More O Forró do chão de barro à indústria cultural. »"/>More O Forró do chão de barro à indústria cultural. »" /> O Forró do chão de barro à indústria cultural. - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

O Forró do chão de barro à indústria cultural.

Forró do Chão
Forró do Chão
Compartilhe conhecimento

O Forró não é um ritmo musical, é o nome dado ao local onde acontecia a festa, que poderia ser na residência, na rua, no sítio ou local de show. As músicas que tocavam no Forrobodó eram as populares dos programas de rádio e as regionais. No For All os discos eram tocados na Radiola/Vitrola ou quem animava a festa eram os músicos tocando o violão, cavaquinho, pandeiro, acordeon, sanfona de 8 baixos, etc.

Nos primórdios a festa de Forró era frequentada por boêmios, valentões, “mães solteiras” em lugares “pouco familiares”. Aos poucos as festas particulares foram se popularizando sob o comando e olhos do dono da casa. E se ele percebesse um rapaz dançando de forma mais atrevida, ousada com as moças; o tempo fechava com socos, pontapés, faca e tiro. Por ser uma dança de par era comum mulher dançar com mulher e homem com homem mantendo o distanciamento dos corpos. O machismo era presente e se uma moça recusasse dançar com um valentão; ou a moça iria embora, ou não dançava mais com ninguém ou o Forró acabava em briga.

Em 1941, Luiz Gonzaga estreia em disco como o marco zero dos ritmos Baião, Xote, Arrasta pé.  É possível que outros artistas tenham registrado antes um desses ritmos, mas o rei do Baião levantou essa bandeira e abriu espaços para outros entrarem nesse nicho de mercado sazonal do disco, como um produto na indústria cultural. Mestre “Lua” também popularizou o Trio Pé de Serra: Sanfona, Zabumba e Triângulo. O mercado sazonal das festas juninas era o calcanhar de Aquiles dos artistas; já que após as festas de Santo Antônio, São João, São Pedro, as gravadoras passavam a divulgar outros artistas nas rádios. Mais uma vez, Luiz Gonzaga foi o pioneiro no empreendedorismo. Ele pegou a estrada, seguindo o rastro dos Circos em todas as cidades do interior e no intervalo dos espetáculos, se apresentava no formato de Trio Pé de Serra. Fazia contatos nas cidades, nas rádios, com jovens talentos e seguia formando o seu público e trabalhando o ano todo até parar no carnaval para montar o repertório do próximo disco e começar a saga de novo. Gonzagão percebeu que tinha que montar sua tropa de forrozeiros e foi apadrinhando artistas e Trios pelo caminho.

O mercado musical na época vivia de tendências e movimentos. Em 1959, João Gilberto lançou seu primeiro disco e a Bossa Nova toma conta do mercado. Em 1963, Roberto Carlos lançou seu segundo álbum – “Splish Splash” e começou o movimento da Jovem Guarda.  O mestre Luiz Gonzaga viu que o roçado que plantou por mais de 10 anos começou a dar bichos e pensou em largar a bandeira do Forró. Mas começava a era dos Festivais de Música na TV e os baianos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé se destacam entre os primeiros colocados. Em 1968 foi lançado o disco “Tropicália ou Panis et Circencis”, pelo grupo formado por: Torquato Neto, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé. Esse movimento antropofágico fez um mix da música Pop, MPB e Regional.

Dos anos 70 a 80 Luiz Gonzaga viveu no olho do furacão em altos e baixos da sua carreira, mas muitos apadrinhados e seguidores começaram a somar no front de batalha e consolidar carreiras e belas obras. Em dois de agosto de 1989 em Recife – PE, o mestre Gonzagão se torna uma estrela no céu e deixa um legado extraordinário e muitos herdeiros musicais.

Nos anos 90, as bandas de Forró disputam espaços com bandas de Axé Music pelo Brasil e algumas se tornam empresas e o que passa a valer são nome/marca/repertório, ou seja, no mesmo dia e horário a mesma marca poderia estar em cidades ou Estados distintos com músicos distintos cantando as mesmas músicas. O Forró Pé de Serra começou a se arrastar para sobreviver. Só os artistas famosos contemporâneos de Luiz Gonzaga não sentiram tanto a concorrência com as bandas.

Em 2000 ganhou popularidade em São Paulo, o movimento do “Forró Universitário” e dessa forma, o Forró Pé de Serra ganhou aliados com a reverência desses grupos aos mestres herdeiros musicais de Gonzagão. Esse movimento ganhou força em outras cidades do Sudeste e ficou uns 10 anos em evidência, mas foram perdendo a visibilidade na grande mídia.

Em 2021, oitenta anos após o primeiro disco de Luiz Gonzaga, o Forró Pé de Serra e suas vertentes se reinventam. Muitos dos herdeiros musicais do Rei do Baião também se tornaram estrelas no céu. Os forrozeiros vão mantendo o fôlego em um mercado sem gravadora e vão tateando as plataformas digitais, redes sociais, editais de incentivo à cultura e o mercado no exterior. O Forró é, antes de tudo, para os fortes.


Compartilhe conhecimento

Deixe um comentário

*

Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.
Revista Ritmo Melodia
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.