More Paulo Rego »"/>More Paulo Rego »" /> Paulo Rego - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Paulo Rego

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O compositor, arranjador compositor, produtor artístico e fonográfico, saxofonista, flautista carioca Paulo Rego com graduação em saxofone e composição pela UFRJ.

Começou a lidar com música aos 9 anos de idade, quando trocava as brincadeiras de sua idade pela companhia de um velho violão de seu pai. Com ele passava horas tocando e reproduzindo as músicas que ouvia nas rádios.

Ainda cedo começou a compor e participar de festivais estudantis onde sempre era premiado como melhor instrumentista, tendo vencido festivais estudantis nesta categoria, como violonista e como compositor.

Aos 18 anos começou a tocar violão e cantar em bares do Rio de Janeiro. Mais tarde iniciou, no Instituto Villa-Lobos, os estudos de teoria musical e começou a estudar flauta transversal.

Estudou saxofone com Idriss Boudrioua e com o maestro José Rua. Foi professor de saxofone e flauta nas seguintes escolas: Angellus, Musimundi, CIGAM e Intermúsica.

Após ter tocado com alguns artistas: Gonzaguinha, Alceu Valença, Oswaldo Montenegro, João Donato, Wanda Sá, Carlos Malta, Victor Biglione, entre outros e orquestras, dentre elas a UFRJazz.

Em 1993 lançou seu primeiro álbum “As Pipas”, com suas composições instrumentais. Em 1997, foi um dos fundadores do grupo de samba-jazz No Olho da Rua (hoje chamado OLHO) junto com Eduardo Henrique – Piano, Alexandre Berreldi – Baixo, Gustavo Schnaider – Bateria, Nito Lima – Guitarra, onde atua como compositor, arranjador e tocando Sax Alto e Soprano, Flauta. Com o grupo, produziu e gravou seis álbuns, o último deles (samba-jazz 40º) com a co-produção e texto de Ruy Castro.

Em 2013 lançou seu segundo álbum autoral, “COMPOR”, que contou com muitos elogios da crítica especializada. Em 2022 lança seu terceiro álbum “ALUCINAÇÕES MUSICAIS” e em 2023 o quarto álbum “SUKHA”, ambos com composições para: quarteto de saxofones; quarteto de cordas; quinteto de sopros; trio: piano, clarinete e violoncelo; e trio de contrabaixos.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Paulo Rego para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.10.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Paulo Rego: Nasci no dia 03/07/1956 no Rio de Janeiro – RJ. Registrado como Paulo Sergio de Souza Rego.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Paulo Rego: O meu primeiro contato com a música foi ouvir meu pai (Paulo Aniano do Rego) cantando as canções praieiras de Dorival Caymmi. Em seguida me interessei pelo velho violão dele, com cordas de aço e caixa acústica bem fina. Era um Del Vecchio. Aos 9 anos de idade eu já estava brincando com o violão. Aos 10 anos compus uma canção e participei do festival de música do colégio. Tirei o 3º lugar. Ainda me lembro dessa canção. Depois fui tocando de forma autodidata mesmo. Tirando de ouvido as músicas que ouvia diariamente no “Hit Parade” da Rádio Mundial. Isso era 1966 aproximadamente.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Paulo Rego: Minha formação musical, inicialmente foi esse contato com o violão e o desenvolvimento de uma técnica específica, devido ao meu modo de tocar. Por ser canhoto e tocar com o violão de meu pai (Paulo Aniano do Rego), que era destro, não inverti as cordas. Tocava com o bordão (cordas graves) embaixo e a prima (cordas agudas) em cima.

Comecei a ter aulas particulares de Flauta, e posteriormente Saxofone, pois onde chegava com a Flauta me perguntavam se eu também tocava Saxofone.

A formação acadêmica foi bem eclética. Graças ao povo brasileiro, fiz três graduações na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fiz Engenharia Química e me formei em 1979. Depois de burro velho cursei Saxofone e logo depois Composição.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Paulo Rego: Acho que uma influência musical nunca deixa de ser importante. A gente tem que ver as coisas com os olhos do seu tempo. Olhar pra trás e se situar naquela época. Minhas influências de menino vieram do meu pai (Paulo Aniano do Rego) com Dorival Caymmi, Edu da Gaita, etc e de um caminhão de músicas americanas e inglesas que chegavam pelo rádio: Jackson Five, Dione Warwick, Beatles… lá pelos 20 anos de idade (1976) entrou o Rock’n’Roll de: Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple… e mais tarde os progressivos: Yes, Genesis, Pink Floyd

Lá pelos 28 anos de idade (1984), fui invadido pelas obras dos nordestinos: Fagner, Robertinho do Recife, Ednardo, Alceu Valença, Amelinha, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho. Depois veio a Bossa Nova e o Jazz, mais ou menos simultaneamente: Charlie Parker, Tom Jobim, Duke Ellington, Roberto Menescal, Oscar Peterson, Carlos Lyra, Pat Metheny, Baden Powell

Agora ouço muito a música instrumental brasileira, particularmente os precursores do sambajazz. Ouço também a Bossa Nova e a música popular brasileira pré-Bossa Nova, no intuito de entender melhor esse processo de passagem. Ouço muita música clássica também. Enfim, ouço um monte de música o dia inteiro. Sou melofílico! (risos).

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Paulo Rego: Se eu considerar aparição em programas de TV e voz e violão em barzinhos, posso dizer que começou lá pelos 17 ou 18 anos de idade (1973/1974).

Após algum sucesso nos festivais de música, onde frequentemente era premiado como melhor instrumentista, fui tocar e cantar no formato Violão e Voz em bares do Rio de Janeiro. Inicialmente tocava as minhas músicas, com alguma coisa dos standards da MPB, mas, no final, por questões “contratuais e mercadológicas” fui instado a inverter isso e passei a tocar standards e eventualmente, algumas músicas minhas (risos). Cansei e fui procurar outras praias.

06) RM: Quantos CDs lançados? Cite os CDs que já participou e qual instrumento tocou?

Paulo Rego: Não foram muitos. Gravei seis álbuns com o grupo (sambajazz) “OLHO” (Paulo Rego – Sax Alto e Soprano, Flauta, Eduardo Henrique – Piano, Alexandre Berreldi – Baixo, Gustavo Schnaider – Bateria, Nito Lima – Guitarra) e mais quatro álbuns com músicas minhas, instrumental e de concerto.

Em 1997, fui um dos fundadores do grupo de samba-jazz “No Olho da Rua” (hoje chamado OLHO), onde atuei como compositor, arranjador e instrumentista. Com o grupo, produziu e gravei seis álbuns, o último deles (samba-jazz 40º) com a co-produção e texto de Ruy Castro.

Em 2013 lancei meu segundo álbum autoral, “COMPOR”, que contou com muitos elogios da crítica especializada.

Em 2022 lancei meu terceiro álbum “ALUCINAÇÕES MUSICAIS” e em 2023 o quarto álbum “SUKHA”, ambos com composições para: quarteto de saxofones; quarteto de cordas; quinteto de sopros; trio: piano, clarinete e violoncelo; e trio de contrabaixos.

Em 1993 – As Pipas (Paulo Rego) – Independente – CD
Em 1999 – Hard Bossa (No Olho da Rua) – Ethos Brasil – CD
Em 2001 – O Feijão da Brê (No Olho da Rua) – Ethos Brasil – CD
Em 2004 – Sacopenapã (No Olho da Rua) – Ethos Brasil – CD
Em 2007 – Ele é Carioca (No Olho da Rua) – Ethos Brasil – CD
Em 2009 – Experiência N° 12 (No Olho da Rua) – Delira Música – CD/DVD
Em 2013 – Samba-jazz 40° (No Olho da Rua) – Rob Digital – CD
Em 2013 – Compor (Paulo Rego) – Independente/Tratore – CD
Em 2022 – Alucinações Musicais – Digital
Em 2023 – Sukha – Digital

Fiz algumas participações em alguns poucos álbuns de amigos. Posso citar Renata Pedroh e Azul Limão.

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Paulo Rego: Na prática tenho dois estilos bem definidos: como instrumentista, toco sambajazz e como compositor e eventualmente instrumentista, faço música de concerto de câmara. Tenho também algumas composições orquestrais. Uma delas inclusive premiada em uma Bienal, momento em que, pela primeira vez, ouvi uma orquestra interpretando uma peça minha.

08) RM: Como é o seu processo de compor?

Paulo Rego: É uma delícia! E é completamente honesto… sem fins lucrativos (risos). Faço exatamente e exclusivamente o que gosto. Comecei compondo melodias para vestir letras de amigos. Fiz aí algumas poucas dezenas de canções. Posteriormente comecei a compor música e letra para minha banda de Rock, umas poucas dezenas de canções. Em seguida comecei a compor música instrumental pra minha banda de sambajazz, um pouco mais de meia centena de canções e, ultimamente, tenho composto música de câmara, essas aí já passam de cem. 

09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Paulo Rego: Só tenho um parceiro musical: meu anjo da guarda! Aliás é ele que compõe e eu assino (risos).

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Paulo Rego: Isso aí todo brasileiro já sabe: com carteira assinada, recebe um salário e tem alguns direitos. Sem carteira assinada, não tem nada disso, mas pode ser mais feliz, mais realizado e até ganhar uma bolada de repente. A carreira independente te permite um pacto indestrutível com a verdade e a liberdade.

11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Paulo Rego: Tenho um planejamento próprio que submeto a uma equipe (Verttice) que faz a gestão da minha carreira. De comum acordo tocamos as campanhas de lançamento de álbuns, shows, divulgação de imagem, crowdfundings e tudo o mais que se torne necessário ao desenvolvimento de público e aumento de visibilidade.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua

carreira musical?

Paulo Rego: Basicamente, a elaboração de projetos culturais visando a inscrição em editais culturais; elaboração de projetos de financiamento popular (crowdfundings); participação em feiras e congressos de música; submissão de músicas às curadorias das plataformas de streaming; trabalhar em conjunto (e contar com a expertise) de uma equipe de gerenciamento de carreira; estudar continuamente sobre as estéticas musicais que abracei… e nunca se resignar com um NÃO.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?

Paulo Rego: Sou da opinião de que o progresso só ajuda. Não sou saudosista. Não sou do tipo… “no meu tempo é que era bom”. As redes sociais são um fantástico e extremamente barato meio de divulgação e criação de público.

As dificuldades existentes com a chegada das plataformas de áudio que, indiscutivelmente, prejudicaram a arrecadação de direitos autorais e impactaram fortemente, praticamente extinguindo, a vendagem de discos, impactaram bastante nossa remuneração.

Por outro lado, essas mesmas plataformas são capazes de divulgar nossa música em todo o mundo, para milhões de pessoas que de outra forma não seriam encontradas. Através dessas mesmas plataformas ouço música que jamais ouviria nos tempos dos LP’s e CD’s.

Conheço músicos que jamais conheceria há 10 anos atrás. Sou capaz de ensaiar com músicos na Itália e preparar um show inteiro daqui do Brasil, praticamente chegando lá um dia antes de subir ao palco, pronto pra tocar.

Esse é um longo e apaixonado papo. Pra muitos chopes e muito som nos streamings. A internet, e tudo que veio e ainda virá com ela, é a realidade. Temos que ser permanentemente ágeis e criativos para usá-la convenientemente.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Paulo Rego: A música é uma linguagem. Chegará o dia em que todo o ser humano será um musicista, assim como estamos no tempo em que todos nos comunicamos através da fala.

A arte não é privilégio de alguns poucos eleitos. De gênios ou seres especialmente dotados. A arte, e no caso específico, a música, é patrimônio da humanidade e todos têm direito a se expressar através dela, sem inibições ou pudores. E certamente o farão.

Nesse sentido, não vejo desvantagem nenhuma no acesso à tecnologia de gravação em home studios. Que eles se espalhem a baixo custo para que todos possam desenvolver sua veia artística e se expressar através da música.

15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Paulo Rego: Recentemente foi publicado o resultado do Edital Caixa Cultural 2023. Observei que a quantidade de projetos inscritos cresceu significativamente em relação ao último edital e isso é recorrente ano após ano. Isso nos mostra exatamente a facilidade e os baixos custos atuais para a produção, não só musical, mas também literária, fotográfica, teatral, cinematográfica etc. Isso vem de encontro ao que falei anteriormente.

Esses custos associados ao fácil acesso aos meios de produção, estão ajudando as pessoas a se manifestar artisticamente. Isso é ruim? Claro que não. A arte cura. Fazer arte é melhorar a saúde mental, essencial a felicidade e plenitude do ser humano.

Quanto a pergunta…honestamente não me sinto prejudicado por nenhuma concorrência e a minha forma de me diferenciar dentro do meu nicho é a mesma que me diferencia como pessoa: Ser eu. Produzir música com alma. Sem preocupações mercadológicas nem com o número de seguidores que se conquista. Faço minha música por absoluta necessidade de fazê-la. Uma necessidade quase fisiológica. Que é a fonte do meu bem estar.

 

16) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental brasileiro. Em sua opinião quais foram às revelações musicais nas últimas décadas e quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Paulo Rego: A música instrumental, a meu ver, sempre teve um papel secundário na aceitação popular. E isso de certa forma é natural. Não me surpreende nem me incomoda. A mensagem da letra é poderosa e comunica mais do que apenas a da música.

O mercado de trabalho para o músico no Brasil, há cem anos atrás era fértil devido às inúmeras orquestras de baile, de gafieiras, cassinos, hotéis e, mais tarde um pouco, das rádios, que começavam a surgir.

Vieram os “combos”, favorecidos pela eletrificação e houve um grande desemprego. Esses combos são hoje os inúmeros conjuntos que fervilham mundo afora, majoritariamente produzindo música vocal.

Mas, apesar dessa realidade, há sim uma cena vigorosa de música instrumental. Público e músicos apaixonados pelas diversas estéticas existentes. Do choro ao jazz. Da música de câmara aos estilos nordestinos…

Com relação aos novos artistas que surgiram, dentre os muitos que demonstram técnica, criatividade e qualidade de som, destaco: Pedro Franco, Caetano Brasil, Rafael Martini, Pedro Gomes e Michel Nirenberg.

17) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Paulo Rego: Mais feliz é a fidelidade do público que me acompanha e mais triste é que um dia a carreira acaba (risos).

18) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Paulo Rego: Acho tão difícil que minha música toque nas rádios que nem me preocupo mais com isso. Hoje o jabá passou também a ser pago às plataformas de streaming, seja diretamente aos curadores seja através das “songcampaigns” apresentadas por essas plataformas. Eu mesmo faço uso dessas aí. É a forma que me permitiu entrar em algumas playlists mundo afora.

19) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Paulo Rego: Honestamente… Se perceber talento e paixão digo: “siga em frente, mas seja você”.

20) RM: Quais os saxofonistas que você admira?

Paulo Rego: São tantos que vou esquecer de muitos, mas vamos lá. O primeiro que passei a admirar foi Paulo Moura, que tem uma linda história de vida e de dedicação à música que merece ser conhecida.

Para continuar com os brasileiros: Idriss Boudrioua (que pensa que é francês (risos), Widor Santiago, Marcelo Martins, Julio Merlino, Zé Carlos Bigorna, Pedro Bittencourt, Michel Nirenberg, Spok e os já em outro plano de vida: Zé Bodega, J.T. Meirelles, o grande Victor Assis Brasil, Hector Costita, K-Ximbinho… e por aí vai.

Dos lá de fora posso citar: Charlie Parker (pai do bebop no sax), Cannonball Adderley, Phil Woods, John Coltrane, Stan Getz (pela sua associação à Bossa Nova), Joshua Redman,Michael Brecker, Branford Marsalis, Sonny Rollins, Pharoah Sanders, Baptiste Herbin, Dexter Gordon, Paul Desmond… e continua…

21) RM: Quais os compositores populares e Eruditos que você admira?

Paulo Rego: No popular: Tom Jobim, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Dorival Caymmi, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Djavan, Guinga e por aí vai…

No erudito: Heitor Villa-Lobos (meu brasileiro favorito), Tchaikovski (meu romântico favorito), Debussy (meu inovador favorito), Beethoven (meu temperamental favorito), Mozart (meu gênio favorito). São os medalhões? Sim, são. Mas são os que eu mais gosto mesmo. Apesar de ouvir, com prazer e admiração, uma centena de outros.

22) RM: Quais os compositores do jazz que você admira?

Paulo Rego: George Gershwin, Richard Rodgers, Duke Ellington, Miles Davis, Charlie Parker, Bill Evans, Count Basie e incluo o Doutor “Honoris Causa” Hermeto Pascoal.

23) RM: Qual método para o ensino do Sax você recomenda?

Paulo Rego: Recomendo o que eu uso. Recebo o aluno sem método algum e, após ouvir a sua intenção, seus desejos, aquilo que o levou a buscar o saxofone e onde pretende chegar, desenvolvemos em conjunto o seu método particular de aprendizado. Feito exclusivamente para ele.

24) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?

Paulo Rego: O erro é apenas 1… enquadrar todos os alunos em um único método, seja ele qual for. Cada aluno, como cada pessoa, é diferente. Tem habilidades e intenções diferentes com relação ao aprendizado. Há que se ter a sensibilidade para se perceber e considerar isso. E ter habilidade e dedicação para se desenvolver uma metodologia específica para cada um.

25) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Paulo Rego: Defino dom musical como algo que já vem com o espírito de outras vivências, de experiências e aprendizados em vidas anteriores.

26) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Paulo Rego: Improvisação musical é aquele momento em que o músico tem a liberdade de criar sobre determinada base harmônica e rítmica. Um espaço para expressar seus sentimentos, suas emoções, se ele assim se permitir.

A genuína e exemplar improvisação musical é a da criança, quando senta a primeira vez em frente ao piano, ou a um tecladinho, ou xilofone de brinquedo, tambor etc. Ela faz o que sua alma pede que faça. Ela não tem experiências anteriores e pouca memória auditiva.

Se o músico consegue se abstrair ao máximo, de sua própria criticidade e da preocupação com a opinião dos outros, ele então está na linha de partida para começar a improvisar.

27) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Paulo Rego: O que ocorre é que nós, defronte às nossas dificuldades técnicas e de expressão com nossos instrumentos, e nos exigindo algo relevante, “aprendemos” a improvisar. Incorporamos frases de outros músicos, repetimos nossas próprias ideias… quero dizer com isso que, o que há de improviso no improviso, na maior parte do que ouvimos, é muito pouco ou quase nada. É preciso ser criança para improvisar. Hermeto Pascoal é.

28) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Paulo Rego: Os prós eu resumo no inequívoco desenvolvimento técnico do músico em seu instrumento. Os contras…. na verdadeira fábrica de “máquinas improvisadoras” que fazem tudo perfeitamente igual umas as outras.

29) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Paulo Rego: Estudei diversos métodos de harmonia e considero que isso é o que deve ser feito. Do método de Berkley, de harmonia funcional (que foi um boom no fim do século passado) aos métodos tradicionais de Paul Hindemith, Arnold Franz Walter Schönberg e tantos outros.

São muitos os métodos existentes e todos contribuem com novas perspectivas e abordagens. Então eu acho que a única coisa que não se deve fazer é se apaixonar por um determinado método e não visitar nenhum outro ao longo da vida.

30) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Paulo Rego: Sou a favor dos festivais de música e sou sempre contra seus resultados (risos). Acho que a exposição é favorável por lançar luz sobre, e fomentar a produção musical. Nunca me favoreci dos poucos festivais que tentei participar, mas até isso foi positivo pra mim porque os amigos “fazem barulho” advogando a pretensa “injustiça” que o meu trabalho sofre (risos).

31) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Paulo Rego: Sim. Algumas vezes de gosto duvidoso e pouco talento, mas sim.

32) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Paulo Rego: Sinceramente, estou cada vez mais distante da “grande mídia”. Não sei mesmo o que ela veicula. Não leio, não assisto, não ouço. Sem revolta… é que ela não me interessa.

Nos dias de hoje cada um de nós pode ser a sua “grande mídia”. Eu busco nos diversos streaming (YouTube, Spotify, Netflix etc…) aquilo que me interessa e que chega a mim através das leituras que faço, das conversas que tenho com amigos músicos e amantes da música e das artes. Enfim, crio um “clubinho” de pessoas que formam uma “grande mídia” particular.

33) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Paulo Rego: Apesar das dificuldades que tenho para aprovar projetos, acho um oásis! É óbvio que sempre pode melhorar, mas bato palmas de pé!

34) RM: Você toca outros instrumentos de sopro?

Paulo Rego: Toco flauta em meus shows, mas não me considero um flautista. Sou um “flauteiro”.

35) RM: Você toca todos os tipos de Sax?

Paulo Rego: Não. Meu instrumento é o saxofone alto. Nos shows e gravações toco também o soprano.

36) RM: Quais os vícios técnicos o saxofonista deve evitar?

Paulo Rego: O pior vício é a impaciência. Querer resolver rápido uma dificuldade técnica. Dispensar o metrônomo e confiar na providência divina (risos). É muito comum também você estar com um probleminha em determinado trecho e, ao

invés de focar e tocar apenas aquele trecho, lentamente, e gradativamente aumentar a velocidade…ao invés disso, tocar a música toda ou os 10 compasso anteriores (e que você já sabe) até chegar ao problema e inconscientemente evitá-lo. Foca no trava dedo!

37) RM: Quais os erros no ensino de Sax devem ser evitados?

Paulo Rego: Como já disse, o maior erro é submeter o aluno a um único e padronizado método de ensino. Muitos alunos se submetem calados e mais a frente desistem do instrumento e perdem uma grande chance de viver “com” música em suas vidas.

38) RM: Tocar muitas notas por compasso no instrumento ajuda ou prejudica a musicalidade do saxofonista?

Paulo Rego: Se o saxofonista é capaz, ajuda. Se o saxofonista pensa que é capaz, atrapalha.

39) RM: Quais diferenças técnicas entre os instrumentos de sopro?

Paulo Rego: Se focarmos nos saxofones, a digitação é a mesma, mas a diferença no tamanho dos tubos, impacta na maior necessidade de ar do soprano ao barítono, por exemplo. Além disso, a distância entre as chaves, favorece a execução mais rápida nos saxofones menores.

Do saxofone para a flauta há uma diferença de embocadura que exige diferentes musculaturas labiais, fazendo com que, por exemplo, a sonoridade da flauta seja

comprometida se tocada imediatamente após o uso do saxofone. Isso é contornável, mas há que se estudar muito os dois instrumentos diariamente. O uso de palhetas em uns e bocais em outros também exige muito estudo diário para que se possa contornar as diversas particularidades que existem.

40) RM: Quais os prós e contras de ser multi-instrumentistas?

Paulo Rego: O único, e significativo pró é o aumento da empregabilidade. O principal contra é a necessidade da prática diária em todos eles para que se elimine as dificuldades técnicas e se consiga boa sonoridade.

41) RM: Quais os compositores da Bossa Nova você admira?

Paulo Rego: Tom Jobim, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Marcos Valle.

42) RM: Quais os seus projetos futuros?

Paulo Rego: Atualmente posso dizer que tenho dois projetos: um de sambajazz e outro de música de concerto. Pretendo me desenvolver nessas duas frentes, compondo e tocando.

No dia primeiro de setembro de 2023, lancei meu segundo álbum de música de concerto, chamado Sukha. Paralelamente entrei em estúdio em agosto para iniciar as gravações do terceiro álbum nessa estética, chamado Numinoso, e que deve ser lançado em meados de 2024.

Tem também um concerto, com parte da minha produção de câmara. Vai ser no dia 7 de novembro, no Auditório Leopoldo Miguez, na Escola de Música da UFRJ.

Com o grupo OLHO (Paulo Rego – Sax Alto e Soprano, Flauta, Eduardo Henrique – Piano, Alexandre Berreldi – Baixo, Gustavo Schnaider – Bateria, Nito Lima – Guitarra), um quinteto de sambajazz (www.sambajazz.com.br ) faço show no dia 7 de setembro, no Estúdio Floresta, com transmissão ao vivo pelo YouTube e gravação de DVD.

46) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Paulo Rego: (21) 99613 – 4345 | [email protected]

| https://www.instagram.com/pauloregomusica

| https://www.facebook.com/pauloregomusica

Canal: https://www.youtube.com/@prego1956 

No Olho da Rua – O Morro Não Tem Vez: https://www.youtube.com/watch?v=kNCHlvTXNc0 

Spotify OLHO – https://open.spotify.com/intl-pt/artist/3FjefDMCAYsAFJt3GU3sH4?si=nJpN1xOlTgOXYRKK88OpQQ&nd=1 

Spotify Paulo Rego – https://open.spotify.com/intl-pt/artist/0UwiSZKD1S6W4xKfpInNDF?si=_FSH0dk4QgqRHhKPgnr-ZA&nd=1


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.