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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Cícero Oliveira – Luthier

cicero
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O cantor, compositor, instrumentistas, luthier baiano Cícero aos 17 anos de idade fez parte da banda Radar. Banda influenciada pelo Nirvana e Ramones.

Aos 18 anos de idade em São Paulo fez parte de algumas bandas do underground paulistana. Se apresentado em festas particulares. Aprendeu fazer instrumentos, amplificadores e efeitos. Trabalhou como técnico de som freelancer e roaddie. É luthier e músico autodidata. Ele trabalha em arquivos de músicos de 90 anos acima como acervo pessoal. Ele considera algo valiosíssimo. Quando sobra tempo ele grava algo em estúdio. Não vende mais música, disponibiliza todas as suas músicas pela internet. Ele modifica seus equipamentos por ser muito criterioso em timbre. Recebeu um convite para tocar fora em 2016. Mas o foco é a sua oficina e o trabalho como técnico em palco que rende financeiramente o precisa para viver no lugar que reside.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Cícero Oliveira – Luthier para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.10.2015:

01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Cícero Oliveira: Nasci no dia 22.10.1973, no garimpo da Carnaíba – BA, mas registrava em Jacobina – BA.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Cícero Oliveira: Meu pai tinha um Bar (cabaré) e chegavam os violeiros e repentistas. Conheci e ficava apaixonado pelos resonator’s deles. Chegavam, botavam o chapéu na mesa, e ficavam enquanto o público dava dinheiro. Até hoje é o tipo de ambiente que me agrada. Já andei tocando rock em Cabaré, em cima da sinuca. Fiquei duas semanas por lá.

03) RM: Qual a sua formação musical?

Cícero Oliveira: Sou autodidata e não me considero bom músico, sou bom de timbre e texturas. O que toco é muito simples, mesmo tendo convivido com grandes mestres, na minha oficina de Lhuteria. Atualmente o Jacobina (compositor e autor), é um tipo de irmão. É um gênio! Uma mistura de João Gilberto com Paulinho da Viola. Eu acho, ele melhor que esses.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Cícero Oliveira: Lembro-me quando ouvi Neil Young, Nirvana, Leonard Cohen, Dominguinhos (é genial), Led Zeppelin (vi Jimmi Page na cidade de Lençóis, andando na rua), gosto de Trio parada Dura e Milionário e Zé Rico, Sepultura, do Rage Against the Machine. Idolatro Chico Science e Nação Zumbi.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Cícero Oliveira: Sou um Luthier profissional. Como músico, serei sempre amador, por causa do estilo. Gosto de rock undergroud, tipo de música que no Brasil será sempre da minoria da minoria. Além de que na minha região, sem padrinho político você não toca. E sou rebelde. Não faço acordos e os palcos de Prefeitura, Estado e projetos; são proibidos para mim.

06) RM: Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações).? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as musicas que entraram no gosto do seu público?

Cícero Oliveira: Sou mais um performer. Não tenho a rádio como o objetivo. Minha música tem palavrões e ofensas (risos). E música assim não vende. E isso é proposital. Minha música é mais arte que música palpável. E quero permanecer original. O que faço como músico, é coisa póstuma. Vou gravando e jogando por aí… Não acompanho, nem uso isso comercialmente, nem seria possível. Minha referência é o undergroud de G.G Alin.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Cícero Oliveira: Sou um instrumentista do timbre e do clima. Minha letra é muito boa, e sou sincero. Nunca troquei de roupa para subir em palco, nem digo que amo ninguém (risos). Subo de havaianas, para não esquecer o que fui fazer ali. Toco pouco, pois a minha música não é popular. E jamais será.

08) RM: Como é seu processo de compor?

Cícero Oliveira: Isso é louco! Por muito tempo usei muita droga e tomei ácido. Já faz cinco anos, nem maconha fumo. Estou achando uma viagem gostosa demais, acordar e dormir sóbrio. Nem cafeína, eu tomo. Eu tenho uns sonhos estranhos. Sonho de forma recorrente com um mendigo, que toca Blues. E acordo com a música. Às vezes gravo logo para não esquecer. E às vezes deixo se perder. Sempre sonho com esse personagem. Talvez seja rebote do ácido. Li que isso acontece.

09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Cícero Oliveira: Sou sozinho. Toco sozinho. Escrevo sozinho. E sou estranho.

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Cícero Oliveira: Os contras é que não existimos na cena musical, não somos ninguém. Os prós é que, crescemos infinitamente como pessoa tendo a liberdade de agradar unicamente a si mesmo. Eu tenho crescido como compositor e pesquisador de forma dinâmica e constante, pois sempre experimento. Sempre posso fazer da forma que acho mais densa e vertiginosa. A liberdade, na existência não tem preço.

11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Cícero Oliveira: Tem um ditado que diz: que o homem tem que crer em si mesmo e estar com algo na mesa de trabalho para quando o Sol brilhar no seu dia. Não adianta o Sol brilhar no dia de outro. E nesse dia, se for agora, estou pronto. Pois minha música sou eu! Eu sou o instrumento musical do que penso ser meu som! E isso é muito forte. Tocaria agora, (nunca ensaio), para qualquer um.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Cícero Oliveira: O rock alternativo, que cultuo e me influencia, anda na contramão. É o anti-herói. E quando surge, como o Nirvana, o Rage Against, Chico Science. Surge com mais força que planejamento. Prefiro ser um diamante bruto que correr o risco de ser populista e clichê de mim mesmo.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Cícero Oliveira: Totalmente. Um amigo fez uma página no my space e para minha surpresa muita gente que sou fã, gostou e elogiou. Exemplo, a Film Scholl, banda underground que gosto.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?

Cícero Oliveira: A vantagem para um cara como eu é absurda. Pois gosto de experimentalismo e não sou muito de clichê. O Álbum perfeito para mim é “Pink moon” do Nick Drake. E foi feito de forma irresponsável. É perfeito.  Agora quem quer ser famoso, acho que corre um sério risco de ficar algo “frio” e sem alma.

15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje grava não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para ser diferencia dentro do seu nicho musical?

Cícero Oliveira: Sou verdadeiro, e não espero retorno do que é inspiração. A inspiração é pra agradar a quem a vive. Se alguém gostar, pode pegar que dou de graça. Não faço nada para agradar ninguém. Os que são como eu, irão gostar, como eu gosto de tocar.

16) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Cícero Oliveira: Acho que está uma Merda. 90% são porcarias! Não vejo Tom Jobim, Paralamas do Sucesso, Titãs, Baden Powell, João Gilberto, Racionais MC’s. Não ouço rádio, nem TV. Agora no Mato e nos Cabarés ainda têm violeiros incríveis! E me ouço. Gosto muito!

17) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Cícero Oliveira: Tirando o Tim Maia? (risos). Temos pouco profissionalismo, até mesmo entre os que faturam. Por causa da cultura do país. Em outros países, soube que quando marcam para começar 19 horas, começa 19 horas. Aqui, começa meia noite. Acho que o Luiz Caldas! Colocaram-no em um carnaval aqui, em um Trio Elétrico que deu defeito. Ele quase desce para empurrar! Deu um show, e improvisou rock de primeira qualidade, em pleno carnaval. Ele é um cara humilde, generoso, e realmente gosta do que faz. Além de um exímio instrumentista.

18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Cícero Oliveira: Sem dúvida foi quando resolvi tocar rock no cabaré! Um amigo meu, ganhou o cabaré, em partida de pôquer e perdeu da mesma forma. E resolvi encarar. Desligava o Bruno e Marrone da TV de 50 centavos. E tocava rock e blues em cima da sinuca!  Foi incrível.

19) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Cícero Oliveira: O que me deixa feliz é ter decidido cedo, que sempre farei o que quiser e souber. Não vou por público, ser populista. A tristeza é essa. Vejo todos sendo rasos e superficiais. Acho que é bonito, saber que o Nirvana veio ao Brasil e saíram fãs dos Mutantes, acho incrível, quando mostro João Gilberto a um gringo. As pessoas deixaram de fazer música superior e atemporal, para fazer fast food!

20) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Cícero Oliveira: Aqui é ridículo! Palcos controlados por politicagem! E cena musical de ingresso não rola! Tudo é dividido entre os políticos locais e as ONGs “pilantrópicas” que fazem clichês para turista fumar maconha. Aquela coisa de reggae chato, de rock falso, de regional de funcionário público. E pior são os Teclados usando USB! Que nego faz de conta que tá tocando, e o povo ridículo que nem percebe! Como estou exilado disso (graças a Deus), a minha música se torna original e universal. O João Gilberto não tocava em Juazeiro – BA, onde morava. As pessoas detestavam, ou seja: Pérolas aos Porcos.

21) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?

Cícero Oliveira: Aqui? (risos). O véi Jacó, e os sanfoneiros e violeiros da roça! Sem dúvida. Os dos laços é uma coisa triste.

22) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Cícero Oliveira: Acho que nem com jabá, toca! Primeiro não faço música no formato de 4 minutos para tocar em rádio. No cabaré, já toquei uma por 3 horas! Sou mais pelo Pink Floyd que por Carmem Miranda.

23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Cícero Oliveira: Acorde cedo, e vá trabalhar!(risos).

24) RM: Quando, como e quais os motivos fez você trabalhar como Luthier?

Cícero Oliveira: Por estar em uma região condenada e totalmente controlada por politicagem, percebi que jamais subiria nos palcos. A minha música não é popular. Acabei me tornando Luthier. E minha casa é música o tempo todo. Grandes músicos vêm aqui. Sustento minha família há 25 anos disso.

25) RM: Quais as qualidades necessárias para ser um bom Luthier?

Cícero Oliveira: Acho que técnica e habilidade.

26) RM: Quais os prós e contras de ter um instrumento exclusivo feito por um Luthier?

Cícero Oliveira: É como mandar um alfaiate fazer uma roupa. Mesma coisa.

27) RM: Quais as principais diferenças do um instrumento exclusivo feito por um Luthier e os feito pela indústria?

Cícero Oliveira: O Luthier pode criar algo mais exato e sofisticado. Mas, o mercado tem coisas muito boas. Não acho que a única forma de ter um bom som, é criando algo. Existe coisa boa. É preciso saber o que exatamente se busca no instrumento musical, seja na sonoridade, desempenho e técnica.

28) RM: Quais os equipamentos que você importa para fazer um instrumento exclusivo?

Cícero Oliveira: Tenho duas formas de produção. Instrumentos totalmente artesanais (faço 4 a 6 por ano), com madeira regional, e algo fora de série. E os instrumentos que tem timbre consagrado. Como os que ouvimos em rádio. Como Jimi Hendrix, Pink Floyd, Queen, Jorge Benjor. Esses eu monto a partir de kits. Mas escolho criteriosamente, e sei o que vou oferecer. Principalmente captadores que gosto de fazer eu mesmo, ou modificar.

29) RM: Quais os prós e contras de importar equipamentos?

Cícero Oliveira: Os prós é que lá fora tem indústria! E aqui, só tem imposto e qualidade inferior. Os contras são os correios! Roubam nos depósitos e a empresa é horrível. Chegam danificados (quando chegam), e demora até 4 meses para chegar um parafuso!   Absurdo.

33) RM: Quais os músicos conhecidos que usam os instrumentos musicais que você fez?

Cícero Oliveira: Não cito! (risos). É questão de elegância. Não dou instrumento a nenhum deles. Todos compram. E assim são todos clientes. Nunca revelo quanto custou um instrumento. Posso falar de um que desenvolve comigo, e é endorser da minha oficina. O Tadeu Gouveia, o guitarrista que toca com Targino Gondim. Toca uma barbaridade!

34) RM: Quem são seus principais Clientes? Você faz instrumentos para músicos de outros Estados?

Cícero Oliveira: Vendo para o país inteiro pela internet. E já vendi para outros países em pequenas quantidades.

35) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Luiz Caldas?

Al Cícero Oliveira: O Luiz Caldas chegou aqui em casa, com a TV Cultura. E foi a primeira vez que apareci em TV. E foi o cara mais gentil, humilde e talentoso que já conheci. Ele tocou o dia inteiro aqui, pois é um cara verdadeiro. E achou um excelente roaddie (eu), e bons timbres.  Pedi a filmagem do que ele tocou, mas (risos) não voltou para eu agradecer, e dizem que ele é assim. Em todo lugar que passa procura ajudar alguém. Posso dizer que depois desse dia, mais duas TV’s vieram aqui e me tornei conhecido. É um cara Bárbaro.

36) RM: Quais os seus projetos futuros?

Cícero Oliveira : Pretendo ir embora (risos). Pretendo viver com mais cultura, e menos provincianismo. Estou ficando velho, e tenho uma existência só! Já perdi muito tempo por aqui.

37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Cícero Oliveira: Não tenho fãs. Tenho amigos. Jamais me tornarei isso. O Kut Cobain se manteve assim. Acho que o Mano Brown também. Meu contato é o google! É só colocar meu nome. E me chamar. Que vou e já nasci pronto. Grana não é problema. Sou existencialista. Mais meus contatos são: [email protected] | www.facebook.com/alcicero | www.youtube.com/user/ciceroguitarra


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.