A cantora, compositora Tetê Espíndola com mais de vinte anos de carreira lançando um trabalho de qualidade a cada ano, mostrando que é possível viver e sobreviver realizando trabalhos de qualidade artística e experimental.
Tetê arrepiou a alma e os cabelos do povo brasileiro no Festival de Música da rede Globo em 1985 cantando a música: “Escrito Nas Estrelas”, gravada depois em um Mix com outra música: “Linda Flor” atingindo recordes de execução e vendagem proporcionando-la o disco de ouro. Sua influência direta são sons da natureza, especialmente dos pássaros que ouvia na infância no Pantanal e imitava-os numa oficina de canto espontâneo.
Com uma voz ímpar de possibilidades vocais longe do alcance das pessoas comuns e de poucos profissionais do canto fez do seu instrumento, o seu diferencial e referencia musical. Com onze discos lançados cada um com um perfil especial, originalidade e experimentação e interação com a natureza trilha um caminho fecundo e prospero sem cair na banalidade fugaz do sucesso descartável.
De família de músicos experientes e virtuosos que foram os primeiros apoios e suporte no aprendizado e parceria musical. Vê com tristeza o mercado fonográfico brasileiro e acredita na importância dos selos independentes que abrem espaço para novos e talentosos artistas que não tem espaços nas grandes gravadoras.
01) Ritmo Melodia: Tetê Espíndola, fale do seu primeiro contato com a música. Qual a sua formação musical e local de nascimento?
Tetê Espíndola: Eu nasci dia 11 de março de 1954 em Campo Grande, hoje Mato Grosso do sul. Nasci numa família musical. Minha mãe cantava muito em casa e também a convivência com os meus tios trigêmeos que tocavam piano a seis mãos. Desde pequena escutava muita música clássica. Aos 8 anos de idade curtia o som de conjuntos paraguaios pelo contato com a fronteira, da Jovem Guarda, Beatles, Janis Joplin e Bossa Nova foram as influências presentes na minha adolescência.
02) RM: Fale do seu início de carreira profissional.
Tetê Espíndola: Aos 14 anos ganhei um Festival de Música na minha cidade com a música do meu irmão Geraldo: “SORRISO” e dai pra frente comecei a pensar em seguir carreira. Mas foi em 1977 que vim para São Paulo e comecei a minha luta por uma carreira musical.
03) RM: Quantos CD lançados?
Tetê Espíndola: Lancei :”Tetê e o Lírio Selvagem” em 1978 pela Polygram, trazendo composições próprias e dos meus irmãos: Alzira, Geraldo e Celito. E “Piraretã” pela Polygram em 1980 que marcou o meu encontro com Arrigo Barnabé, fui a primeira a gravar uma música dele: “TAMARANA” em parceria com o Paulo Barnabé. Em 1981, defendi a valsa: “Londrina” (de Arrigo) no MPB Shell (que virou um compacto independente, com uma outra música: “CANÇÃO DOS VAGA-LUMES”) que recebeu o prêmio de melhor arranjo por Cláudio Leal Ferreira.
Em 1982: “Pássaros na Garganta” (Som da Gente,1982). Esse trabalho original (cujo nome foi uma homenagem feita pelo poeta Augusto de Campos) com colagens de sons naturais e gravação na Gruta do lago azul, ganhei o prêmio da APCA. Gravei musicas SERTANEJAS em ritmo de guarânia.
Em 1985: Festival dos Festivais da Rede Globo, que participei com a canção: “Escrito nas Estrelas”, que bateu recordes de execução e vendagem, dando-me o disco de ouro. Foi um lançado um MIX dela com outra musica: “LINDA FLOR” (ai ioiô…com o DUOFEL). Gravei: “Gaiola” pela Polygram em 1986 com o hit: “Na Chapada” (dueto com Ney Matogrosso).
Com uma bolsa da Fundação Vitae, desenvolvi um projeto sobre a instrumentalidade da voz humana (em parceria com Arnaldo Black) e a musicalidade dos pássaros da Amazônia e do Pantanal (em parceria com Marta Catunda) que resulto no disco onde me inspiro na musicalidade dos pássaros: “Ouvir” em 1991 dando início ao meu selo Luz Azul. Agora lançado em CD – “OUVIR”/BIRDS, também na Europa.
Lancei o CD interpretativo: “Só Tetê” pela Camerati em 1993, que traz de Djavan a Tom Jobim e outros compositores mais novos. Gravei: “CANÇÃO DO AMOR” pela Lua Azul /Muviplay onde comemoro 20 anos do encontro com a Craviola, instrumento idealizado por Paulinho Nogueira. Nesse CD regravei todos os meus sucessos entre eles: “Vida cigana”, “KiKiô”, “Gata Vadia” e “Escrito nas estrelas”.
Gravei um Ao Vivo: ANAHÍ pela Luz Azul/Dabliú com a Alzira Espíndola. Um momento especial, dedicado aos clássicos do cancioneiro genuinamente sertanejo. O repertório traz pérolas entre elas: “Chalana”, “Meu Primeiro Amor”, “Índia”, “Galopera”, “Serra da Boa Esperança”, “Ciriema” e “Merceditas”.
Em 2001 gravei: VOZVOIXVOICE pela Luz Azul/MCD. Um caleidoscópio musical de línguas e timbres. Gravado em Paris, música e arranjos de: PHILIPPE KADOSCH em que uso a voz como um instrumento e emitindo os sons da natureza. Esse CD também já foi lançado em Portugal e na Alemanha .
Em 2002:“FIANDEIRAS DO PANTANAL” pela Luz Azul, com a escritora e poetisa Raquel Naveira, destaque para dois poemas que musiquei: “Fiandeira” e “Relógio da 14”. O encontro permitiu vir à tona a memória de raízes culturais presentes na arte de cada uma. além dos poemas inspirados de Raquel; criei temas musicais que aparecem em forma de guarânia, valsa, balada, moda caipira, blues, rock. Alguns desses CDS estão á venda no meu site www.teteespindola.com.br
04) RM: Como você define seu trabalho e a sua voz?
Tetê Espíndola: O meu trabalho gira em torno da minha voz como instrumento, interpretação, personagens, emissões de pássaros. Enfim me considero uma artista experimentalista, mas sempre com um pé no popular.
05) RM: Fale da sua participação em Festival de Música. E como você vê a importância dos mesmo para a divulgação e lançamento de novos artistas?
Tetê Espíndola: Participei de poucos Festivais de Música, mas foi muito importante para minha carreira musical, sempre foi uma boa oportunidade pra divulgar mais a minha voz tão incomum. Acho que os festivais de Música devem continuar a mostrar e preservar a qualidade da nossa música tão rica e cheia de novos talentos.
06) RM: Como é o seu processo para criar uma composição? Toca algum instrumento musical?
Tetê Espíndola: Toco Craviola (12 cordas) há 30 anos e com ela componho e faço arranjos, explorando a sua oitava, fazendo solos caipiras e usando oitavados, gosto de fazer desenhos de linha de Baixo.
07) RM: Fale do novo lançamento.
Tetê Espíndola: De agosto de 2001 pra cá lancei dois trabalhos um bem diferente do outro: O VOZVOIXVOICE (em agosto) que gravei em Paris e FIANDEIRAS DO PANTANAL (em junho de 2002) um projeto de leitura de poemas e canções com a escritora Raquel Naveiras.
08) RM: Quais foram e são suas influências musicais?
Tetê Espíndola: Acho que os pássaros me influenciam sempre e gosto muito de música instrumental.
09) RM: Na sua família tem mais músicos profissionais?
Tetê Espíndola: Sim, vários: Alzira, com vários discos gravados; compositora e instrumentista e também dá aulas de canto. O mais recente trabalho: “NINGUÉM PODE CALAR”, música de MAÍSA. Geraldo: compositor e instrumentista. Está lançando um CD com suas composições: 30 ANOS DE MATÃO. Jerry; compositor e instrumentista que faz um trabalho de fusão: polca-rock, guarânia – reggae com uma super banda: CROA. Celito; compositor instrumentista e produtor de TV e studio. Sergio; cantor e instrumentista. Humberto Espíndola artista plástico, mas compõe e também canta. Enfim uma família de artistas em quer a ovelha BRANCA só tem uma: Valquiria.
10) RM: Tetê Espíndola, Como você analisa o mercado fonográfico brasileiro hoje?
Tetê Espíndola: Falta espaço pra boa música, pois ela existe, mas a maioria não esta na mídia. Os selos alternativos continuam sendo uma boa saída para bons compositores e músicos.
Contatos: 11 – 3262 -1831 / www.teteespindola.com.br / [email protected]
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