A mulher no mercado musical sempre teve que ser resistente enfrentando o machismo, o assédio moral e sexual. Lutando para sair do lugar de objeto sexual. Da MPB ao Samba, da música romântica em geral ao Forró, etc.
Nos primórdios, o baile de Forró era um lugar que moça de família não frequentava ou frequentava acompanhada de namorado, marido ou irmãos. Uma mulher ao recusar o convite de um desconhecido para dançar, o Forró poderia terminar em briga ou morte. Muitas que tinham a coragem de recusar, ou voltavam mais cedo para casa ou estavam com parentes masculinos que poderiam enfrentar o valentão. No Forró, só homem pagava a cota; o ingresso para estar no baile, esse pagamento colocava a mulher desacompanhada de namorado e marido na “imposição” de dançar com quem a convidasse. O Forró era um lugar machista, hostil e inóspito para mulher desacompanhada.
Nos anos 50, 60, 70 uma mulher que escolhesse ser cantora e instrumentista no mercado do Forró, no geral tinha o namorado ou esposo junto como músico ou empresário. Ela sozinha era exceção à regra. Quando a cantora não tinha uma presença masculina para sua proteção, era muitas vezes levada a exacerbar sensualidade em uma linha tênue de vulgaridade para chamar mais atenção pelos seus atributos físicos que pelo talento musical. E se a cantora tocasse acordeon, zabumba ou triângulo era vista com despeito e até como uma afronta. Cantar era o único lugar dela. Mas muitas enfrentaram e venceram o preconceito e outras desistiram da carreira. Algumas quando casavam tinham que escolher entre cuidar da casa, dos filhos ou continuar a carreira musical. Muitas tinham que vestir um figurino que se assemelhasse ao dos ídolos masculinos. Muitas sofriam com o machismo, violência e ciúmes dos seus maridos músicos.
Mas se passaram 80 anos desde que Luiz Gonzaga gravou sua primeira música em 1941 e o novo milênio trouxe um novo panorama de empoderamento para as mulheres no geral e para as forrozeiras no baile de Forró e na carreira musical. Infelizmente, o machismo ainda não acabou, mas o combate a ele é declarado. Muitos homens e mulheres estão unidos contra quem ainda tem pensamentos e práticas machistas.
Muitas artistas, DJs, profissionais de dança estão contribuindo para que o ambiente do baile de Forró saia da treva cultural do passado. Hoje a mulher dança com quem quiser e que lhe apraz: homem, mulher, outros gêneros, ou seja, com todes/todxs. Ser cantora de Forró não é sinônimo na boca miúda e maldosa de profissional do sexo ou mulher vulgar. O respeito não está no “bigode”, mas é um direito garantido a todo ser humano.
Segue abaixo uma música de um poeta interpretada por uma cantora e acordeonista: “Não carece de bigode” (Junior Vieira) por Terezinha do Acordeon: https://www.youtube.com/watch?v=ljLHTzkbHag