More Raphael Pippa »"/>More Raphael Pippa »" /> Raphael Pippa - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Raphael Pippa

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Raphael Pippa fala sobre racismo e violência no Brasil em seu novo single, “Nosso Catendê”.

Com a participação da cantora e compositora Simone Faitu, novo trabalho do multiartista mergulha nas raízes de luta e resistência preta em conexão com os problemas atuais.

Um grito de resistência e de luta contra o preconceito e a violência. Esse é o ponto central de “Nosso Catendê”, novo single do cantor, compositor, músico e ator Raphael Pippa. Com produção de Micah El Tuhu pelo selo Tuhumusic, o lançamento conta com participação da cantora e compositora Simone Faitu e está disponível nas plataformas digitais.

Composta por Raphael Pippa e Simone Faitu, “Nosso Catendê” é uma canção de protesto que mergulha no Ijexá, ritmo originário da cidade de Ilexá, na Nigéria, e levado para a Bahia pelos iorubás escravizados que aportaram a partir do final do século XVII. Essa conexão com as raízes se desdobra na letra, que evoca o legado de luta do povo preto e a resistência cada vez mais necessária contra o preconceito e a violência no Brasil.

Nosso Catendê nasceu na primeira fase da pandemia do covid-19, em 2020, da indignação de perceber nosso povo morrendo nas filas de hospitais sem sequer ter a possibilidade de tratar a Covid. Naquele momento, estava pesquisando sobre Ossain, o Orixá das ervas e do poder curativo, numa perspectiva de tentar manter o foco positivo na ancestralidade, refletindo sobre as curandeiras nordestinas da minha família. Nessa mesma época, aconteceu a barbárie com o mestre de capoeira Moa do Katendê, que foi morto a facadas. Aquele acontecimento me deixou mal e reflexivo. Além do nome de uma localidade no sertão pernambucano, no panteão dos povos de língua quimbundo, Catendê é o inquice de Ossain, das folhas, agricultura e ciência, elementos esses em ameaça atualmente. Passei a refletir sobre a necessidade de reivindicarmos esse Catendê politicamente e isso jamais seria possível sem falar das lutas seculares dos povos originários, dos povos pretos e das mulheres. Quando mostrei a música pra Simone Faitu, ela se empolgou muito e ficamos um dia mexendo nela e discutindo os caminhos da canção. Ao final, percebemos que “Nosso Catendê” é uma reação às inúmeras tentativas de genocídio e epistemicídio sobre essas populações, causadas pela colonização, muitas vezes maquiados com ditos progressos. Agridem a natureza, modificam e envenenam o solo dos nossos alimentos e atacam e negam os avanços da ciência. Que as próximas gerações continuem reivindicando esse Catendê respeitoso e possível de nos curar no dia a dia” – explica Pippa.

Talento na música, no cinema e no teatro, Raphael Pippa nasceu no Morro do Pinto, na área portuária da cidade do Rio de Janeiro, iniciou os estudos aos 13 anos na Escola de Música Villa-Lobos, onde cursou canto popular e lírico com a professora Patrícia Vilches. Aprendeu a tocar violão no morro, frequentando rodas de música dos mais velhos e logo fundou uma banda de rock/MPB. Cantou no Coral da PUC sob regência e direção de Geraldo Leão. Aos 19 anos, estudou violão na Escola Portátil de Música com os violonistas Paulo Aragão e Maurício Carrilho e passou a frequentar rodas de culturas populares pela cidade.

O mergulho nas raízes levou o artista à história de sua avó materna, Teresa, violonista paraibana, da região do Cariri. Essa pesquisa inspirou seu trabalho solo de estreia, o EP – “Tombo de Coragem”, de 2016, dedicado à memória de sua avó e às suas origens sertanejas. Em 2020, lançou o single “Parapeito”, uma canção de amor surgida na primeira onda da pandemia de Covid-19, e, no ano seguinte, o vídeo “Eli-te-quer”, em parceria com o Sarau Coletivo.

Como ator, Pippa começou no teatro no Grupo de Teatro do Oprimido Cor do Brasil, com o qual se apresentou no país e no exterior. Com Cilene Guedes e Daniel Carneiro, criou a Cia Teatro no Caixote e o musical infantil “Cumbuca e a Menina que Salvou a Mata”. Em 2021, subiu ao palco no premiado espetáculo infantil “Zaquim, O Musical”, dirigido por Duda Maia, tendo atuado também como músico, compositor e assistente de direção musical. No cinema, integrou o elenco do “Simonal – O Filme”, em 2018, contracenando com Fabrício Boliveira, Silvio Guindane, Rafael Logan e Fabrício Santiago, sob direção de Leonardo Domingues.   

A cantora e compositora Simone Miranda adota o nome africano Faitu em homenagem às suas raízes nigerianas e em decorrência de sua iniciação em Ifá. Com mais de 36 anos de música, Simone Faitu vivenciou grande etapa de sua carreira na Europa, tendo se apresentado em turnês com o musical “Hair”, em orquestras, com sua banda de reggae e MPB. No Brasil, participou do musical Eco Show com Ciro Barcelos, da exposição sobre os 100 anos da Indústria Brasileira, das rodas de samba da Feijoada da Mangueira e de muitas outras pela Lapa e Santa Teresa. Formou a banda Simone e as Heras com suas composições com influências de reggae, MPB, black music e rock-blues. A sua música expressa conexões com o invisível, com a natureza e as mais recentes expõem as relações e injustiças sociais inerentes à sociedade brasileira. Atualmente, divide a sua agenda entre Rio de Janeiro e Hamburgo e relança nas plataformas suas gravações feitas na Alemanha e em Cuba.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Raphael Pippa para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.10.2022:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Raphael Pippa: Nasci no dia 21/03/1990 no Rio de Janeiro – RJ.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Raphael Pippa: Tive o primeiro contato com a música através de uma família de vizinhos, no Morro do Pinto, na infância, onde fui criado.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Raphael Pippa: Sou formado em canto pela Escola de Música Villa-Lobos (EMVL) e em jornalismo pela PUC-Rio.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Raphael Pippa: São muitas. Comecei no rock, gostei muito de bandas nacionais. Também ouvi muito Pagode e Samba. Hoje sou muito influenciado pelos rirmos afro-brasileiros como Jongo, Forró, Carimbó e Ijexá. Amo artistas como: Gilberto Gil, Pixinguinha, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Dona Onete, Mestre Verequete, Luiz Gonzaga. Já não sou mais tão conectado ao rock.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Raphael Pippa: Na Zona Portuária com minha banda de rock chamada Subsoma. Tinha 15 anos (2005). Depois de lá nunca mais parei.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Raphael Pippa: Um EP – “Tombo de Coragem”, de 2016 e dois singles.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Raphael Pippa: Música afrobrasileira ou nova MPB.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Raphael Pippa: Sim. Na EMVL Escola de Música Villa-Lobos. Hoje também sou professor de canto.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Raphael Pippa: A voz é um instrumento personalizado que cada pessoa nasce com um timbre exclusivo. A musicalidade aflorada passa pelo autoconhecimento vocal e cuidado com a voz. O bom uso da voz no dia a dia também nos ajuda de forma terapêutica.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Raphael Pippa: Maria Bethânia, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Virgínia Rodrigues, Elis Regina, entre outras.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Raphael Pippa: É bem variado, mas geralmente recebo do acaso letra e melodia no dia a dia. Procuro gravar no celular e termino quando paro em casa. Transportes público são ambientes bem férteis de música pra mim. Sou aquele que fica catando poemas na mente no busão. Gosto de compor por temática também, tenho algumas parcerias assim, principalmente no teatro.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Raphael Pippa: Amigos e colegas de cena no teatro e também meus amigos musicais mais próximos.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Raphael Pippa: A independência muitas vezes vem da necessidade de ser o que se quer ser, sem rótulos pré-definidos. É algo espontâneo. A questão é que ser artista no Brasil é ainda algo muito marginalizado ou folclorizado. Ou somos vilões ou somos heróis, enquanto queremos só fazer parte da economia criativa como somos. São os dois extremos que atrapalham nosso desenvolvimento profissional. O bacana de ser independente é conseguir estar em sua essência por inteiro e atrair um público autêntico e participativo.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Raphael Pippa: Procuro estar ligado em tendências do mercado quanto às ações de marketing e promoção nas redes e sempre na demanda do meu público. Me cercar de uma equipe talentosa e eficiente também está sempre no meu radar pra ter um projeto bem desenvolvido. Nos palcos, busco abordar assuntos que me atravessam e atravessam meu público de forma transparente, me posicionando sobre as dores e as delícias de ser um homem negro nessa cidade e país.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Raphael Pippa: Busco me conectar ao público por variadas plataformas e linguagens, trabalhar com assessoria de imprensa e investir em patrocínio digital. Procuro fazer parcerias em variadas etapas da produção e busco ações que façam sentido no dia a dia do público.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Raphael Pippa: Sinto que amplia demais o acesso ao meu trabalho. Não diria que prejudica, mas o volume de lançamentos atualmente demanda uma estratégia mais diferenciada para se sobressair nos assuntos digitais.

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Raphael Pippa: Só vejo vantagem em democratizar os meios de produção. Hoje acessamos artistas periféricos que antigamente jamais imaginaríamos conhecer.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Raphael Pippa: Busco dialogar com temáticas e sonoridades atuais, trazendo a minha essência, entendendo as abordagens que meu público está interessado.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Raphael Pippa: Amo muites artistes da nova cena da música preta brasileira como Luedji Luna, Liniker e Baiana System.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Raphael Pippa: Já passei por todas essas dificuldades listadas acima. Vivo como artista há 10 anos pelo menos e nunca tive apadrinhamento ou outra fonte de renda. Poderia contar inúmeros casos, inclusive de racismo, mas aí já não seriam inusitados, infelizmente. Quando você sai pra tocar na noite é preciso estar blindado emocionalmente para certas situações.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Raphael Pippa: Felicidade e tristeza são conceitos complexos na vida, tem a ver com um autoconhecimento emocional, associado a acontecimentos diversificados. Se estou triste na vida, isso se reflete na carreira naturalmente.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Acho que todos temos missões aqui nesse território Terra. Se comunicar através do cantar e tocar é apenas uma delas. Prefiro perceber como uma aptidão que desenvolvemos ou não, assim como um médico ou um ambientalista em seus afazeres.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Raphael Pippa: Improviso é uma gargalhada em meio ao tédio. É a autoestima do artista chamando para dançar e a ancestralidade aflorada em som.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Raphael Pippa: Esse conceito é muito amplo. Tem vários caminhos. Acho lindo perceber a musicalidade pessoal de cada pessoa improvisando. É como saber o destino, mas experimentar chegar de maneiras diferentes até ele cada vez que se pretendi ir. Pra correr é preciso saber andar. O movimento ensina seja como for.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Raphael Pippa: Não conheço muitos.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Raphael Pippa: Acho fundamental um músico estudar harmonia. 

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Raphael Pippa: Rádio? Você diz aquela coisa que meu algoritmo gera no Streaming?

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Raphael Pippa: Se a música também te escolheu, abrace-a pelas manhãs tardes e noites. É raro um amor assim.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Raphael Pippa: Depende do festival de música. Acho que essa deveria ser a premissa.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Raphael Pippa: Ainda muito estereotipada sobre o Brasil profundo, periférico e marginalizado. Pessoas radicalizadas são muito cobradas quando às temáticas e abordagens enquanto a elite segue com mais oportunidades e representações.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Raphael Pippa: São instituições parceiras da arte, ocupando um papel que deveria vir de políticas públicas também.

32) RM: Fale de sua atuação como ator.

Raphael Pippa: Atuar é se banhar de si em muitos aspectos. Sou aprendiz dessa profissão eternamente. Comecei por acaso e hoje não me vejo longe dessa linguagem.

33) RM: Quais os seus projetos futuros?

Raphael Pippa: Estar vivo num país anti bolsonarista. Cantar com e para os meus e minhas e celebrar uma retomada cultural nessa terra.

34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Raphael Pippa: (21) 99423 – 8874 | [email protected] 

Para conferir “Nosso Catendê”, acesse https://tratore.ffm.to/nosso_catende

Mais informações: Raphael Pippa – https://linktr.ee/raphaelpippa

Simone Faitu – https://linktr.ee/simonefaitu

Tuhumusic – https://linktr.ee/tuhumusic

Canal: https://www.youtube.com/c/RaphaelPippa

Nosso Catendê – Raphael Pippa · Simone Faitu · Beto Lemos: https://www.youtube.com/watch?v=mR3edCxh4jo

Ficha técnica: Composição: Raphael Pippa e Simone Faitu

Arranjo, violão, guitarra, baixo, percussão e violoncelo: Beto Lemos (@betolemos)

Saxofone: César Dias (@cesaolira)

Percussão: Luciano Fogaça (@lucianofogacar)

Vozes e berimbau: Patrischa (@patrischamg)

Produção Fonográfica: Tuhu Music (@tuhumusic), Mica El Tuhu (@micaheltuhu)

Gravação, mixagem e masterização: Fellipe Mesquita (@fellipemesquita) e Micah El Tuhu (@micaheltuhu)

Colagem da capa: Nilane Costa (@nilane.costa)


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.