imigrante italiano com o caipira Jeca Tatu de Monteiro Lobato, cuja personalidade se dará através de uma forte marca, que se faz representar pelo sotaque regional.

Além desta lira paulistana, é imprescindível fazer referência ao mestre Candeia da Portela que, sendo partideiro de grande valor, vigoroso porta-estandarte da etnia negra e mui habilidoso na arte de versejar, criou magistrais relíquias do patrimônio musical pátrio. Creio que não se possa perder de vista Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, portelense histórico e autor do hino informal da escola de samba, “Foi um rio que passou em minha vida”, que, sem dúvida, não há declaração de amor equivalente a uma agremiação carnavalesca.

Contudo, o sambista ainda vem a ser autor de inúmeros clássicos, que se distanciam da festa profana do Rei Momo, tais como o diálogo moderno de “Sinal fechado” e a esplêndida “Ainda mais”, em parceria com Eduardo Gudim.

Neste ritmo, surge-nos, também, o divinal Martinho da Vila, com a sua poética, malandramente, soletrada ao pé do ouvido, conforme fosse um sussurro de senzala, insofismável embaixador da Lusofonia em Áfricas, que se entrona por intermédio dos cânticos de macumba, como no lamento de capoeira de “Iaiá do cais dourado”.

Por fim, cito o compositor Luiz Carlos da Vila, que vem a ser o último dos poetas do samba, por sua lírica superlativa que abrange as inúmeras faces do ritmo afro-brasileiro, do samba-enredo “Kizomba, festa da raça”, aos timbres do alto-astral de “O show tem que continuar”, além de ter escrito os mais belos versos de amor da História do Samba: “Por te amar eu pintei / Um azul do céu se admirar”, que culminam com a linda e singela definição do sentimento:

A cantar eu direi o que eu acho então o que é amar

É uma ponte lá para o longe do horizonte
Jardim sem espinhos
É uma dança, paz de criança
Que só se alcança se houver carinho
É estar além da simples razão
Basta não mentir pro seu coração.

07) Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram as revelações da música contemporânea?

Wander Lourenço: A grande mídia sempre se concentrará nas grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro; entretanto, a música contemporânea de melhor qualidade está sendo produzida em Minas Gerais, mais precisamente em Belo Horizonte.

No que se refere ao cenário musical brasileiro, que, obviamente, não se restringe a estes três estados do Sudeste, mas que, com exceção do território mineiro, os grandes compositores e intérpretes residem, ainda que ao estado de Minas Gerais retornaram alguns dos grandes expoentes do Clube da Esquina, como Lô Borges, Beto Guedes e Tavinho Moura.

Esta ambiência musical, decerto, possibilitou o surgimento de uma geração excepcional, capitaneada pela maior revelação da MPB, que é a cantora Bárbara Barcellos, já apadrinhada por Milton Nascimento, acompanhada de muito perto pela flautista e intérprete Irene Preta, além da mais pronta de todas para estourar nas paradas de sucesso do país: Mariana Nunes, vocalista do grupo Cobra Coral.

Ultimamente, estou ouvindo bastante uma intérprete de uma sensibilidade apuradíssima, uma espécie de Nana Caymmi mineira, Leopoldina Azevedo, além do canto lírico-pop de Iaiá Drummond e da mais genuína discípula do Clube da Esquina, no tocante ao diálogo com o cancioneiro latino-americano, Nádia Campos.

No Rio de Janeiro, há uma cantora de uma inteligência excepcional, a Alice Passos, que, muito em breve, será reconhecida e aclamada por público e crítica, o que também irá acontecer com a violonista e intérprete friburguense, Luísa Lacerda, já cultuada por Edu Lobo, Guinga e os outros bambas.

Da geração carioca anterior, há o violonista gaúcho Yamandu Costa e o sete-cordas paulista João Camarero, além do jovem Pedro Franco. Dentre os ‘sambistas brancos’ provenientes da Lapa, destacam-se o engenhoso Alfredo Del Penho; o irreverente Pedro Miranda e o maior talento dos últimos anos, Moyses Marques.

Em São Paulo, destaco a maior sambista da atualidade, Verônica Ferriani, e a pós-bossanovista Anna Setton.

08) RM: Você acha que as pessoas, no geral, estão mais para aceitar as letras que buscam o entretenimento ou a divagação lírica do que proporcionar reflexões humanas e sociais profundas?

Wander Lourenço: No Brasil, especificamente, a instauração do ‘Elogio da Ignorância’, propositado pelo modelo socioeconômico importado dos Estados Unidos da América, nos impeliu ao contexto de quase uma guerra civil entre o público e a classe artística, sob o refrão de que esta última desfrutava de vantagens signatárias da ideologia marxista.

O que os próprios partidários desta acusação sem fundamento, já que a produção cultural vem a simbolizar a identidade pátria de cada povo, são instrumentos ou vítimas da política do brutal empoderamento das elites dominadoras, que sequestram o discernimento do povo aculturado, como estratégia de aprisionamento do imaginário coletivo.

Daí o propósito da aniquilação da identidade e da memória, a fim de que gigante Piaimã, representado pelo colonizador midiático das ideias, se embrenhe, com intento de desestabilização do patrimônio cultural pátrio, assim como outrora fora empregado pela Coroa Portuguesa no período de dominação do Brasil-Colônia e do território d’Áfricas.

À época, havia três práticas aborígenes que, digamos, em muito prejudicava a colonização lusitana: a antropofagia; a poligamia; e o consumo de cauim. Diante desta encruzilhada autóctone, El-Rey de Portugal convocou a Companhia de Inácio de Loyola para catequização do inconsciente coletivo dos selvagens ameríndios, degredados e aventureiros, através do Cristianismo.

Este exórdio histórico nos serve para a ilustração de que o sequestro do imaginário se torna mais eficaz do que os castigos físicos e as correntes de ferro. Isto porque, para além da ascendência político-econômica sobre o colonizado há também a necessidade do predomínio intelectual por intermédio da escravização psíquica.

Posteriormente, o sistema financeiro capitalista assaz contribuiu para tal mecanismo de preponderância sobre o ser humano ao instituir os “juros”, que vem a ser a forma mais sofisticada de escravatura.

Portanto, o aprisionamento do imaginário aliado ao cárcere sistema financeiro, impulsionado pelo famigerado consumo, vem a ser a mola-mestra de todo processo de dominação do indivíduo de origem humana.

Para concluir, eis um caso concreto: Ainda que diluída entre os três legatários da Rede Globo, a maior fortuna pecuniária de ordem familiar do Brasil está nas mãos dos herdeiros do empresário Roberto Marinho, que supera o espólio financeiro do proprietário da Ambev, o que me leva a crer que o investimento em aculturação há de ser mais lucrativo do que o empreendimento em consumo do cauim de cevada…

08) Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Wander Lourenço: O acontecimento mais inusitado em minha carreira de letrista se deu, no início de 2009, quando escrevi a letra de uma canção intitulada “Memorial das águas”, em homenagem ao compositor Dorival Caymmi, cuja primeira parte se inspirava no cancioneiro do mestre baiano.

Certa feita, eu resolvi mostrar à biógrafa e neta do criador de Maracangalha, Stella Caymmi, que me confessou ter ficado tocada com a letra da canção.

Quase dois anos depois, eu e Stella Caymmi encontramos Ivan Lins, que nos falou a respeito de um projeto musical que havia concebido sobre o velho Caymmi, que deveria contar com a presença de sua mãe, Nana.

No que a minha amiga Stella Caymmi lhe respondeu: “Ele fez uma letra para vovô, Ivan.”; e, a visualizar a letra de “Memorial das águas”, para estupefação deste acanhado Poeta, o Ivan Lins começou a cantarolar os versos da canção.

Ao findar da cantoria, ele dobrou a página dizendo-me ser provável que, quiçá, musicasse a homenagem ao Dorival Caymmi. Enfim, a melodia jamais foi composta; entretanto, consola-me a lembrança da data de que quase me tornei parceiro de Ivan Lins

09) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical? O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Wander Lourenço: Creio que exista, sim, o dom em todas as áreas da criação humana; porém, a vocação inventiva (semi) divina de âmbito artístico exigirá do autor muito tempo de dedicação; seja ao discurso poético; seja ao instrumento musical; seja aos matizes das artes plásticas; seja ao formão sobre a matéria-prima da argila, pedra ou madeira; seja aos traços geométricos da arquitetura; seja aos ímpetos dramatúrgicos do Teatro ou da Sétima Arte. Destarte, constata-se, que o talento seja lapidado, com aprimoramento teórico e prático, suor da labuta e tempo disponível.

Aos neófitos da Poesia, eu sempre digo que a Literatura é uma dama promíscua e presunçosa, que se entrega a todos, homens e mulheres, mestres e poetastros; e, de outra feita, como musa e senhora, irá exigir dos poetas e ficcionistas comprometimento e exclusividade sobre todas as artes e ciências, pois que jamais há de admitir ser subjugada.

Por esta razão, eu, particularmente, desconfio de que este vem a ser o principal motivo dos historiadores e filósofos não atingirem o ápice da criação literária, já que a subestimam, ao classificá-la menos importante do que a História e a Filosofia.

À parte isto, confesso que jamais consegui dominar com primazia instrumento musical de qualquer estirpe de cordas, sopro ou percussão, embora tivesse incursado como ritmista no Bloco de Carnaval Unidos de São Lourenço; e, aos dez anos de vida, ter ingressado como corneteiro na banda do Colégio Estadual Brigadeiro Castrioto (CEBRIC), tendo migrado para a gaita na puberdade, pouco antes de desistir de vez do violão e das aulas de cavaquinho, ministradas por Cidinho Charuto.

Não obstante, hoje, percebo que a paixão pela Literatura fora a responsável para que eu não me dedicasse de corpo e alma à Euterpe, como instrumentista e/ou compositor de melodias.

10) RM: Alguns compositores já declaram o fim da canção. Qual a sua opinião sobre essa afirmação? Hoje ainda existe espaço e ouvinte para música com letra que se sustenta como um poema/poesia?

Wander Lourenço: Apesar do monopólio midiático orquestrado pelo capital geopolítico e ideológico norte-americano, sobretudo porque, enquanto houver musas e trovadores dispostos a semear o cortejo de sopros provindo do instrumento da deusa Euterpe e a pena de um bardo solitário, como Dorival Caymmi ou Vinícius de Moraes, a nos inspirar, eu estou convicto de que canção jamais se findará, conquanto alguns mensageiros do caos com as suas cornetas imaginárias do niilismo propaguem o contrário. Falácias.

De minha parte, desta trincheira lírica por detrás da qual me manifesto íntima e simbolicamente, posso dizer que, em hipótese alguma, deporei as minhas armas e instrumentos, pois que estarei pelejando até o último suspiro poético.

Quanto à temática da letra de música e poema de livros, quiçá caiba a alusão ao fato de que, historicamente, em seus primórdios, a Poesia cantada antecede a escrita e não era dissociada da melodia. No livro Fedro, do filósofo grego Platão, há um capítulo intitulado “A invenção da escrita”, que narra como o deus egípcio Toth criou, entre outras artes, jogos e ofícios, o que comprova, filosoficamente, que a Poesia acompanhada das notas dos instrumentos musicais antecipara-se há séculos dos versos escritos separados da melodia…

11) RM: Na Rádio e na TV o autor da música quase não é informado. Quem canta passa a ser “o autor” da canção. Esse fato te incomoda? O direito autoral é pago corretamente? O que lhe deixa mais feliz e mais triste na função de letrista?

Wander Lourenço: Comigo aconteceu um fato curioso à época em que estávamos lançando o álbum Sagração, com Chico Lobo (voz e viola caipira), Sérgio Rabello (violoncelo) e Leíse Renhe (violino); e fomos convidados a ir ao programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrin, na TV Cultura, São Paulo.

Nesta ocasião, eu, que havia concebido o diálogo musical entre a linguagem de Guimarães Rosa e os ritmos folclóricos de Minas Gerais, que era uma das prédicas do Modernismo de Mário e Oswald de Andrade, não participei da gravação, simplesmente porque não havia passagem nem hospedagem para mim, o letrista de todas as músicas…

Eis que a comprovação daquela história de que o passarinho compositor vale mais do que a ave cantadora não é verídica, uma vez que o letrista, que não canta, não faz show nem vende CDs, ficará sempre à mercê do ECAD, que, absolutamente, por negligência ou má-fé, não possibilita a dignidade de sobrevivência do artista da palavra.

Em suma, vide o exemplo de Aldir Blanc, um dos maiores letristas de todos os tempos da MPB, que precisou de uma vaquinha pública, para que pudesse ter sido internado numa clínica particular, quando contraiu Covid-19.

Com raríssimas exceções, como é caso de Paulinho César Pinheiro, recordista com mais de duas mil (re) gravações, e a galinha dos ovos de ouro da Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, os direitos autorais são pífios e desprezíveis, até mesmo para os grandes compositores, como Belchior, o que realmente muito me entristece.

Porém, o que mais me deixa feliz na missão de ser letrista vem a ser o encontro com os parceiros estrada afora; e, para mim, que não sou instrumentista; ou seja, provenho da palavra escrita, da poesia denominada de livro, poder compartilhar a minha poesia com grandes músicos, do porte de Simone Guimarães, Agenor de Oliveira, Kiko Continentino e Carlos Chaves, membro do quarteto de cordas Maogani.

Ou mesmo o convívio virtual com letristas do calibre intelectual do Márcio Borges, Murilo Antunes, Cristina Saraiva, Juca Filho, Xico Chaves, Paulinho Pedra Azul e Paulo Sérgio Valle, é uma grande honra e alegria.

Curiosamente, eu que sou oriundo da Literatura; e, portanto, em tese, pertenço à tribo dos escritores, críticos literários e pesquisadores da academia, fui muito bem aceito pelos compositores de música.

Como exemplo, posso ilustrar uma situação que aconteceu recentemente comigo. Como faço Pós-Doutorado em Estudos Literários na Universidade Federal de Minas Gerais sobre Guimarães Rosa, eu precisava ir a Belo Horizonte – MG para assinatura de documentação; e, com exceção do meu xará e orientador Wander Melo Miranda, ao vasculhar a memória em busca de pessoas que poderia encontrar na capital mineira, para o heroico enfrentamento do afamado fígado com jiló do Mercado Central, todos os conhecidos que me vieram à cabeça para combinar o encontro eram os artistas da música, tais como Márcio Borges, Murilo Antunes, Pereira da Viola, Chico Lobo, Iaiá Drumond etc. E veja que eu cheguei a Minas Gerais pelas mãos eruditas de Guimarães Rosa

12) RM: Quais os prós e contras de Festival de Música? Festivais de Música revelam talentos?

Wander Lourenço: Infelizmente, de um modo geral, hoje em dia, os Festivais de Música se restringem ao município do interior do país; e não recebem a devida atenção da mídia, de modo que estes artistas não consigam ultrapassar a fronteira imposta pelos distribuidores do PIM (Produto Interno Musical).

Há o Festival da Rádio MEC, que, em 2017, eu e Amarildo Silva saímos vencedores com a primeira colocação, na Categoria Música Regional, com a parceira da nossa canção “Realejo”, interpretada por Cátia de França.

13) RM: Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em outubro de 2016. Será que este fato anima outros letristas a “sonharem” com prêmios na área de Literatura ou é um fato isolado?

A premiação de popstar Bob Dylan para o Nobel de Literatura e de Chico Buarque de Hollanda para o Prêmio Camões, embora haja o fato de que um Poeta de livro jamais será contemplado com o Grammy, deveria ser interpretada como uma abertura de concepção da banca avaliadora, que reconheceu estes trovadores modernos da palavra cantada, como representantes das artes literárias.

Por outro lado, pode-se até argumentar que Chico Buarque também exerce o ofício de teatrólogo e romancista; entretanto, não creio que o autor de Ópera do Malandro e Estorvo possua dotes ficcionais que o impulsionem à premiação literária.

Quiçá; seja mais prudente analisar a questão pelo ângulo da Poesia cantada buarqueana, que flerta com a alta Literatura; e, neste sentido, me sinto à vontade para, já que Bob Dylan o abocanhou, reivindicar o Prêmio Nobel para Caetano Veloso!…

Na História da Música Popular Brasileira, é fato que alguns poetas migraram para a letra de música, como é caso de Vinícius de Moraes, Cacaso, Arnaldo Antunes etc.; entretanto, em se tratando de Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, eu tenho a impressão que houve um caminho inverso percorrido pela dupla, de vez que ambos migraram da letra de música para a Poesia, ainda que cantada à luz dos acordes do violão.

Não obstante, esta provocação pode ser comprovada ao atentarmos para o início da produção poético-musical destes magistrais artistas, a partir de músicas como “A banda” e “De manhã”. De lá pra cá, nota-se que Chico Buarque escreveu “Construção”; e Caetano Veloso, que, diga-se de passagem, incialmente não era o porta-voz poético do Tropicalismo, cedendo a função a Torquato Neto e Capinam, assinou “O Quereres”, formidável poema neobarroco à Gregório de Matos e Guerra.

A esta metamorfose ambulante conforme alude a outro discípulo-conterrâneo do Boca de Inferno, Raul Seixas, muito deveria agradecer a Música Popular Brasileira, que já tinha ganhado o reforço do letrista Vinícius de Moraes, que, no entanto, apesar da grandiosidade de seu espólio-baú repleto de samba-canção e Bossa Nova, fora suplantado esteticamente pela transmutação lírica de Chico Buarque e Caetano Veloso, o meu candidato, reitero, ao Prêmio Nobel de Literatura!…

14) RM: Qual a sua opinião sobre a função positiva do crítico musical?

Wander Lourenço: Apesar de ser amigo pessoal do musicólogo Ricardo Cravo Albin, o último remanescente da Época de Ouro da crônica jornalística, após a partida de José Ramos Tinhorão e Zuza Homem de Melo, creio eu que o crítico musical vem a ser um animal em extinção, que preservará a sua existência coabitando a Reserva de Preservação da Música, uma espécie de oásis em pleno território de devastação propositado pelo Agronegócio do cancioneiro popular pátrio.

Nesta Pasárgada musical, os arqueólogos críticos de música irão se deparar com a obra de um Ary Barroso ou de um Lupicínio Rodrigues, porque a matéria-prima contemporânea foi sendo produzida com alteração transgênica, ainda que exista a produção orgânica e sustentável cultivada, artesanalmente, por um agricultor do porte de Elomar ou Chico César.

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira profissional? Quais os seus projetos futuros? Quais os seus contatos com o público?

Wander Lourenço: As estratégias de planejamento profissional se pautam por uma rígida disciplina de produção literária e cinematográfica, que procuro conciliar com a função docente, que exerço há mais de três décadas de labuta no magistério, pois que só tive duas profissões de carteira assinada, a de jogador de futebol; e a de professor.

Neste processo de constituição humana e intelectual, eu prossigo em busca da sobrevivência física e psíquica, defrontando-me com deus Chronos, a fim de que possa dar continuidade a esta missão de escrevente literário; seja por intermédio da narração das obras ficcionais; seja através das construções dialógicas do registro teatral e do roteiro de cine; seja por meio da escritura dos poemas e letras de música ou crônicas.

Neste diapasão, os projetos acadêmicos e artísticos mais recentes se avultam concomitantemente, haja vista que, em setembro deste ano, organizei o lançamento do romance A República do Cruzeiro do Sul, no Instituto Cultural Cravo Albin; e, com a Profa. Dra. Nina Barbieri, iniciarei, em 2024, a coordenação da Pós-Graduação a Distância em Formação do Autor (Matrículas abertas para todo Brasil, Portugal e Nações Africanas da Lusofonia), na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), com corpo docente de excelência: Carlos Nejar, Mary Del Priore, Ricardo Cravo Albin, Deonísio da Silva, Bia Lessa, Luiz Carlos Prestes Filho e Marcelo Moutinho.

16) RM: Quais seus contatos?

Wander Lourenço: (22) 99244 – 6296 | [email protected] | https://www.instagram.com/lourenco.wander

Realejo (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=LSrBRNdzHh4

Pele Fêmea (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=9mHQSGB3rJU

Sonhice (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=-fggEhZpxHw

Canto de Algum Lugar de Mim (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=q10tvcfYxh0

Inventário do Tempo (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=Lt-VrSt0O-Y

Quem Me Dera Ser de Minas (Wander Lourenço · Amarildo Silva): https://www.youtube.com/watch?v=WTb8-D1UHLE

Literatices Paulo Lins – 5 de jun. de 2021 – Bate-papo com o escritor de Cidade de Deus, Paulo Lins, com as participações do prof. Zé Arnaldo e do poeta e dramaturgo Wander Lourenço: https://www.youtube.com/watch?v=1ElCTfh2Qjw

Papo em Pauta com Wander Lourenço – 13/07/2020: https://www.youtube.com/watch?v=b30DkGJS6mE

Identidade Brasil – Wander Lourenço entrevistado por Arnaldo Niskier – Cultura e Educação: https://globoplay.globo.com/v/10978742/

Documentário sobre Ricardo Cravo Albin: https://youtu.be/xdrRabpNXVs?si=6jNuy6B3NpCRXxX-


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.