O professor, agrônomo, pesquisador, escritor e poeta paraibano Kydelmir Dantas, publicou livros, Ensaios, Plaquetes e Folhetos da Literatura de Cordel.
Sócio da: Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC; Instituto Cultural do Oeste Potiguar – ICOP; Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN; Poetas e Prosadores de Mossoró – POEMA; União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS – São Paulo – SP; Consultor do Espetáculo histórico-musical CHUVA DE BALA NO PAÍS DE MOSSORÓ (2009 a 2017); Conselheiro do Evento CARIRI CANGAÇO; Academia Norteriograndense de Literatura de Cordel – ANLiC; Academia de Cordelistas do Vale do Paraíba – ACVPB.
Ministra palestras sobre: Cangaço; Meio Ambiente; Reciclagem de lixo e Recuperação em Áreas Degradadas; Luiz Gonzaga, o Rei do Baião; Literatura de Cordel, Cinema… Em empresas, eventos, Escolas, Universidades, etc.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Kydelmir Danta para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 28/04/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?
Kydelmir Dantas: Nasci no dia seis de setembro de 1958 em Nova Floresta – PB. Registrado como Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira. Filho da professora Angelita Dantas de Oliveira e do agricultor Manoel Batista de Oliveira. Sou pai de dois jovens músicos: Joaquim Dantas (baterista) e João Daniel (baixista) que formam um power trio de rock potiguar no Jubarte Ataca. Sou um fã incondicional do trio.
02) RM: Quais as suas preferências musicais? Quais deixaram de ter importância?
Kydelmir Dantas: MPB, que engloba samba, modinha, choro, bossa nova; e a MPN (Música Popular Nordestina) com baião, xote, xaxado, coco; música romântica, inclusive a denominada brega, e o sertanejo das décadas de 1940 até 1970.
03) RM: Qual a sua formação acadêmica?
Kydelmir Dantas: Tenho o nível superior, com formação em Engenharia Agronômica. De 1966 – 1969 – Curso Primário em Nova Floresta (PB), no Grupo Escolar Deputado José Pereira. Em 1970 – Admissão para o Ginásio. Em 1971 a 1974 – Estudou no Ginásio Agrícola de Currais Novos (RN). De 1975 a 1977, fez o curso de Técnico em Agropecuária no Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba (RN), hoje Escola Agrícola de Jundiaí, vinculada à UFRN. De 1979/2 – 1984/1 – Graduação superior em Agronomia na UFPB/Centro de Ciências Agrárias, então Campus III, em – Areia (PB), de 1979/1 a 1984/1.
04) RM: Como e quando você começou a sua atividade de letrista em parceria com compositores? Quais são os seus parceiros musicais?
Kydelmir Dantas: Interessante que não foi uma escolha. Aconteceu! Em 1996 fiz uma poesia em homenagem ao “rei do baião” Luiz Gonzaga e coloquei o título DERNA DE 1912. Que foi musicada por dois amigos, sem nem eu ter conhecimento, Zelito Coringa (Carnaubais – RN) e Lucas Campelo (Aracaju – SE). Foram gratas surpresas.
05) RM: Você escolhe sistematicamente quem será o seu parceiro musical ou deixa acontecer espontaneamente?
Kydelmir Dantas: Não. Nunca pensei em ser letristas. Os compositores que me deram este privilégio.
06) RM: No processo da parceria na criação da canção, você envia a letra/poema para o compositor para ele colocar a melodia? Você coloca letra em melodia que o compositor envia para você?
Kydelmir Dantas: Os meninos que pegaram meus poemas e colocam melodias. Fiquei foi feliz. Se tem mais alguma letra minha com melodia, não conheço.
07) RM: Você permite o compositor alterar a sua letra?
Kydelmir Dantas: Sim. Zelito, mudou algumas estrofes, inseriu estribilho e mudou o título para Lua no Terreiro (Kydelmir Dantas – Zelito Coringa), gravada em 2012, em ritmo de baião.
Lucas nem mudou nada da letra. Apenas o título que ficou Saudade de Gonzaga (Kydelmir Dantas – Lucas Campelo) e acrescentou uma declamação minha. Gravou-a em 2021, numa toada-baião.
08) RM: Cite as principais canções que você é o autor da letra e quem já gravou?
Kydelmir Dantas: Derna de 1912 ( Zelito Coringa – Lucas Campelo), Lua no Terreiro (Kydelmir Dantas – Zelito Coringa), Saudade de Gonzaga (Kydelmir Dantas – Lucas Campelo).
09) RM: Alguns compositores já declaram o fim da canção. Qual a sua opinião sobre essa afirmação?
Kydelmir Dantas: Respeito mas, discordo. Ainda tem muita gente boa fazendo Canções por aí.
10) RM: Hoje ainda existe espaço e ouvinte para música com letra que se sustenta como um poema/poesia?
Kydelmir Dantas: Sim. Se não as rádios estariam se fechando. Até mesmo nas plataformas digitais, as músicas ruins, não demoram mais do que uns poucos meses. O suficiente para as boas continuarem nas preferências populares.
11) RM: Na Rádio e na TV o autor da música quase não é informado. Quem canta passa a ser “o autor” da canção. Esse fato te incomoda?
Kydelmir Dantas: Sim. Sempre reclamei disto e, quando tenho acesso aos divulgadores, alerto-os para a Lei dos Direitos Autorais, que praticamente exige esta divulgação. Infelizmente, mais de 90% de quem faz programas musicais em rádios não a cumprem. Daí ouvirmos alguns intérpretes serem alçados a “donos da música”.
12) RM: Você tem músicas que tocaram e tocam em Rádio, TV e em casa de show? O direito autoral é pago corretamente?
Kydelmir Dantas: Olha. Nunca fui a procura disto. Meus parceiros que se preocupem em cobrar seus direitos. Se eles receberem, pra mim é mais importante.
13) RM: É possível sobreviver exclusivamente de direito autoral de suas músicas?
Kydelmir Dantas: No meu caso. Não. Nem sei se estão pagando.
14) RM: Depois que você teve letras de canções que se tornaram conhecidas, aumentou a procura de compositores em busca de parceria?
Kydelmir Dantas: Nada! As que tenho gravadas foram “mimos” de amigos. Só tenho mesmo é gratidão por eles. Isto, me basta.
15) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na função de letrista?
Kydelmir Dantas: Só felicidade. Não sou um letrista. Apenas um poeta que teve sua poesia musicada.
16) RM: Comente sobre carreira profissional.
Kydelmir Dantas: Sou um professor e agrônomo, aposentado. Afora isto, tenho por passatempo a pesquisa histórica, sobre os temas: Cangaço, Luiz Gonzaga, Literatura de Cordel e outros afins.
De 1985 a 1987, atuei como professor no CAVN – Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, em Bananeiras-PB; cedido à esta instituição pela Secretaria de Agricultura do Estado da Paraíba, como Engenheiro Agrônomo. De 1987 a 2016 atuei como funcionário da Petróleo Brasileiro S.A., trabalhando em Mossoró – RN. Em 2017 atuei como professor voluntário nos Projetos de extensão do Curso de Biologia da UFCG – Campus de Cuité-PB.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Kydelmir Dantas: Quando saio dos livros, ajuda. Algumas pesquisas são mais rápidas através dela.
18) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Kydelmir Dantas: De mal a pior, depois que transformaram-no em “forruim” a tendência é piorar. Afora alguns abnegados – cantores e cantoras – que apareceram nestes últimos 20 anos, em lugares pontuais e mais precisamente no Nordeste, não vejo luz no fim do túnel. A vantagem é que quando aparece um grupo ou individualmente, bom, que ganha destaque na mídia, procura se manter. Outrossim, é que os melhores, antes disto, começam a serem mais lembrados e mais ouvidos.
19) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Kydelmir Dantas: Procure fazer o melhor. Só assim se destacará mais tempo.
20) RM: Quais os prós e contras de Festival de Música?
Kydelmir Dantas: Os Festivais de música foram produtos de um tempo. Emplacaram quando as redes televisivas estavam engatinhando, ganhando popularidade. Deram vez e voz aos que hoje são denominados de “grandes da MPB” – intérpretes e compositores(as) – da década de 1960 até 1980. Pra mim, sempre lembrados de forma positiva, independente de quem ganhou. Salutar para os que participaram e, ainda mais, pra quem viu, vivenciou e ouviu. Nada contra.
21) RM: Festival de Música ainda tem a importância de revelar talentos?
Kydelmir Dantas: Seria pra ter. Não vejo mais nenhum Festival de Música, que, aparentemente, não tenha um jogo de cartas marcadas.
22) RM: Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?
Kydelmir Dantas: Antes, a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira era positiva. Atualmente, é de uma pobreza sem par! Vejam os nomes e ritmos (ritmos?) que estão presentemente se espalhando por aí. Do rádio à TV, dos Streamings ao Spotfy. Uma lástima!
23) RM: Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em outubro de 2016. Será que este fato anima outros letristas a “sonharem” com prêmios na área de Literatura ou é um fato isolado?
Kydelmir Dantas: Um fato isolado. Não conheço o “livro” dele. O nome do artista e sua trajetória deve ter pesado na escolha.
24) RM: Os músicos americanos são conhecidos como grandes cantores, melodistas e arranjadores. Qual a sua opinião sobre a qualidade deles como letrista?
Kydelmir Dantas: Que nem em todas as áreas, na música e na literatura, temos os ótimos, os bons e os sofríveis autores. Não serei eu a julgá-los. Só escuto o que gosto. Às vezes, nem presto atenção às composições, mas, as músicas.
25) RM: Nos apresente os livros que você já lançou?
Kydelmir Dantas: Já publiquei artigos e crônicas ligados à Cultura nordestina, ao Cinema e ao Meio Ambiente, em jornais e revistas especializadas. São 18 Livros; 6 de Ensaios; mais de 40 folhetos da Literatura de Cordel. Exemplos de livros: Filarmônica José Batista Dantas: 30 anos de glórias (1995); Mossoró e o Cangaço (1997); Luiz Gonzaga e o Rio Grande do Norte (2012); A História do Cinema em Nova Floresta e região (2024); Ariano Suassuna na Literatura de Cordel (2024).
26) RM: Qual sua opinião sobre os livros ou sobre a análise do Luiz Tatit sobre a função da letra na música?
Kydelmir Dantas: Não a tenho, pois, ainda não li nenhum livro do Luiz Tatit. Pelo que já vi na net, vou à cata de “O Século da Canção” (2004). Tenho certeza que me será de grande valia.
27) RM: Nietzsche comenta que a melodia (música) sem letra perturba a alma. O que você acha dessa afirmação?
Kydelmir Dantas: Devia ser pra ele. Há momentos que prefiro escutar apenas a melodia. É quando não preciso acompanhar o canto e a letra, só a melodia. Às vezes produzo melhor meus escritos escutando música instrumental.
28) RM: No tempo da Ditadura Militar no Brasil as letras que tinham engajamento político fizeram sucesso. Qual a importância de letras que não tratem só do tema: Amor?
Kydelmir Dantas: Muito importante letras engajadas. É a construção do pensamento crítico, de uma atuação política, da formação de uma cidadania. Não é à toa que as músicas de protesto ainda são muito lembradas e continuam fazendo sucesso: VOZES DA SECA (Zé Dantas – Luiz Gonzaga); CAMINHANDO (Geraldo Vandré); APESAR DE VOCÊ (Chico Buarque); POBREZA POR POBREZA (Gonzaga Júnior); CARCARÁ (João do Vale – José Cândido); SINA DE CABOCLO (João do Vale); O BÊBADO E A EQUILIBRISTA (Elis Regina); CÁLICE (Milton Nascimento), QUE PAÍS É ESTE (Legião Urbana) e tantas outras.
29) RM: Qual a sua opinião sobre “as letras pra acasalamento” que tocam no rádio (FUNK, Sertanejo, Pagode, Forró, etc)?
Kydelmir Dantas: Não gosto, não ouço, não critico.
30) RM: Renato Russo comenta que as letras que falam de amor sempre estarão na moda. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação?
Kydelmir Dantas: O amor, em todos os tempos, épocas e gêneros musicais, sempre foi muito bem vindo. Gosto de ouvir todas as canções de amor, principalmente do século XX.
31) RM: Você acha que as pessoas no geral estão mais para aceitar as letras que buscam o entretenimento ou a divagação lírica do que proporcionar reflexões humanas e sociais profundas?
Kydelmir Dantas: Neste século XXI… Só entretenimento. A juventude sequer gosta de ler, estou generalizando, quanto mais de pensar criticamente. A maioria não sabe nem o que é contextualizar. E, pelo que vemos na educação atual, vai de mal a pior.
32) RM: Fale de sua atuação como poeta/cordelista.
Kydelmir Dantas: Desde menino que gosto de ler poesias, a partir da literatura de cordel. Sou fã dos poetas populares, cordelistas e violeiros. Também dos eruditos, como: Carlos Drumond, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Cora Coralina; regionais são admirados e seguidos como: Antônio Francisco, Zé da Luz, José Laurentino, Renato Caldas, Celso da Silveira, Téo Azevêdo, Bráulio Tavares, Jessier Quirino, Zé Limeira, etc.
33) RM: Fale de sua atuação como pesquisador.
Kydelmir Dantas: Sou um pesquisador que resolveu jogar no papel o resultado de suas pesquisas, transformando-as em livros. Um poeta por inspiração, que publica seus folhetos de cordel. Com ambos, aproveito para montar palestras e fazer declamações.
34) RM: Quais os seus projetos futuros?
Kydelmir Dantas: Continuo fazendo e incentivando as pesquisas históricas e poéticas. Pra este ano, pelo menos um livro já está no prelo, com previsão de lançamento para junho no Fórum do Cangaço, promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, em Mossoró – RN.
35) RM: Como é sua relação com seu público?
Kydelmir Dantas: Muito bom. Professor das antigas, que chega e abraça aqueles que nos dão atenção. Que troca ideias e reparte conhecimentos, com isto, conquisto e sou conquistado. Me sinto realizado numa sala de aulas ou como palestrante. De Nova Floresta – PB a Mossoró – RN, para o Mundo.
36) RM: Quais seus contatos?
Kydelmir Dantas: [email protected] | https://www.facebook.com/kydelmir.dantas | https://www.instagram.com/kydelmir_dantas