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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Lenir Appes

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A cantora, compositora e radialista paulista Lenir Appes a sua interpretação e repertório vem chamando a atenção do público e da mídia internacional que acessam a sua página no SoundClund.

Na sua apresentação Pinacoteca Benedito Calixto – Santos – SP em outubro de 2018 o seu repertório é mesclado para adultos e crianças com convidados ilustres declamando poemas de Fernando Pessoa, Cora Coralina, Idalina Cotrim Appes, Florbela Espanca e o público podia declamar poema autoral bastava procurar a produção local para participar. O Luiz Carlos Nogueira, Celia Regina Morais Lima, Maria Luiza De Paiva Diniz foram os convidados especiais na declamação.

Lenir Appes é cantora desde adolescente e estudou música em São Paulo. Já cantou com e produziu consagrados nomes da música, como Sivuca, Zeca Baleiro, Banda de Pífanos de Caruaru, Waldir da Fonseca, Itamar Assumpção, entre outros. A sua Voz foi selecionada como cantora para o Cirque Du Soleil, Orquestras de SP e Cameratas. Estudou na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e Conservatório Brooklin Paulista. Tem formação como Radialista – DRT: 6825 assim como vários programas gravados. Estudou Yoga no Brasil e tem especialização na Índia.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Lenir Appes para www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 07.01.2019:

 01) Ritmo Melodia: Qual o seu dia, mês e a sua cidade natal?

Lenir Appes: Nasci no dia 07 de janeiro… em São Paulo – SP.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?

Lenir Appes: Lembro ainda criança, das serestas entre os adultos numa mistura de Samba, Choro e Tango ter me encantado. Minha mãe foi escritora, poetisa. O sarau acontecia na minha casa em São Paulo e tinha muita gente. É forte a lembrança de eu cantando com o grupo de sapateado e balé no teatro. Ter contato com a música erudita na adolescência e conhecer pessoalmente o Sivuca, através da banda de Pífanos de Caruaru, que tem o nosso querido Sebastião Biano com um “ouvido absoluto”! Foi maravilhoso e confirmou pra mim um caminho a seguir.

03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?

Lenir Appes: Estudei na Fundação das Artes em São Caetano do Sul e depois de cursar o Conservatório Beethoven de São Vicente – SP. Na Fundação das Artes, eu abri o leque conhecendo sobre a História da Música, Harmonia e muito mais. O contato com a música erudita melhora o artista nos detalhes e nuances que a música pede. Fiz alguns anos no Conservatório do Brooklin Paulista. Isso tudo na adolescência que me proporcionou conhecer a música atonal, minimalista e mergulhar nos Cantos Étnicos de diferentes povos. Logo depois me envolvi com Rádio e me formei na primeira turma de radialistas no SENAC – SANTOS, sendo a única mulher. Na prática antes dos 20 anos de idade já fazia locução e dava aulas de Hatha Yoga, Biodança, Expressão Corporal. Isso me levou a especializações nas Artes e Cultura de Bem Estar e participar de Grupos de Música Anônima, Madrigais, Musicais, Orquestra, Terapia Floral, Reflexologia, Biodança, Aromaterapia, Acupuntura, Ayurvéda, Musicoterapia para deficientes auditivos. Fui estudar sobre mixagem, edição com Sérgio Tastaldi. E aos poucos fui colocando tudo em prática. E ganhei bolsa de Dança Indiana o que abriu ainda mais meu interesse por Cantos Devocionais e as Artes plásticas. Somente nos anos 90 morando em Porto Alegre (RS) fui cursar jornalismo na ULBRA – Canoas – RS, nessa época estava muito envolvida com o Budismo que também é riquíssimo culturalmente para mim e tinha um quadro semanal na TV Guaíba – RS sobre Yoga e Saúde. Produzi várias exposições artísticas de fotógrafos e livros de conceitos, temas variados para Empresas. Tudo isso com a base anteriormente citada.

04)RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Lenir Appes: No passado ouvi muito Bob Dylan, Led Zeppelin, Cartola,

Lupicínio Rodrigues, Carlos Gardel, Piazzolla, Lô Borges, Milton Nascimento e a turma do “Clube da Esquina”, Ednardo, Egberto Gismonti, Hélio Delmiro, Chet Baker, Sivuca, João Donato e claro o magnífico Villa lobos. Muita música árabe e indiana tanto instrumental quanto cantada. Adoro “fusion”. Nunca deixei de ouvir os artistas citados acima, mas fui abrindo as opções e naturalmente descobrindo a música eletrônica: Bob Mcferryn, Anoushka Shankar, Djavan, Ravi Shankar, Chico Science & Nação Zumbi, Susheela Raman. E milhares de artistas ao redor do mundo na época ainda do K7 (risos). E as fitas K7, durante anos foram a melhor opção para quem gostava de colecionar, para estudar, ouvir, conhecer e ter áudios raros e variados do mundo todo. Tenho ouvido o trabalho do Castelo Branco, Liniker e de outros compositores da Baixada Santista, Vitor Ramil, Julio Medeiros, que faz música instrumental que mistura o Jazz com o som nordestino. Durante alguns anos passava as tardes ouvindo os vinis no Centro Cultural Vergueiro – SP. Pesquisando, lendo e gravando áudios raros de ter na época como a obra completa de Villa Lobos. Estudos sobre a chegada e disseminação da Ciranda em território nacional e sua relação com o povo árabe. Nenhuma delas deixou de ter importância na minha formação. Estou sempre a ressignificar o meu passado e aproveitando o possível no Presente.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Lenir Appes: Acho que no teatro foi onde tudo começou. Sempre conquistei os personagens que cantam. “Saltimbancos”, “Morte e Vida Severina” entre outros que participei sempre foi cantando. A noção de palco, a troca de roupa, iluminação. Detalhes que só a prática e o interesse ético podem lhe ensinar até para você saber selecionar o que mais lhe convém. Isso tudo foi na infância. Depois passei um período mais voltado a fazer produções artísticas e dar aulas de Hatha Yoga no Mosteiro do físico Lama Padma em Porto Alegre – RS. Uma época em que eu tinha semanalmente um quadro na TV e viaja dando cursos por vários Estados. Mas foi com a internet que tive um impulso como cantora, abriu-se um leque com opções no mundo. Deu uma renovada. Gosto de música mais elaborada, criativa, que toque a Alma. O Som e suas múltiplas faces me encantam profundamente. Lembro-me quando recebi a informação de que minha interpretação de “Sodade, Meu Bem, Sodade” (Zé do Norte) estava com excelente audiência nos mais variados sites ao redor do mundo. Eu enxerguei que já era vista como cantora e que o importante era seguir descobrindo o meu jeito de revelar esse dom. Eu dei de presente de aniversário ao meu amigo, músico e violonista Zellus Machado (falecido em Santos – SP em 03 de fevereiro de 2012 aos 53 anos de idade) a sua primeira gravação autoral em estúdio, cantando a nossa parceria “Crêr em Mim” e ele tocou também o violão na gravação de “Sodade, Meu Bem, Sodade” (Zé do Norte), mas nunca imaginei que essa canção fosse disparar no youtube fora do Brasil e render bons frutos, mas veio!

06) RM: Já pensa em gravar o seu primeiro álbum?

Lenir Appes: Já fui muito cobrada para gravar meu primeiro álbum. Somente participei como convidada de álbuns de outros artistas. Atualmente penso em gravar, registrar meu show autoral. Um novo desafio!

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Lenir Appes: Personalizado. Adoro uma rima que rola nos Coletivos, um bom jazz e nosso samba maravilhoso, a malemolência da Bossa Nova e suas influências, mas minha canção é personalizada.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Lenir Appes: Sim. Mas uso mesmo são os Pranayamas que aprendi criança na Yoga até hoje.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Lenir Appes: A técnica ajuda você a conhecer o seu instrumento, tomar consciência do seu corpo. Saber como o ar que circula no corpo flui na hora do canto. Como colocar a voz em tipos e estilos de musicas diferentes. Higiene vocal. Postura corporal. Improvisação musical. Nomenclaturas, tudo isso depende de você, do seu empenho e atenção aos detalhes. Você se conhecendo pode se soltar muito mais, avançar além. É fundamental ter uma sintonia boa com o professor de técnica vocal, pois do contrário, já vi cantores se perderem ou desistirem do canto quando o mais adequado é mudar de professor e está com quem possa te lapidar. Na hora “H” é com você. Eu me sinto preparada pra cantar fazendo pranayamas. São respiratórios muito usados na YOGA. Uso própolis e Malvona com gargarejos.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Lenir Appes: Lorena Mc Kennitt, Gal Costa, Rosa Passos, Chiquinha Gonzaga, Susheela Raman, Joyce Moreno, Fernanda Porto, Jane Duboc, Elza Soares, Ofra Hasa, Leny Eversong, Billie Holiday, entre outras.

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Lenir Appes: Muito orgânico, vem tudo junto: Melodia e letra.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Lenir Appes: As letras e melodias até o presente são minhas. Só tenho a agradecer o interesse dos instrumentistas em colaborar com seus talentos e conhecimentos musicais nas minhas canções, sempre para melhor. Obrigada a cada um! Na canção “Crêr em Mim” a letra é do Zellus Machado (José Luiz de Paula Machado Filho) e a melodia minha. Sou uma compositora cantora e intérprete.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

Lenir Appes: Tenho músicas cantadas em shows por outros artistas, mas não gravada em álbum de artista.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Lenir Appes: Primeiro precisa ter o que oferecer. Saber sobre o conteúdo apresentado e onde está o seu público. Saber como apresentar isso ao empresário e ao público de acordo com a linguagem possível a sua apresentação e condições de produção. Melhor não ficar comparando com outros, mas aprender com as produções alheias. Ter uma agenda de bons locais e receber bons cachês no Brasil é sobre-humano. A mentalidade de boa parte dos empresários da noite em relação aos músicos brasileiros é muito tacanha e pobre. Isso fica pior ainda quando no governo querem o trabalho do artista sucateado. Sem nenhum cachê ou quando concentram a maior parte da verba em um único evento privilegiando somente uma pequena parcela. Os músicos precisam de dinheiro para pagar suas produções como qualquer empreendedor precisa. Há uma visão oportunista e arcaica no Brasil sobre isso. Enquanto uma gravadora produz o material e o artista. Quando pronto, é feito a distribuição nas rádios e veículos de comunicação para o público ir se familiarizando, só depois rolam os shows trazendo um retorno do investimento e ampliando as possibilidades de ganho. Muitos artistas ao redor do mundo ficaram milionários assim. Poucos se mantiveram, boa parte se suicidou depois de alguns anos. Muitos filhos desses artistas pegando a carona dos pais foram lançados no mercado nem tanto pelo talento, mas pela curiosidade que causam trazendo um retorno financeiro, às vezes passageiro e turbulento. Portanto se foca só no talento é preciso saber que no Brasil tem de ser um pouco de tudo pra viabilizar o som profissionalmente, principalmente se tem pouco investimento financeiro. Sua criatividade e insistência farão a diferença sim, mas sem ter o foco no suposto sucesso do outro, do contrário tende a ser mais um no mercado.

15) RM : O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira? Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?

Lenir Appes: Pra mim a internet só ajuda. É preciso aprender sobre o novo, se adaptar, interagir com outros artistas, respeitar outros gostos, conflitar com os seus antes de ser apresentado seu produto e também depois de expô-lo. Tem muita lenda de que tudo hoje em dia postado, rapidamente faz sucesso de público. Na prática vemos que não é assim que funciona salvo raras exceções. Outro ponto positivo é ter plataformas com bastante visibilidade que cabe um áudio ainda não finalizado, sem masterização ou mesmo ruim; porem com uma ideia muito boa. Temos vários casos que foi a partir dessa exposição inicial que o artista foi notado por empresários e\ou pelo público e decolou com a carreira. As desvantagens tem haver com seu objetivo final em relação a musica gravada. As rádios convencionais tem um padrão para veicular áudio. Sem finalizar não entra na grade da rádio. Já as WEBs rádios aceitam de acordo com cada programa e estão fazendo muito sucesso. Você não gasta por hora, mas precisa ter os equipamento e principalmente saber manusear ou quem faça por você. Eu mesma postei no Sound Cloud em 2017 alguns áudios autorais sem finalização pela primeira vez. Meu trabalho chamou a atenção dos produtores. Continuei a postar novos autorais e veio à boa notícia – um convite para colocar #SCFISRT no topo do título com a promessa de divulgarem minhas músicas, meu “streaming.” A qualquer momento para um gigantesco público. O local do Studio pode variar. O importante muitas vezes não é o local ou os equipamentos, mas o técnico. É preciso um tempo para aprender isso e depois colocar em prática. Vejo uma gigantesca ansiedade nos artistas sobre isso e procuro não entrar nisso.

16) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Lenir Appes: Para alguns músicos gravar atualmente um CD não é mesmo o maior obstáculo. Porém é muito relativo, depende de qual o nível de comparação. Estas Tonne tem uma carreira no Youtube com música autoral maravilhosa e dita não “comercial”, porém esta bombando na internet assim como outros, comprovando que as pessoas gostam muito e claro é comercial sim! Atualmente mesmo o músico sem ter gravado um CD ou DVD as plataformas digitais suprem isso. Nelas o músico publica vídeos completos, em outras somente os áudios nos mais variados arquivos de programa, ainda tem opção AO VIVO como veículo de registro e divulgação de seu trabalho; em outras a opção: Compra – Venda – Troca que facilita muita negociação. Fico sempre ligada no que está rolando de novo. Mesmo não tendo condições ideais de fazer, usufruir de tudo ao mesmo tempo, faço como é possível no presente, mas não paro de produzir nunca.

17) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Lenir Appes: Grandes artistas estão sempre produzindo, pesquisando como fazer mais e melhor. É fato. Alguns sabem melhor como ir divulgando e entretendo o público alvo já no início da carreira. Outros apresentam com tudo pronto. Vai sempre depender do grau de produção que você dispõe. A banda porta voz do Movimento Manguebeat – Chico Science & Nação Zumbi, mexeu com tudo na música brasileira e pra melhor. Com arranjos relativamente simples, muita “pegada” e atenção ao contexto geral do cenário musical, social e político da época, eles explodiram no cenário musical. Outros grupos de Big Band, Cameratas, Canto coral, bandas, artistas solo. Penso sempre em evolução. Independe de seu gosto pessoal. Cada um evolui como pode ou quer. Muitos artistas tem hoje em dia oportunidade de apresentar seu trabalho autoral sem depender mais das grandes gravadoras que também estão investindo diferente do passado. É sempre uma questão de se atualizar e adaptar ao mercado do momento. Nisso boa parte se perde focado só na exposição. Pesquisas comprovam que o fator maior nas plataformas digitais de views é a “curiosidade“ e não a qualidade em primeiro lugar. Isso está diretamente ligado à educação da população de um modo geral, não só musicalmente falando. Antes de emitir uma opinião é melhor que você tenha uma base de conhecimento anterior, não se trata só de “gostar ou não gostar” de ser bom ou ruim, do contrário qualquer porcaria te deixa “alegrinho” (risos). O cenário brasileiro é muito cruel com o artista na medida em que não se organiza nem incentiva para pagar seu trabalho de produção anterior a qualquer espetáculo, apresentação séria. Em outros países é muito mais valorizado a nossa música e esse é um dos motivos de grande interesse em tocar e morar fora do Brasil dos artistas. Lá fora, mesmo que você não tenha uma grande gravadora, produtor. Quem solicita seu trabalho sabe que tem custo e valoriza pagando, sim. Essa mentalidade esta também no governo. É um reflexo da educação da população. Sendo o convite sem cachê, isso não impede você de tocar, cantar com prazer e bem feito, mas dificulta para o artista que não tem outra fonte de renda. O músico brasileiro vive um “salve-se quem puder”. Temos inegavelmente excelentes e talentosos artistas trabalhando semanalmente com cachê, mas a maioria não. Atitudes do governo nessa hora são muito importantes, podem mudar pra melhor a situação, mas ainda tudo é muito burocrático, falta educação. Djavan tem uma obra consistente e sempre evoluindo.

18) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Lenir Appes: Todo artista que faz grandes turnês já esta em um patamar acima. A produção vai além de cantar ou tocar. Admiro todos, mesmo os que eu não goste do estilo, respeito todos. Tom Jobim, Frejat, João Donato, Francis Hime, Ray Charles, Steve Wonder, Jimi Page, Nina Simone, Jamie Cullum. Qualidade pura!

19) RM: Quais as situações mais inusitadas e constrangedoras que aconteceram na sua carreira musical?

Lenir Appes: Agora fica engraçado, mas na época foi uma tristeza (risos). Faz anos, fomos contratados pra fazer música de época. Fui cantar com músicos de Orquestra. Estava com um febrão terrível. Tinha trabalhado em Minas Gerais e interior de São Paulo antes de chegar ao litoral na semana do show. O trânsito ao redor lotado. Tudo ótimo, casa cheia. Faltando duas músicas pra acabar eu já estava com 41º de febre e dei uma variada de poucos segundos. Consegui driblar até que minha garganta incomodou mais. Estourou pus. Continuei cantando e a febre que começou no dia anterior foi aumentando. Fui saber no dia seguinte que estava possivelmente com dengue. Havia um surto grande na Baixada Santista acontecendo. Felizmente consegui terminar o show com o público aplaudindo e me acolhendo. Eu tenho muita sorte dos músicos querem sempre tocar comigo. Eles gostam do meu som, da parceria, contribuem nas ideias. Existe muita marcação com mulher. O machismo fala alto se você tem talento e não quer envolvimento além de amizade e música, eles partem pra ignorância. Eu corto sem dó. Tem estúpido pra tudo. Alguns são tão chucros que por orgulho ou inveja, aguardam a hora do show pra tumultuar. São Patéticos. Imagine o teu celular tocando toda hora do dia e da noite com um homem pra lá de inseguro te cercando e você na maior educação tendo zilhões de coisas pra fazer, lotada de responsabilidades pra finalizar. Chega uma hora que a paciência acaba! E eles insistem com comportamentos brutos e infantilizados. E não me interessa se o músico tocou com os mais famosos e ricos artistas. Tô nem aí. Existe uma parcela de músicos que pela própria conduta acaba atraindo mulheres fúteis e com isso querem generalizar. Eu tenho outros ambientes, convivo com outro perfil de homens e mulheres mais antenados com a vida e respeitosos com as escolhas alheias. Pra mim é tudo um aprendizado. Nunca parei por conta disso. O canto chama mais forte. Isso é maravilhoso e muito desafiador. Novos e melhores amigos, profissionais, projetos se aproximam e eis aí a alegria verdadeira! Em 2018 aconteceu pela segunda vez da saúde interferir.  Precisei fazer uma endoscopia pela primeira vez. Havia tomado medicação pesada por conta de ter ferido os dois meniscos em um acidente. A medicação agride brutalmente principalmente para quem tem hábitos saudáveis. Vendo esse quadro clinico (informei o médico ortopedista que autorizou) comecei tratamento paralelo com os Óleos de Andiroba e Copaíba. Tenho fonte segura que valida a pureza dos óleos. Bebi por poucos dias e continuei com as massagens. A endoscopia aconteceu dois dias antes do evento onde iria cantar com muita gente envolvida no evento. Agora para tudo. Fui ao Hospital da Cidade, no particular e a médica cortou minha garganta, machucou o estômago quando sedada. Saiu sangue. Felizmente estava muito bem acompanhada e me defenderam. Greve nas estradas do país inteiro. Clima tenso. Faltava um dia e eu precisava ensaiar mesmo com muita dor; até pra saber meu limite. Só os músicos sabiam. Música autoral, releitura de outra, Precisava de repouso na pior hora. Coloquei em prática o que aprendi com o tempo. Eu canto com a Alma. Cantei. Deu certo. Os Deuses me abençoaram. Depois relaxar e repouso merecido. Depois consegui uma consulta com outro gastroenterologista bem melhor.

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Lenir Appes: Cantar é um alivio pra Alma. Isso me deixa feliz. Fico triste por não poder mudar a realidade que vejo pra já. São excelentes artistas, alguns com mais de 40 anos no mercado, já tendo tocado com grandes nomes e turnês ao redor do mundo e mesmo assim tendo de ir tocar nos barzinhos das metrópoles pra bancar as contas por que não tem turnê de artistas de já famosos toda semana. Nada contra barzinho, comento sobre as necessidades de se ter vários empregos, freelance pra bancar sua arte e mesmo assim muitas vezes não dar conta. Falo de trabalhador da música. Isso esta diretamente ligada às questões sócio culturais do país. Vemos muita apelação pra “ganhar dinheiro fácil”. Triste realidade.

21) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Lenir Appes: São Vicente (SP) tem historia pra caramba no âmbito artístico. Terra onde Benedito Calixto, Victor Brecherett andaram e inspiraram muito suas obras. A Baixada Santista de um modo geral tem maravilhosos artistas. Aqui mistura um músico da cidade de Bertioga com outro de Praia Grande e São Vicente para tocarem em Santos. O músico de São Vicente precisa dar aulas em São Paulo, no ABC (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul) particular, em casa. Conseguir trabalho em navio tocando pra obter o mínimo. Mas voltando ao Benedito Calixto e Victor Brecherett que se destacaram pela pintura e escultura, onde entra a musica nisso? Já naquela época os artistas tinham grandes dificuldades com sua arte. A cidade tem um evento anual no verão de grande porte tendo condições pra muito mais. Fora isso é muito pouco o que rola e tudo com muito sacrifício. Uma cidade a 50 minutos de São Paulo, que tem uma orla de mar lindíssima já era pra estar faz anos em outro patamar cultural. As pessoas trabalham muito pela cultura na região. A Maioria coloca do próprio bolso nas produções. A Arte não para por questões políticas. Ela é independente. Está acima.

22) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?

Lenir Appes: Tem Paulo Maymone, Futura áfrica, a Banda Sinfônica de Cubatão, Eu (Lenir Appes), risos.

23) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Lenir Appes: Mistérios (risos).

24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Lenir Appes: Faça acontecer. Respira fundo e vai (risos). Veja primeiro se é vaidade ou dom. Estude e pratique. Saiba que não tem fórmula única. Aprenda a ouvir.

25) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música? Em sua opinião, hoje os Festivais de Música ainda é relevante para revelar novos talentos?

Lenir Appes: Festival de Música vai depender da produção, da organização e do alcance que tem. E claro de como e o que você apresenta a determinado público. Eu nunca fui muito interessada em ir. Talvez por repulsa só de ver determinados jurados não se portando como técnicos. O único que participei eu ganhei. Foi na época da escola e depois a seleção anos mais tarde com o Cirque Du Soleil. Festival é pra isso mesmo: revelar talentos ao público. Acredito ser relevante.

26) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Lenir Appes: Muito voltada a embrutecer a população. Lastimavelmente tem um ar de coronelismo no país. O problema não é o outro achar que você não raciocina, mas você não raciocinar sobre essas imposições alheias. Um grande artista não é grande porque fumou maconha, é travesti, se acaba na cocaína, filho de alguém famoso, mas porque é talentoso. Caso ele decida romper com esses hábitos o talento está lá e não o contrário.

27) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e

Itaú Cultural para cena musical em São Paulo?

Lenir Appes: São os melhores espaços. Acabam suprindo trabalho que é do governo. Mesmo assim é restrito em alguns quesitos porque a demanda de artistas é grande. Eu sou agradecida nesses locais por receberem meu trabalho sempre bem.

28) RM: O circuito de Bar na Baixada Santista ainda é uma boa opção de trabalho para os músicos?

Lenir Appes: Não.

29) RM: Quais os seus projetos futuros?

Lenir Appes: Primeiro preciso finalizar o meu tratamento de saúde que segue com melhora. Por isso, tive de remanejar datas no teatro em São Paulo. Vou apresentar as minhas músicas. Tenho feito locuções em rádio e continuo sendo convidada a participar de eventos para cantar. Os alunos não param de pedir cursos e oficinas. Tem uma Exposição de Artes pra acontecer comigo na produção.

30) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Lenir Appes: (13) 98126 – 8884 | [email protected] | www.lenirappes.com.br | https://lenirappes.wordpress.com


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.